O fim de semana do futebol brasileiro foi marcado por lesões em nomes importantes de Palmeiras e Flamengo. Na equipe alviverde, o atacante Dudu sofreu uma ruptura do ligamento cruzado anterior do joelho, passará por cirurgia e vai ficar de molho por um intervalo de seis a oito meses. Já no time rubro-negro, o uruguaio Giorgian de Arrascaeta e o atacante Luiz Araújo tiveram lesões no bíceps femoral da perna esquerda e devem ficar fora das finais da Copa do Brasil contra o São Paulo, dias 17 e 24 de setembro.
Dudu, Arrascaeta e Luiz Araújo precisaram deixar o gramado ainda no primeiro tempo. Agora, Abel Ferreira e Jorge Sampaoli terão de buscar alternativas para diminuir os prejuízos técnicos e táticos com as ausências dos atletas em partidas decisivas pela Libertadores e Copa do Brasil. Talvez a contusão de Dudu tenha mais a ver com a condição do gramado.
Tanto em São Paulo quanto no Rio, as temperaturas típicas de inverno e a chuva marcaram os jogos Palmeiras x Vasco e Flamengo x Inter, respectivamente. Mas, afinal, há alguma relação entre o frio, a chuva e as lesões? O Estadão ouviu especialistas para esclarecer dúvidas sobre o tema, entender possíveis impactos na preparação dos atletas e quais os cuidados necessários antes da prática do esporte em temperaturas mais baixas.
É verdade que frio e chuva deixam atletas mais suscetíveis a lesões musculoesqueléticas?
De acordo com Fabrício Buzatto, médico do esporte e fisiatra do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Espirito Santo, frio e chuva podem implicar indiretamente em lesões no futebol, mas ele afirma que não há estudos concretos que mostrem uma relação entre as condições climáticas e problemas físicos.
“O corpo fica mais preguiçoso ou acomodado, mas não há nada concreto sobre maior risco de lesões em baixa temperatura, a não ser em temperaturas extremas. Em esportes de inverno, por exemplo, não há maior incidência de lesões. Claro, com chuva no futebol, o risco de escorregar, de uma colisão ou entorse é maior, porque o campo está molhado, então a aderência é menor, aumentando risco de lesões no futebol, ciclismo, corrida. Tanto que muitas vezes esses atletas evitam treinar na chuva pelo risco maior de lesão”, afirma Buzatto.
Roberto Ranzini, ortopedista e médico do esporte, que compõe o corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, pontua que o frio, apesar de não causar impactos físicos e musculares, faz diferença na função cardíaca.
“Embora isso pareça ser verdade, não existe nenhuma evidência científica na literatura mundial sobre aumento do risco de lesão por causa do frio. O frio causa só um desconforto maior e aumenta a sensibilidade à dor, principalmente na musculatura e articulações. A chuva traz mais impactos no calor, porque diminui a sudorese e prejudica o controle da temperatura corporal. Em geral, frio e chuva não causam nenhum problema na parte musculoesquelética. Já na parte cardiocirculatória, o frio faz diferença, porque aumenta a frequência cardíaca e a chance de alguém com um problema cardíaco ter um infarto em casos extremos”, diz Ranzini.
Quais medidas devem ser tomadas antes do início de uma atividade física no frio?
O frio causa no corpo humano sensações de maior rigidez e incômodo nas articulações, que ficam menos lubrificadas devido à quantidade de sangue que o corpo usa para regular a temperatura interna. Por isso, é muito importante antes de qualquer atividade física o devido aquecimento e alongamento para evitar maiores riscos de contusões musculares e problemas cardíacos.
“O importante é fazer um bom aquecimento, porque, no frio, o sangue fica mais interno para aquecer o corpo. Assim, as articulações ficam com menos fluido, que lubrifica e vem do sangue. A pessoa fica com essa sensação de maior rigidez. Por isso, aquecimento é fundamental. O frio pode atrapalhar o atleta em condições mais extremas ou quando o atleta vai para uma prova frio ou desagasalhado. Vemos em vários esportes o uso de camisa e calções térmicos para maior controle de temperatura. Controlando a temperatura, não há problema”, reforça Buzatto.
Ranzini afirma que uma medida básica para prevenir problemas é escolher bem os equipamentos e roupas a serem utilizadas e entender o que, de fato, significa o famoso “aquecimento”. “Você deve fazer um trote leve, uma bicicleta, alguma atividade de baixa intensidade que eleve a frequência cardíaca. Não é uma ‘aquecimento’ propriamente dito, porque você não aumenta a temperatura do corpo, que é constante. Mas esse ‘aquecimento’ promove o preparo do corpo para a atividade física. Equipamentos, como calças, luvas e gorros, são muito importantes em baixíssimas temperaturas, assim como o uso de agasalho para reter o calor e evitar chegar em uma hipotermia.”
Buzatto ainda afirma que a prática de esportes em temperaturas extremas, como na neve, por exemplo, os possíveis impactos sobre o corpo são diferentes e, nesse caso, envolvem preocupações com ferimentos mais graves. “As lesões por frio, como queimadura ou congelamento de extremidades, são causadas diretamente por temperaturas extremas. Agora uma temperatura apenas baixa, dificilmente vai implicar no risco de lesões maiores, o que pode é indiretamente favorecer lesões musculares, pela musculatura estar menos preparada, mas não necessariamente essas temperaturas levarão a um caso de lesão.”