O Palmeiras estava presente na vida de Gabriela Anelli Marchiano, a torcedora morta vítima de estilhaços de uma garrafa no entorno do Allianz Parque, desde que ela nasceu até o fim de sua vida, interrompida brutalmente aos 23 anos. Quando criança, ela entrou mais de uma vez no antigo Palestra Itália acompanhada do hoje aposentado Marcos, ex-goleiro ídolo da torcida.
“Sempre gostou de estádio. Entrava com o (ex-goleiro) Marcos nos jogos. É uma paixão que vem desde a bisavó dela. É uma coisa muito gostosa”, contou a mãe, Dilcilene Prado Anelli, durante o velório da filha, no cemitério Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes, na Grande São Paulo.
Além disso, era comum Gabriela fazer rifas para juntar dinheiro para ir, junto de outros torcedores, em caravanas assistir aos jogos do Palmeiras fora de São Paulo. O sonho dela, diz o pai, era conhecer os Estados Unidos. “Tinha o sonho de morar na praia também”, disse ele.
“O Palmeiras era a vida dela. A balada dela era o Palmeiras. Meninas de 23 anos gostam de outras coisas, ela gostava do Palmeiras. Era apaixonada demais”, reforçou o pai, Ettore Marchiano Anelli. “Vou continuar a fazer o que fazia com a Gabriela. Quando eu pisar lá no estádio, em cada canto, vou lembrar dela. A gente chegava juntos, ia embora juntos. Vou continuar o que ela queria, o legado dela.”
Gabriela era natural de São Paulo e morava no Campo Limpo, bairro da zona sul da capital paulista. Ela havia voltado há pouco tempo de um período de um ano e meio em Curitiba, onde não se adaptou. Seu plano era cursar faculdade de Tecnologia da Informação. Enquanto não ingressava na universidade, participava de projetos sociais e trabalhava em uma escola para juntar dinheiro para ver o Palmeiras.
“Ela trabalhou por um período na ala de uma escola com crianças especiais. Ela amava projetos sociais”, afirmou o avô paterno, Luiz Henrique Nery. “Ela cuidava de crianças autistas e com síndrome de Down”, acrescentou o avô. O dinheiro que ela ganhava usava para pagar um plano de sócia-torcedora do Palmeiras.
“Ela sempre fez parte de ações sociais. Tanto que o papel dela na Mancha era participar de todos os projetos sociais que haviam. Dia das Crianças, Páscoa, arrecadar cobertores no inverno”, detalhou a mãe, Dilcilene Prado Anelli.
Segundo o tio, Bruno Tadeu Anelli, Gabriela era “uma menina cheia de sonhos”. “Sempre fazia as rifas para viajar com as caravanas, queria tirar a carteira de motorista. Gostava de estudar, tinha muitos desejos, queria viajar pro exterior”, descreveu ele, segundo o qual a menina era chamada de “Bebê” pelo comportamento dócil que tinha com a família.
Os pais contaram que a filha era portadora de uma doença pulmonar autoimune. “Não vou ver o sorriso dela aqui de novo. Mas ela está comigo, na minha mente, nas fotos, nos vídeos, na minha lembrança”, disse a mãe.
Gabriela fazia parte da Mancha Alvi Verde, principal torcida organizada ligada ao Palmeiras, e namorava com um integrante da Porks, uma uniformizada menor do mesmo time. Também chegou a integrar a escola de samba da Mancha para participar do desfile no carnaval paulistano. Pai, mãe e outros familiares da palmeirense usaram trajes da torcida durante o velório e enterro e defenderam as organizadas.
“A torcida organizada não é de atacar. Tanto que quem matou minha filha não foi um torcedor de organizada. Não vou culpar o Flamengo porque não foi uma organizada. Foi um ser que não tenho ódio porque a própria mãe dessa pessoa deve estar sofrendo”, comentou Dilcilene.
Integrantes de organizadas amigos de Gabriela a homenagearam com rojões, sinalizadores e cantoria durante o cortejo. O caixão foi envolto em uma bandeira da TUP, tirada minutos antes de ele ser posto na vala. Eles cantaram músicas alusivas ao Palmeiras e gritaram o nome da jovem palmeirense, enterrada sob aplausos e o hino do clube, cantado em uníssono a pedido da família.
O tio, Bruno, encerrou o enterro pedindo paz e empatia às pessoas. Seu desejo, e o da família, é de que os torcedores não se vingue do responsável pela morte de Gabriela.