O juiz Danilo Fidel de Castro, da 10ª vara cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, atendeu um pedido dos advogados de Gustavo Scarpa, do Atlético-MG, para solicitar à Polícia Federal informações sobre a verificação do valor e origem dos 20,8 kg de pedras de alexadritas, que eram usadas pela XLand, empresa acusada de causar prejuízo de milhões ao jogador, como garantia para os investimentos em criptomoedas.
Scarpa alega ter perdido R$ 6,3 milhões na aplicação e que esta teria sido sugerida pelo seu ex-companheiro de Palmeiras Willian Bigode, que hoje atua no Santos, e por sua sócia Camila Moreira de Biasi Fava por meio da WLJC Consultoria e Gestão Empresarial. Já Mayke, que continua jogando na equipe alviverde, teve prejuízo de R$ 4.583.789,31, enquanto Willian diz ter sofrido o maior calote, de R$ 17,5 milhões. O atacante e suas sócias refutam a acusação de terem participação no prejuízo sofrido pelos ex-colegas e ressaltam que também são vítimas da XLand.
Está anexado aos autos um boleto que mostra que os 20,8 kg de alexandritas foram adquiridos junto à Andrade Gemas e Joias, na cidade baiana de Campo Formoso, por R$ 6 mil, valor bastante inferior aos R$ 2,5 bilhões apresentados pela empresa como lastro e garantia das operações com criptomoedas. A XLand possui um laudo técnico assinado pela gemóloga Weysida Carvalho, em Petrolina-PE, no dia 18 de março de 2022. O documento foi obtido pela reportagem do Estadão. Nele, é atestada a existência das pedras no malote e que se tratam de alexandritas em estado bruto, sem lapidação.
O pedido feito pelo magistrado será encaminhado para o setor de perícias da Superintendência da Polícia Federal, que faria um laudo merceológico das pedras de alexandrita. O malote onde estavam as supostas pedras preciosas ficavam sob a custódia da Sekuro Private Box S/A, empresa que aluga espaço em seus cofres e bunkers para guardar objetos de alto valor. No entanto, em julho de 2023, o malote foi objeto de busca e apreensão no âmbito de um inquérito policial instaurado pela Polícia Federal no Acre contra a XLand para apurar crimes contra o sistema financeiro nacional.
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Em novembro, quando do pedido de acesso à análise merceológica, a defesa de Willian Bigode se manifestou apontando uma confusão sobre os termos “merceológico” e “mercadológico”. Uma perícia merceológica busca aferir a origem das pedras preciosas. Em contrapartida, uma análisa mercadológica tem como função avaliar o preço de tais objetos. Em seu despacho, o juiz ressalta tal diferença e afirma que a perícia informará a procedência e o valor das alexandritas.
No mesmo despacho proferido na terça-feira, o juiz do caso reitera a busca para citação do réu Jean do Carmo Ribeiro, um dos sócios da XLand, que ainda não foi encontrado pela Justiça.
Em sua apresentação no Santos, na última semana, Willian se manifestou publicamente sobre o caso. “Vou ser bem direto e bem objetivo. Este é um assunto que se trata totalmente externamente. Realmente, é uma situação que nunca passei nem próximo. É uma situação realmente de muita tristeza para mim, é um constrangimento muito grande. Mas tem toda uma equipe aí resolvendo isso”, disse o atacante.
No dia seguinte, Scarpa criticou a fala do ex-colega de time. “Tenho acompanhado todo esse caso aí quase todo dia. Estou esperando a Justiça ser feita. É um processo que demandou muita atenção da minha parte, muito foco, muita energia. E eu acredito ainda que eu vou conseguir resolver essa situação. Acompanhei a entrevista dele. Prefiro assim nem comentar sobre, apesar da vontade que eu tenho de comentar, de falar tudo que eu penso dele, de tudo que ele fez.”
ENTENDA O CASO
O processo movido por Scarpa e Mayke aponta que partiu de Willian e de sua sócia Camila Moreira de Biasi a sugestão de investimentos na XLand, que ofereceria uma rentabilidade de 2% a 5% sobre o valor investido. Scarpa aplicou R$ 6,3 milhões, enquanto Mayke e sua mulher, Rayanne de Almeida, investiram R$ 4.583.789,31.
Os problemas com a XLand começaram em meados de 2022, quando os jogadores do Palmeiras tentaram resgatar a rentabilidade, mas não tiveram sucesso após seguidas negativas e adiamentos da XLand. Mais tarde, eles tentaram romper o contrato, mas também não receberam o valor devido.
Após seguidos contatos com os sócios da XLand, Jean do Carmo Ribeiro e Gabriel de Souza Nascimento, com Willian e Camila e um coach de gestão financeira, Marçal Siqueira, que tinha parceira com a empresa acriana, Scarpa e Mayke procuraram seus advogados e registraram um boletim de ocorrência. Desde então, o processo corre na Justiça paulista, ainda sem decisões proferidas sobre culpabilidade dos réus.