Leila Pereira: ‘Se oposição vencer, Palmeiras volta ao que era antes de cair e não ganha mais nada’


Ao Estadão, presidente critica Savério Orlandi, seu rival na eleição, e diz que conquistou respeito no futebol por ser ‘dirigente diferente’: ‘Falo a verdade e falo mais firme do que muito homem, eles me respeitam’

Por Ricardo Magatti
Atualização:
Entrevista comLeila Pereirapresidente do Palmeiras e candidata à reeleição

Embora não se considere uma celebridade entre os dirigentes, Leila Pereira é a cartola mais famosa do País. São muitos os convites, mensagens, ligações e pedidos feitos diariamente a presidente do Palmeiras, que se gaba de o time ter conquistado 31 títulos sob sua gestão, entre competições profissionais, da base e do feminino. “Converso comigo mesma e eu falei pra mim que, como três anos passam muito rápido, precisava aproveitar a visibilidade que o Palmeiras dá para fazer algo produtivo para o futebol brasileiro, para as mulheres”, diz a mulher que ocupa o cargo mais proeminente do atual bicampeão brasileiro.

A um mês da eleição que definirá o próximo presidente do Palmeiras, a empresária de 59 anos recebeu o Estadão na Academia de Futebol, para onde vai quase todos os dias. Segundo ela, o respeito que conquistou no futebol, ambiente predominantemente masculino, é fruto da credibilidade que diz passar ao torcedor. “Sou uma dirigente diferente”, diz, enquanto seu celular recebe notificações em profusão. “Não sou várias pessoas, sou uma só e falo a verdade. No futebol, as pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade. Às vezes falo mais firme do que muito homem”.

Favorita a ser reeleita, a presidente fez ataques ao candidato da oposição, o advogado Savério Orlandi, ao afirmar que, se ele vencer o pleito, marcado para 24 de novembro, irá reconduzir o time a um dos piores períodos da história, precedente ao segundo rebaixamento à Série B. “O grande legado do Savério foi ter contribuído para o rebaixamento do Palmeiras em 2012. Ele entrou em 2007 e saiu em 2010, um clube de futebol não cai de repente”.

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Nesta entrevista, a empresária que poucos sabiam quem era há dez anos e caminha para gerir um dos times mais poderosos do País por mais três anos, repassa suas ações em três anos no comando do Palmeiras, reflete sobre as mazelas do futebol brasileiro e fala sobre a necessidade de ser implantado o fair play financeiro no futebol brasileiro e de os clubes se entenderem para criar a tão desejada liga única.

Para Leila Pereira, caso oposição vença eleição, Palmeiras voltará para o que era em 2012, ano de seu segundo rebaixamento Foto: Alex Silva/Estadão

Como foi administrar o Palmeiras nesses três anos?

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Administrar um clube de futebol não é difícil. Eu não senti dificuldade porque já vim para o Palmeiras com a mentalidade de que nós administraríamos o clube como se fosse uma empresa. Eu dou autonomia para os profissionais. Só trabalha no Palmeiras quem realmente é competente. Não existe indicação política aqui. Sou um ser político, claro, se não não teria sido eleita, mas faço política no clube social, não no futebol. Tenho muita sorte que os conselheiros e conselheiras que me apoiam entendem que o Palmeiras tem de ser administrado profissionalmente. Não existe interferência política no futebol, por isso os profissionais trabalham com tranquilidade. O estresse é do muro para fora.

É mais fácil gerir o Palmeiras que suas empresas?

Sim e não. Sim porque cheguei no Palmeiras com uma estrutura organizada. Melhoramos bastante, mas já estava tudo bem encaminhado. A diferença de um clube para uma empresa é que, no ambiente empresarial, você não mexe com paixão. No futebol tem a torcida, que é emoção pura.

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Caso seja reeleita, o que você fará à frente do clube que não conseguiu fazer nesse primeiro mandato?

Tudo que desejei fazer eu fiz, tanto é que os resultados vieram. Nossa gestão, em dois anos e meio, conquistou 31 títulos, considerando competições de base, profissional e feminino. Isso nunca tinha acontecido na história do Palmeiras. Não acontece por acaso. É administração, profissionalismo. As pessoas trabalham com tranquilidade. Tem a pressão da torcida, claro, mas é do muro pra fora, e é óbvio que é um jogo, não vamos ganhar sempre. O que pretendo fazer é melhorar alguns pontos que aparecerem e tiverem de ser melhorados. A ideia é dar continuidade a esse trabalho, com os profissionais que estão aqui. Se tiver solicitação do departamento de futebol, iremos ao mercado para fortalecer o elenco.

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Você diz que ser uma executiva, que executa, mas também ouve os conselhos de outros profissionais e muda de rota se for necessário. Arrepende-se de algo que tenha feito durante sua gestão?

Não. Não sou uma pessoa que se arrepende de atitudes porque encaro o erro como uma oportunidade de fazer da forma correta depois. A vida é ao vivo e a cores, você não ensaia. Sou uma mulher que decide, eu gosto de decidir e nem sempre tomo a melhor decisão. O importante no clube é que a última palavra é sempre minha, mas minhas decisões são sempre pautas em conversas com os departamentos envolvidos. A presidente nunca pega ninguém de surpresa no futebol. É tudo conversado e a última palavra é minha. Se a decisão for equivocada, ela nunca é solitária. Tenho muita tranquilidade no Palmeiras porque acredito que aqui trabalham os melhores profissionais do Brasil, tanto é que o assédio que sofro com os profissionais é uma loucura. Todos querem tirar eles daqui, mas eles não saem porque sabem que o ambiente é bom, que nós cumprimos com nossas obrigações e temos credibilidade. Falo do Abel, dos jogadores e de todos profissionais.

Leila é favorita na eleição para comandar o Palmeiras por mais três anos Foto: Alex Silva/Estadão
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Existe o entendimento de que você furou a bolha do futebol e é conhecida por pessoas que não acompanham o Palmeiras nem o esporte. Considera ser uma celebridade entre os cartolas?

Não gosto de dizer que sou celebridade. Não me considero uma celebridade, em hipótese alguma. Eu recebo convite, vou aos programas (de televisão), e gosto de conversar com as pessoas, gosto de expor as minhas ideias. Converso comigo mesma e eu falei pra mim que, como três anos passam muito rápido, precisava aproveitar a visibilidade que o Palmeiras dá para fazer algo produtivo para o futebol brasileiro, para as mulheres... Tem muito cartola que passa nos clubes e não tem utilidade nenhuma, pelo contrário, faria um favor se não estivesse estado no cargo. Pensei que precisava ajudar na visibilidade das mulheres e do futebol, na forma de administrar um clube sem medo, sem pensar na reeleição, em conchavos. Não quero isso e não faço isso. Por isso digo que sou uma dirigente diferente. Não tenho medo de não ser reeleita.

Aproveitei a oportunidade de ser presidente para mostrar que um clube pode ser vitorioso sem ser irresponsável. No meio do ano passado, o Palmeiras foi o único clube que não contratou ninguém e quem foi campeão no fim do ano? O Palmeiras. Fui muito pressionada, sofri pressão de torcedor, da imprensa, mas eu sabia e sei o que é melhor para o Palmeiras. Não posso ser irresponsável para mostrar que estamos contratando. Não vou comprometer meus compromissos para atender anseios de torcedores. Por isso que digo que administrar um clube de futebol não é difícil: você tem que ter coragem e responsabilidade.

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Como conquistou o respeito no meio de futebol, predominantemente masculino?

Acho que foi a credibilidade que passo para o torcedor. A mesma pessoa que está aqui conversando com você é a a pessoa que conversa com os profissionais, com o torcedor. Não sou várias pessoas, só uma só e falo a verdade. No futebol, as pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade, e quem trabalha com a verdade vai estar certo. Meu negócio, minha profissão, não é ser cartola, não vivo disso. Fui eleita, gosto muito, não pretendo sair do futebol.

Chamo a atenção também por ser mulher num ambiente tão masculino, no qual transito extremamente bem e à vontade. Às vezes falo mais firme do que muito homem. Eles me respeitam. As pessoas veem que quero o melhor para o futebol brasileiro, não só para o Palmeiras. O Palmeiras não joga sozinho. Meu time quer jogar contra times na mesma linha, com a mesma dificuldade, quero conquistar título num futebol com as mesmas oportunidades. O produto ficar melhor, mas isso não entra na cabeça de alguns cartolas. Não adianta o Palmeiras estar excelente se os outros clubes estão numa penúria e não pagam ninguém. Não quero isso, quero valorizar o produto.

Empresária de 59 diz que é uma 'dirigente diferente' no futebol Foto: Alex Silva/Estadão

Você sinalizou que suas empresas não vão mais manter o patrocínio master na camisa. O que, além de valores, será determinante para o clube fechar o novo patrocínio?

Minhas empresas ficaram 10 anos no clube. Costumo dizer que essa parceria foi extremamente vitoriosa. Quando chegamos, o Palmeiras estava com muita dificuldade, estava sem patrocinador havia dois anos. Agora, vêm as bets, com valores muito relevantes aos clubes. Todo mundo sabe que um futebol vencedor você só faz com investimento. Primeiro dinheiro, depois boa vontade, decência e responsabilidade. As bets estão mesmo investindo pesado nos clubes. Estamos no mercado em busca de empresas com credibilidade e com potencial para honrar o contrato. Não quero uma empresa para ficar três meses e sair no quarto mês, sem condições financeiras. Por isso essa demora, o Palmeiras é um clube diferenciado e aqui os patrocinadores fazem eras. Houve a era Parmalat, a Era Crefisa e agora, não tenho dúvidas, o próximo novo patrocinador vai colaborar para o início de uma nova era.

Já está definido que suas empresas não vão ficar no Palmeiras?

Não ficam. Tudo na vida tem um ciclo. Você começa um ciclo e termina. O ciclo da Crefisa e da FAM está chegando ao fim e espero que seja muito vitorioso, como foi no começo. Vamos negociar toda a camisa, o patrocínio máster e todas as propriedades.

Quanto vale a camisa do Palmeiras hoje?

Não gosto de falar em valores. Não pretendo entrar em disputa do tipo “o Palmeiras tem patrocinador maior que o clube A ou B”. Nossas disputas são dentro de campo. Não tenho dúvidas de que nosso departamento de marketing está fazendo o melhor trabalho possível para trazer a melhor empresa que consiga honrar os compromissos com essa camisa gigante do Palmeiras. Vamos negociar toda a camisa, o patrocínio máster e todas as propriedades.

O candidato da oposição, Savério Orlandi, disse que você pegou um modelo pronto e que o Palmeiras tem sido campeão no seu mandato apesar das suas ações. Qual sua parcela no sucesso do time em campo?

Se meu opositor ganhar as eleições tudo que construímos ele vai destruir. Ele já foi diretor de futebol durante quatro anos (entre 2007 e 2010) e conquistou um título, eu conquistei sete, é o autêntico 7 a 1. Por que ele não fez o que nós fizemos quando foi diretor de futebol? Ele deveria, como diretor de futebol, ter procurado alguém para investir no Palmeiras. É muito fácil falar. O grande legado do Savério foi ter contribuído para o rebaixamento do Palmeiras em 2012 porque ele entrou em 2007 e saiu em 2010 e um clube de futebol não cai de repente.

Ele deveria ter vergonha de falar isso porque se é um palmeirense como diz, deveria ter orgulho da administração hoje do Palmeiras. Tanto é que ele diz “se for reeleito, vou manter o Abel, vou manter os jogadores”. Ele deveria falar: vou manter a Leila (risos). Grande parte desses jogadores foram contratados em minha gestão, tive a humildade de continuar um trabalho bem feito pelo meu antecessor, o Maurício Galiotte. O Palmeiras, em 110 anos, nunca esteve tão bem. O mérito não é só meu, é um conjunto de trabalho de todos nós que demoram-se anos para construir, mas para destruir é em um ano. Volto a dizer: se meu opositor e a turma que está com ele conseguirem vencer as eleições, o Palmeiras volta ao que era quando ele foi diretor de futebol, não ganhou nada, só um Paulista, e preparou o Palmeiras para cair para a Série B em 2012. Nós não vamos deixar isso acontecer. Aliás, quem apoia esse candidato são os que derrubaram o Palmeiras em 2002 e 2012.

Leila diz, em entrevista ao Estadão, que não pensa em ser presidente da CBF Foto: Alex Silva/Estadão

Sei que você pensa a curto prazo e seu presente é no Palmeiras. Mas e depois? Tem a intenção de tentar ser presidente da CBF um dia?

Sou uma mulher focada, meu foco hoje é ser reeleita presidente do Palmeiras e conquistar mais títulos do que conquistamos na primeira gestão. Depois, o que for para contribuir com o futebol brasileiro, eu estarei à disposição. Várias pessoas me perguntam mesmo se eu quero ser presidente da CBF. Vejo que tem um clamor. Mas não é assim. No Palmeiras, as pessoas me falaram que eu seria o melhor nome para comandar o Palmeiras. Costumo dizer que foi o momento mais emocionante da minha vida. Os associados me elegeram para ser presidente desse clube gigante, com mais de 20 milhões de torcedores. É uma responsabilidade muito grande, assim como é muito grande a responsabilidade de administrar a CBF, mas não penso nisso hoje.

Se der tudo certo, fico mais três anos e, quando terminar meu mandato, vou continuar no Palmeiras, colaborando com o próximo presidente. Acho importante seguir a linha vitoriosa, da administração profissional, responsável e transparente, tirando a política do futebol.

Por que os clubes não conseguem se entender e criar a tão desejada liga única de clubes? É por causa da vaidade e de interesses individuais?

Acho que sim. Tentamos que todos os clubes estivessem em uma única liga. O que conseguimos? Dividir os times em dois grupos. Já participei de várias reuniões e, sinceramente, a curto prazo, não acredito na união de todos os clubes para formarmos uma liga única. Quando você me pergunta o porquê disso não consigo chegar a uma definição. Pelo menos chegamos a um acordo comercial na venda de direitos de televisão. Estamos tentando, conversando com os clubes que fazem parte do outro grupo, a LFU, eles também querem (a formação da liga), mas ninguém chega num denominador comum. E aí cada clube tem que tocar o seu dia a dia, não vamos ficar em reuniões. Aliás, algo que detesto são reuniões para não definir nada, é um encontro de amigos em que não se decide absolutamente nada.

Você é uma das dirigentes que defende o fair play no futebol brasileiro. Crê ser viável implementar o fair play no Brasil de modo semelhante ao que se vê na Europa?

Para implementar, tem de ser por meio da CBF, de cima para os clubes. Caso contrário, não vai ocorrer. Alguns clubes concordam, mas outros não. Se depender de muitos clubes não vai sair porque é de interesse de muitos dirigentes que não tenha o fair play financeiro. Eles podem ser irresponsáveis para conquistar o próximo campeonato. Depois eles saem, não acontece nada e o rombo fica. Tinha que ser implementados o fair play financeiro e a responsabilização do presidente por irresponsabilidades cometidas nas finanças do clube. O presidente de um clube tem muito poder. Eu, no Palmeiras, posso contratar o jogador que quiser, mas se eu não pagar são outros quinhentos. Aliás, não sei como existem clubes que vendem para outros que não pagam ninguém. Não estou acusando clube nenhum, vejo pela imprensa, e o que gostaria de ver eram todos os clubes com suas contas em dia, o dirigente podendo contratar e pagar, pagar em dia o salário de seus atletas. Acho inadmissível, como presidente, contratar jogadores e não pagar em dia os compromissos que tenho com meus atletas. Se o fair play financeiro não for implementado no Brasil, a grande maioria dos clubes vai quebrar e aí se transformam em SAF’s.

Sou popular porque o Palmeiras me tornou, mas não sou populista e não vou tomar decisões populistas. O Palmeiras é uma marca de primeira, um clube espetacular, e o futebol não vai tirar minha credibilidade. O que puder fazer será feito. Vou continuar honrando em dia os compromissos que tenho no clube.

Como você quer ser lembrada depois que deixar a presidência do Palmeiras?

Penso em administrar o Palmeiras e que o Palmeiras sirva de modelo de administração para o futebol brasileiro. É o legado que quero deixar quando sair.

Embora não se considere uma celebridade entre os dirigentes, Leila Pereira é a cartola mais famosa do País. São muitos os convites, mensagens, ligações e pedidos feitos diariamente a presidente do Palmeiras, que se gaba de o time ter conquistado 31 títulos sob sua gestão, entre competições profissionais, da base e do feminino. “Converso comigo mesma e eu falei pra mim que, como três anos passam muito rápido, precisava aproveitar a visibilidade que o Palmeiras dá para fazer algo produtivo para o futebol brasileiro, para as mulheres”, diz a mulher que ocupa o cargo mais proeminente do atual bicampeão brasileiro.

A um mês da eleição que definirá o próximo presidente do Palmeiras, a empresária de 59 anos recebeu o Estadão na Academia de Futebol, para onde vai quase todos os dias. Segundo ela, o respeito que conquistou no futebol, ambiente predominantemente masculino, é fruto da credibilidade que diz passar ao torcedor. “Sou uma dirigente diferente”, diz, enquanto seu celular recebe notificações em profusão. “Não sou várias pessoas, sou uma só e falo a verdade. No futebol, as pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade. Às vezes falo mais firme do que muito homem”.

Favorita a ser reeleita, a presidente fez ataques ao candidato da oposição, o advogado Savério Orlandi, ao afirmar que, se ele vencer o pleito, marcado para 24 de novembro, irá reconduzir o time a um dos piores períodos da história, precedente ao segundo rebaixamento à Série B. “O grande legado do Savério foi ter contribuído para o rebaixamento do Palmeiras em 2012. Ele entrou em 2007 e saiu em 2010, um clube de futebol não cai de repente”.

Nesta entrevista, a empresária que poucos sabiam quem era há dez anos e caminha para gerir um dos times mais poderosos do País por mais três anos, repassa suas ações em três anos no comando do Palmeiras, reflete sobre as mazelas do futebol brasileiro e fala sobre a necessidade de ser implantado o fair play financeiro no futebol brasileiro e de os clubes se entenderem para criar a tão desejada liga única.

Para Leila Pereira, caso oposição vença eleição, Palmeiras voltará para o que era em 2012, ano de seu segundo rebaixamento Foto: Alex Silva/Estadão

Como foi administrar o Palmeiras nesses três anos?

Administrar um clube de futebol não é difícil. Eu não senti dificuldade porque já vim para o Palmeiras com a mentalidade de que nós administraríamos o clube como se fosse uma empresa. Eu dou autonomia para os profissionais. Só trabalha no Palmeiras quem realmente é competente. Não existe indicação política aqui. Sou um ser político, claro, se não não teria sido eleita, mas faço política no clube social, não no futebol. Tenho muita sorte que os conselheiros e conselheiras que me apoiam entendem que o Palmeiras tem de ser administrado profissionalmente. Não existe interferência política no futebol, por isso os profissionais trabalham com tranquilidade. O estresse é do muro para fora.

É mais fácil gerir o Palmeiras que suas empresas?

Sim e não. Sim porque cheguei no Palmeiras com uma estrutura organizada. Melhoramos bastante, mas já estava tudo bem encaminhado. A diferença de um clube para uma empresa é que, no ambiente empresarial, você não mexe com paixão. No futebol tem a torcida, que é emoção pura.

Caso seja reeleita, o que você fará à frente do clube que não conseguiu fazer nesse primeiro mandato?

Tudo que desejei fazer eu fiz, tanto é que os resultados vieram. Nossa gestão, em dois anos e meio, conquistou 31 títulos, considerando competições de base, profissional e feminino. Isso nunca tinha acontecido na história do Palmeiras. Não acontece por acaso. É administração, profissionalismo. As pessoas trabalham com tranquilidade. Tem a pressão da torcida, claro, mas é do muro pra fora, e é óbvio que é um jogo, não vamos ganhar sempre. O que pretendo fazer é melhorar alguns pontos que aparecerem e tiverem de ser melhorados. A ideia é dar continuidade a esse trabalho, com os profissionais que estão aqui. Se tiver solicitação do departamento de futebol, iremos ao mercado para fortalecer o elenco.

Você diz que ser uma executiva, que executa, mas também ouve os conselhos de outros profissionais e muda de rota se for necessário. Arrepende-se de algo que tenha feito durante sua gestão?

Não. Não sou uma pessoa que se arrepende de atitudes porque encaro o erro como uma oportunidade de fazer da forma correta depois. A vida é ao vivo e a cores, você não ensaia. Sou uma mulher que decide, eu gosto de decidir e nem sempre tomo a melhor decisão. O importante no clube é que a última palavra é sempre minha, mas minhas decisões são sempre pautas em conversas com os departamentos envolvidos. A presidente nunca pega ninguém de surpresa no futebol. É tudo conversado e a última palavra é minha. Se a decisão for equivocada, ela nunca é solitária. Tenho muita tranquilidade no Palmeiras porque acredito que aqui trabalham os melhores profissionais do Brasil, tanto é que o assédio que sofro com os profissionais é uma loucura. Todos querem tirar eles daqui, mas eles não saem porque sabem que o ambiente é bom, que nós cumprimos com nossas obrigações e temos credibilidade. Falo do Abel, dos jogadores e de todos profissionais.

Leila é favorita na eleição para comandar o Palmeiras por mais três anos Foto: Alex Silva/Estadão

Existe o entendimento de que você furou a bolha do futebol e é conhecida por pessoas que não acompanham o Palmeiras nem o esporte. Considera ser uma celebridade entre os cartolas?

Não gosto de dizer que sou celebridade. Não me considero uma celebridade, em hipótese alguma. Eu recebo convite, vou aos programas (de televisão), e gosto de conversar com as pessoas, gosto de expor as minhas ideias. Converso comigo mesma e eu falei pra mim que, como três anos passam muito rápido, precisava aproveitar a visibilidade que o Palmeiras dá para fazer algo produtivo para o futebol brasileiro, para as mulheres... Tem muito cartola que passa nos clubes e não tem utilidade nenhuma, pelo contrário, faria um favor se não estivesse estado no cargo. Pensei que precisava ajudar na visibilidade das mulheres e do futebol, na forma de administrar um clube sem medo, sem pensar na reeleição, em conchavos. Não quero isso e não faço isso. Por isso digo que sou uma dirigente diferente. Não tenho medo de não ser reeleita.

Aproveitei a oportunidade de ser presidente para mostrar que um clube pode ser vitorioso sem ser irresponsável. No meio do ano passado, o Palmeiras foi o único clube que não contratou ninguém e quem foi campeão no fim do ano? O Palmeiras. Fui muito pressionada, sofri pressão de torcedor, da imprensa, mas eu sabia e sei o que é melhor para o Palmeiras. Não posso ser irresponsável para mostrar que estamos contratando. Não vou comprometer meus compromissos para atender anseios de torcedores. Por isso que digo que administrar um clube de futebol não é difícil: você tem que ter coragem e responsabilidade.

Como conquistou o respeito no meio de futebol, predominantemente masculino?

Acho que foi a credibilidade que passo para o torcedor. A mesma pessoa que está aqui conversando com você é a a pessoa que conversa com os profissionais, com o torcedor. Não sou várias pessoas, só uma só e falo a verdade. No futebol, as pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade, e quem trabalha com a verdade vai estar certo. Meu negócio, minha profissão, não é ser cartola, não vivo disso. Fui eleita, gosto muito, não pretendo sair do futebol.

Chamo a atenção também por ser mulher num ambiente tão masculino, no qual transito extremamente bem e à vontade. Às vezes falo mais firme do que muito homem. Eles me respeitam. As pessoas veem que quero o melhor para o futebol brasileiro, não só para o Palmeiras. O Palmeiras não joga sozinho. Meu time quer jogar contra times na mesma linha, com a mesma dificuldade, quero conquistar título num futebol com as mesmas oportunidades. O produto ficar melhor, mas isso não entra na cabeça de alguns cartolas. Não adianta o Palmeiras estar excelente se os outros clubes estão numa penúria e não pagam ninguém. Não quero isso, quero valorizar o produto.

Empresária de 59 diz que é uma 'dirigente diferente' no futebol Foto: Alex Silva/Estadão

Você sinalizou que suas empresas não vão mais manter o patrocínio master na camisa. O que, além de valores, será determinante para o clube fechar o novo patrocínio?

Minhas empresas ficaram 10 anos no clube. Costumo dizer que essa parceria foi extremamente vitoriosa. Quando chegamos, o Palmeiras estava com muita dificuldade, estava sem patrocinador havia dois anos. Agora, vêm as bets, com valores muito relevantes aos clubes. Todo mundo sabe que um futebol vencedor você só faz com investimento. Primeiro dinheiro, depois boa vontade, decência e responsabilidade. As bets estão mesmo investindo pesado nos clubes. Estamos no mercado em busca de empresas com credibilidade e com potencial para honrar o contrato. Não quero uma empresa para ficar três meses e sair no quarto mês, sem condições financeiras. Por isso essa demora, o Palmeiras é um clube diferenciado e aqui os patrocinadores fazem eras. Houve a era Parmalat, a Era Crefisa e agora, não tenho dúvidas, o próximo novo patrocinador vai colaborar para o início de uma nova era.

Já está definido que suas empresas não vão ficar no Palmeiras?

Não ficam. Tudo na vida tem um ciclo. Você começa um ciclo e termina. O ciclo da Crefisa e da FAM está chegando ao fim e espero que seja muito vitorioso, como foi no começo. Vamos negociar toda a camisa, o patrocínio máster e todas as propriedades.

Quanto vale a camisa do Palmeiras hoje?

Não gosto de falar em valores. Não pretendo entrar em disputa do tipo “o Palmeiras tem patrocinador maior que o clube A ou B”. Nossas disputas são dentro de campo. Não tenho dúvidas de que nosso departamento de marketing está fazendo o melhor trabalho possível para trazer a melhor empresa que consiga honrar os compromissos com essa camisa gigante do Palmeiras. Vamos negociar toda a camisa, o patrocínio máster e todas as propriedades.

O candidato da oposição, Savério Orlandi, disse que você pegou um modelo pronto e que o Palmeiras tem sido campeão no seu mandato apesar das suas ações. Qual sua parcela no sucesso do time em campo?

Se meu opositor ganhar as eleições tudo que construímos ele vai destruir. Ele já foi diretor de futebol durante quatro anos (entre 2007 e 2010) e conquistou um título, eu conquistei sete, é o autêntico 7 a 1. Por que ele não fez o que nós fizemos quando foi diretor de futebol? Ele deveria, como diretor de futebol, ter procurado alguém para investir no Palmeiras. É muito fácil falar. O grande legado do Savério foi ter contribuído para o rebaixamento do Palmeiras em 2012 porque ele entrou em 2007 e saiu em 2010 e um clube de futebol não cai de repente.

Ele deveria ter vergonha de falar isso porque se é um palmeirense como diz, deveria ter orgulho da administração hoje do Palmeiras. Tanto é que ele diz “se for reeleito, vou manter o Abel, vou manter os jogadores”. Ele deveria falar: vou manter a Leila (risos). Grande parte desses jogadores foram contratados em minha gestão, tive a humildade de continuar um trabalho bem feito pelo meu antecessor, o Maurício Galiotte. O Palmeiras, em 110 anos, nunca esteve tão bem. O mérito não é só meu, é um conjunto de trabalho de todos nós que demoram-se anos para construir, mas para destruir é em um ano. Volto a dizer: se meu opositor e a turma que está com ele conseguirem vencer as eleições, o Palmeiras volta ao que era quando ele foi diretor de futebol, não ganhou nada, só um Paulista, e preparou o Palmeiras para cair para a Série B em 2012. Nós não vamos deixar isso acontecer. Aliás, quem apoia esse candidato são os que derrubaram o Palmeiras em 2002 e 2012.

Leila diz, em entrevista ao Estadão, que não pensa em ser presidente da CBF Foto: Alex Silva/Estadão

Sei que você pensa a curto prazo e seu presente é no Palmeiras. Mas e depois? Tem a intenção de tentar ser presidente da CBF um dia?

Sou uma mulher focada, meu foco hoje é ser reeleita presidente do Palmeiras e conquistar mais títulos do que conquistamos na primeira gestão. Depois, o que for para contribuir com o futebol brasileiro, eu estarei à disposição. Várias pessoas me perguntam mesmo se eu quero ser presidente da CBF. Vejo que tem um clamor. Mas não é assim. No Palmeiras, as pessoas me falaram que eu seria o melhor nome para comandar o Palmeiras. Costumo dizer que foi o momento mais emocionante da minha vida. Os associados me elegeram para ser presidente desse clube gigante, com mais de 20 milhões de torcedores. É uma responsabilidade muito grande, assim como é muito grande a responsabilidade de administrar a CBF, mas não penso nisso hoje.

Se der tudo certo, fico mais três anos e, quando terminar meu mandato, vou continuar no Palmeiras, colaborando com o próximo presidente. Acho importante seguir a linha vitoriosa, da administração profissional, responsável e transparente, tirando a política do futebol.

Por que os clubes não conseguem se entender e criar a tão desejada liga única de clubes? É por causa da vaidade e de interesses individuais?

Acho que sim. Tentamos que todos os clubes estivessem em uma única liga. O que conseguimos? Dividir os times em dois grupos. Já participei de várias reuniões e, sinceramente, a curto prazo, não acredito na união de todos os clubes para formarmos uma liga única. Quando você me pergunta o porquê disso não consigo chegar a uma definição. Pelo menos chegamos a um acordo comercial na venda de direitos de televisão. Estamos tentando, conversando com os clubes que fazem parte do outro grupo, a LFU, eles também querem (a formação da liga), mas ninguém chega num denominador comum. E aí cada clube tem que tocar o seu dia a dia, não vamos ficar em reuniões. Aliás, algo que detesto são reuniões para não definir nada, é um encontro de amigos em que não se decide absolutamente nada.

Você é uma das dirigentes que defende o fair play no futebol brasileiro. Crê ser viável implementar o fair play no Brasil de modo semelhante ao que se vê na Europa?

Para implementar, tem de ser por meio da CBF, de cima para os clubes. Caso contrário, não vai ocorrer. Alguns clubes concordam, mas outros não. Se depender de muitos clubes não vai sair porque é de interesse de muitos dirigentes que não tenha o fair play financeiro. Eles podem ser irresponsáveis para conquistar o próximo campeonato. Depois eles saem, não acontece nada e o rombo fica. Tinha que ser implementados o fair play financeiro e a responsabilização do presidente por irresponsabilidades cometidas nas finanças do clube. O presidente de um clube tem muito poder. Eu, no Palmeiras, posso contratar o jogador que quiser, mas se eu não pagar são outros quinhentos. Aliás, não sei como existem clubes que vendem para outros que não pagam ninguém. Não estou acusando clube nenhum, vejo pela imprensa, e o que gostaria de ver eram todos os clubes com suas contas em dia, o dirigente podendo contratar e pagar, pagar em dia o salário de seus atletas. Acho inadmissível, como presidente, contratar jogadores e não pagar em dia os compromissos que tenho com meus atletas. Se o fair play financeiro não for implementado no Brasil, a grande maioria dos clubes vai quebrar e aí se transformam em SAF’s.

Sou popular porque o Palmeiras me tornou, mas não sou populista e não vou tomar decisões populistas. O Palmeiras é uma marca de primeira, um clube espetacular, e o futebol não vai tirar minha credibilidade. O que puder fazer será feito. Vou continuar honrando em dia os compromissos que tenho no clube.

Como você quer ser lembrada depois que deixar a presidência do Palmeiras?

Penso em administrar o Palmeiras e que o Palmeiras sirva de modelo de administração para o futebol brasileiro. É o legado que quero deixar quando sair.

Embora não se considere uma celebridade entre os dirigentes, Leila Pereira é a cartola mais famosa do País. São muitos os convites, mensagens, ligações e pedidos feitos diariamente a presidente do Palmeiras, que se gaba de o time ter conquistado 31 títulos sob sua gestão, entre competições profissionais, da base e do feminino. “Converso comigo mesma e eu falei pra mim que, como três anos passam muito rápido, precisava aproveitar a visibilidade que o Palmeiras dá para fazer algo produtivo para o futebol brasileiro, para as mulheres”, diz a mulher que ocupa o cargo mais proeminente do atual bicampeão brasileiro.

A um mês da eleição que definirá o próximo presidente do Palmeiras, a empresária de 59 anos recebeu o Estadão na Academia de Futebol, para onde vai quase todos os dias. Segundo ela, o respeito que conquistou no futebol, ambiente predominantemente masculino, é fruto da credibilidade que diz passar ao torcedor. “Sou uma dirigente diferente”, diz, enquanto seu celular recebe notificações em profusão. “Não sou várias pessoas, sou uma só e falo a verdade. No futebol, as pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade. Às vezes falo mais firme do que muito homem”.

Favorita a ser reeleita, a presidente fez ataques ao candidato da oposição, o advogado Savério Orlandi, ao afirmar que, se ele vencer o pleito, marcado para 24 de novembro, irá reconduzir o time a um dos piores períodos da história, precedente ao segundo rebaixamento à Série B. “O grande legado do Savério foi ter contribuído para o rebaixamento do Palmeiras em 2012. Ele entrou em 2007 e saiu em 2010, um clube de futebol não cai de repente”.

Nesta entrevista, a empresária que poucos sabiam quem era há dez anos e caminha para gerir um dos times mais poderosos do País por mais três anos, repassa suas ações em três anos no comando do Palmeiras, reflete sobre as mazelas do futebol brasileiro e fala sobre a necessidade de ser implantado o fair play financeiro no futebol brasileiro e de os clubes se entenderem para criar a tão desejada liga única.

Para Leila Pereira, caso oposição vença eleição, Palmeiras voltará para o que era em 2012, ano de seu segundo rebaixamento Foto: Alex Silva/Estadão

Como foi administrar o Palmeiras nesses três anos?

Administrar um clube de futebol não é difícil. Eu não senti dificuldade porque já vim para o Palmeiras com a mentalidade de que nós administraríamos o clube como se fosse uma empresa. Eu dou autonomia para os profissionais. Só trabalha no Palmeiras quem realmente é competente. Não existe indicação política aqui. Sou um ser político, claro, se não não teria sido eleita, mas faço política no clube social, não no futebol. Tenho muita sorte que os conselheiros e conselheiras que me apoiam entendem que o Palmeiras tem de ser administrado profissionalmente. Não existe interferência política no futebol, por isso os profissionais trabalham com tranquilidade. O estresse é do muro para fora.

É mais fácil gerir o Palmeiras que suas empresas?

Sim e não. Sim porque cheguei no Palmeiras com uma estrutura organizada. Melhoramos bastante, mas já estava tudo bem encaminhado. A diferença de um clube para uma empresa é que, no ambiente empresarial, você não mexe com paixão. No futebol tem a torcida, que é emoção pura.

Caso seja reeleita, o que você fará à frente do clube que não conseguiu fazer nesse primeiro mandato?

Tudo que desejei fazer eu fiz, tanto é que os resultados vieram. Nossa gestão, em dois anos e meio, conquistou 31 títulos, considerando competições de base, profissional e feminino. Isso nunca tinha acontecido na história do Palmeiras. Não acontece por acaso. É administração, profissionalismo. As pessoas trabalham com tranquilidade. Tem a pressão da torcida, claro, mas é do muro pra fora, e é óbvio que é um jogo, não vamos ganhar sempre. O que pretendo fazer é melhorar alguns pontos que aparecerem e tiverem de ser melhorados. A ideia é dar continuidade a esse trabalho, com os profissionais que estão aqui. Se tiver solicitação do departamento de futebol, iremos ao mercado para fortalecer o elenco.

Você diz que ser uma executiva, que executa, mas também ouve os conselhos de outros profissionais e muda de rota se for necessário. Arrepende-se de algo que tenha feito durante sua gestão?

Não. Não sou uma pessoa que se arrepende de atitudes porque encaro o erro como uma oportunidade de fazer da forma correta depois. A vida é ao vivo e a cores, você não ensaia. Sou uma mulher que decide, eu gosto de decidir e nem sempre tomo a melhor decisão. O importante no clube é que a última palavra é sempre minha, mas minhas decisões são sempre pautas em conversas com os departamentos envolvidos. A presidente nunca pega ninguém de surpresa no futebol. É tudo conversado e a última palavra é minha. Se a decisão for equivocada, ela nunca é solitária. Tenho muita tranquilidade no Palmeiras porque acredito que aqui trabalham os melhores profissionais do Brasil, tanto é que o assédio que sofro com os profissionais é uma loucura. Todos querem tirar eles daqui, mas eles não saem porque sabem que o ambiente é bom, que nós cumprimos com nossas obrigações e temos credibilidade. Falo do Abel, dos jogadores e de todos profissionais.

Leila é favorita na eleição para comandar o Palmeiras por mais três anos Foto: Alex Silva/Estadão

Existe o entendimento de que você furou a bolha do futebol e é conhecida por pessoas que não acompanham o Palmeiras nem o esporte. Considera ser uma celebridade entre os cartolas?

Não gosto de dizer que sou celebridade. Não me considero uma celebridade, em hipótese alguma. Eu recebo convite, vou aos programas (de televisão), e gosto de conversar com as pessoas, gosto de expor as minhas ideias. Converso comigo mesma e eu falei pra mim que, como três anos passam muito rápido, precisava aproveitar a visibilidade que o Palmeiras dá para fazer algo produtivo para o futebol brasileiro, para as mulheres... Tem muito cartola que passa nos clubes e não tem utilidade nenhuma, pelo contrário, faria um favor se não estivesse estado no cargo. Pensei que precisava ajudar na visibilidade das mulheres e do futebol, na forma de administrar um clube sem medo, sem pensar na reeleição, em conchavos. Não quero isso e não faço isso. Por isso digo que sou uma dirigente diferente. Não tenho medo de não ser reeleita.

Aproveitei a oportunidade de ser presidente para mostrar que um clube pode ser vitorioso sem ser irresponsável. No meio do ano passado, o Palmeiras foi o único clube que não contratou ninguém e quem foi campeão no fim do ano? O Palmeiras. Fui muito pressionada, sofri pressão de torcedor, da imprensa, mas eu sabia e sei o que é melhor para o Palmeiras. Não posso ser irresponsável para mostrar que estamos contratando. Não vou comprometer meus compromissos para atender anseios de torcedores. Por isso que digo que administrar um clube de futebol não é difícil: você tem que ter coragem e responsabilidade.

Como conquistou o respeito no meio de futebol, predominantemente masculino?

Acho que foi a credibilidade que passo para o torcedor. A mesma pessoa que está aqui conversando com você é a a pessoa que conversa com os profissionais, com o torcedor. Não sou várias pessoas, só uma só e falo a verdade. No futebol, as pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade, e quem trabalha com a verdade vai estar certo. Meu negócio, minha profissão, não é ser cartola, não vivo disso. Fui eleita, gosto muito, não pretendo sair do futebol.

Chamo a atenção também por ser mulher num ambiente tão masculino, no qual transito extremamente bem e à vontade. Às vezes falo mais firme do que muito homem. Eles me respeitam. As pessoas veem que quero o melhor para o futebol brasileiro, não só para o Palmeiras. O Palmeiras não joga sozinho. Meu time quer jogar contra times na mesma linha, com a mesma dificuldade, quero conquistar título num futebol com as mesmas oportunidades. O produto ficar melhor, mas isso não entra na cabeça de alguns cartolas. Não adianta o Palmeiras estar excelente se os outros clubes estão numa penúria e não pagam ninguém. Não quero isso, quero valorizar o produto.

Empresária de 59 diz que é uma 'dirigente diferente' no futebol Foto: Alex Silva/Estadão

Você sinalizou que suas empresas não vão mais manter o patrocínio master na camisa. O que, além de valores, será determinante para o clube fechar o novo patrocínio?

Minhas empresas ficaram 10 anos no clube. Costumo dizer que essa parceria foi extremamente vitoriosa. Quando chegamos, o Palmeiras estava com muita dificuldade, estava sem patrocinador havia dois anos. Agora, vêm as bets, com valores muito relevantes aos clubes. Todo mundo sabe que um futebol vencedor você só faz com investimento. Primeiro dinheiro, depois boa vontade, decência e responsabilidade. As bets estão mesmo investindo pesado nos clubes. Estamos no mercado em busca de empresas com credibilidade e com potencial para honrar o contrato. Não quero uma empresa para ficar três meses e sair no quarto mês, sem condições financeiras. Por isso essa demora, o Palmeiras é um clube diferenciado e aqui os patrocinadores fazem eras. Houve a era Parmalat, a Era Crefisa e agora, não tenho dúvidas, o próximo novo patrocinador vai colaborar para o início de uma nova era.

Já está definido que suas empresas não vão ficar no Palmeiras?

Não ficam. Tudo na vida tem um ciclo. Você começa um ciclo e termina. O ciclo da Crefisa e da FAM está chegando ao fim e espero que seja muito vitorioso, como foi no começo. Vamos negociar toda a camisa, o patrocínio máster e todas as propriedades.

Quanto vale a camisa do Palmeiras hoje?

Não gosto de falar em valores. Não pretendo entrar em disputa do tipo “o Palmeiras tem patrocinador maior que o clube A ou B”. Nossas disputas são dentro de campo. Não tenho dúvidas de que nosso departamento de marketing está fazendo o melhor trabalho possível para trazer a melhor empresa que consiga honrar os compromissos com essa camisa gigante do Palmeiras. Vamos negociar toda a camisa, o patrocínio máster e todas as propriedades.

O candidato da oposição, Savério Orlandi, disse que você pegou um modelo pronto e que o Palmeiras tem sido campeão no seu mandato apesar das suas ações. Qual sua parcela no sucesso do time em campo?

Se meu opositor ganhar as eleições tudo que construímos ele vai destruir. Ele já foi diretor de futebol durante quatro anos (entre 2007 e 2010) e conquistou um título, eu conquistei sete, é o autêntico 7 a 1. Por que ele não fez o que nós fizemos quando foi diretor de futebol? Ele deveria, como diretor de futebol, ter procurado alguém para investir no Palmeiras. É muito fácil falar. O grande legado do Savério foi ter contribuído para o rebaixamento do Palmeiras em 2012 porque ele entrou em 2007 e saiu em 2010 e um clube de futebol não cai de repente.

Ele deveria ter vergonha de falar isso porque se é um palmeirense como diz, deveria ter orgulho da administração hoje do Palmeiras. Tanto é que ele diz “se for reeleito, vou manter o Abel, vou manter os jogadores”. Ele deveria falar: vou manter a Leila (risos). Grande parte desses jogadores foram contratados em minha gestão, tive a humildade de continuar um trabalho bem feito pelo meu antecessor, o Maurício Galiotte. O Palmeiras, em 110 anos, nunca esteve tão bem. O mérito não é só meu, é um conjunto de trabalho de todos nós que demoram-se anos para construir, mas para destruir é em um ano. Volto a dizer: se meu opositor e a turma que está com ele conseguirem vencer as eleições, o Palmeiras volta ao que era quando ele foi diretor de futebol, não ganhou nada, só um Paulista, e preparou o Palmeiras para cair para a Série B em 2012. Nós não vamos deixar isso acontecer. Aliás, quem apoia esse candidato são os que derrubaram o Palmeiras em 2002 e 2012.

Leila diz, em entrevista ao Estadão, que não pensa em ser presidente da CBF Foto: Alex Silva/Estadão

Sei que você pensa a curto prazo e seu presente é no Palmeiras. Mas e depois? Tem a intenção de tentar ser presidente da CBF um dia?

Sou uma mulher focada, meu foco hoje é ser reeleita presidente do Palmeiras e conquistar mais títulos do que conquistamos na primeira gestão. Depois, o que for para contribuir com o futebol brasileiro, eu estarei à disposição. Várias pessoas me perguntam mesmo se eu quero ser presidente da CBF. Vejo que tem um clamor. Mas não é assim. No Palmeiras, as pessoas me falaram que eu seria o melhor nome para comandar o Palmeiras. Costumo dizer que foi o momento mais emocionante da minha vida. Os associados me elegeram para ser presidente desse clube gigante, com mais de 20 milhões de torcedores. É uma responsabilidade muito grande, assim como é muito grande a responsabilidade de administrar a CBF, mas não penso nisso hoje.

Se der tudo certo, fico mais três anos e, quando terminar meu mandato, vou continuar no Palmeiras, colaborando com o próximo presidente. Acho importante seguir a linha vitoriosa, da administração profissional, responsável e transparente, tirando a política do futebol.

Por que os clubes não conseguem se entender e criar a tão desejada liga única de clubes? É por causa da vaidade e de interesses individuais?

Acho que sim. Tentamos que todos os clubes estivessem em uma única liga. O que conseguimos? Dividir os times em dois grupos. Já participei de várias reuniões e, sinceramente, a curto prazo, não acredito na união de todos os clubes para formarmos uma liga única. Quando você me pergunta o porquê disso não consigo chegar a uma definição. Pelo menos chegamos a um acordo comercial na venda de direitos de televisão. Estamos tentando, conversando com os clubes que fazem parte do outro grupo, a LFU, eles também querem (a formação da liga), mas ninguém chega num denominador comum. E aí cada clube tem que tocar o seu dia a dia, não vamos ficar em reuniões. Aliás, algo que detesto são reuniões para não definir nada, é um encontro de amigos em que não se decide absolutamente nada.

Você é uma das dirigentes que defende o fair play no futebol brasileiro. Crê ser viável implementar o fair play no Brasil de modo semelhante ao que se vê na Europa?

Para implementar, tem de ser por meio da CBF, de cima para os clubes. Caso contrário, não vai ocorrer. Alguns clubes concordam, mas outros não. Se depender de muitos clubes não vai sair porque é de interesse de muitos dirigentes que não tenha o fair play financeiro. Eles podem ser irresponsáveis para conquistar o próximo campeonato. Depois eles saem, não acontece nada e o rombo fica. Tinha que ser implementados o fair play financeiro e a responsabilização do presidente por irresponsabilidades cometidas nas finanças do clube. O presidente de um clube tem muito poder. Eu, no Palmeiras, posso contratar o jogador que quiser, mas se eu não pagar são outros quinhentos. Aliás, não sei como existem clubes que vendem para outros que não pagam ninguém. Não estou acusando clube nenhum, vejo pela imprensa, e o que gostaria de ver eram todos os clubes com suas contas em dia, o dirigente podendo contratar e pagar, pagar em dia o salário de seus atletas. Acho inadmissível, como presidente, contratar jogadores e não pagar em dia os compromissos que tenho com meus atletas. Se o fair play financeiro não for implementado no Brasil, a grande maioria dos clubes vai quebrar e aí se transformam em SAF’s.

Sou popular porque o Palmeiras me tornou, mas não sou populista e não vou tomar decisões populistas. O Palmeiras é uma marca de primeira, um clube espetacular, e o futebol não vai tirar minha credibilidade. O que puder fazer será feito. Vou continuar honrando em dia os compromissos que tenho no clube.

Como você quer ser lembrada depois que deixar a presidência do Palmeiras?

Penso em administrar o Palmeiras e que o Palmeiras sirva de modelo de administração para o futebol brasileiro. É o legado que quero deixar quando sair.

Embora não se considere uma celebridade entre os dirigentes, Leila Pereira é a cartola mais famosa do País. São muitos os convites, mensagens, ligações e pedidos feitos diariamente a presidente do Palmeiras, que se gaba de o time ter conquistado 31 títulos sob sua gestão, entre competições profissionais, da base e do feminino. “Converso comigo mesma e eu falei pra mim que, como três anos passam muito rápido, precisava aproveitar a visibilidade que o Palmeiras dá para fazer algo produtivo para o futebol brasileiro, para as mulheres”, diz a mulher que ocupa o cargo mais proeminente do atual bicampeão brasileiro.

A um mês da eleição que definirá o próximo presidente do Palmeiras, a empresária de 59 anos recebeu o Estadão na Academia de Futebol, para onde vai quase todos os dias. Segundo ela, o respeito que conquistou no futebol, ambiente predominantemente masculino, é fruto da credibilidade que diz passar ao torcedor. “Sou uma dirigente diferente”, diz, enquanto seu celular recebe notificações em profusão. “Não sou várias pessoas, sou uma só e falo a verdade. No futebol, as pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade. Às vezes falo mais firme do que muito homem”.

Favorita a ser reeleita, a presidente fez ataques ao candidato da oposição, o advogado Savério Orlandi, ao afirmar que, se ele vencer o pleito, marcado para 24 de novembro, irá reconduzir o time a um dos piores períodos da história, precedente ao segundo rebaixamento à Série B. “O grande legado do Savério foi ter contribuído para o rebaixamento do Palmeiras em 2012. Ele entrou em 2007 e saiu em 2010, um clube de futebol não cai de repente”.

Nesta entrevista, a empresária que poucos sabiam quem era há dez anos e caminha para gerir um dos times mais poderosos do País por mais três anos, repassa suas ações em três anos no comando do Palmeiras, reflete sobre as mazelas do futebol brasileiro e fala sobre a necessidade de ser implantado o fair play financeiro no futebol brasileiro e de os clubes se entenderem para criar a tão desejada liga única.

Para Leila Pereira, caso oposição vença eleição, Palmeiras voltará para o que era em 2012, ano de seu segundo rebaixamento Foto: Alex Silva/Estadão

Como foi administrar o Palmeiras nesses três anos?

Administrar um clube de futebol não é difícil. Eu não senti dificuldade porque já vim para o Palmeiras com a mentalidade de que nós administraríamos o clube como se fosse uma empresa. Eu dou autonomia para os profissionais. Só trabalha no Palmeiras quem realmente é competente. Não existe indicação política aqui. Sou um ser político, claro, se não não teria sido eleita, mas faço política no clube social, não no futebol. Tenho muita sorte que os conselheiros e conselheiras que me apoiam entendem que o Palmeiras tem de ser administrado profissionalmente. Não existe interferência política no futebol, por isso os profissionais trabalham com tranquilidade. O estresse é do muro para fora.

É mais fácil gerir o Palmeiras que suas empresas?

Sim e não. Sim porque cheguei no Palmeiras com uma estrutura organizada. Melhoramos bastante, mas já estava tudo bem encaminhado. A diferença de um clube para uma empresa é que, no ambiente empresarial, você não mexe com paixão. No futebol tem a torcida, que é emoção pura.

Caso seja reeleita, o que você fará à frente do clube que não conseguiu fazer nesse primeiro mandato?

Tudo que desejei fazer eu fiz, tanto é que os resultados vieram. Nossa gestão, em dois anos e meio, conquistou 31 títulos, considerando competições de base, profissional e feminino. Isso nunca tinha acontecido na história do Palmeiras. Não acontece por acaso. É administração, profissionalismo. As pessoas trabalham com tranquilidade. Tem a pressão da torcida, claro, mas é do muro pra fora, e é óbvio que é um jogo, não vamos ganhar sempre. O que pretendo fazer é melhorar alguns pontos que aparecerem e tiverem de ser melhorados. A ideia é dar continuidade a esse trabalho, com os profissionais que estão aqui. Se tiver solicitação do departamento de futebol, iremos ao mercado para fortalecer o elenco.

Você diz que ser uma executiva, que executa, mas também ouve os conselhos de outros profissionais e muda de rota se for necessário. Arrepende-se de algo que tenha feito durante sua gestão?

Não. Não sou uma pessoa que se arrepende de atitudes porque encaro o erro como uma oportunidade de fazer da forma correta depois. A vida é ao vivo e a cores, você não ensaia. Sou uma mulher que decide, eu gosto de decidir e nem sempre tomo a melhor decisão. O importante no clube é que a última palavra é sempre minha, mas minhas decisões são sempre pautas em conversas com os departamentos envolvidos. A presidente nunca pega ninguém de surpresa no futebol. É tudo conversado e a última palavra é minha. Se a decisão for equivocada, ela nunca é solitária. Tenho muita tranquilidade no Palmeiras porque acredito que aqui trabalham os melhores profissionais do Brasil, tanto é que o assédio que sofro com os profissionais é uma loucura. Todos querem tirar eles daqui, mas eles não saem porque sabem que o ambiente é bom, que nós cumprimos com nossas obrigações e temos credibilidade. Falo do Abel, dos jogadores e de todos profissionais.

Leila é favorita na eleição para comandar o Palmeiras por mais três anos Foto: Alex Silva/Estadão

Existe o entendimento de que você furou a bolha do futebol e é conhecida por pessoas que não acompanham o Palmeiras nem o esporte. Considera ser uma celebridade entre os cartolas?

Não gosto de dizer que sou celebridade. Não me considero uma celebridade, em hipótese alguma. Eu recebo convite, vou aos programas (de televisão), e gosto de conversar com as pessoas, gosto de expor as minhas ideias. Converso comigo mesma e eu falei pra mim que, como três anos passam muito rápido, precisava aproveitar a visibilidade que o Palmeiras dá para fazer algo produtivo para o futebol brasileiro, para as mulheres... Tem muito cartola que passa nos clubes e não tem utilidade nenhuma, pelo contrário, faria um favor se não estivesse estado no cargo. Pensei que precisava ajudar na visibilidade das mulheres e do futebol, na forma de administrar um clube sem medo, sem pensar na reeleição, em conchavos. Não quero isso e não faço isso. Por isso digo que sou uma dirigente diferente. Não tenho medo de não ser reeleita.

Aproveitei a oportunidade de ser presidente para mostrar que um clube pode ser vitorioso sem ser irresponsável. No meio do ano passado, o Palmeiras foi o único clube que não contratou ninguém e quem foi campeão no fim do ano? O Palmeiras. Fui muito pressionada, sofri pressão de torcedor, da imprensa, mas eu sabia e sei o que é melhor para o Palmeiras. Não posso ser irresponsável para mostrar que estamos contratando. Não vou comprometer meus compromissos para atender anseios de torcedores. Por isso que digo que administrar um clube de futebol não é difícil: você tem que ter coragem e responsabilidade.

Como conquistou o respeito no meio de futebol, predominantemente masculino?

Acho que foi a credibilidade que passo para o torcedor. A mesma pessoa que está aqui conversando com você é a a pessoa que conversa com os profissionais, com o torcedor. Não sou várias pessoas, só uma só e falo a verdade. No futebol, as pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade, e quem trabalha com a verdade vai estar certo. Meu negócio, minha profissão, não é ser cartola, não vivo disso. Fui eleita, gosto muito, não pretendo sair do futebol.

Chamo a atenção também por ser mulher num ambiente tão masculino, no qual transito extremamente bem e à vontade. Às vezes falo mais firme do que muito homem. Eles me respeitam. As pessoas veem que quero o melhor para o futebol brasileiro, não só para o Palmeiras. O Palmeiras não joga sozinho. Meu time quer jogar contra times na mesma linha, com a mesma dificuldade, quero conquistar título num futebol com as mesmas oportunidades. O produto ficar melhor, mas isso não entra na cabeça de alguns cartolas. Não adianta o Palmeiras estar excelente se os outros clubes estão numa penúria e não pagam ninguém. Não quero isso, quero valorizar o produto.

Empresária de 59 diz que é uma 'dirigente diferente' no futebol Foto: Alex Silva/Estadão

Você sinalizou que suas empresas não vão mais manter o patrocínio master na camisa. O que, além de valores, será determinante para o clube fechar o novo patrocínio?

Minhas empresas ficaram 10 anos no clube. Costumo dizer que essa parceria foi extremamente vitoriosa. Quando chegamos, o Palmeiras estava com muita dificuldade, estava sem patrocinador havia dois anos. Agora, vêm as bets, com valores muito relevantes aos clubes. Todo mundo sabe que um futebol vencedor você só faz com investimento. Primeiro dinheiro, depois boa vontade, decência e responsabilidade. As bets estão mesmo investindo pesado nos clubes. Estamos no mercado em busca de empresas com credibilidade e com potencial para honrar o contrato. Não quero uma empresa para ficar três meses e sair no quarto mês, sem condições financeiras. Por isso essa demora, o Palmeiras é um clube diferenciado e aqui os patrocinadores fazem eras. Houve a era Parmalat, a Era Crefisa e agora, não tenho dúvidas, o próximo novo patrocinador vai colaborar para o início de uma nova era.

Já está definido que suas empresas não vão ficar no Palmeiras?

Não ficam. Tudo na vida tem um ciclo. Você começa um ciclo e termina. O ciclo da Crefisa e da FAM está chegando ao fim e espero que seja muito vitorioso, como foi no começo. Vamos negociar toda a camisa, o patrocínio máster e todas as propriedades.

Quanto vale a camisa do Palmeiras hoje?

Não gosto de falar em valores. Não pretendo entrar em disputa do tipo “o Palmeiras tem patrocinador maior que o clube A ou B”. Nossas disputas são dentro de campo. Não tenho dúvidas de que nosso departamento de marketing está fazendo o melhor trabalho possível para trazer a melhor empresa que consiga honrar os compromissos com essa camisa gigante do Palmeiras. Vamos negociar toda a camisa, o patrocínio máster e todas as propriedades.

O candidato da oposição, Savério Orlandi, disse que você pegou um modelo pronto e que o Palmeiras tem sido campeão no seu mandato apesar das suas ações. Qual sua parcela no sucesso do time em campo?

Se meu opositor ganhar as eleições tudo que construímos ele vai destruir. Ele já foi diretor de futebol durante quatro anos (entre 2007 e 2010) e conquistou um título, eu conquistei sete, é o autêntico 7 a 1. Por que ele não fez o que nós fizemos quando foi diretor de futebol? Ele deveria, como diretor de futebol, ter procurado alguém para investir no Palmeiras. É muito fácil falar. O grande legado do Savério foi ter contribuído para o rebaixamento do Palmeiras em 2012 porque ele entrou em 2007 e saiu em 2010 e um clube de futebol não cai de repente.

Ele deveria ter vergonha de falar isso porque se é um palmeirense como diz, deveria ter orgulho da administração hoje do Palmeiras. Tanto é que ele diz “se for reeleito, vou manter o Abel, vou manter os jogadores”. Ele deveria falar: vou manter a Leila (risos). Grande parte desses jogadores foram contratados em minha gestão, tive a humildade de continuar um trabalho bem feito pelo meu antecessor, o Maurício Galiotte. O Palmeiras, em 110 anos, nunca esteve tão bem. O mérito não é só meu, é um conjunto de trabalho de todos nós que demoram-se anos para construir, mas para destruir é em um ano. Volto a dizer: se meu opositor e a turma que está com ele conseguirem vencer as eleições, o Palmeiras volta ao que era quando ele foi diretor de futebol, não ganhou nada, só um Paulista, e preparou o Palmeiras para cair para a Série B em 2012. Nós não vamos deixar isso acontecer. Aliás, quem apoia esse candidato são os que derrubaram o Palmeiras em 2002 e 2012.

Leila diz, em entrevista ao Estadão, que não pensa em ser presidente da CBF Foto: Alex Silva/Estadão

Sei que você pensa a curto prazo e seu presente é no Palmeiras. Mas e depois? Tem a intenção de tentar ser presidente da CBF um dia?

Sou uma mulher focada, meu foco hoje é ser reeleita presidente do Palmeiras e conquistar mais títulos do que conquistamos na primeira gestão. Depois, o que for para contribuir com o futebol brasileiro, eu estarei à disposição. Várias pessoas me perguntam mesmo se eu quero ser presidente da CBF. Vejo que tem um clamor. Mas não é assim. No Palmeiras, as pessoas me falaram que eu seria o melhor nome para comandar o Palmeiras. Costumo dizer que foi o momento mais emocionante da minha vida. Os associados me elegeram para ser presidente desse clube gigante, com mais de 20 milhões de torcedores. É uma responsabilidade muito grande, assim como é muito grande a responsabilidade de administrar a CBF, mas não penso nisso hoje.

Se der tudo certo, fico mais três anos e, quando terminar meu mandato, vou continuar no Palmeiras, colaborando com o próximo presidente. Acho importante seguir a linha vitoriosa, da administração profissional, responsável e transparente, tirando a política do futebol.

Por que os clubes não conseguem se entender e criar a tão desejada liga única de clubes? É por causa da vaidade e de interesses individuais?

Acho que sim. Tentamos que todos os clubes estivessem em uma única liga. O que conseguimos? Dividir os times em dois grupos. Já participei de várias reuniões e, sinceramente, a curto prazo, não acredito na união de todos os clubes para formarmos uma liga única. Quando você me pergunta o porquê disso não consigo chegar a uma definição. Pelo menos chegamos a um acordo comercial na venda de direitos de televisão. Estamos tentando, conversando com os clubes que fazem parte do outro grupo, a LFU, eles também querem (a formação da liga), mas ninguém chega num denominador comum. E aí cada clube tem que tocar o seu dia a dia, não vamos ficar em reuniões. Aliás, algo que detesto são reuniões para não definir nada, é um encontro de amigos em que não se decide absolutamente nada.

Você é uma das dirigentes que defende o fair play no futebol brasileiro. Crê ser viável implementar o fair play no Brasil de modo semelhante ao que se vê na Europa?

Para implementar, tem de ser por meio da CBF, de cima para os clubes. Caso contrário, não vai ocorrer. Alguns clubes concordam, mas outros não. Se depender de muitos clubes não vai sair porque é de interesse de muitos dirigentes que não tenha o fair play financeiro. Eles podem ser irresponsáveis para conquistar o próximo campeonato. Depois eles saem, não acontece nada e o rombo fica. Tinha que ser implementados o fair play financeiro e a responsabilização do presidente por irresponsabilidades cometidas nas finanças do clube. O presidente de um clube tem muito poder. Eu, no Palmeiras, posso contratar o jogador que quiser, mas se eu não pagar são outros quinhentos. Aliás, não sei como existem clubes que vendem para outros que não pagam ninguém. Não estou acusando clube nenhum, vejo pela imprensa, e o que gostaria de ver eram todos os clubes com suas contas em dia, o dirigente podendo contratar e pagar, pagar em dia o salário de seus atletas. Acho inadmissível, como presidente, contratar jogadores e não pagar em dia os compromissos que tenho com meus atletas. Se o fair play financeiro não for implementado no Brasil, a grande maioria dos clubes vai quebrar e aí se transformam em SAF’s.

Sou popular porque o Palmeiras me tornou, mas não sou populista e não vou tomar decisões populistas. O Palmeiras é uma marca de primeira, um clube espetacular, e o futebol não vai tirar minha credibilidade. O que puder fazer será feito. Vou continuar honrando em dia os compromissos que tenho no clube.

Como você quer ser lembrada depois que deixar a presidência do Palmeiras?

Penso em administrar o Palmeiras e que o Palmeiras sirva de modelo de administração para o futebol brasileiro. É o legado que quero deixar quando sair.

Embora não se considere uma celebridade entre os dirigentes, Leila Pereira é a cartola mais famosa do País. São muitos os convites, mensagens, ligações e pedidos feitos diariamente a presidente do Palmeiras, que se gaba de o time ter conquistado 31 títulos sob sua gestão, entre competições profissionais, da base e do feminino. “Converso comigo mesma e eu falei pra mim que, como três anos passam muito rápido, precisava aproveitar a visibilidade que o Palmeiras dá para fazer algo produtivo para o futebol brasileiro, para as mulheres”, diz a mulher que ocupa o cargo mais proeminente do atual bicampeão brasileiro.

A um mês da eleição que definirá o próximo presidente do Palmeiras, a empresária de 59 anos recebeu o Estadão na Academia de Futebol, para onde vai quase todos os dias. Segundo ela, o respeito que conquistou no futebol, ambiente predominantemente masculino, é fruto da credibilidade que diz passar ao torcedor. “Sou uma dirigente diferente”, diz, enquanto seu celular recebe notificações em profusão. “Não sou várias pessoas, sou uma só e falo a verdade. No futebol, as pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade. Às vezes falo mais firme do que muito homem”.

Favorita a ser reeleita, a presidente fez ataques ao candidato da oposição, o advogado Savério Orlandi, ao afirmar que, se ele vencer o pleito, marcado para 24 de novembro, irá reconduzir o time a um dos piores períodos da história, precedente ao segundo rebaixamento à Série B. “O grande legado do Savério foi ter contribuído para o rebaixamento do Palmeiras em 2012. Ele entrou em 2007 e saiu em 2010, um clube de futebol não cai de repente”.

Nesta entrevista, a empresária que poucos sabiam quem era há dez anos e caminha para gerir um dos times mais poderosos do País por mais três anos, repassa suas ações em três anos no comando do Palmeiras, reflete sobre as mazelas do futebol brasileiro e fala sobre a necessidade de ser implantado o fair play financeiro no futebol brasileiro e de os clubes se entenderem para criar a tão desejada liga única.

Para Leila Pereira, caso oposição vença eleição, Palmeiras voltará para o que era em 2012, ano de seu segundo rebaixamento Foto: Alex Silva/Estadão

Como foi administrar o Palmeiras nesses três anos?

Administrar um clube de futebol não é difícil. Eu não senti dificuldade porque já vim para o Palmeiras com a mentalidade de que nós administraríamos o clube como se fosse uma empresa. Eu dou autonomia para os profissionais. Só trabalha no Palmeiras quem realmente é competente. Não existe indicação política aqui. Sou um ser político, claro, se não não teria sido eleita, mas faço política no clube social, não no futebol. Tenho muita sorte que os conselheiros e conselheiras que me apoiam entendem que o Palmeiras tem de ser administrado profissionalmente. Não existe interferência política no futebol, por isso os profissionais trabalham com tranquilidade. O estresse é do muro para fora.

É mais fácil gerir o Palmeiras que suas empresas?

Sim e não. Sim porque cheguei no Palmeiras com uma estrutura organizada. Melhoramos bastante, mas já estava tudo bem encaminhado. A diferença de um clube para uma empresa é que, no ambiente empresarial, você não mexe com paixão. No futebol tem a torcida, que é emoção pura.

Caso seja reeleita, o que você fará à frente do clube que não conseguiu fazer nesse primeiro mandato?

Tudo que desejei fazer eu fiz, tanto é que os resultados vieram. Nossa gestão, em dois anos e meio, conquistou 31 títulos, considerando competições de base, profissional e feminino. Isso nunca tinha acontecido na história do Palmeiras. Não acontece por acaso. É administração, profissionalismo. As pessoas trabalham com tranquilidade. Tem a pressão da torcida, claro, mas é do muro pra fora, e é óbvio que é um jogo, não vamos ganhar sempre. O que pretendo fazer é melhorar alguns pontos que aparecerem e tiverem de ser melhorados. A ideia é dar continuidade a esse trabalho, com os profissionais que estão aqui. Se tiver solicitação do departamento de futebol, iremos ao mercado para fortalecer o elenco.

Você diz que ser uma executiva, que executa, mas também ouve os conselhos de outros profissionais e muda de rota se for necessário. Arrepende-se de algo que tenha feito durante sua gestão?

Não. Não sou uma pessoa que se arrepende de atitudes porque encaro o erro como uma oportunidade de fazer da forma correta depois. A vida é ao vivo e a cores, você não ensaia. Sou uma mulher que decide, eu gosto de decidir e nem sempre tomo a melhor decisão. O importante no clube é que a última palavra é sempre minha, mas minhas decisões são sempre pautas em conversas com os departamentos envolvidos. A presidente nunca pega ninguém de surpresa no futebol. É tudo conversado e a última palavra é minha. Se a decisão for equivocada, ela nunca é solitária. Tenho muita tranquilidade no Palmeiras porque acredito que aqui trabalham os melhores profissionais do Brasil, tanto é que o assédio que sofro com os profissionais é uma loucura. Todos querem tirar eles daqui, mas eles não saem porque sabem que o ambiente é bom, que nós cumprimos com nossas obrigações e temos credibilidade. Falo do Abel, dos jogadores e de todos profissionais.

Leila é favorita na eleição para comandar o Palmeiras por mais três anos Foto: Alex Silva/Estadão

Existe o entendimento de que você furou a bolha do futebol e é conhecida por pessoas que não acompanham o Palmeiras nem o esporte. Considera ser uma celebridade entre os cartolas?

Não gosto de dizer que sou celebridade. Não me considero uma celebridade, em hipótese alguma. Eu recebo convite, vou aos programas (de televisão), e gosto de conversar com as pessoas, gosto de expor as minhas ideias. Converso comigo mesma e eu falei pra mim que, como três anos passam muito rápido, precisava aproveitar a visibilidade que o Palmeiras dá para fazer algo produtivo para o futebol brasileiro, para as mulheres... Tem muito cartola que passa nos clubes e não tem utilidade nenhuma, pelo contrário, faria um favor se não estivesse estado no cargo. Pensei que precisava ajudar na visibilidade das mulheres e do futebol, na forma de administrar um clube sem medo, sem pensar na reeleição, em conchavos. Não quero isso e não faço isso. Por isso digo que sou uma dirigente diferente. Não tenho medo de não ser reeleita.

Aproveitei a oportunidade de ser presidente para mostrar que um clube pode ser vitorioso sem ser irresponsável. No meio do ano passado, o Palmeiras foi o único clube que não contratou ninguém e quem foi campeão no fim do ano? O Palmeiras. Fui muito pressionada, sofri pressão de torcedor, da imprensa, mas eu sabia e sei o que é melhor para o Palmeiras. Não posso ser irresponsável para mostrar que estamos contratando. Não vou comprometer meus compromissos para atender anseios de torcedores. Por isso que digo que administrar um clube de futebol não é difícil: você tem que ter coragem e responsabilidade.

Como conquistou o respeito no meio de futebol, predominantemente masculino?

Acho que foi a credibilidade que passo para o torcedor. A mesma pessoa que está aqui conversando com você é a a pessoa que conversa com os profissionais, com o torcedor. Não sou várias pessoas, só uma só e falo a verdade. No futebol, as pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade, e quem trabalha com a verdade vai estar certo. Meu negócio, minha profissão, não é ser cartola, não vivo disso. Fui eleita, gosto muito, não pretendo sair do futebol.

Chamo a atenção também por ser mulher num ambiente tão masculino, no qual transito extremamente bem e à vontade. Às vezes falo mais firme do que muito homem. Eles me respeitam. As pessoas veem que quero o melhor para o futebol brasileiro, não só para o Palmeiras. O Palmeiras não joga sozinho. Meu time quer jogar contra times na mesma linha, com a mesma dificuldade, quero conquistar título num futebol com as mesmas oportunidades. O produto ficar melhor, mas isso não entra na cabeça de alguns cartolas. Não adianta o Palmeiras estar excelente se os outros clubes estão numa penúria e não pagam ninguém. Não quero isso, quero valorizar o produto.

Empresária de 59 diz que é uma 'dirigente diferente' no futebol Foto: Alex Silva/Estadão

Você sinalizou que suas empresas não vão mais manter o patrocínio master na camisa. O que, além de valores, será determinante para o clube fechar o novo patrocínio?

Minhas empresas ficaram 10 anos no clube. Costumo dizer que essa parceria foi extremamente vitoriosa. Quando chegamos, o Palmeiras estava com muita dificuldade, estava sem patrocinador havia dois anos. Agora, vêm as bets, com valores muito relevantes aos clubes. Todo mundo sabe que um futebol vencedor você só faz com investimento. Primeiro dinheiro, depois boa vontade, decência e responsabilidade. As bets estão mesmo investindo pesado nos clubes. Estamos no mercado em busca de empresas com credibilidade e com potencial para honrar o contrato. Não quero uma empresa para ficar três meses e sair no quarto mês, sem condições financeiras. Por isso essa demora, o Palmeiras é um clube diferenciado e aqui os patrocinadores fazem eras. Houve a era Parmalat, a Era Crefisa e agora, não tenho dúvidas, o próximo novo patrocinador vai colaborar para o início de uma nova era.

Já está definido que suas empresas não vão ficar no Palmeiras?

Não ficam. Tudo na vida tem um ciclo. Você começa um ciclo e termina. O ciclo da Crefisa e da FAM está chegando ao fim e espero que seja muito vitorioso, como foi no começo. Vamos negociar toda a camisa, o patrocínio máster e todas as propriedades.

Quanto vale a camisa do Palmeiras hoje?

Não gosto de falar em valores. Não pretendo entrar em disputa do tipo “o Palmeiras tem patrocinador maior que o clube A ou B”. Nossas disputas são dentro de campo. Não tenho dúvidas de que nosso departamento de marketing está fazendo o melhor trabalho possível para trazer a melhor empresa que consiga honrar os compromissos com essa camisa gigante do Palmeiras. Vamos negociar toda a camisa, o patrocínio máster e todas as propriedades.

O candidato da oposição, Savério Orlandi, disse que você pegou um modelo pronto e que o Palmeiras tem sido campeão no seu mandato apesar das suas ações. Qual sua parcela no sucesso do time em campo?

Se meu opositor ganhar as eleições tudo que construímos ele vai destruir. Ele já foi diretor de futebol durante quatro anos (entre 2007 e 2010) e conquistou um título, eu conquistei sete, é o autêntico 7 a 1. Por que ele não fez o que nós fizemos quando foi diretor de futebol? Ele deveria, como diretor de futebol, ter procurado alguém para investir no Palmeiras. É muito fácil falar. O grande legado do Savério foi ter contribuído para o rebaixamento do Palmeiras em 2012 porque ele entrou em 2007 e saiu em 2010 e um clube de futebol não cai de repente.

Ele deveria ter vergonha de falar isso porque se é um palmeirense como diz, deveria ter orgulho da administração hoje do Palmeiras. Tanto é que ele diz “se for reeleito, vou manter o Abel, vou manter os jogadores”. Ele deveria falar: vou manter a Leila (risos). Grande parte desses jogadores foram contratados em minha gestão, tive a humildade de continuar um trabalho bem feito pelo meu antecessor, o Maurício Galiotte. O Palmeiras, em 110 anos, nunca esteve tão bem. O mérito não é só meu, é um conjunto de trabalho de todos nós que demoram-se anos para construir, mas para destruir é em um ano. Volto a dizer: se meu opositor e a turma que está com ele conseguirem vencer as eleições, o Palmeiras volta ao que era quando ele foi diretor de futebol, não ganhou nada, só um Paulista, e preparou o Palmeiras para cair para a Série B em 2012. Nós não vamos deixar isso acontecer. Aliás, quem apoia esse candidato são os que derrubaram o Palmeiras em 2002 e 2012.

Leila diz, em entrevista ao Estadão, que não pensa em ser presidente da CBF Foto: Alex Silva/Estadão

Sei que você pensa a curto prazo e seu presente é no Palmeiras. Mas e depois? Tem a intenção de tentar ser presidente da CBF um dia?

Sou uma mulher focada, meu foco hoje é ser reeleita presidente do Palmeiras e conquistar mais títulos do que conquistamos na primeira gestão. Depois, o que for para contribuir com o futebol brasileiro, eu estarei à disposição. Várias pessoas me perguntam mesmo se eu quero ser presidente da CBF. Vejo que tem um clamor. Mas não é assim. No Palmeiras, as pessoas me falaram que eu seria o melhor nome para comandar o Palmeiras. Costumo dizer que foi o momento mais emocionante da minha vida. Os associados me elegeram para ser presidente desse clube gigante, com mais de 20 milhões de torcedores. É uma responsabilidade muito grande, assim como é muito grande a responsabilidade de administrar a CBF, mas não penso nisso hoje.

Se der tudo certo, fico mais três anos e, quando terminar meu mandato, vou continuar no Palmeiras, colaborando com o próximo presidente. Acho importante seguir a linha vitoriosa, da administração profissional, responsável e transparente, tirando a política do futebol.

Por que os clubes não conseguem se entender e criar a tão desejada liga única de clubes? É por causa da vaidade e de interesses individuais?

Acho que sim. Tentamos que todos os clubes estivessem em uma única liga. O que conseguimos? Dividir os times em dois grupos. Já participei de várias reuniões e, sinceramente, a curto prazo, não acredito na união de todos os clubes para formarmos uma liga única. Quando você me pergunta o porquê disso não consigo chegar a uma definição. Pelo menos chegamos a um acordo comercial na venda de direitos de televisão. Estamos tentando, conversando com os clubes que fazem parte do outro grupo, a LFU, eles também querem (a formação da liga), mas ninguém chega num denominador comum. E aí cada clube tem que tocar o seu dia a dia, não vamos ficar em reuniões. Aliás, algo que detesto são reuniões para não definir nada, é um encontro de amigos em que não se decide absolutamente nada.

Você é uma das dirigentes que defende o fair play no futebol brasileiro. Crê ser viável implementar o fair play no Brasil de modo semelhante ao que se vê na Europa?

Para implementar, tem de ser por meio da CBF, de cima para os clubes. Caso contrário, não vai ocorrer. Alguns clubes concordam, mas outros não. Se depender de muitos clubes não vai sair porque é de interesse de muitos dirigentes que não tenha o fair play financeiro. Eles podem ser irresponsáveis para conquistar o próximo campeonato. Depois eles saem, não acontece nada e o rombo fica. Tinha que ser implementados o fair play financeiro e a responsabilização do presidente por irresponsabilidades cometidas nas finanças do clube. O presidente de um clube tem muito poder. Eu, no Palmeiras, posso contratar o jogador que quiser, mas se eu não pagar são outros quinhentos. Aliás, não sei como existem clubes que vendem para outros que não pagam ninguém. Não estou acusando clube nenhum, vejo pela imprensa, e o que gostaria de ver eram todos os clubes com suas contas em dia, o dirigente podendo contratar e pagar, pagar em dia o salário de seus atletas. Acho inadmissível, como presidente, contratar jogadores e não pagar em dia os compromissos que tenho com meus atletas. Se o fair play financeiro não for implementado no Brasil, a grande maioria dos clubes vai quebrar e aí se transformam em SAF’s.

Sou popular porque o Palmeiras me tornou, mas não sou populista e não vou tomar decisões populistas. O Palmeiras é uma marca de primeira, um clube espetacular, e o futebol não vai tirar minha credibilidade. O que puder fazer será feito. Vou continuar honrando em dia os compromissos que tenho no clube.

Como você quer ser lembrada depois que deixar a presidência do Palmeiras?

Penso em administrar o Palmeiras e que o Palmeiras sirva de modelo de administração para o futebol brasileiro. É o legado que quero deixar quando sair.

Entrevista por Ricardo Magatti

Repórter da editoria de Esportes desde 2018. Formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), com pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Multimídias pela Universidade Anhembi Morumbi. Cobriu a Copa do Mundo do Catar, em 2022, e a Olimpíada de Paris, em 2024.

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