O clássico entre São Paulo e Palmeiras nesta segunda-feira, 29, às 20h (horário de Brasília), promete ser quente. O equilíbrio, marca dos confrontos mais recentes no Choque-Rei, acirrou a rivalidade entre os clubes e o duelo, válido pela 4ª rodada do Campeonato Brasileiro, ganhou contornos de tensão inclusive nos bastidores. Julio Casares e Leila Pereira, que antes mantinham boa relação, entraram em rota de colisão e prometem ser personagens do duelo que fecha a rodada.
São Paulo e Palmeiras protagonizaram disputas importantes ao longo da década. Em 2021, os são-paulinos encerraram o jejum de títulos no Estadual sobre os palmeirenses. No ano seguinte, já sob o comando de Abel Ferreira, a equipe alviverde conseguiu uma virada no confronto derradeiro para ficar com o troféu que daria início ao tricampeonato. Houve ainda embates em Libertadores, Copa do Brasil e, neste ano, a disputa Supercopa do Brasil, que ficou com o time tricolor após vitória nas penalidades depois de um empate sem gols.
Mesmo com o duelo fervendo dentro das quatro linhas, a bandeira branca sempre esteve hasteada entre os clubes desde que Casares e Leila assumiram o comando de São Paulo e Palmeiras, respectivamente. O maior sinal de paz entre os clubes aconteceu no ano passado, quando as diretorias entraram em acordo e o time alviverde, na impossibilidade de utilizar o Allianz Parque, mandou a partida contra o Cerro Porteño, pela Libertadores, no Morumbi (atual MorumBis), algo que não acontecia desde a final da competição continental contra o Boca Juniors, em 2000.
O Morumbi historicamente já recebeu outros rivais como mandante. O que chamou a atenção poucos dias após o Palmeiras realizar uma partida no estádio tricolor foi o São Paulo anunciar que mandaria o seu jogo das quartas de final do Paulistão contra o Água Santa no Allianz Paque — a primeira vez desde 1995. A cessão da casa palmeirense aconteceu por causa dos shows no Coldplay no Morumbi à época. Tanto Leila quanto Casares avaliaram de maneira positiva a cessão dos espaços para minimizar os prejuízos com a utilização de seus respectivos locais para shows.
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Jogo da discórdia
O ano de 2023 terminou com duas vitórias para cada lado e um empate nos confrontos do Choque-Rei. Os resultados mais emblemáticos aconteceram no Allianz Parque, quando o São Paulo venceu o rival por 2 a 1 e avanço à semifinal da Copa do Brasil, vencendo o título posteriormente, e a goleada do Palmeiras por 5 a 0, abrindo caminho para a recuperação do time no Brasileirão rumo ao bicampeonato.
Os ânimos continuaram controlados na final da Supercopa, uma partida considerada de risco pelo de ser o primeiro clássico com a presença de ambas as torcidas desde 2016, ano em que a medida da torcida única passou a vigora em São Paulo. Na reunião do plano de segurança para o jogo no Mineirão, palco da finalíssima, com Leila e Casares, o presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, citou que a partida poderia ser pontapé inicial para o debate do retorno de torcedores visitantes ao estádios nos clássicos. O time são-paulino venceu nos pênaltis, por 4 a 2, após empate sem gols.
A boa relação foi por água abaixo em 3 de março, no empate por 1 a 1 entre as equipes, em partida válida pela 11ª rodada do Campeonato Paulista, no MorumBis. A partida foi recheada de polêmicas, com o São Paulo alegando que o palmeirense Richard Ríos deveria ter sido expulso após falta em Pablo Maia e que o time teve um pênalti não marcado em Luciano, após consulta do árbitro ao VAR.
As exaltações se estenderam ao espaço que dá acesso aos vestiários. Carlos Belmonte, diretor de futebol do São Paulo, reclamou de maneira veemente com o árbitro Matheus Delgado Candançan e xingou Abel Ferreira de “português de merda”. Após também confrontar o juíz, Julio Casares afirmou que o técnico palmeirense “apita” os jogos do Paulista. Os vídeos da confusão rapidamente viralizaram nas redes sociais.
Em comunicado, o Palmeiras ameaçou ir à Justiça contra Belmonte por xenofobia e classificou o comportamento de Casares como “inadequado e incompatível” com a função exercida por ele. “O desequilíbrio, a insensatez e a histeria” potencializam a violência”, escreveu o clube na ocasião. Posteriormente, Belmonte pediu desculpas a Abel e à comunidade portuguesa por meio de vídeo. Em acordo com o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), o clube pagou R$ 205 mil em multas.
Em pé de guerra
Além da nota oficial do Palmeiras, a própria Leila Pereira fez questão de criticar a postura dos dirigentes rivais no dia seguinte ao clássico. A presidente alviverde afirmou que ia conversar com seus advogados para que Belmonte não frequentasse mais o Allianz Parque.
“É uma persona non grata (Belmonte) nos nossos ambientes. Temos que coibir essa violência insana, e nós como dirigentes temos que ser os primeiros a levantar essa bandeira”, disse Leila. “Aquilo é inadmissível e eu só acredito que conseguimos coibir esse tipo de violência com punição, e tem que começar pelos dirigentes. Eles querem jogar para a torcida deles, para ficar bonito com o torcedor, só que o São Paulo não joga sozinho. Acaba incitando uma violência com os outros clubes, que o torcedor comum não tem culpa. Estamos muito revoltados e não vou admitir que alguém agrida fisicamente ou verbalmente qualquer um dos nossos profissionais”, completou.
O contra-ataque veio horas depois. Casares defendeu Belmonte, afirmando que o dirigente não foi xenófobo, e criticou a postura do Palmeiras quando o São Paulo é recebido no Allianz, alfinetando Leila e citou até a vez em que Abel Ferreira tirou um celular da mão de um jornalista após um resultado negativo.
“Lamento que em 2022 a presidente Leila não pensou de forma inclusiva e em promover a paz nos estádios. Na ocasião, após o término da final do Paulistão, não houve qualquer comoção ou pedido de desculpas da instituição sobre ato homofóbico em relação ao São Paulo Futebol Clube”, disse o presidente são-paulino. “Dirigentes, técnicos, jogadores e demais pessoas envolvidas no futebol não devem agir com violência. Repudio quem maltrata jornalista retirando seu instrumento de trabalho das mãos, quem chuta microfone, quem peita jogador do time adversário mesmo não sendo atleta”, comentou Casares, em referência a Abel.
“Respeito ao adversário também deve ser dado com boas instalações em seu estádio próprio, condições para jornalistas trabalharem e segurança. Sempre recebemos bem a Leila, como ela mesma diz, no MorumBIS. Mas não podemos dizer o mesmo do São Paulo no Allianz. Já tivemos diversos incidentes com nossos profissionais por lá. Não podemos viver como dirigentes do passado, mas não podemos deixar de ter o amor por nosso time do coração”, completou.
Lado a lado na CPI
Apesar dos atritos nos bastidores, Leila e Casares encontraram um adversário em comum nas últimas semanas: John Textor, empresário americano dono da SAF do Botafogo. Ambos os dirigentes criticaram duramente o acionista por citar ambos os clubes em denúncias de manipulações de resultado no futebol brasileiro.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o caso no Senado convidou os presidentes a depor em 16 de maio, às 9h. A CPI é presidida pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO) e tem Romário (PL-RJ) como relator.