A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) precisa repensar sua decisão de levar a partida final da Libertadores da América para uma cidade nada a ver com os times envolvidos, como acontece na Liga dos Campeões da Europa. É um equívoco que ainda dá para ser corrigido, mesmo a despeito das edições que tiveram esse formato desde 2019. Também me parece um erro grosseiro fazer a decisão da Libertadores em partida única. O jogo isolado tem a ver com o local neutro da partida. Porque se as cidades dos clubes finalistas voltarem a ser acionadas, é preciso ter dois confrontos, de ida e de volta, como era no formato atual. Ou não.
A Conmebol tentou essa cópia do futebol europeu, mas não deu certo. Há muitos problemas nas cidades-sede, como ocorre em Guayaquil, no Equador, onde Flamengo e Athletico-PR jogam neste sábado, véspera de eleição no Brasil, a partir das 17h. O deslocamento do torcedor é mais difícil e caro. O torcedor comum está fora do jogo porque não tem como acompanhar seu time longe de suas praças, então, o público do estádio da final é trocado: sai de cena o torcedor-raíz, entra o torcedor de mais dinheiro.
Talvez a final da Libertadores não devesse ser o melhor momento para prestigiar cidades na América do Sul que não são privilegiadas pelo roteiro do futebol no continente. A ideia de mostrar essas cidades é boa e legítima em nossas terras, mas poderia ser em outro momento, numa abertura da competição entre o campeão da edição anterior e seu primeiro rival da disputa atual, por exemplo. Um jogo que compromete menos e não numa final.
A decisão merece ser no estádio dos times finalistas. A intenção da Conmebol é se equiparar com o que a Uefa faz na Europa. A Liga dos Campeões é exatamente neste formato. Mas há de se levar em conta alguns aspectos já pontuados na América no Sul: o povo é mais pobre, as cidades são mais longes, nem todas são desenvolvidas para receber muito mais gente, as opções de viagens são menores (não há trem, por exemplo) e o torcedor gosta de ver seu time em casa. Guayaquil não é a casa de Flamengo nem de Athletico-PR.
E não é somente na hora do jogo que o torcedor se afasta do time nesse formato da Conmebol. O Flamengo saiu do Rio com dias de antecedência, como fez também o Athletico-PR, deixando sua gente para trás. Treinos abertos poderiam ser feitos na antevéspera da partida, a cidade poderia respirar a final com mais alegria e proximidade de seus ídolos. O que acontece, no entanto, é botar esses personagens em um avião e mandá-los com seus familiares para outra cidade e país. Um erro do futebol sul-americano.
Vale comentar também que as notícias que vêm de Guayaquil dão conta de que a procura por ingressos é baixa, a segurança deixa a desejar e as duas torcidas não estarão presente no estádio como seria se o jogo fosse no Rio e em Curitiba, ou mesmo somente em uma dessas duas cidades. Se a Conmebol não vê data para duas partidas, poderia marcar a final para o estádio do time de melhor campanha na somatória das fases, com pontos, vitórias e gols como critérios de desempate.
O finalista que tiver melhores números ganha o direito de mandar a decisão no seu campo. É justo. Nunca foi contrário às mudanças no futebol, mas desde que elas sejam para melhor. No caso da decisão da Libertadores em cidade pré-escolhida, não me parece uma boa. Não faz parte da cultura do torcedor sul-americano.