Ser herói pode trazer fama e dinheiro, mas tem também seu lado penoso. Marcos, que defendeu três cobranças de pênalti contra o Cruzeiro, na noite de ontem, em Belo Horizonte, classificando o Palmeiras para as semifinais da Taça Libertadores da América, perdeu o dia de folga a que teria direito hoje. Foi obrigado a cumprir os ofícios de um ídolo. Assim que a delegação alviverde desembarcou no Aeroporto de Congonhas, por volta do meio-dia, dezenas de torcedores se aproximaram. O alvo era o goleiro. Ele não conseguiu sair do local antes de distribuir autógrafos por meia hora e responder a centenas de perguntas de repórteres. Santo faz milagre. Tudo bem. Mas quem poderia imaginar que Marcos conseguisse a façanha de ser assediado por uma corintiana? "Sou corintiana, mas você é demais", disse a moça que o aguardava ansiosamente desde a manhã. "Você é um santo", gritou um palmeirense. O goleiro estava louco para voltar para seu apartamento, localizado em Perdizes. Queria deitar no sofá e ver televisão. Sonho distante. Um carro da TV Globo o esperava para levar aos estúdios da emissora, para que participasse de um programa. Disse que tinha pressa, mas já eram mais de 14 horas quando conseguiu sair de lá. "Sabia que haveria bastante gente me esperando, mas o pessoal está enchendo muito minha bola só porque peguei os pênaltis; fico até com vergonha." Marcos não escondia o cansaço. Após a partida com o Cruzeiro, voltou com o grupo para o hotel em que a delegação estava hospedada. Nada de especial foi preparado para comemorar a classificação, apenas um jantar regado a um bom vinho. "O vinho foi liberado para nós." A agitação tomava conta do herói alviverde, que não conseguiu dormir antes das 5 horas. Depois de duas horas de sono, teve de acordar para tomar café e correr para o aeroporto. Depois de entrevistas e autógrafos, conseguiu encontrar um tempinho para ir ao banco pagar contas e, principalmente, falar com o filho Lucca, de dois anos, que vive com a mãe. Não poderia, é claro, deixar de ver a namorada, Sônia, com quem tem relacionamento há cerca de um ano. Herói, nem pensar - O rótulo não agrada muito ao palmeirense. Pelo contrário, o assédio o preocupa. Marcos acredita que a superexposição dos últimos dias a que foi submetido vai aumentar demais sua responsabilidade. E uma futura derrota pode acabar despencando sobre suas costas. "Ainda falta muita coisa para eu ser um goleiro completo", admite. "Muitas vezes a boa atuação da defesa encobre meus erros." Ele refuta qualquer explicação sobrenatural para suas defesas em cobranças de pênalti. E não gosta de falar em sorte. Na quarta-feira, bateu o recorde pessoal ao pegar três. "Não tem segredo. Fecho o olho e pulo para um dos lados." Antes das cobranças, garante que desejou boa sorte aos adversários. A seleção continua não atraindo o camisa 1 do Palmeiras. Não gosta do sistema de revezamento de goleiros e admite que prefere defender o Palmeiras num jogo de Libertadores a ficar no banco da equipe nacional. "Nesse caso, prefiro não ir." O desânimo do goleiro com a seleção começou em abril, às vésperas do jogo contra o Peru, no Morumbi, pelas eliminatórias. Ele bateu boca com o técnico Emerson Leão e não foi mais convocado, embora seja considerado pela grande maioria dos treinadores um dos dois melhores do País na posição. O sucesso o fez tornar líder no Palmeiras. É o que mais grita em campo com os companheiros. No segundo confronto com o São Caetano, pelas oitavas-de-final, atuou como líbero. Saiu driblando, só faltou ir para o ataque tentar um gol. A equipe estava empatando até o fim e precisava da vitória. "Fiquei desesperado, porque nosso time não conseguia fazer o gol." Por essas e por outras, é o número 1 do Palmeiras e dos torcedores, até mesmo quando falha. "Até quando erro saio com a consciência limpa, sabendo que tentei fazer o melhor, como contra o Manchester (na decisão do Mundial Interclubes, em Tóquio, em 1999, quando falhou no gol da vitória dos ingleses)."