RIO - O governo do Rio de Janeiro abriu mão de uma arrecadação de R$ 1,05 bilhão com a concessão do Maracanã. A estimativa é feita pelo promotor do Ministério Público do Rio (MP-RJ), Eduardo Santos Carvalho, que usou a informação para justificar o processo contra a privatização do complexo esportivo.Na análise dos promotores do MP-RJ, as demolições e investimentos (previstos em quase R$ 600 milhões) a serem feitos no entorno do estádio pelo concessionário não são necessários, porque, disse Eduardo Santos Carvalho, "as receitas do Maracanã e do (ginásio) Maracanãzinho seriam suficientes para assegurar a visibilidade econômica do projeto".Sem tais investimentos, o governo do Rio poderia exigir uma outorga anual superior aos R$ 5,5 milhões que Odebrecht, IMX e AEG (que compõem o consórcio Maracanã S.A., vencedor da licitação) vão pagar pelo direito de administrar o Maracanã, o Maracanãzinho e suas demais instalações pelo período de 35 anos.Nas contas de Eduardo Santos Carvalho, a outorga poderia atingir mais de R$ 30 milhões por ano, o que caracteriza a concessão como prejudicial ao Estado e aos contribuintes. O promotor destaca ainda que a maior parte do volume de investimentos a serem feitos na construção de shoppings e estacionamentos não visa estimular a vocação esportivas do complexo. "Cerca de dois terços dos investimentos previstos são investimentos para exploração comercial do entorno", criticou.A concessão do Maracanã também deve pesar no bolso do torcedor. Em outros estádios que foram entregues à iniciativa privada, como Mineirão e Arena Fonte Nova, o valor médio dos ingressos para jogos de futebol aumentou cerca de 100%. Para o torcedor flamenguista Rodrigo Santos, muitos deixarão de ir ao estádio com a mesma frequência. "Eu ainda consigo ir, mas as pessoas que iam comigo talvez desistam. O importante do Maracanã era ser o patrimônio que a gente podia se divertir todo final de semana, todo meio de semana. Se juntava quase vinte pessoas, em um ônibus, para ir ao Maraca, brincar e levantar as torcidas", afirmou.A torcedora botafoguense Vanusa Pereira não concorda com a concessão e diz que não pretende ir ao novo Maracanã. "Vai triplicar o valor. Ridículo. Eu sou botafoguense, mas não vou pagar o preço que eles vão cobrar", reclamou.Procurado, o consórcio Maracanã S.A. informou que só vai se pronunciar depois da assinatura do contrato de concessão com o governo do Rio. A Casa Civil também disse que não vai se manifestar. Segundo a assessoria de imprensa, o edital estabelece que os custos dos ingressos devem ser razoáveis, mas diz que o Estado não é responsável pelo equipamento após a concessão.