‘Não imagino futebol nesse momento. Estamos preocupados em salvar vidas’, diz presidente do Inter


Ao ‘Estadão’, Alessandro Barcellos afirma que times e CBF têm de ter sensibilidade diante da maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul: ‘Temos funcionários resgatando pessoas e sendo resgatados’

Por Ricardo Magatti
Foto: Ricardo Duarte/Inter
Entrevista comAlessandro BarcellosPresidente do Internacional

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Alessandro Barcellos espera que CBF paralise o Brasileirão em meio a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul

Alessandro Barcellos é incapaz de pensar em futebol no momento em que o Rio Grande do Sul é atingido pela maior catástrofe climática de sua história. Como os cartolas de Juventude e Grêmio, o presidente do Internacional tem tentado sensibilizar a CBF para que a entidade que rege o futebol brasileiro paralise o Brasileirão. Mas não conseguiu, por enquanto, já que a confederação apenas adiou os jogos dos gaúchos por 20 dias.

“A paralisação dos jogos foi um pedido nosso de desespero porque nada estava sendo feito. Há quatro dias o Inter tinha jogo marcado para hoje, contra o Juventude, no Beira-Rio. Foi um desespero nosso de pedir que, já que nada vai ser feito, ao menos liberem os clubes do Sul de jogar. Na minha opinião, diante do tamanho da tragédia, é insuficiente”, diz Barcellos em entrevista ao Estadão, de sua casa, que não foi atingida pelas fortes chuvas, embora o cartola tenha sofrido com a ausência de água potável, como boa parte dos moradores de Porto Alegre.

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Mandatário do Inter desde 2021, Barcellos ainda não consegue mensurar o tamanho dos estragos provocados nas instalações do clube. Até porque tanto o Estádio Beira-Rio quanto o centro de treinamento, situado às margens do Rio Guaíba, estão debaixo d’água e a previsão é de que a previsão do tempo indica chuva forte no Estado nos próximos cinco dias. O clube criou, segundo o presidente, um comitê de crise para ajudar os funcionários.

“Temos funcionários desabrigados, outros que tiveram que sair de casa porque ficaram ilhados, foram retirados de suas casas e foram para casas de parentes. Alguns jogadores saíram de Porto Alegre para o litoral, estavam ilhados ou com a água entrando nas casas. A prioridade é dar condições aos funcionários para ter um lar e recomeçar suas vidas”, afirma. “O clube está com essa incumbência e trabalhando nisso. As pessoas não conseguem sequer se locomover em Porto Alegre. Jogadores e funcionários estão na linha de frente resgatando e outros, ao mesmo tempo, estão sendo resgatados”.

Alessandro Barcellos diz que Inter criou comitê de crise para ajudar funcionários durante a tragédia climática no Sul Foto: Ricardo Duarte/Internacional
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Como estão as coisas com você e sua família? A água chegou com força na região onde você mora?

Moro numa região mais alta. É na zona sul, uma região bastante afetada, mas não é uma região mais alta. Não tivemos problema de enchente, mas de falta de água. Faltou luz em algum momento, e sofremos mais com o abastecimento de água. Andando pouco mais de um quilômetro você já vê reflexos por aqui. É importante dizer que não se trata de um evento localizado em alguma região de periferia ou de pontos externos da cidade. A catástrofe, no caso de Porto Alegre, atingiu centro, bairros inteiros, regiões de muita população, pontos turísticos, os dois estádios, aeroporto. Está sendo muito devastador. Não é seletivo na cidade, 85% da cidade ficou sem água potável, o que gera também um transtorno grande. Falta combustível em alguns postos, as pessoas se apavoram e começam a querer estocar as coisas. Água já não tem em mercado, gera um drama. Tem também a onda de violência, saques, assaltos, depredações.

Como estão as instalações do clube? O estádio e o CT continuam embaixo d’água?

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A água não baixou, baixou muito pouco. Temos esperanças de que as coisas melhorem, mas as previsões climáticas são ruins, de volta de chuva. Sabemos que baixou, mas foi pouco. Nosso centro de treinamento está submerso, os campos, a academia, refeitório, departamento médico, administrativo, está todo debaixo d’água. O estádio também está muito prejudicado, principalmente o gramado. A gente não consegue ainda mensurar o tamanho do que significou nas instalações do clube essa enchente. Vamos ter que trocar todo o gramado, não tem jeito, e fazer um trabalho de reconstrução.

Você tem falado com os atletas, comissão técnica e funcionários? Alguém foi afetado pelas enchentes?

Temos funcionários desabrigados, outros que tiveram que sair de casa porque ficaram ilhados, foram retirados de suas casas e foram para casas de parentes. Alguns jogadores saíram de Porto Alegre para o litoral, estavam ilhados ou com a água entrando. O clube tem prestado todo o apoio no que for possível. Tem um plano interno, estamos criando um comitê de crise. Esse comitê está tratando desses assuntos, a prioridade é dar condições aos funcionários para ter um lar e recomeçar suas vidas. O clube está com essa incumbência e trabalhando nisso. As pessoas não conseguem sequer se locomover em Porto Alegre. Jogadores e funcionários estão na linha de frente resgatando e outros, ao mesmo tempo, estão sendo resgatados. Agora, rezamos para que essa onda de chuva não altere demais o quadro para que a gente possa minimamente olhar pra frente e que água abaixe. O mais importante, até agora, foi salvar vidas. Temos inúmeros exemplos no clube de pessoas que salvaram vidas, entraram na água, atletas que mobilizaram recursos e equipamentos para ajudar e outros que trabalharam na retaguarda com alimentação e auxílios. Essa está sendo nossa rotina.

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Beira-Rio, estádio do Inter, está submerso após as enchentes que destruíram o Rio Grande do Sul Foto: Renan Mattos/AFP

Adiar os jogos dos times gaúchos e não paralisar os campeonatos nesse momento é colocar as vidas em segundo plano?

Eu entendo a complexidade que é administrar a entidade e um campeonato tão grande como o Brasileirão. Não sou alheio a isso, mas, por estar vivendo esse momento, tenho uma sensibilidade diferente daqueles que estão à frente de outras instituições e clubes. Estou aqui vendo as pessoas saírem de casa só com a roupa do corpo e não tenho capacidade de imaginar um jogo de futebol nesse momento. Se isso não comove, não solidariza o restante do País, eu lamento. A paralisação dos jogos foi um pedido nosso de desespero porque nada estava sendo feito. Há quatro dias o Inter tinha jogo marcado para hoje, contra o Juventude, no Beira-Rio. Foi um desespero nosso de pedir que, já que nada vai ser feito, ao menos liberem os clubes do Sul de jogar. Na minha opinião, diante do tamanho da tragédia, é insuficiente.

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Já que a gente não trata de solidariedade de uma forma plena, vamos tratar no ecossistema do futebol daquilo que possa gerar desequilíbrio. Já sabemos que os clubes do Sul terão que jogar em Datas Fifa, então seria importante que os demais clubes, em solidariedade, tivessem essa compreensão e nos acompanhassem no calendário, que ficaria apertado pra todos, mas possível de ser realizado. O futebol brasileiro, até há pouco tempo, não parava nas Datas Fifa. Abrir uma exceção em momento de catástrofe como esse não seria algo inimaginável e nem impossível. Tentando criar um pacote de medidas para equilibrar as coisas e fazendo um exercício de empatia, por exemplo: temos hoje 70% a 80% de jogadores convocados para seleção brasileira que não jogam no País, então convocar apenas atletas de fora seria uma forma de não prejudicar os clubes daqui. Isso seria razoável.

Sabemos que existe comoção, ajuda de vários clubes e instituições, mas dirigentes de outros clube apoiaram te ligaram para dar apoio à paralisação do Brasileirão?

Vi publicamente algumas manifestações. Tem clubes que disseram que nos acompanham, não vou citar um por um porque posso esquecer de alguém. Tivemos essa preocupação de alguns clubes. Mas sabemos que outros se manifestaram de forma contrária à paralisação do campeonato. A gente respeita as diferentes opiniões. Falamos muito com o Grêmio e o Juventude, com a CBF.

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Alessandro Barcellos, presidente do Inter, pede sensibilidades a clubes e CBF Foto: Ricardo Duarte/Inter

Você tem a esperança ainda de que as competições sejam paralisadas?

A gente continua conversando com as entidades e tentando sensibilizá-las para este momento e para o que ainda virá. Diria que não depende mais do Inter, do Grêmio e do Juventude. As questões estão postas na mesa, o mundo inteiro está acompanhando essa tragédia. Cabe agora a quem avaliar ter sensibilidade. É o ecossistema do futebol que pode decidir isso. Nós aqui estamos preocupados em salvar vidas, que é a tarefa mais importante, e dar estabilidade para as pessoas. A partir daí vamos ter que tomar nossas decisões de como nos organizar e nos adaptar a essa nova realidade.

O Inter considera, em algum momento, usar a estrutura de outros clubes para treinar e jogar?

Neste momento, não. Não vamos abandonar as pessoas neste momento de salvar vidas. Talvez, no momento em que tiver uma condição mais estável e as pessoas conseguirem retomar suas vidas, teremos que buscar alternativas. Não tem outra saída. Aqui, não há condições de jogar. No futuro é que teremos que decidir para onde vamos. Mas agora, enquanto instituição, nosso pensamento não é esse. Conseguindo estabilizar a situação, aí entram as ações governamentais, os recursos para recuperação e aí as atividades voltarão a ser retomadas, até mesmo para as pessoas terem suas condições de sobrevivência. Só depois disso que vamos conseguir pensar em alguma alternativa das que foram oferecidas. Mas reforço que neste momento não temos como pensar nisso.

Somos um clube de futebol e vivemos de futebol, mas para isso precisamos das pessoas e da vida. A vida está em primeiro lugar, depois vem nossa atividade. Estamos trabalhando forte para dar o segundo passo, que tem que ser o da reconstrução de um Estado.

Diante de uma tragédia sem precedentes como essa, é difícil fazer projeções. Mas em quanto tempo você acha que seria razoável o Inter e os clubes do Sul voltarem a jogar?

Na última enchente que acometeu Porto Alegre, menor que essa, em 1941, demorou 32 dias para a água baixar. Sem nenhum embasamento técnico e sem saber o tamanho das consequências, diria que não será menos de 90 dias. Para ter uma condição normal de uso e de trabalho nas instalações, vai levar muito tempo.

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Alessandro Barcellos espera que CBF paralise o Brasileirão em meio a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul

Alessandro Barcellos é incapaz de pensar em futebol no momento em que o Rio Grande do Sul é atingido pela maior catástrofe climática de sua história. Como os cartolas de Juventude e Grêmio, o presidente do Internacional tem tentado sensibilizar a CBF para que a entidade que rege o futebol brasileiro paralise o Brasileirão. Mas não conseguiu, por enquanto, já que a confederação apenas adiou os jogos dos gaúchos por 20 dias.

“A paralisação dos jogos foi um pedido nosso de desespero porque nada estava sendo feito. Há quatro dias o Inter tinha jogo marcado para hoje, contra o Juventude, no Beira-Rio. Foi um desespero nosso de pedir que, já que nada vai ser feito, ao menos liberem os clubes do Sul de jogar. Na minha opinião, diante do tamanho da tragédia, é insuficiente”, diz Barcellos em entrevista ao Estadão, de sua casa, que não foi atingida pelas fortes chuvas, embora o cartola tenha sofrido com a ausência de água potável, como boa parte dos moradores de Porto Alegre.

Mandatário do Inter desde 2021, Barcellos ainda não consegue mensurar o tamanho dos estragos provocados nas instalações do clube. Até porque tanto o Estádio Beira-Rio quanto o centro de treinamento, situado às margens do Rio Guaíba, estão debaixo d’água e a previsão é de que a previsão do tempo indica chuva forte no Estado nos próximos cinco dias. O clube criou, segundo o presidente, um comitê de crise para ajudar os funcionários.

“Temos funcionários desabrigados, outros que tiveram que sair de casa porque ficaram ilhados, foram retirados de suas casas e foram para casas de parentes. Alguns jogadores saíram de Porto Alegre para o litoral, estavam ilhados ou com a água entrando nas casas. A prioridade é dar condições aos funcionários para ter um lar e recomeçar suas vidas”, afirma. “O clube está com essa incumbência e trabalhando nisso. As pessoas não conseguem sequer se locomover em Porto Alegre. Jogadores e funcionários estão na linha de frente resgatando e outros, ao mesmo tempo, estão sendo resgatados”.

Alessandro Barcellos diz que Inter criou comitê de crise para ajudar funcionários durante a tragédia climática no Sul Foto: Ricardo Duarte/Internacional

Como estão as coisas com você e sua família? A água chegou com força na região onde você mora?

Moro numa região mais alta. É na zona sul, uma região bastante afetada, mas não é uma região mais alta. Não tivemos problema de enchente, mas de falta de água. Faltou luz em algum momento, e sofremos mais com o abastecimento de água. Andando pouco mais de um quilômetro você já vê reflexos por aqui. É importante dizer que não se trata de um evento localizado em alguma região de periferia ou de pontos externos da cidade. A catástrofe, no caso de Porto Alegre, atingiu centro, bairros inteiros, regiões de muita população, pontos turísticos, os dois estádios, aeroporto. Está sendo muito devastador. Não é seletivo na cidade, 85% da cidade ficou sem água potável, o que gera também um transtorno grande. Falta combustível em alguns postos, as pessoas se apavoram e começam a querer estocar as coisas. Água já não tem em mercado, gera um drama. Tem também a onda de violência, saques, assaltos, depredações.

Como estão as instalações do clube? O estádio e o CT continuam embaixo d’água?

A água não baixou, baixou muito pouco. Temos esperanças de que as coisas melhorem, mas as previsões climáticas são ruins, de volta de chuva. Sabemos que baixou, mas foi pouco. Nosso centro de treinamento está submerso, os campos, a academia, refeitório, departamento médico, administrativo, está todo debaixo d’água. O estádio também está muito prejudicado, principalmente o gramado. A gente não consegue ainda mensurar o tamanho do que significou nas instalações do clube essa enchente. Vamos ter que trocar todo o gramado, não tem jeito, e fazer um trabalho de reconstrução.

Você tem falado com os atletas, comissão técnica e funcionários? Alguém foi afetado pelas enchentes?

Temos funcionários desabrigados, outros que tiveram que sair de casa porque ficaram ilhados, foram retirados de suas casas e foram para casas de parentes. Alguns jogadores saíram de Porto Alegre para o litoral, estavam ilhados ou com a água entrando. O clube tem prestado todo o apoio no que for possível. Tem um plano interno, estamos criando um comitê de crise. Esse comitê está tratando desses assuntos, a prioridade é dar condições aos funcionários para ter um lar e recomeçar suas vidas. O clube está com essa incumbência e trabalhando nisso. As pessoas não conseguem sequer se locomover em Porto Alegre. Jogadores e funcionários estão na linha de frente resgatando e outros, ao mesmo tempo, estão sendo resgatados. Agora, rezamos para que essa onda de chuva não altere demais o quadro para que a gente possa minimamente olhar pra frente e que água abaixe. O mais importante, até agora, foi salvar vidas. Temos inúmeros exemplos no clube de pessoas que salvaram vidas, entraram na água, atletas que mobilizaram recursos e equipamentos para ajudar e outros que trabalharam na retaguarda com alimentação e auxílios. Essa está sendo nossa rotina.

Beira-Rio, estádio do Inter, está submerso após as enchentes que destruíram o Rio Grande do Sul Foto: Renan Mattos/AFP

Adiar os jogos dos times gaúchos e não paralisar os campeonatos nesse momento é colocar as vidas em segundo plano?

Eu entendo a complexidade que é administrar a entidade e um campeonato tão grande como o Brasileirão. Não sou alheio a isso, mas, por estar vivendo esse momento, tenho uma sensibilidade diferente daqueles que estão à frente de outras instituições e clubes. Estou aqui vendo as pessoas saírem de casa só com a roupa do corpo e não tenho capacidade de imaginar um jogo de futebol nesse momento. Se isso não comove, não solidariza o restante do País, eu lamento. A paralisação dos jogos foi um pedido nosso de desespero porque nada estava sendo feito. Há quatro dias o Inter tinha jogo marcado para hoje, contra o Juventude, no Beira-Rio. Foi um desespero nosso de pedir que, já que nada vai ser feito, ao menos liberem os clubes do Sul de jogar. Na minha opinião, diante do tamanho da tragédia, é insuficiente.

Já que a gente não trata de solidariedade de uma forma plena, vamos tratar no ecossistema do futebol daquilo que possa gerar desequilíbrio. Já sabemos que os clubes do Sul terão que jogar em Datas Fifa, então seria importante que os demais clubes, em solidariedade, tivessem essa compreensão e nos acompanhassem no calendário, que ficaria apertado pra todos, mas possível de ser realizado. O futebol brasileiro, até há pouco tempo, não parava nas Datas Fifa. Abrir uma exceção em momento de catástrofe como esse não seria algo inimaginável e nem impossível. Tentando criar um pacote de medidas para equilibrar as coisas e fazendo um exercício de empatia, por exemplo: temos hoje 70% a 80% de jogadores convocados para seleção brasileira que não jogam no País, então convocar apenas atletas de fora seria uma forma de não prejudicar os clubes daqui. Isso seria razoável.

Sabemos que existe comoção, ajuda de vários clubes e instituições, mas dirigentes de outros clube apoiaram te ligaram para dar apoio à paralisação do Brasileirão?

Vi publicamente algumas manifestações. Tem clubes que disseram que nos acompanham, não vou citar um por um porque posso esquecer de alguém. Tivemos essa preocupação de alguns clubes. Mas sabemos que outros se manifestaram de forma contrária à paralisação do campeonato. A gente respeita as diferentes opiniões. Falamos muito com o Grêmio e o Juventude, com a CBF.

Alessandro Barcellos, presidente do Inter, pede sensibilidades a clubes e CBF Foto: Ricardo Duarte/Inter

Você tem a esperança ainda de que as competições sejam paralisadas?

A gente continua conversando com as entidades e tentando sensibilizá-las para este momento e para o que ainda virá. Diria que não depende mais do Inter, do Grêmio e do Juventude. As questões estão postas na mesa, o mundo inteiro está acompanhando essa tragédia. Cabe agora a quem avaliar ter sensibilidade. É o ecossistema do futebol que pode decidir isso. Nós aqui estamos preocupados em salvar vidas, que é a tarefa mais importante, e dar estabilidade para as pessoas. A partir daí vamos ter que tomar nossas decisões de como nos organizar e nos adaptar a essa nova realidade.

O Inter considera, em algum momento, usar a estrutura de outros clubes para treinar e jogar?

Neste momento, não. Não vamos abandonar as pessoas neste momento de salvar vidas. Talvez, no momento em que tiver uma condição mais estável e as pessoas conseguirem retomar suas vidas, teremos que buscar alternativas. Não tem outra saída. Aqui, não há condições de jogar. No futuro é que teremos que decidir para onde vamos. Mas agora, enquanto instituição, nosso pensamento não é esse. Conseguindo estabilizar a situação, aí entram as ações governamentais, os recursos para recuperação e aí as atividades voltarão a ser retomadas, até mesmo para as pessoas terem suas condições de sobrevivência. Só depois disso que vamos conseguir pensar em alguma alternativa das que foram oferecidas. Mas reforço que neste momento não temos como pensar nisso.

Somos um clube de futebol e vivemos de futebol, mas para isso precisamos das pessoas e da vida. A vida está em primeiro lugar, depois vem nossa atividade. Estamos trabalhando forte para dar o segundo passo, que tem que ser o da reconstrução de um Estado.

Diante de uma tragédia sem precedentes como essa, é difícil fazer projeções. Mas em quanto tempo você acha que seria razoável o Inter e os clubes do Sul voltarem a jogar?

Na última enchente que acometeu Porto Alegre, menor que essa, em 1941, demorou 32 dias para a água baixar. Sem nenhum embasamento técnico e sem saber o tamanho das consequências, diria que não será menos de 90 dias. Para ter uma condição normal de uso e de trabalho nas instalações, vai levar muito tempo.

Seu navegador não suporta esse video.

Alessandro Barcellos espera que CBF paralise o Brasileirão em meio a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul

Alessandro Barcellos é incapaz de pensar em futebol no momento em que o Rio Grande do Sul é atingido pela maior catástrofe climática de sua história. Como os cartolas de Juventude e Grêmio, o presidente do Internacional tem tentado sensibilizar a CBF para que a entidade que rege o futebol brasileiro paralise o Brasileirão. Mas não conseguiu, por enquanto, já que a confederação apenas adiou os jogos dos gaúchos por 20 dias.

“A paralisação dos jogos foi um pedido nosso de desespero porque nada estava sendo feito. Há quatro dias o Inter tinha jogo marcado para hoje, contra o Juventude, no Beira-Rio. Foi um desespero nosso de pedir que, já que nada vai ser feito, ao menos liberem os clubes do Sul de jogar. Na minha opinião, diante do tamanho da tragédia, é insuficiente”, diz Barcellos em entrevista ao Estadão, de sua casa, que não foi atingida pelas fortes chuvas, embora o cartola tenha sofrido com a ausência de água potável, como boa parte dos moradores de Porto Alegre.

Mandatário do Inter desde 2021, Barcellos ainda não consegue mensurar o tamanho dos estragos provocados nas instalações do clube. Até porque tanto o Estádio Beira-Rio quanto o centro de treinamento, situado às margens do Rio Guaíba, estão debaixo d’água e a previsão é de que a previsão do tempo indica chuva forte no Estado nos próximos cinco dias. O clube criou, segundo o presidente, um comitê de crise para ajudar os funcionários.

“Temos funcionários desabrigados, outros que tiveram que sair de casa porque ficaram ilhados, foram retirados de suas casas e foram para casas de parentes. Alguns jogadores saíram de Porto Alegre para o litoral, estavam ilhados ou com a água entrando nas casas. A prioridade é dar condições aos funcionários para ter um lar e recomeçar suas vidas”, afirma. “O clube está com essa incumbência e trabalhando nisso. As pessoas não conseguem sequer se locomover em Porto Alegre. Jogadores e funcionários estão na linha de frente resgatando e outros, ao mesmo tempo, estão sendo resgatados”.

Alessandro Barcellos diz que Inter criou comitê de crise para ajudar funcionários durante a tragédia climática no Sul Foto: Ricardo Duarte/Internacional

Como estão as coisas com você e sua família? A água chegou com força na região onde você mora?

Moro numa região mais alta. É na zona sul, uma região bastante afetada, mas não é uma região mais alta. Não tivemos problema de enchente, mas de falta de água. Faltou luz em algum momento, e sofremos mais com o abastecimento de água. Andando pouco mais de um quilômetro você já vê reflexos por aqui. É importante dizer que não se trata de um evento localizado em alguma região de periferia ou de pontos externos da cidade. A catástrofe, no caso de Porto Alegre, atingiu centro, bairros inteiros, regiões de muita população, pontos turísticos, os dois estádios, aeroporto. Está sendo muito devastador. Não é seletivo na cidade, 85% da cidade ficou sem água potável, o que gera também um transtorno grande. Falta combustível em alguns postos, as pessoas se apavoram e começam a querer estocar as coisas. Água já não tem em mercado, gera um drama. Tem também a onda de violência, saques, assaltos, depredações.

Como estão as instalações do clube? O estádio e o CT continuam embaixo d’água?

A água não baixou, baixou muito pouco. Temos esperanças de que as coisas melhorem, mas as previsões climáticas são ruins, de volta de chuva. Sabemos que baixou, mas foi pouco. Nosso centro de treinamento está submerso, os campos, a academia, refeitório, departamento médico, administrativo, está todo debaixo d’água. O estádio também está muito prejudicado, principalmente o gramado. A gente não consegue ainda mensurar o tamanho do que significou nas instalações do clube essa enchente. Vamos ter que trocar todo o gramado, não tem jeito, e fazer um trabalho de reconstrução.

Você tem falado com os atletas, comissão técnica e funcionários? Alguém foi afetado pelas enchentes?

Temos funcionários desabrigados, outros que tiveram que sair de casa porque ficaram ilhados, foram retirados de suas casas e foram para casas de parentes. Alguns jogadores saíram de Porto Alegre para o litoral, estavam ilhados ou com a água entrando. O clube tem prestado todo o apoio no que for possível. Tem um plano interno, estamos criando um comitê de crise. Esse comitê está tratando desses assuntos, a prioridade é dar condições aos funcionários para ter um lar e recomeçar suas vidas. O clube está com essa incumbência e trabalhando nisso. As pessoas não conseguem sequer se locomover em Porto Alegre. Jogadores e funcionários estão na linha de frente resgatando e outros, ao mesmo tempo, estão sendo resgatados. Agora, rezamos para que essa onda de chuva não altere demais o quadro para que a gente possa minimamente olhar pra frente e que água abaixe. O mais importante, até agora, foi salvar vidas. Temos inúmeros exemplos no clube de pessoas que salvaram vidas, entraram na água, atletas que mobilizaram recursos e equipamentos para ajudar e outros que trabalharam na retaguarda com alimentação e auxílios. Essa está sendo nossa rotina.

Beira-Rio, estádio do Inter, está submerso após as enchentes que destruíram o Rio Grande do Sul Foto: Renan Mattos/AFP

Adiar os jogos dos times gaúchos e não paralisar os campeonatos nesse momento é colocar as vidas em segundo plano?

Eu entendo a complexidade que é administrar a entidade e um campeonato tão grande como o Brasileirão. Não sou alheio a isso, mas, por estar vivendo esse momento, tenho uma sensibilidade diferente daqueles que estão à frente de outras instituições e clubes. Estou aqui vendo as pessoas saírem de casa só com a roupa do corpo e não tenho capacidade de imaginar um jogo de futebol nesse momento. Se isso não comove, não solidariza o restante do País, eu lamento. A paralisação dos jogos foi um pedido nosso de desespero porque nada estava sendo feito. Há quatro dias o Inter tinha jogo marcado para hoje, contra o Juventude, no Beira-Rio. Foi um desespero nosso de pedir que, já que nada vai ser feito, ao menos liberem os clubes do Sul de jogar. Na minha opinião, diante do tamanho da tragédia, é insuficiente.

Já que a gente não trata de solidariedade de uma forma plena, vamos tratar no ecossistema do futebol daquilo que possa gerar desequilíbrio. Já sabemos que os clubes do Sul terão que jogar em Datas Fifa, então seria importante que os demais clubes, em solidariedade, tivessem essa compreensão e nos acompanhassem no calendário, que ficaria apertado pra todos, mas possível de ser realizado. O futebol brasileiro, até há pouco tempo, não parava nas Datas Fifa. Abrir uma exceção em momento de catástrofe como esse não seria algo inimaginável e nem impossível. Tentando criar um pacote de medidas para equilibrar as coisas e fazendo um exercício de empatia, por exemplo: temos hoje 70% a 80% de jogadores convocados para seleção brasileira que não jogam no País, então convocar apenas atletas de fora seria uma forma de não prejudicar os clubes daqui. Isso seria razoável.

Sabemos que existe comoção, ajuda de vários clubes e instituições, mas dirigentes de outros clube apoiaram te ligaram para dar apoio à paralisação do Brasileirão?

Vi publicamente algumas manifestações. Tem clubes que disseram que nos acompanham, não vou citar um por um porque posso esquecer de alguém. Tivemos essa preocupação de alguns clubes. Mas sabemos que outros se manifestaram de forma contrária à paralisação do campeonato. A gente respeita as diferentes opiniões. Falamos muito com o Grêmio e o Juventude, com a CBF.

Alessandro Barcellos, presidente do Inter, pede sensibilidades a clubes e CBF Foto: Ricardo Duarte/Inter

Você tem a esperança ainda de que as competições sejam paralisadas?

A gente continua conversando com as entidades e tentando sensibilizá-las para este momento e para o que ainda virá. Diria que não depende mais do Inter, do Grêmio e do Juventude. As questões estão postas na mesa, o mundo inteiro está acompanhando essa tragédia. Cabe agora a quem avaliar ter sensibilidade. É o ecossistema do futebol que pode decidir isso. Nós aqui estamos preocupados em salvar vidas, que é a tarefa mais importante, e dar estabilidade para as pessoas. A partir daí vamos ter que tomar nossas decisões de como nos organizar e nos adaptar a essa nova realidade.

O Inter considera, em algum momento, usar a estrutura de outros clubes para treinar e jogar?

Neste momento, não. Não vamos abandonar as pessoas neste momento de salvar vidas. Talvez, no momento em que tiver uma condição mais estável e as pessoas conseguirem retomar suas vidas, teremos que buscar alternativas. Não tem outra saída. Aqui, não há condições de jogar. No futuro é que teremos que decidir para onde vamos. Mas agora, enquanto instituição, nosso pensamento não é esse. Conseguindo estabilizar a situação, aí entram as ações governamentais, os recursos para recuperação e aí as atividades voltarão a ser retomadas, até mesmo para as pessoas terem suas condições de sobrevivência. Só depois disso que vamos conseguir pensar em alguma alternativa das que foram oferecidas. Mas reforço que neste momento não temos como pensar nisso.

Somos um clube de futebol e vivemos de futebol, mas para isso precisamos das pessoas e da vida. A vida está em primeiro lugar, depois vem nossa atividade. Estamos trabalhando forte para dar o segundo passo, que tem que ser o da reconstrução de um Estado.

Diante de uma tragédia sem precedentes como essa, é difícil fazer projeções. Mas em quanto tempo você acha que seria razoável o Inter e os clubes do Sul voltarem a jogar?

Na última enchente que acometeu Porto Alegre, menor que essa, em 1941, demorou 32 dias para a água baixar. Sem nenhum embasamento técnico e sem saber o tamanho das consequências, diria que não será menos de 90 dias. Para ter uma condição normal de uso e de trabalho nas instalações, vai levar muito tempo.

Entrevista por Ricardo Magatti

Repórter da editoria de Esportes desde 2018. Formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), com pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Multimídias pela Universidade Anhembi Morumbi. Cobriu a Copa do Mundo do Catar, em 2022, e a Olimpíada de Paris, em 2024.

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