‘Não sentia paixão pela medicina. Meu foco era o futebol’, diz Vojvoda, técnico do Fortaleza


Em entrevista ao ‘Estadão’, treinador explica por que não seguiu a carreira de médico, fala sobre as recusas para deixar o clube cearense e o que pensa da possibilidade de um estrangeiro assumir a seleção brasileira

Por Ricardo Magatti
Atualização:
Foto: Alex Silva/Estadão
Entrevista comJuan Pablo Vovjodatécnico do Fortaleza

Juan Pablo Vojvoda, 48 anos, surge atrasado no saguão do hotel onde se hospedou na zona sul de São Paulo. Técnico mais cobiçado do futebol brasileiro, o argentino explica que o atraso foi provocado pelo trânsito caótico da capital paulista, se acomoda no sofá e logo começa a falar com naturalidade sobre diferentes assuntos. Recorda-se dos estudos para se tornar médico, se alegra ao comentar da seleção argentina e detalha o que lhe fez recursar propostas vantajosas financeiramente do Atlético Mineiro e de outros clubes para continuar o trabalho no Fortaleza, que se tornou, sob seu comando, um dos times mais consistentes do País. “Estou em um clube que tem uma mentalidade de crescimento e em que posso desenvolver um trabalho”, justifica.

Dá para contar nas mãos o número de entrevistas exclusivas que Vovjoda concedeu desde que chegou ao Brasil, em maio de 2021. Reservado, o técnico argentino tem boa relação com a imprensa, mas prefere falar pouco. Quando topa falar e está à vontade, a conversa flui. Não se furta de responder qualquer pergunta, como fez em conversa com o Estadão.

Segundo técnico que mais vezes comandou o Fortaleza, dono de quatro taças pelo clube cearense e capaz de feitos importantes, como levar a equipe à disputa de sua primeira Libertadores na história, ele explicou o que lhe trouxe ao Brasil e afirmou que não pensa em deixar tão cedo o clube no qual virou ídolo. O afeto dos torcedores é demonstrado com pedidos de fotos nas ruas e por meio de mosaicos em sua homenagem no estádio. “Sinto esse carinho das pessoas, principalmente nas ruas. Sei que esse carinho tem de ser correspondido não só com resultados, mas com atitudes minhas e de todo o time”, diz.

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O seu presente e futuro, diz o treinador, estão no Fortaleza, com o qual tem contrato até o fim de 2024. “Ainda me vejo com a possibilidade de continuar aqui porque estou desfrutando. Não fecho portas a uma possibilidade na Europa, mas tenho o pé no chão”, afirma. A ideia do argentino é “desfrutar” - verbo que mais usa quando o futebol é o assunto. “Pela minha personalidade, eu preciso estar no futebol. Posso estar em casa, dois, três meses, mas vai me faltar algo”.

Você tem uma história curiosa. Era médico quando aceitou o convite para treinar o Defensa y Justicia, certo ? Por que largou a medicina e optou pelo futebol?

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Eu tinha 18 anos, estava jogando futebol, mas ainda não era profissional. Minha mãe é farmacêutica, eu não sabia se ia jogar profissionalmente, então comecei a carreira de medicina ao mesmo tempo. Aos 20 anos, cheguei ao profissional. Então, se tornou difícil continuar com a medicina, mas dava. Depois, fui à Espanha jogar, então tive de paralisar os estudos da medicina no quarto ano. Acho que foram 12 anos sem tocar num livro de medicina. Quando me aposentei como jogador, comecei a trabalhar na base, já como técnico, e sempre pensei em fechar o ciclo da medicina. Comecei novamente, consegui terminar todas as matérias e fiz os noves meses de prática hospitalar. Enquanto isso, eu era treinador do sub-20 do Newells’s Old Boys. A um mês de finalizar tudo e receber o título de médico, veio a proposta para dirigir o Defensa y Justicia. Da medicina, só gostava de ler, da informação, mas não sentia paixão. Eu ia ao hospital sem paixão. Foi difícil decidir porque foram muitos anos estudando, mas eu tinha claro que a medicina não era pra mim. Falei com a minha mulher, já tínhamos filhos, e escolhi o futebol. Eu ficava duas horas à frente de um livro, compreendia tudo, era bom, mas meu foco estava no futebol.

Você é estudioso das coisas do futebol como era com as da medicina?

Sim, eu gosto. Primeiro, assisto futebol. Quando tenho que fazer meu trabalho, gosto de estudar o que tenho que fazer. Uma coisas é assistir a um jogo pela televisão, outra é estudar meu adversário, os padrões de cada time, o que temos que corrigir na nossa equipe.

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Quando aceitou o convite do Defensa para iniciar a carreira de técnico imaginou que poderia ser tão bem-sucedido?

Não sei se sou tão bem-sucedido. Vou passo a passo. Sempre tive muita confiança no meu trabalho. Foi assim no Defensa, no Talleres. São etapas. Eu sabia que era um processo, que o futebol demanda resultados, mas foi também um aprendizado, e continua sendo. Não sei tudo.

Em que aspectos o Vovjoda mudou em dois anos, desde que aceitou comandar o Fortaleza?

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Em todos os aspectos. Desde a parte metodológica, de treinamento, de resolver situações que não estão nos livros. Muitas vezes, o jogador dá essa flexibilidade para resolver determinadas situações. Também mudei na parte tática e de relacionamento, com as pessoas, imprensa, diretoria, torcedores. Cada dia é um dia para se aprender e ainda continuo nesse caminho.

A sua adaptação ao Brasil e ao Fortaleza foi rápida. O que te ajudou nesse processo?

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O que me ajudou muito foi a gente do Pici, as pessoas, os companheiros de trabalho, meus auxiliares. Em resumo, foi a gente que está no meu dia a dia. Eles me ajudaram para que minha adaptação fosse rápida. O roupeiro, o pessoal da cozinha, os jogadores. Sou agradecido a todos por essa ajuda. Sinto esse carinho das pessoas, principalmente nas ruas. Sei que esse carinho tem que ser correspondido não só com resultados, mas com atitudes minhas e de todo time. Eu e minha comissão técnica às vezes transmitimos o que o torcedor necessita.

Como é a sua vida em Fortaleza para além do futebol? Na sua folga, o que faz?

Agora moro perto da praia, mas há pouco tempo de descanso. Estou sozinho em Fortaleza, minha família vem a cada dois meses ou quando estão de férias. Minha vida fora do futebol é muito curta. Costumo caminhar na praia quando tenho o dia livre. Uso a caminhada para meu bem-estar porque preciso estar bem para transmitir o que quero. É um aprendizado isso também porque antes estava muito focado no trabalho e há momentos em que é necessário descansar, distrair a cabeça. Às vezes nesse momento em que caminho em que nada ocorre tenho alguma ideia. Muitas vezes aparecem pensamentos da parte tática e do que podemos fazer. Minha vida é futebol porque eu gosto. Eu desfruto, não penso no meu trabalho sofrendo. Gosto muito nos momentos ruins e bons.

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Você se sente que existe uma harmonia rara entre você, os jogadores e a torcida?

Sim, sinto e sentia no passado. Tivemos títulos importantes, a primeira vez na Libertadores, mas senti também no momento ruim no Brasileiro ano passado. A torcida abraçou o time e ajudou a mim e aos jogadores. Todos sentimos essa energia.

Foi por isso que você recusou propostas e ficou no Fortaleza?

Foi importante. Também foi importante o processo. Vejo um clube que tem uma mentalidade de crescimento e em que posso desenvolver um trabalho. Quando eu for embora vai permanecer uma base de trabalho. Vejo um clube que mescla bem jovens e experientes, vejo pessoas que sofreram muito no passado com o clube, na Série B, Série C, e vejo gente nova aqui. Isso que fez cada área do clube crescer. Agora, é continuar crescendo, há que encontrar um jeito disso.

Juan Pablo Vojvoda faz sucesso no Fortaleza, que comanda desde maio de 2021 Foto: Alex Silva/Estadão

O adeus ao Fortaleza ainda está longe?

Acho que sim, é o meu desejo. Mas sei que o futebol é partida a partida. Cada vez que perdemos uma partida sempre aparecem as dúvidas. Eu digo aos atletas: ‘cuidado, sustente o momento, cuide do momento em que estamos’. Somos um clube que não está consolidado ainda. Temos que lutar muito para sustentar o que estamos conseguindo.

Em comparação com outros clubes da Série A, em que prateleira o Fortaleza está hoje levando em conta os resultados, estrutura e organização?

Está em um bom nível, mas há que reconhecer a realidade. Há outros clubes melhores que o Fortaleza. Estamos melhorando a estrutura, o CT, mas temos que continuar melhorando. O (presidente) Marcelo Paz sempre diz que o dia em que não crescemos, nós morremos.

O desafio dos times bem-sucedidos é se manter entre os melhores. Como lida com a essa expectativa alta?

É nossa obrigação. Não podemos ficar acomodados. Não é a essência do clube. O clube foi crescendo e o torcedor exige que continua crescendo. É desse jeito que temos que pensar, mas sabendo de onde viemos. O mesmo torcedor pensa que temos que ganhar a Copa Libertadores, mas é um processo. Quando está nesse processo, um dia você vai conseguir. Cito o Athletico-PR como um dos clubes que passaram por esse processo.

Os times do Brasil têm dominado a América do Sul nos últimos anos, com certa distância dos rivais. Como vê o futebol brasileiro e o argentino hoje?

São as duas principais ligas da América do Sul. Mas no Brasil o poder econômico faz a diferença. O Brasileirão é muito forte e aqui são vários times que podem fazer grandes contratações. Na Argentina, não são todos que podem fazer isso.

Técnico argentino não se vê fora do Fortaleza tão cedo Foto: Alex Silva/Estadão

Como foi ver a sua Argentina ser campeã mundial?

Uma alegria imensa. Meus três filhos, principalmente, desfrutaram. São fãs de Messi, queriam ir ao Catar, mas era o momento das minhas férias. Vi grande parte do Mundial na Argentina. Na semifinal, já havia voltado ao Brasil.

Por que temos tantos estrangeiros treinando times brasileiros? Por que os estrangeiros são competentes ou por que a safra de técnicos brasileiros não é boa?

Os brasileiros são competentes. Sempre que enfrento um time com técnico brasileiro vejo que são organizado, com ideia de jogo estabelecida. Posso citar Diniz, Dorival, Cuca, agora voltou ao Corinthians o Luxemburgo, tem o Renato Gaúcho no Grêmio. São treinadores reconhecidos, cada um com sua ideia.

O que atrai o técnico estrangeiro que vem ao Brasil?

No meu caso, não foi o dinheiro. É importante para todos, claro, tenho que ser sincero, mas o que me atraiu foram os jogadores de alto nível, alguns que jogaram na Europa, os estádios lotados e de Copa do Mundo. É um bom produto.

Qual sua opinião sobre um técnico estrangeiro assumir a seleção brasileira?

Acho difícil que aconteça porque nunca aconteceu nem no Brasil nem na Argentina. Mas não vejo como algo impossível. Tudo se muda. Mas acho que existem treinadores brasileiros capazes de dirigir a seleção brasileira.

Onde estará o Vojvoda no futuro?

Gosto da liga brasileira, da espanhola, do futebol italiano. Acho que o Brasil tem matéria prima de sobra. Na Inglaterra, são muitos jogadores brasileiros. Eu ainda me vejo com a possibilidade de continuar aqui porque estou desfrutando. Não fecho portas a uma possibilidade na Europa, mas tenho o pé no chão. O que tenho que fazer é ganhar o próximo jogo.

A seleção argentina é um de seus objetivos no futuro?

Neste momento, não penso nessa possibilidade, de verdade. Necessito, hoje, estar no dia a dia. Talvez, em três anos, pode ser. Seleção é outro tipo de trabalho, de convencimento aos atletas. É o mesmo futebol, mas uma metodologia totalmente diferente. É um desafio apaixonante também.

O Abel Ferreira falou uma vez que os jogadores brasileiros são os melhores tecnicamente, mas que muitos têm lacunas na sua formação, que precisam evoluir a nível educacional. O que pensa sobre isso?

Pode ser. O Abel pode ter mais experiência pra falar sobre isso. Há uma história de futebol de base nos times de São Paulo. Considero que o aprendizado do jogador não é somente na base. No time principal, também é possível. O treinador do profissional também é responsável por essa formação. É como um pai com o filho. Com 20 anos, o jogador não sabe tudo. Todo dia ele pode aprender. Eu fui treinador na base e fui jogador. Na Argentina também se comenta dessa lacuna, mas não generalizo. Há uma lacuna em determinados momentos em determinados clubes. Quando posso, aconselho sobre a vida. O futebol é a vida do jogador.

Vojvoda largou a medicina a um mês de receber o diploma por amor ao futebol Foto: Alex Silva/Estadão

Você prefere trabalhar com jovens ou medalhões?

Primeiro, quero que sejam boas pessoas. Há jovens e experientes que gosto de treinar. A idade não importa. Há os de 20 anos que cumprem com seu trabalho e há os que dá gosto de treinar. Isso não tem a ver com idade. O experiente, muitas vezes, me dá toques importantes. ‘Professor, pressione de tal maneira’. E eu ouço. Durante o jogo quem soluciona coisas em milésimos de segundos são os jogadores. Há quem diga que o jogador de futebol é burro, que só sabem jogar bola. É algo muito importante. Eles suportam a pressão e são inteligentes para decidir em um segundo em campo. Não é fácil chutar uma bola com 50 mil pessoas.

O Renato Gaúcho afirmou que o Guardiola teria dificuldade de treinar um time brasileiro por causa da pressão. Você concorda?

A realidade mostra isso. Existe uma pressão alta por resultados. Eu passei por isso no Fortaleza. Da minha parte, não pensei em sair. Analisava partida a partida, como os jogadores respondiam, viam que eles acreditavam em mim. Nos momentos complicados de verdade, a torcida nos abraçou, a diretoria deu suporte e os jogadores realmente me ajudaram. Posso dizer isso bem alto.

Há técnicos com carreiras longevas e outros, como o Abel, que pensam em se aposentar logo por causa da rotina desgastante. Qual é o seu perfil?

Pela minha personalidade, eu preciso estar no futebol. Posso estar em casa, dois, três meses, mas vai me faltar algo. Minha casa também considera isso. O futebol faz parte do meu estilo de vida, com a minha família.

Como você vê esse esquema de apostas que assola o futebol brasileiro?

Na Argentina não havia vivido isso. Sou do pensamento de que temos que deixar a Justiça trabalhar. Se houver culpados, que eles sejam punidos, que tenham uma lição. Por mais que se movimente muito dinheiro, o futebol é um esporte. Vamos a campo para trabalhar com ética. A ética está acima do dinheiro e de tudo.

Juan Pablo Vojvoda, 48 anos, surge atrasado no saguão do hotel onde se hospedou na zona sul de São Paulo. Técnico mais cobiçado do futebol brasileiro, o argentino explica que o atraso foi provocado pelo trânsito caótico da capital paulista, se acomoda no sofá e logo começa a falar com naturalidade sobre diferentes assuntos. Recorda-se dos estudos para se tornar médico, se alegra ao comentar da seleção argentina e detalha o que lhe fez recursar propostas vantajosas financeiramente do Atlético Mineiro e de outros clubes para continuar o trabalho no Fortaleza, que se tornou, sob seu comando, um dos times mais consistentes do País. “Estou em um clube que tem uma mentalidade de crescimento e em que posso desenvolver um trabalho”, justifica.

Dá para contar nas mãos o número de entrevistas exclusivas que Vovjoda concedeu desde que chegou ao Brasil, em maio de 2021. Reservado, o técnico argentino tem boa relação com a imprensa, mas prefere falar pouco. Quando topa falar e está à vontade, a conversa flui. Não se furta de responder qualquer pergunta, como fez em conversa com o Estadão.

Segundo técnico que mais vezes comandou o Fortaleza, dono de quatro taças pelo clube cearense e capaz de feitos importantes, como levar a equipe à disputa de sua primeira Libertadores na história, ele explicou o que lhe trouxe ao Brasil e afirmou que não pensa em deixar tão cedo o clube no qual virou ídolo. O afeto dos torcedores é demonstrado com pedidos de fotos nas ruas e por meio de mosaicos em sua homenagem no estádio. “Sinto esse carinho das pessoas, principalmente nas ruas. Sei que esse carinho tem de ser correspondido não só com resultados, mas com atitudes minhas e de todo o time”, diz.

O seu presente e futuro, diz o treinador, estão no Fortaleza, com o qual tem contrato até o fim de 2024. “Ainda me vejo com a possibilidade de continuar aqui porque estou desfrutando. Não fecho portas a uma possibilidade na Europa, mas tenho o pé no chão”, afirma. A ideia do argentino é “desfrutar” - verbo que mais usa quando o futebol é o assunto. “Pela minha personalidade, eu preciso estar no futebol. Posso estar em casa, dois, três meses, mas vai me faltar algo”.

Você tem uma história curiosa. Era médico quando aceitou o convite para treinar o Defensa y Justicia, certo ? Por que largou a medicina e optou pelo futebol?

Eu tinha 18 anos, estava jogando futebol, mas ainda não era profissional. Minha mãe é farmacêutica, eu não sabia se ia jogar profissionalmente, então comecei a carreira de medicina ao mesmo tempo. Aos 20 anos, cheguei ao profissional. Então, se tornou difícil continuar com a medicina, mas dava. Depois, fui à Espanha jogar, então tive de paralisar os estudos da medicina no quarto ano. Acho que foram 12 anos sem tocar num livro de medicina. Quando me aposentei como jogador, comecei a trabalhar na base, já como técnico, e sempre pensei em fechar o ciclo da medicina. Comecei novamente, consegui terminar todas as matérias e fiz os noves meses de prática hospitalar. Enquanto isso, eu era treinador do sub-20 do Newells’s Old Boys. A um mês de finalizar tudo e receber o título de médico, veio a proposta para dirigir o Defensa y Justicia. Da medicina, só gostava de ler, da informação, mas não sentia paixão. Eu ia ao hospital sem paixão. Foi difícil decidir porque foram muitos anos estudando, mas eu tinha claro que a medicina não era pra mim. Falei com a minha mulher, já tínhamos filhos, e escolhi o futebol. Eu ficava duas horas à frente de um livro, compreendia tudo, era bom, mas meu foco estava no futebol.

Você é estudioso das coisas do futebol como era com as da medicina?

Sim, eu gosto. Primeiro, assisto futebol. Quando tenho que fazer meu trabalho, gosto de estudar o que tenho que fazer. Uma coisas é assistir a um jogo pela televisão, outra é estudar meu adversário, os padrões de cada time, o que temos que corrigir na nossa equipe.

Quando aceitou o convite do Defensa para iniciar a carreira de técnico imaginou que poderia ser tão bem-sucedido?

Não sei se sou tão bem-sucedido. Vou passo a passo. Sempre tive muita confiança no meu trabalho. Foi assim no Defensa, no Talleres. São etapas. Eu sabia que era um processo, que o futebol demanda resultados, mas foi também um aprendizado, e continua sendo. Não sei tudo.

Em que aspectos o Vovjoda mudou em dois anos, desde que aceitou comandar o Fortaleza?

Em todos os aspectos. Desde a parte metodológica, de treinamento, de resolver situações que não estão nos livros. Muitas vezes, o jogador dá essa flexibilidade para resolver determinadas situações. Também mudei na parte tática e de relacionamento, com as pessoas, imprensa, diretoria, torcedores. Cada dia é um dia para se aprender e ainda continuo nesse caminho.

A sua adaptação ao Brasil e ao Fortaleza foi rápida. O que te ajudou nesse processo?

O que me ajudou muito foi a gente do Pici, as pessoas, os companheiros de trabalho, meus auxiliares. Em resumo, foi a gente que está no meu dia a dia. Eles me ajudaram para que minha adaptação fosse rápida. O roupeiro, o pessoal da cozinha, os jogadores. Sou agradecido a todos por essa ajuda. Sinto esse carinho das pessoas, principalmente nas ruas. Sei que esse carinho tem que ser correspondido não só com resultados, mas com atitudes minhas e de todo time. Eu e minha comissão técnica às vezes transmitimos o que o torcedor necessita.

Como é a sua vida em Fortaleza para além do futebol? Na sua folga, o que faz?

Agora moro perto da praia, mas há pouco tempo de descanso. Estou sozinho em Fortaleza, minha família vem a cada dois meses ou quando estão de férias. Minha vida fora do futebol é muito curta. Costumo caminhar na praia quando tenho o dia livre. Uso a caminhada para meu bem-estar porque preciso estar bem para transmitir o que quero. É um aprendizado isso também porque antes estava muito focado no trabalho e há momentos em que é necessário descansar, distrair a cabeça. Às vezes nesse momento em que caminho em que nada ocorre tenho alguma ideia. Muitas vezes aparecem pensamentos da parte tática e do que podemos fazer. Minha vida é futebol porque eu gosto. Eu desfruto, não penso no meu trabalho sofrendo. Gosto muito nos momentos ruins e bons.

Você se sente que existe uma harmonia rara entre você, os jogadores e a torcida?

Sim, sinto e sentia no passado. Tivemos títulos importantes, a primeira vez na Libertadores, mas senti também no momento ruim no Brasileiro ano passado. A torcida abraçou o time e ajudou a mim e aos jogadores. Todos sentimos essa energia.

Foi por isso que você recusou propostas e ficou no Fortaleza?

Foi importante. Também foi importante o processo. Vejo um clube que tem uma mentalidade de crescimento e em que posso desenvolver um trabalho. Quando eu for embora vai permanecer uma base de trabalho. Vejo um clube que mescla bem jovens e experientes, vejo pessoas que sofreram muito no passado com o clube, na Série B, Série C, e vejo gente nova aqui. Isso que fez cada área do clube crescer. Agora, é continuar crescendo, há que encontrar um jeito disso.

Juan Pablo Vojvoda faz sucesso no Fortaleza, que comanda desde maio de 2021 Foto: Alex Silva/Estadão

O adeus ao Fortaleza ainda está longe?

Acho que sim, é o meu desejo. Mas sei que o futebol é partida a partida. Cada vez que perdemos uma partida sempre aparecem as dúvidas. Eu digo aos atletas: ‘cuidado, sustente o momento, cuide do momento em que estamos’. Somos um clube que não está consolidado ainda. Temos que lutar muito para sustentar o que estamos conseguindo.

Em comparação com outros clubes da Série A, em que prateleira o Fortaleza está hoje levando em conta os resultados, estrutura e organização?

Está em um bom nível, mas há que reconhecer a realidade. Há outros clubes melhores que o Fortaleza. Estamos melhorando a estrutura, o CT, mas temos que continuar melhorando. O (presidente) Marcelo Paz sempre diz que o dia em que não crescemos, nós morremos.

O desafio dos times bem-sucedidos é se manter entre os melhores. Como lida com a essa expectativa alta?

É nossa obrigação. Não podemos ficar acomodados. Não é a essência do clube. O clube foi crescendo e o torcedor exige que continua crescendo. É desse jeito que temos que pensar, mas sabendo de onde viemos. O mesmo torcedor pensa que temos que ganhar a Copa Libertadores, mas é um processo. Quando está nesse processo, um dia você vai conseguir. Cito o Athletico-PR como um dos clubes que passaram por esse processo.

Os times do Brasil têm dominado a América do Sul nos últimos anos, com certa distância dos rivais. Como vê o futebol brasileiro e o argentino hoje?

São as duas principais ligas da América do Sul. Mas no Brasil o poder econômico faz a diferença. O Brasileirão é muito forte e aqui são vários times que podem fazer grandes contratações. Na Argentina, não são todos que podem fazer isso.

Técnico argentino não se vê fora do Fortaleza tão cedo Foto: Alex Silva/Estadão

Como foi ver a sua Argentina ser campeã mundial?

Uma alegria imensa. Meus três filhos, principalmente, desfrutaram. São fãs de Messi, queriam ir ao Catar, mas era o momento das minhas férias. Vi grande parte do Mundial na Argentina. Na semifinal, já havia voltado ao Brasil.

Por que temos tantos estrangeiros treinando times brasileiros? Por que os estrangeiros são competentes ou por que a safra de técnicos brasileiros não é boa?

Os brasileiros são competentes. Sempre que enfrento um time com técnico brasileiro vejo que são organizado, com ideia de jogo estabelecida. Posso citar Diniz, Dorival, Cuca, agora voltou ao Corinthians o Luxemburgo, tem o Renato Gaúcho no Grêmio. São treinadores reconhecidos, cada um com sua ideia.

O que atrai o técnico estrangeiro que vem ao Brasil?

No meu caso, não foi o dinheiro. É importante para todos, claro, tenho que ser sincero, mas o que me atraiu foram os jogadores de alto nível, alguns que jogaram na Europa, os estádios lotados e de Copa do Mundo. É um bom produto.

Qual sua opinião sobre um técnico estrangeiro assumir a seleção brasileira?

Acho difícil que aconteça porque nunca aconteceu nem no Brasil nem na Argentina. Mas não vejo como algo impossível. Tudo se muda. Mas acho que existem treinadores brasileiros capazes de dirigir a seleção brasileira.

Onde estará o Vojvoda no futuro?

Gosto da liga brasileira, da espanhola, do futebol italiano. Acho que o Brasil tem matéria prima de sobra. Na Inglaterra, são muitos jogadores brasileiros. Eu ainda me vejo com a possibilidade de continuar aqui porque estou desfrutando. Não fecho portas a uma possibilidade na Europa, mas tenho o pé no chão. O que tenho que fazer é ganhar o próximo jogo.

A seleção argentina é um de seus objetivos no futuro?

Neste momento, não penso nessa possibilidade, de verdade. Necessito, hoje, estar no dia a dia. Talvez, em três anos, pode ser. Seleção é outro tipo de trabalho, de convencimento aos atletas. É o mesmo futebol, mas uma metodologia totalmente diferente. É um desafio apaixonante também.

O Abel Ferreira falou uma vez que os jogadores brasileiros são os melhores tecnicamente, mas que muitos têm lacunas na sua formação, que precisam evoluir a nível educacional. O que pensa sobre isso?

Pode ser. O Abel pode ter mais experiência pra falar sobre isso. Há uma história de futebol de base nos times de São Paulo. Considero que o aprendizado do jogador não é somente na base. No time principal, também é possível. O treinador do profissional também é responsável por essa formação. É como um pai com o filho. Com 20 anos, o jogador não sabe tudo. Todo dia ele pode aprender. Eu fui treinador na base e fui jogador. Na Argentina também se comenta dessa lacuna, mas não generalizo. Há uma lacuna em determinados momentos em determinados clubes. Quando posso, aconselho sobre a vida. O futebol é a vida do jogador.

Vojvoda largou a medicina a um mês de receber o diploma por amor ao futebol Foto: Alex Silva/Estadão

Você prefere trabalhar com jovens ou medalhões?

Primeiro, quero que sejam boas pessoas. Há jovens e experientes que gosto de treinar. A idade não importa. Há os de 20 anos que cumprem com seu trabalho e há os que dá gosto de treinar. Isso não tem a ver com idade. O experiente, muitas vezes, me dá toques importantes. ‘Professor, pressione de tal maneira’. E eu ouço. Durante o jogo quem soluciona coisas em milésimos de segundos são os jogadores. Há quem diga que o jogador de futebol é burro, que só sabem jogar bola. É algo muito importante. Eles suportam a pressão e são inteligentes para decidir em um segundo em campo. Não é fácil chutar uma bola com 50 mil pessoas.

O Renato Gaúcho afirmou que o Guardiola teria dificuldade de treinar um time brasileiro por causa da pressão. Você concorda?

A realidade mostra isso. Existe uma pressão alta por resultados. Eu passei por isso no Fortaleza. Da minha parte, não pensei em sair. Analisava partida a partida, como os jogadores respondiam, viam que eles acreditavam em mim. Nos momentos complicados de verdade, a torcida nos abraçou, a diretoria deu suporte e os jogadores realmente me ajudaram. Posso dizer isso bem alto.

Há técnicos com carreiras longevas e outros, como o Abel, que pensam em se aposentar logo por causa da rotina desgastante. Qual é o seu perfil?

Pela minha personalidade, eu preciso estar no futebol. Posso estar em casa, dois, três meses, mas vai me faltar algo. Minha casa também considera isso. O futebol faz parte do meu estilo de vida, com a minha família.

Como você vê esse esquema de apostas que assola o futebol brasileiro?

Na Argentina não havia vivido isso. Sou do pensamento de que temos que deixar a Justiça trabalhar. Se houver culpados, que eles sejam punidos, que tenham uma lição. Por mais que se movimente muito dinheiro, o futebol é um esporte. Vamos a campo para trabalhar com ética. A ética está acima do dinheiro e de tudo.

Juan Pablo Vojvoda, 48 anos, surge atrasado no saguão do hotel onde se hospedou na zona sul de São Paulo. Técnico mais cobiçado do futebol brasileiro, o argentino explica que o atraso foi provocado pelo trânsito caótico da capital paulista, se acomoda no sofá e logo começa a falar com naturalidade sobre diferentes assuntos. Recorda-se dos estudos para se tornar médico, se alegra ao comentar da seleção argentina e detalha o que lhe fez recursar propostas vantajosas financeiramente do Atlético Mineiro e de outros clubes para continuar o trabalho no Fortaleza, que se tornou, sob seu comando, um dos times mais consistentes do País. “Estou em um clube que tem uma mentalidade de crescimento e em que posso desenvolver um trabalho”, justifica.

Dá para contar nas mãos o número de entrevistas exclusivas que Vovjoda concedeu desde que chegou ao Brasil, em maio de 2021. Reservado, o técnico argentino tem boa relação com a imprensa, mas prefere falar pouco. Quando topa falar e está à vontade, a conversa flui. Não se furta de responder qualquer pergunta, como fez em conversa com o Estadão.

Segundo técnico que mais vezes comandou o Fortaleza, dono de quatro taças pelo clube cearense e capaz de feitos importantes, como levar a equipe à disputa de sua primeira Libertadores na história, ele explicou o que lhe trouxe ao Brasil e afirmou que não pensa em deixar tão cedo o clube no qual virou ídolo. O afeto dos torcedores é demonstrado com pedidos de fotos nas ruas e por meio de mosaicos em sua homenagem no estádio. “Sinto esse carinho das pessoas, principalmente nas ruas. Sei que esse carinho tem de ser correspondido não só com resultados, mas com atitudes minhas e de todo o time”, diz.

O seu presente e futuro, diz o treinador, estão no Fortaleza, com o qual tem contrato até o fim de 2024. “Ainda me vejo com a possibilidade de continuar aqui porque estou desfrutando. Não fecho portas a uma possibilidade na Europa, mas tenho o pé no chão”, afirma. A ideia do argentino é “desfrutar” - verbo que mais usa quando o futebol é o assunto. “Pela minha personalidade, eu preciso estar no futebol. Posso estar em casa, dois, três meses, mas vai me faltar algo”.

Você tem uma história curiosa. Era médico quando aceitou o convite para treinar o Defensa y Justicia, certo ? Por que largou a medicina e optou pelo futebol?

Eu tinha 18 anos, estava jogando futebol, mas ainda não era profissional. Minha mãe é farmacêutica, eu não sabia se ia jogar profissionalmente, então comecei a carreira de medicina ao mesmo tempo. Aos 20 anos, cheguei ao profissional. Então, se tornou difícil continuar com a medicina, mas dava. Depois, fui à Espanha jogar, então tive de paralisar os estudos da medicina no quarto ano. Acho que foram 12 anos sem tocar num livro de medicina. Quando me aposentei como jogador, comecei a trabalhar na base, já como técnico, e sempre pensei em fechar o ciclo da medicina. Comecei novamente, consegui terminar todas as matérias e fiz os noves meses de prática hospitalar. Enquanto isso, eu era treinador do sub-20 do Newells’s Old Boys. A um mês de finalizar tudo e receber o título de médico, veio a proposta para dirigir o Defensa y Justicia. Da medicina, só gostava de ler, da informação, mas não sentia paixão. Eu ia ao hospital sem paixão. Foi difícil decidir porque foram muitos anos estudando, mas eu tinha claro que a medicina não era pra mim. Falei com a minha mulher, já tínhamos filhos, e escolhi o futebol. Eu ficava duas horas à frente de um livro, compreendia tudo, era bom, mas meu foco estava no futebol.

Você é estudioso das coisas do futebol como era com as da medicina?

Sim, eu gosto. Primeiro, assisto futebol. Quando tenho que fazer meu trabalho, gosto de estudar o que tenho que fazer. Uma coisas é assistir a um jogo pela televisão, outra é estudar meu adversário, os padrões de cada time, o que temos que corrigir na nossa equipe.

Quando aceitou o convite do Defensa para iniciar a carreira de técnico imaginou que poderia ser tão bem-sucedido?

Não sei se sou tão bem-sucedido. Vou passo a passo. Sempre tive muita confiança no meu trabalho. Foi assim no Defensa, no Talleres. São etapas. Eu sabia que era um processo, que o futebol demanda resultados, mas foi também um aprendizado, e continua sendo. Não sei tudo.

Em que aspectos o Vovjoda mudou em dois anos, desde que aceitou comandar o Fortaleza?

Em todos os aspectos. Desde a parte metodológica, de treinamento, de resolver situações que não estão nos livros. Muitas vezes, o jogador dá essa flexibilidade para resolver determinadas situações. Também mudei na parte tática e de relacionamento, com as pessoas, imprensa, diretoria, torcedores. Cada dia é um dia para se aprender e ainda continuo nesse caminho.

A sua adaptação ao Brasil e ao Fortaleza foi rápida. O que te ajudou nesse processo?

O que me ajudou muito foi a gente do Pici, as pessoas, os companheiros de trabalho, meus auxiliares. Em resumo, foi a gente que está no meu dia a dia. Eles me ajudaram para que minha adaptação fosse rápida. O roupeiro, o pessoal da cozinha, os jogadores. Sou agradecido a todos por essa ajuda. Sinto esse carinho das pessoas, principalmente nas ruas. Sei que esse carinho tem que ser correspondido não só com resultados, mas com atitudes minhas e de todo time. Eu e minha comissão técnica às vezes transmitimos o que o torcedor necessita.

Como é a sua vida em Fortaleza para além do futebol? Na sua folga, o que faz?

Agora moro perto da praia, mas há pouco tempo de descanso. Estou sozinho em Fortaleza, minha família vem a cada dois meses ou quando estão de férias. Minha vida fora do futebol é muito curta. Costumo caminhar na praia quando tenho o dia livre. Uso a caminhada para meu bem-estar porque preciso estar bem para transmitir o que quero. É um aprendizado isso também porque antes estava muito focado no trabalho e há momentos em que é necessário descansar, distrair a cabeça. Às vezes nesse momento em que caminho em que nada ocorre tenho alguma ideia. Muitas vezes aparecem pensamentos da parte tática e do que podemos fazer. Minha vida é futebol porque eu gosto. Eu desfruto, não penso no meu trabalho sofrendo. Gosto muito nos momentos ruins e bons.

Você se sente que existe uma harmonia rara entre você, os jogadores e a torcida?

Sim, sinto e sentia no passado. Tivemos títulos importantes, a primeira vez na Libertadores, mas senti também no momento ruim no Brasileiro ano passado. A torcida abraçou o time e ajudou a mim e aos jogadores. Todos sentimos essa energia.

Foi por isso que você recusou propostas e ficou no Fortaleza?

Foi importante. Também foi importante o processo. Vejo um clube que tem uma mentalidade de crescimento e em que posso desenvolver um trabalho. Quando eu for embora vai permanecer uma base de trabalho. Vejo um clube que mescla bem jovens e experientes, vejo pessoas que sofreram muito no passado com o clube, na Série B, Série C, e vejo gente nova aqui. Isso que fez cada área do clube crescer. Agora, é continuar crescendo, há que encontrar um jeito disso.

Juan Pablo Vojvoda faz sucesso no Fortaleza, que comanda desde maio de 2021 Foto: Alex Silva/Estadão

O adeus ao Fortaleza ainda está longe?

Acho que sim, é o meu desejo. Mas sei que o futebol é partida a partida. Cada vez que perdemos uma partida sempre aparecem as dúvidas. Eu digo aos atletas: ‘cuidado, sustente o momento, cuide do momento em que estamos’. Somos um clube que não está consolidado ainda. Temos que lutar muito para sustentar o que estamos conseguindo.

Em comparação com outros clubes da Série A, em que prateleira o Fortaleza está hoje levando em conta os resultados, estrutura e organização?

Está em um bom nível, mas há que reconhecer a realidade. Há outros clubes melhores que o Fortaleza. Estamos melhorando a estrutura, o CT, mas temos que continuar melhorando. O (presidente) Marcelo Paz sempre diz que o dia em que não crescemos, nós morremos.

O desafio dos times bem-sucedidos é se manter entre os melhores. Como lida com a essa expectativa alta?

É nossa obrigação. Não podemos ficar acomodados. Não é a essência do clube. O clube foi crescendo e o torcedor exige que continua crescendo. É desse jeito que temos que pensar, mas sabendo de onde viemos. O mesmo torcedor pensa que temos que ganhar a Copa Libertadores, mas é um processo. Quando está nesse processo, um dia você vai conseguir. Cito o Athletico-PR como um dos clubes que passaram por esse processo.

Os times do Brasil têm dominado a América do Sul nos últimos anos, com certa distância dos rivais. Como vê o futebol brasileiro e o argentino hoje?

São as duas principais ligas da América do Sul. Mas no Brasil o poder econômico faz a diferença. O Brasileirão é muito forte e aqui são vários times que podem fazer grandes contratações. Na Argentina, não são todos que podem fazer isso.

Técnico argentino não se vê fora do Fortaleza tão cedo Foto: Alex Silva/Estadão

Como foi ver a sua Argentina ser campeã mundial?

Uma alegria imensa. Meus três filhos, principalmente, desfrutaram. São fãs de Messi, queriam ir ao Catar, mas era o momento das minhas férias. Vi grande parte do Mundial na Argentina. Na semifinal, já havia voltado ao Brasil.

Por que temos tantos estrangeiros treinando times brasileiros? Por que os estrangeiros são competentes ou por que a safra de técnicos brasileiros não é boa?

Os brasileiros são competentes. Sempre que enfrento um time com técnico brasileiro vejo que são organizado, com ideia de jogo estabelecida. Posso citar Diniz, Dorival, Cuca, agora voltou ao Corinthians o Luxemburgo, tem o Renato Gaúcho no Grêmio. São treinadores reconhecidos, cada um com sua ideia.

O que atrai o técnico estrangeiro que vem ao Brasil?

No meu caso, não foi o dinheiro. É importante para todos, claro, tenho que ser sincero, mas o que me atraiu foram os jogadores de alto nível, alguns que jogaram na Europa, os estádios lotados e de Copa do Mundo. É um bom produto.

Qual sua opinião sobre um técnico estrangeiro assumir a seleção brasileira?

Acho difícil que aconteça porque nunca aconteceu nem no Brasil nem na Argentina. Mas não vejo como algo impossível. Tudo se muda. Mas acho que existem treinadores brasileiros capazes de dirigir a seleção brasileira.

Onde estará o Vojvoda no futuro?

Gosto da liga brasileira, da espanhola, do futebol italiano. Acho que o Brasil tem matéria prima de sobra. Na Inglaterra, são muitos jogadores brasileiros. Eu ainda me vejo com a possibilidade de continuar aqui porque estou desfrutando. Não fecho portas a uma possibilidade na Europa, mas tenho o pé no chão. O que tenho que fazer é ganhar o próximo jogo.

A seleção argentina é um de seus objetivos no futuro?

Neste momento, não penso nessa possibilidade, de verdade. Necessito, hoje, estar no dia a dia. Talvez, em três anos, pode ser. Seleção é outro tipo de trabalho, de convencimento aos atletas. É o mesmo futebol, mas uma metodologia totalmente diferente. É um desafio apaixonante também.

O Abel Ferreira falou uma vez que os jogadores brasileiros são os melhores tecnicamente, mas que muitos têm lacunas na sua formação, que precisam evoluir a nível educacional. O que pensa sobre isso?

Pode ser. O Abel pode ter mais experiência pra falar sobre isso. Há uma história de futebol de base nos times de São Paulo. Considero que o aprendizado do jogador não é somente na base. No time principal, também é possível. O treinador do profissional também é responsável por essa formação. É como um pai com o filho. Com 20 anos, o jogador não sabe tudo. Todo dia ele pode aprender. Eu fui treinador na base e fui jogador. Na Argentina também se comenta dessa lacuna, mas não generalizo. Há uma lacuna em determinados momentos em determinados clubes. Quando posso, aconselho sobre a vida. O futebol é a vida do jogador.

Vojvoda largou a medicina a um mês de receber o diploma por amor ao futebol Foto: Alex Silva/Estadão

Você prefere trabalhar com jovens ou medalhões?

Primeiro, quero que sejam boas pessoas. Há jovens e experientes que gosto de treinar. A idade não importa. Há os de 20 anos que cumprem com seu trabalho e há os que dá gosto de treinar. Isso não tem a ver com idade. O experiente, muitas vezes, me dá toques importantes. ‘Professor, pressione de tal maneira’. E eu ouço. Durante o jogo quem soluciona coisas em milésimos de segundos são os jogadores. Há quem diga que o jogador de futebol é burro, que só sabem jogar bola. É algo muito importante. Eles suportam a pressão e são inteligentes para decidir em um segundo em campo. Não é fácil chutar uma bola com 50 mil pessoas.

O Renato Gaúcho afirmou que o Guardiola teria dificuldade de treinar um time brasileiro por causa da pressão. Você concorda?

A realidade mostra isso. Existe uma pressão alta por resultados. Eu passei por isso no Fortaleza. Da minha parte, não pensei em sair. Analisava partida a partida, como os jogadores respondiam, viam que eles acreditavam em mim. Nos momentos complicados de verdade, a torcida nos abraçou, a diretoria deu suporte e os jogadores realmente me ajudaram. Posso dizer isso bem alto.

Há técnicos com carreiras longevas e outros, como o Abel, que pensam em se aposentar logo por causa da rotina desgastante. Qual é o seu perfil?

Pela minha personalidade, eu preciso estar no futebol. Posso estar em casa, dois, três meses, mas vai me faltar algo. Minha casa também considera isso. O futebol faz parte do meu estilo de vida, com a minha família.

Como você vê esse esquema de apostas que assola o futebol brasileiro?

Na Argentina não havia vivido isso. Sou do pensamento de que temos que deixar a Justiça trabalhar. Se houver culpados, que eles sejam punidos, que tenham uma lição. Por mais que se movimente muito dinheiro, o futebol é um esporte. Vamos a campo para trabalhar com ética. A ética está acima do dinheiro e de tudo.

Juan Pablo Vojvoda, 48 anos, surge atrasado no saguão do hotel onde se hospedou na zona sul de São Paulo. Técnico mais cobiçado do futebol brasileiro, o argentino explica que o atraso foi provocado pelo trânsito caótico da capital paulista, se acomoda no sofá e logo começa a falar com naturalidade sobre diferentes assuntos. Recorda-se dos estudos para se tornar médico, se alegra ao comentar da seleção argentina e detalha o que lhe fez recursar propostas vantajosas financeiramente do Atlético Mineiro e de outros clubes para continuar o trabalho no Fortaleza, que se tornou, sob seu comando, um dos times mais consistentes do País. “Estou em um clube que tem uma mentalidade de crescimento e em que posso desenvolver um trabalho”, justifica.

Dá para contar nas mãos o número de entrevistas exclusivas que Vovjoda concedeu desde que chegou ao Brasil, em maio de 2021. Reservado, o técnico argentino tem boa relação com a imprensa, mas prefere falar pouco. Quando topa falar e está à vontade, a conversa flui. Não se furta de responder qualquer pergunta, como fez em conversa com o Estadão.

Segundo técnico que mais vezes comandou o Fortaleza, dono de quatro taças pelo clube cearense e capaz de feitos importantes, como levar a equipe à disputa de sua primeira Libertadores na história, ele explicou o que lhe trouxe ao Brasil e afirmou que não pensa em deixar tão cedo o clube no qual virou ídolo. O afeto dos torcedores é demonstrado com pedidos de fotos nas ruas e por meio de mosaicos em sua homenagem no estádio. “Sinto esse carinho das pessoas, principalmente nas ruas. Sei que esse carinho tem de ser correspondido não só com resultados, mas com atitudes minhas e de todo o time”, diz.

O seu presente e futuro, diz o treinador, estão no Fortaleza, com o qual tem contrato até o fim de 2024. “Ainda me vejo com a possibilidade de continuar aqui porque estou desfrutando. Não fecho portas a uma possibilidade na Europa, mas tenho o pé no chão”, afirma. A ideia do argentino é “desfrutar” - verbo que mais usa quando o futebol é o assunto. “Pela minha personalidade, eu preciso estar no futebol. Posso estar em casa, dois, três meses, mas vai me faltar algo”.

Você tem uma história curiosa. Era médico quando aceitou o convite para treinar o Defensa y Justicia, certo ? Por que largou a medicina e optou pelo futebol?

Eu tinha 18 anos, estava jogando futebol, mas ainda não era profissional. Minha mãe é farmacêutica, eu não sabia se ia jogar profissionalmente, então comecei a carreira de medicina ao mesmo tempo. Aos 20 anos, cheguei ao profissional. Então, se tornou difícil continuar com a medicina, mas dava. Depois, fui à Espanha jogar, então tive de paralisar os estudos da medicina no quarto ano. Acho que foram 12 anos sem tocar num livro de medicina. Quando me aposentei como jogador, comecei a trabalhar na base, já como técnico, e sempre pensei em fechar o ciclo da medicina. Comecei novamente, consegui terminar todas as matérias e fiz os noves meses de prática hospitalar. Enquanto isso, eu era treinador do sub-20 do Newells’s Old Boys. A um mês de finalizar tudo e receber o título de médico, veio a proposta para dirigir o Defensa y Justicia. Da medicina, só gostava de ler, da informação, mas não sentia paixão. Eu ia ao hospital sem paixão. Foi difícil decidir porque foram muitos anos estudando, mas eu tinha claro que a medicina não era pra mim. Falei com a minha mulher, já tínhamos filhos, e escolhi o futebol. Eu ficava duas horas à frente de um livro, compreendia tudo, era bom, mas meu foco estava no futebol.

Você é estudioso das coisas do futebol como era com as da medicina?

Sim, eu gosto. Primeiro, assisto futebol. Quando tenho que fazer meu trabalho, gosto de estudar o que tenho que fazer. Uma coisas é assistir a um jogo pela televisão, outra é estudar meu adversário, os padrões de cada time, o que temos que corrigir na nossa equipe.

Quando aceitou o convite do Defensa para iniciar a carreira de técnico imaginou que poderia ser tão bem-sucedido?

Não sei se sou tão bem-sucedido. Vou passo a passo. Sempre tive muita confiança no meu trabalho. Foi assim no Defensa, no Talleres. São etapas. Eu sabia que era um processo, que o futebol demanda resultados, mas foi também um aprendizado, e continua sendo. Não sei tudo.

Em que aspectos o Vovjoda mudou em dois anos, desde que aceitou comandar o Fortaleza?

Em todos os aspectos. Desde a parte metodológica, de treinamento, de resolver situações que não estão nos livros. Muitas vezes, o jogador dá essa flexibilidade para resolver determinadas situações. Também mudei na parte tática e de relacionamento, com as pessoas, imprensa, diretoria, torcedores. Cada dia é um dia para se aprender e ainda continuo nesse caminho.

A sua adaptação ao Brasil e ao Fortaleza foi rápida. O que te ajudou nesse processo?

O que me ajudou muito foi a gente do Pici, as pessoas, os companheiros de trabalho, meus auxiliares. Em resumo, foi a gente que está no meu dia a dia. Eles me ajudaram para que minha adaptação fosse rápida. O roupeiro, o pessoal da cozinha, os jogadores. Sou agradecido a todos por essa ajuda. Sinto esse carinho das pessoas, principalmente nas ruas. Sei que esse carinho tem que ser correspondido não só com resultados, mas com atitudes minhas e de todo time. Eu e minha comissão técnica às vezes transmitimos o que o torcedor necessita.

Como é a sua vida em Fortaleza para além do futebol? Na sua folga, o que faz?

Agora moro perto da praia, mas há pouco tempo de descanso. Estou sozinho em Fortaleza, minha família vem a cada dois meses ou quando estão de férias. Minha vida fora do futebol é muito curta. Costumo caminhar na praia quando tenho o dia livre. Uso a caminhada para meu bem-estar porque preciso estar bem para transmitir o que quero. É um aprendizado isso também porque antes estava muito focado no trabalho e há momentos em que é necessário descansar, distrair a cabeça. Às vezes nesse momento em que caminho em que nada ocorre tenho alguma ideia. Muitas vezes aparecem pensamentos da parte tática e do que podemos fazer. Minha vida é futebol porque eu gosto. Eu desfruto, não penso no meu trabalho sofrendo. Gosto muito nos momentos ruins e bons.

Você se sente que existe uma harmonia rara entre você, os jogadores e a torcida?

Sim, sinto e sentia no passado. Tivemos títulos importantes, a primeira vez na Libertadores, mas senti também no momento ruim no Brasileiro ano passado. A torcida abraçou o time e ajudou a mim e aos jogadores. Todos sentimos essa energia.

Foi por isso que você recusou propostas e ficou no Fortaleza?

Foi importante. Também foi importante o processo. Vejo um clube que tem uma mentalidade de crescimento e em que posso desenvolver um trabalho. Quando eu for embora vai permanecer uma base de trabalho. Vejo um clube que mescla bem jovens e experientes, vejo pessoas que sofreram muito no passado com o clube, na Série B, Série C, e vejo gente nova aqui. Isso que fez cada área do clube crescer. Agora, é continuar crescendo, há que encontrar um jeito disso.

Juan Pablo Vojvoda faz sucesso no Fortaleza, que comanda desde maio de 2021 Foto: Alex Silva/Estadão

O adeus ao Fortaleza ainda está longe?

Acho que sim, é o meu desejo. Mas sei que o futebol é partida a partida. Cada vez que perdemos uma partida sempre aparecem as dúvidas. Eu digo aos atletas: ‘cuidado, sustente o momento, cuide do momento em que estamos’. Somos um clube que não está consolidado ainda. Temos que lutar muito para sustentar o que estamos conseguindo.

Em comparação com outros clubes da Série A, em que prateleira o Fortaleza está hoje levando em conta os resultados, estrutura e organização?

Está em um bom nível, mas há que reconhecer a realidade. Há outros clubes melhores que o Fortaleza. Estamos melhorando a estrutura, o CT, mas temos que continuar melhorando. O (presidente) Marcelo Paz sempre diz que o dia em que não crescemos, nós morremos.

O desafio dos times bem-sucedidos é se manter entre os melhores. Como lida com a essa expectativa alta?

É nossa obrigação. Não podemos ficar acomodados. Não é a essência do clube. O clube foi crescendo e o torcedor exige que continua crescendo. É desse jeito que temos que pensar, mas sabendo de onde viemos. O mesmo torcedor pensa que temos que ganhar a Copa Libertadores, mas é um processo. Quando está nesse processo, um dia você vai conseguir. Cito o Athletico-PR como um dos clubes que passaram por esse processo.

Os times do Brasil têm dominado a América do Sul nos últimos anos, com certa distância dos rivais. Como vê o futebol brasileiro e o argentino hoje?

São as duas principais ligas da América do Sul. Mas no Brasil o poder econômico faz a diferença. O Brasileirão é muito forte e aqui são vários times que podem fazer grandes contratações. Na Argentina, não são todos que podem fazer isso.

Técnico argentino não se vê fora do Fortaleza tão cedo Foto: Alex Silva/Estadão

Como foi ver a sua Argentina ser campeã mundial?

Uma alegria imensa. Meus três filhos, principalmente, desfrutaram. São fãs de Messi, queriam ir ao Catar, mas era o momento das minhas férias. Vi grande parte do Mundial na Argentina. Na semifinal, já havia voltado ao Brasil.

Por que temos tantos estrangeiros treinando times brasileiros? Por que os estrangeiros são competentes ou por que a safra de técnicos brasileiros não é boa?

Os brasileiros são competentes. Sempre que enfrento um time com técnico brasileiro vejo que são organizado, com ideia de jogo estabelecida. Posso citar Diniz, Dorival, Cuca, agora voltou ao Corinthians o Luxemburgo, tem o Renato Gaúcho no Grêmio. São treinadores reconhecidos, cada um com sua ideia.

O que atrai o técnico estrangeiro que vem ao Brasil?

No meu caso, não foi o dinheiro. É importante para todos, claro, tenho que ser sincero, mas o que me atraiu foram os jogadores de alto nível, alguns que jogaram na Europa, os estádios lotados e de Copa do Mundo. É um bom produto.

Qual sua opinião sobre um técnico estrangeiro assumir a seleção brasileira?

Acho difícil que aconteça porque nunca aconteceu nem no Brasil nem na Argentina. Mas não vejo como algo impossível. Tudo se muda. Mas acho que existem treinadores brasileiros capazes de dirigir a seleção brasileira.

Onde estará o Vojvoda no futuro?

Gosto da liga brasileira, da espanhola, do futebol italiano. Acho que o Brasil tem matéria prima de sobra. Na Inglaterra, são muitos jogadores brasileiros. Eu ainda me vejo com a possibilidade de continuar aqui porque estou desfrutando. Não fecho portas a uma possibilidade na Europa, mas tenho o pé no chão. O que tenho que fazer é ganhar o próximo jogo.

A seleção argentina é um de seus objetivos no futuro?

Neste momento, não penso nessa possibilidade, de verdade. Necessito, hoje, estar no dia a dia. Talvez, em três anos, pode ser. Seleção é outro tipo de trabalho, de convencimento aos atletas. É o mesmo futebol, mas uma metodologia totalmente diferente. É um desafio apaixonante também.

O Abel Ferreira falou uma vez que os jogadores brasileiros são os melhores tecnicamente, mas que muitos têm lacunas na sua formação, que precisam evoluir a nível educacional. O que pensa sobre isso?

Pode ser. O Abel pode ter mais experiência pra falar sobre isso. Há uma história de futebol de base nos times de São Paulo. Considero que o aprendizado do jogador não é somente na base. No time principal, também é possível. O treinador do profissional também é responsável por essa formação. É como um pai com o filho. Com 20 anos, o jogador não sabe tudo. Todo dia ele pode aprender. Eu fui treinador na base e fui jogador. Na Argentina também se comenta dessa lacuna, mas não generalizo. Há uma lacuna em determinados momentos em determinados clubes. Quando posso, aconselho sobre a vida. O futebol é a vida do jogador.

Vojvoda largou a medicina a um mês de receber o diploma por amor ao futebol Foto: Alex Silva/Estadão

Você prefere trabalhar com jovens ou medalhões?

Primeiro, quero que sejam boas pessoas. Há jovens e experientes que gosto de treinar. A idade não importa. Há os de 20 anos que cumprem com seu trabalho e há os que dá gosto de treinar. Isso não tem a ver com idade. O experiente, muitas vezes, me dá toques importantes. ‘Professor, pressione de tal maneira’. E eu ouço. Durante o jogo quem soluciona coisas em milésimos de segundos são os jogadores. Há quem diga que o jogador de futebol é burro, que só sabem jogar bola. É algo muito importante. Eles suportam a pressão e são inteligentes para decidir em um segundo em campo. Não é fácil chutar uma bola com 50 mil pessoas.

O Renato Gaúcho afirmou que o Guardiola teria dificuldade de treinar um time brasileiro por causa da pressão. Você concorda?

A realidade mostra isso. Existe uma pressão alta por resultados. Eu passei por isso no Fortaleza. Da minha parte, não pensei em sair. Analisava partida a partida, como os jogadores respondiam, viam que eles acreditavam em mim. Nos momentos complicados de verdade, a torcida nos abraçou, a diretoria deu suporte e os jogadores realmente me ajudaram. Posso dizer isso bem alto.

Há técnicos com carreiras longevas e outros, como o Abel, que pensam em se aposentar logo por causa da rotina desgastante. Qual é o seu perfil?

Pela minha personalidade, eu preciso estar no futebol. Posso estar em casa, dois, três meses, mas vai me faltar algo. Minha casa também considera isso. O futebol faz parte do meu estilo de vida, com a minha família.

Como você vê esse esquema de apostas que assola o futebol brasileiro?

Na Argentina não havia vivido isso. Sou do pensamento de que temos que deixar a Justiça trabalhar. Se houver culpados, que eles sejam punidos, que tenham uma lição. Por mais que se movimente muito dinheiro, o futebol é um esporte. Vamos a campo para trabalhar com ética. A ética está acima do dinheiro e de tudo.

Entrevista por Ricardo Magatti

Repórter da editoria de Esportes desde 2018. Formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), com pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Multimídias pela Universidade Anhembi Morumbi. Cobriu a Copa do Mundo do Catar, em 2022.

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