Primeiro, Cristiano Ronaldo. Depois, Neymar. Agora, o alvo é Vinicius Júnior. Turbinada com os bilhões do petróleo, a Arábia Saudita quer provar que é capaz de trazer um craque no auge de sua carreira, vai investir no futebol de base e criar nova divisão para fortalecer seu futebol e mostrar que é possível ter a liga mais importante do planeta.
O governo do país – que controla as principais contratações da liga – sinalizou com uma proposta para que o brasileiro do Real Madrid reforce o Al-Ahli e se torne embaixador da Copa do Mundo de 2034, que deverá ser disputada no país do Oriente Médio. O que foi apresentado a ele e seu estafe é um projeto – que envolve o Mundial e com valores salariais na casa de 1 bilhão de euros (cerca de R$ 6 bilhões) por cinco anos de contrato.
É justamente o governo do país que lidera as negociações para tentar a contratação do atacante do Real Madrid. Além do Al-Ahli, clube que Vini Jr. defenderá caso seja contratado, o Al-Nassr, Al Hilal e Al Ittihad são controlados e recebem investimentos do PIF. À exceção do Al-Ahli, os demais já contam com ao menos uma superestrela em seus elencos – Cristiano Ronaldo, Neymar e Karim Benzema, respectivamente.
Vini Jr. tem contrato com o clube merengue até 2027. Ele e seus empresários têm cautela para tomar as decisões, visto que, oficialmente, não existe uma proposta. A multa rescisória do camisa 7 do Real Madrid também é de 1 bilhão de euros (cerca de R$ 6 bilhões) e o clube só aceitaria abrir mão de sua principal estrela caso este valor seja oferecido pelo governo saudita.
Resta o acerto entre Real Madrid e o governo saudita – que lidera a negociação –, antes que o estafe do brasileiro receba em mãos a proposta oficial. Assim como o contrato oferecido, a multa rescisória do camisa 7 no clube merengue é de R$ 6 bilhões.
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Os valores são o principal fator para que o atleta brasileiro fique ‘balançado’ com a proposta, já que poderia continuar investindo em seus projetos sociais e ajudar sua família. Por outro lado, depois de uma temporada histórica no Real Madrid, com título espanhol e da Champions League, Vini Jr. entende que é a maior chance, até agora, de ser ganhar a Bola de Ouro. Historicamente, a premiação nunca condecorou quaisquer atletas que não atuassem na Europa – retroativamente, Garrincha e Pelé, na década de 1960 e 1970, receberam a premiação, já que naquela época a revista francesa se restringia a premiar apenas atletas do próprio continente.
Mesmo que Vini fique no Real Madrid e frustre os planos dos árabes, o movimento de tentar tirar do poderoso time espanhol um dos melhores jogadores do mundo na atualidade - é o favorito para a conquista da Bola de Ouro, premiação entregue pela France Football - em outubro deste ano é sinal de que os árabes não medirão esforços para que seja bem-sucedido o ambicioso projeto de futebol do país que deve ser cidade da Copa do Mundo de 2024.
“Antigamente, a liga saudita nem olhava pra Alemanha, Inglaterra, Itália. Só íamos atrás de atletas de de times de Argentina, Brasil, Holanda e alguns países do norte da África, Argélia, Marrocos e Tunísia. A gente nem convidada quem jogava nos grandes da Europa porque sabia que eles não vinham. Teve caso de jogador que brigava para não cair na Bélgica receber convite para ganhar bem mais na Arábia Saudita e nem quis ouvir a proposta”, diz ao Estadão Marcelo Salazar, analista de mercado do Al-Nassr.
Há mais de uma década no Oriente Médio, o pernambucano foi por dois anos executivo de futebol do Al-Nassr, cargo que deixou com a chegada do espanhol Fernando Hierro. Passou, então, a ser analista de mercado. Ele foi um dos responsáveis por tirar o português Luis Castro do Botafogo no ano passado e levá-lo ao clube de Cristiano Ronaldo.
Hoje, é um anfitrião na Arábia Saudita, onde vive com a mulher e os dois filhos. Lá, virou uma peça importante na tentativa do governo saudita de transformar profundamente a liga local.
“Esse projeto será duradouro porque existe cultura de futebol na Arábia Saudita, existe paixão. O futebol domina a discussão do dia a dia, quando tem jogo grande eu saio de casa e só ouço falar sobre futebol”, diz Salazar, hoje um dos responsáveis em seu clube pelo recrutamento dos atletas.
O governo notou que, para o ambicioso projeto se sustente, mais do que apenas trazer grandes estrelas do futebol mundial, é necessário melhorar a estrutura, investir na formação de jovens jogadores e criar mais uma divisão - já existem quatro, mas três dela são de nível técnico muito baixo. Daí a ideia de fomentar as categorias de base, criar academias de futebol dentro da Arábia Saudita e também em outros países e organizar até cinco divisões do futebol nacional.
“A estrutura do estádios será melhor para a experiência do torcedor. Não é tão boa hoje, precisa de melhoras. A Arábia está nesse caminho até a Copa e já identificou o que pode mudar. Eles estão fazendo sete linhas de metrô ao mesmo tempo”, constata o dirigente.
Riad, a capital da Arábia Saudita, terá sua infraestrutura ampliada, com a construção de ferrovias e a expansão de estradas e aeroportos e torna a cidade um lugar mais sustentável, com base em melhorias em serviços, mobilidade e a criação de espaços para atividades esportivas, de lazer e culturais.
Os quase R$ 2 bilhões a serem investidos no futebol saudita são apenas parte de um vultoso investimento que fazem parte do Saudi Vision 2030, ambicioso projeto do reino para diversificar a economia, não deixar o país à mercê da volatilidade do petróleo, atrair investidores e turistas e aumentar a participação do setor privado.