Quando se fala em futebol feminino no Brasil, os times de São Paulo ocupam um lugar central. As equipes paulistas colecionam o maior número de títulos nas principais competições do país e da América do Sul. Mas a história do futebol feminino não se resume aos quatro grandes clubes do Estado.
Após a regulamentação do esporte no Brasil, em 1983 - que havia sido proibido em 1941 anos por meio de um decreto-lei do então presidente Getúlio Vargas - o Saad Esporte Clube, originário de São Caetano do Sul, no ABC paulista, foi um dos clubes pioneiros a abrir as portas para as mulheres jogarem futebol.
Outro clube do interior paulista foi importante para o desenvolvimento do futebol feminino, o São José. Tricampeão da Libertadores Feminina, a criação do time feminino foi em 2001, e fez história em 2014 ao se tornar a única equipe feminina brasileira campeã do mundo, após derrotar o Arsenal (Inglaterra) por 2 a 0.
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A taça foi levantada por um elenco de nomes importantes do futebol feminino, como Formiga, Debinha e Andressa Alves. Apesar do torneio não ser reconhecido pela Federação Internacional de Futebol (FIFA), ele é considerado oficial pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).
Para professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME), Leda Costa, esses exemplos são fundamentais para o desenvolvimento da modalidade em São Paulo: “É importante destacar os clubes do interior de São Paulo que abraçaram o futebol de mulheres muito antes dos grandes, como Corinthians e Palmeiras, que ficaram omissos por muito tempo”.
Criação das competições de base
Além dos clubes do interior paulista, outro movimento pode ser considerado como um marco para o desenvolvimento do futebol feminino no estado. Em 2016, o então vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Mauro Silva, teve um encontro com algumas jogadoras e ex-jogadoras, que relataram as dificuldades que enfrentavam para jogar futebol.
A partir dessa conversa foi criado um departamento de futebol feminino na FPF, para que a modalidade tivesse um foco maior de atenção. Atualmente na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a ex-jogadora Aline Pellegrino foi escolhida como coordenadora: “Ela foi muito importante pela garra, pela determinação, pela convicção que ela tinha, sabendo o que precisaria ser feito também, porque ela tinha estado dentro do campo, ela viveu todas essas dificuldades”, relembra Silva.
A presença de mulheres engajadas nesses espaços é um avanço importante para o desenvolvimento da modalidade: “É importante ter mulheres no comando da federação que comungam do objetivo que é fazer o futebol de mulheres conquistar cada vez mais espaço midiático, investimento e que consiga se manter e minimizar o fantasma que sempre perseguiu o esporte que é ‘até quando vai durar?’”, completa Leda.
Um passo importante para a consolidação do futebol feminino foi a criação das competições de base. Identificando uma lacuna na formação de jogadoras, a FPF incentivou a criação de torneios sub-20, sub-15, sub-17, sub-14 e sub-12. Além disso, atualmente o Campeonato Brasileiro tem 3 divisões, aumentando o calendário do futebol feminino no país.
Campeões das principais competições
Totalizando 28 títulos de 37 possíveis, as equipes paulistas são as maiores vencedoras dos torneios nacionais e internacionais. Na Libertadores, de 15 edições, o Brasil foi campeão em 12 - todos os títulos levantados por times de São Paulo. No Campeonato Brasileiro, são 10 conquistas para os paulistas em 11 edições do torneio. E completando o trio de principais competições do futebol brasileiro, na Copa do Brasil são 6 taças para o estado de São Paulo em 10 possíveis. Confira a lista de títulos:
Libertadores:
- 2023 - Corinthians (SP)
- 2022 - Palmeiras (SP)
- 2021 - Corinthians (SP)
- 2020 - Ferroviária (SP)
- 2019 - Corinthians (SP)
- 2018 - Atlético Huila (Colômbia)
- 2017 - Corinthians/Audax (SP)*
- 2016 - Sportivo Limpeño (Paraguai)
- 2015 - Ferroviária (SP)
- 2014 - São José-SP (SP)
- 2013 - São José-SP (SP)
- 2012 - Colo-Colo (Chile)
- 2011 - São José-SP (SP)
- 2010 - Santos (SP)
- 2009 - Santos (SP)
*No ano de 2017 Corinthians e Audax disputaram o torneio em parceria
Campeonato Brasileiro:
- 2023 - Corinthians (SP)
- 2022 - Corinthians (SP)
- 2021 - Corinthians (SP)
- 2020 - Corinthians (SP)
- 2019 - Ferroviária (SP)
- 2018 - Corinthians (SP)
- 2017 - Santos (SP)
- 2016 - Flamengo (RJ)
- 2015 - Rio Preto (SP)
- 2014 - Ferroviária (SP)
- 2013 - Centro Olímpico (SP)
Copa do Brasil:
- 2016 - Corinthians/Audax (SP)*
- 2015 - Kindermann (SC)
- 2014 - Ferroviária (SP)
- 2013 - São José-SP (SP)
- 2012 - São José-SP (SP)
- 2011 - Foz Cataratas (PR)
- 2010 - Duque de Caxias (RJ)
- 2009 - Santos (SP)
- 2008 - Santos (SP)
- 2007 - Saad (MS)**
*No ano de 2016 Corinthians e Audax disputaram o torneio em parceria
**Em 1989 o Saad se transferiu de São Paulo para Mato Grosso do Sul
Berço de grandes nomes
A infraestrutura da cidade também foi importante para que a modalidade se desenvolvesse. Criado pela Secretaria Municipal de Esporte (SEME), o Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP) é conhecido por formar atletas para o esporte de alto rendimento.
Com o futebol feminino não é diferente. Desde os anos 2000, são mais de 70 atletas convocadas para a seleção brasileira com passagem pelo COTP. Nomes como Letícia, Lauren, Tamires, Luana, Ary Borges, Debinha e Gabi Nunes, que disputaram a Copa do Mundo de 2023, começaram no Centro Olímpico.
Números vêm crescendo
Uma pesquisa feita pela Sponsorlink, em 2023, indicou que o interesse pelo futebol feminino aumentou em 34%, entre homens e mulheres, desde 2018, no Brasil. Isso se reflete na audiência de grandes competições, como a Copa do Mundo Feminina, disputada no ano passado, na Austrália.
A CazéTV bateu o recorde de maior transmissão de futebol feminino da história do YouTube no mundo, ao transmitir a estreia da seleção brasileira no torneio, com mais de 1 milhão de aparelhos conectados de forma simultânea.
A TV Globo, outra detentora dos direitos de transmissão do torneio, também registrou números históricos. A goleada de 4 a 0 do Brasil sobre o Panamá alcançou 16 pontos no PNT (Painel Nacional de Televisão), o dobro da audiência normalmente obtida no horário (8h às 10h).
E os recordes não se restringem à televisão. Por dois anos seguidos, times paulistas quebraram recordes de público em seus estádios na modalidade. Em 2022 o Palmeiras levou 20.071 torcedores ao Allianz Parque para acompanhar o título do Paulistão Feminino, conquistado após a vitória de 1 a 0 sobre o Santos. Além disso, em 2023, 42.556 pessoas foram à Neo Química Arena acompanhar a final do Campeonato Brasileiro Feminino, disputada entre Corinthians e Ferroviária, e viram as Brabas levantarem a taça em casa depois da vitória por 2 a 1.
Primeira Copinha Feminina
Torneio que acontece há 55 anos na modalidade masculina, a Copa São Paulo de Futebol Júnior Feminina só foi ter sua primeira edição em 2023. O torneio foi disputado em dezembro e contou com 16 times.
As equipes foram divididas em 4 grupos, e jogaram entre si. Os 4 líderes avançavam para as semifinais, disputadas em jogo único. A final foi decidida entre times cariocas, e o Flamengo foi o primeiro campeão da competição, ao vencer o Botafogo por 2 a 0.
Para a zagueira Sofia, da equipe rubro-negra, a criação da Copinha Feminina foi fundamental e a tendência é que ano após ano ela ganhe mais visibilidade: “A cada ano que passa lutamos por mais campeonatos. Somos as atuais campeãs e lembro como se fosse hoje de cada detalhe. Até homenagem pelo título recebemos, então fica nítido o peso da competição”, afirma Sofia.
Expectativa para a Copa do Mundo Feminina de 2027
A FIFA escolheu o Brasil para sediar a Copa do Mundo Feminina de 2027. Derrotando a candidatura europeia feita pela Alemanha, Bélgica e Holanda, o País foi escolhido para ser palco da 10ª edição torneio pela estrutura, já pronta por conta da Copa Masculina de 2014, o Maracanã como estádio da abertura e final, a diversidade e a paixão das mulheres pelo futebol.
O movimento vanguardista de São Paulo no desenvolvimento do futebol feminino, para Silva, foi importante para essa conquista: “Os números dos clubes paulistas colocam o futebol feminino do Brasil em uma posição de destaque. A gente puxou isso e acabou arrastando outros estados, então essa é uma vitória brasileira que nos deixa muito orgulhosos”, celebra Silva.