O que está por trás de investimento do Grupo City no Bahia? Saiba relação com ingleses e fundo árabe


Movimento arrojado do tricolor baiano no mercado da bola, com quase R$ 50 milhões gastos em contratações, chama atenção de adversários e tem apoio de investidora dona de refinaria no Brasil

Por Rodrigo Sampaio e Murillo César Alves

Ao que tudo indica, o Bahia mudou de patamar. O tricolor baiano fez contratações importantes na atual janela de transferências, como o meio-campista Everton Ribeiro, ex-Flamengo, e a gastou quantia recorde de R$ 50 milhões para bater de frente com equipes de maior poder aquisitivo, como Palmeiras e Corinthians. O movimento arrojado no mercado da bola está ligado diretamente à parceria com o Grupo City, conglomerado de multiclubes que tem o Manchester City, time apoiado com o dinheiro dos Emirados Árabes Unidos, como principal expoente.

Em dezembro de 2022, após conseguir o acesso no Brasileirão, o Bahia acompanhou Botafogo, Vasco e Cruzeiro, e instituiu uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Os sócios aprovaram a venda de 90% do negócio para o Grupo City, com uma promessa de investimento de R$ 80 milhões no futebol do clube. Depois de uma temporada sem grandes reforços e lutando contra o rebaixamento no Brasileirão, o Bahia iniciou 2024 montando uma equipe visando brigar na parte de cima da tabela do campeonato nacional.

Depois de rejeitar uma proposta de R$ 25 milhões do Palmeiras por Cauly, o Bahia pagou um valor semelhante ao Santos para contratar o volante Jean Lucas, um dos destaques na campanha do rebaixado time santista. Atrás de um nome de peso, a diretoria aproveitou o impasse entre Everton Ribeiro e Flamengo pela renovação, e fechou com o experiente meio-campista. Para seduzir o jogador, considerado a maior contratação da SAF tricolor, o clube ofereceu um ano a mais de contrato além da oportunidade de ser embaixador do Grupo City após a aposentadoria.

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Everton Ribeiro, ex-Flamengo, é uma das principais contratações do Bahia após venda da SAF para o Grupo City. Foto: Tiago Caldas/EC Bahia

Outra demonstração de força por parte do Bahia no mercado foi a vitória na queda-de-braço com Palmeiras e Corinthians pela contratação do meia Caio Alexandre, um dos destaques do Brasileirão de 2023 pelo Fortaleza. O time baiano garantiu 100% dos direitos do atleta por R$ 24,3 milhões, a maior compra da história do clube e do futebol nordestino.

Tanto o Grupo City quanto o Bahia são reservados quanto aos objetivos esportivos e comerciais da parceria, e pouco falam sobre o assunto. O conglomerado chegou a analisar uma parceria com o São Paulo, mas acabou acertando com o tricolor baiano por causa de três fatores: boa gestão, torcida engajada e dívida equacionada.

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O presidente do Manchester City, Khaldoon Al Mubarak, também é CEO da Mubadala Investment Company, fundo soberano dos Emirados Árabes cujos investimentos são avaliados em US$ 280 bilhões (R$ 1,41 trilhão), segundo a empresa. Em 2021, a investidora pagou aproximadamente US$ 1,8 bilhão (R$ 10 bi na cotação da época) à Petrobras para adquirir a Refinaria de Mataripe, segunda maior do País. Ela está localizada em São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador, na Bahia.

Para administrar a refinaria, a Mubadala criou a Acelen, empresa petroquímica que patrocina tanto o Bahia quanto o Vitória, maior rival do clube tricolor. Recentemente, a Mubadala formalizou nova proposta aos clubes membros da Libra pela exploração comercial da liga. Segundo o ge, a oferta atual consiste na criação de uma agência para comandar a venda dos direitos de transmissão do Brasileirão a partir de 2025. Os clubes da Libra teriam 50% desta empresa e o fundo ficaria com a outra metade. A investidora garante que a receita anual será de R$ 1,4 bilhão caso a Libra tenha nove clubes na primeira divisão. O valor pode variar de acordo com a quantidade de times na Série A.

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Khaldoon Al Mubarak é presidente do Manchester City e CEO da fundo de investimentos Mubadala.  Foto: STEFAN ROUSSEAU / AFP

O QUE É O GRUPO CITY?

A ideia de um conglomerado multiclubes teve um esboço na década de 1990. A empresa de investimento ENIC tinha ações (minoritárias ou majoritárias) em vários clubes europeus, como Tottenham, da Inglaterra, além de Slavia Praga, da República Checa, AEK Athens, da Grécia, dentre outros. Mas a companhia não controlava o futebol desses times, nem adotava uma estratégia focada dentro de campo. O objetivo era ter ações para posteriormente revendê-las obtendo lucro.

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Mas o início dessa nova tendência está também ligada ao livro “A Bola Não Entra por Acaso”, do CEO do Manchester City, Ferran Soriano, que se destacou como vice-presidente de operações no Barcelona e trocou o time espanhol pelo inglês há uma década. Para ele, várias outras indústrias já atuam dentro da lógica da multipropriedade de ativos e somente agora o futebol assumiu esse papel.

O espanhol Ferran Soriano é CEO do Grupo City.  Foto: Michel Euler / AP

Soriano foi o responsável por orquestrar a criação do City Football Group (Grupo City). Em 2005, ainda no Barcelona, ele liderou conversas para gerir um time na liga americana que pudesse abrigar talentos emergentes do mercado sul-americano e também explorar de forma consistente a marca Barça para o público dos Estados Unidos.

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O emergente mercado da Major League Soccer (MLS) precisava ser melhor explorado, indo muito além da realização esporádica de amistosos e escolinhas em solo americano. A ideia não saiu do papel por divergências internas, mas foi colocada em prática quando Soriano trocou o time espanhol pela equipe inglesa.

O RENASCIMENTO DO MANCHESTER CITY

Em 2008, o xeque Mansour bin Zayed Al Nahyane, membro da família real dos Emirados Árabes Unidos, escolheu o Manchester City para “injetar” sua fortuna, proveniente das receitas do país com reservas de petróleo e combustíveis fósseis. Então, por meio do Abu Dhabi United Group, é criado o Grupo City, que tinha como principal objetivo elevar o patamar do clube, que não conquistava um título de expressão desde a década de 1970 e vivia sob a sombra do rival Manchester United.

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Mansour é irmão de Maomé bin Zayed Al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes e monarca absolutista. O investimento dos árabes no futebol levanta suspeita de sportwashing, prática que utiliza o esporte para limpar a imagem de determinado país ou governo, uma vez que a nação do Golfo Pérsico mantém relações estreitas com nações democráticas do Ocidente, como o próprio Brasil, por causa de seus negócios — a Mubadala, por exemplo, possui investimentos em 50 países diferentes.

O Grupo City engloba uma série de equipes a uma rede global no futebol. Além da “matriz” em Manchester, outros 11 clubes estão sob o escopo dos Emirados, incluindo o Bolívar, da Bolívia, que atua como parceiro. Em pouco mais de 15 anos, o investimento no clube inglês – que já foi alvo de investigação da Uefa e será julgada em breve pela Premier League – rendeu diversas conquistas: 22 títulos, com sete troféus do Campeonato Inglês e uma Champions League, conquistada na última temporada.

Desde sua chegada, Mansour e seu grupo gastaram mais de 2,27 bilhões de euros (R$ 12 bilhões) com reforços. É o caso de nomes como o ídolo argentino Sergio Aguero, o meia belga Kevin de Bruyne e o artilheiro norueguês Erling Haaland, que elevaram o patamar do clube a um dos mais competitivos da Europa. A expectativa é de que algo semelhante ocorra com Bahia, que já contratou três reforços para 2024 e pode surpreender nas próximas temporadas. O City também recebeu investimentos diretos na melhora de seus centros esportivos e de treinamento.

Elano, ex-meia do Santos e da seleção brasileira, é um dos jogadores que acompanhou esse processo de transição do Manchester City. Comprado pelo clube em 2007, o jogador viveu o antes e o depois do investimento do mundo árabe. É tido como um ídolo na cidade, mesmo não tendo conquistado um título sequer em seu período na Inglaterra. No projeto de globalização, fortalecido pelo conglomerado de clubes, o ex-atleta é uma peça lembrada pelo City, como marca e time.

“O City melhorou a estrutura interna, foram criados setores de imprensa, nutricionista, melhoria de academia, melhoria de fisiologia e consequentemente a chegada de outros grandes atletas. Sou muito grato a tudo que o clube já me proporcionou”, afirmou Elano, ao Estadão, em evento do Manchester City em São Paulo na última semana. “O Bahia está tendo a oportunidade, com o Rogério, com todo o elenco, de conhecer o que é Manchester City de perto e isso está sendo positivo.”

O Bahia pode seguir esse caminho do City, mas no Brasil. Na pré-temporada em Manchester, contou com o apoio e suporte de toda a estrutura do Grupo City. “Foi muito legal. Como parte do City Football Group, o clube está focado em ajudar (o Bahia) como pode, com ideias e sugestões. Rogério (Ceni) vem fazendo um trabalho muito bom e foi ótimo recebê-lo aqui”, afirmou Pep Guardiola, em entrevista coletiva na última semana. “Talvez eles nos recompensem e nos convidem a ir ao Brasil no futuro.”

Ao que tudo indica, o Bahia mudou de patamar. O tricolor baiano fez contratações importantes na atual janela de transferências, como o meio-campista Everton Ribeiro, ex-Flamengo, e a gastou quantia recorde de R$ 50 milhões para bater de frente com equipes de maior poder aquisitivo, como Palmeiras e Corinthians. O movimento arrojado no mercado da bola está ligado diretamente à parceria com o Grupo City, conglomerado de multiclubes que tem o Manchester City, time apoiado com o dinheiro dos Emirados Árabes Unidos, como principal expoente.

Em dezembro de 2022, após conseguir o acesso no Brasileirão, o Bahia acompanhou Botafogo, Vasco e Cruzeiro, e instituiu uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Os sócios aprovaram a venda de 90% do negócio para o Grupo City, com uma promessa de investimento de R$ 80 milhões no futebol do clube. Depois de uma temporada sem grandes reforços e lutando contra o rebaixamento no Brasileirão, o Bahia iniciou 2024 montando uma equipe visando brigar na parte de cima da tabela do campeonato nacional.

Depois de rejeitar uma proposta de R$ 25 milhões do Palmeiras por Cauly, o Bahia pagou um valor semelhante ao Santos para contratar o volante Jean Lucas, um dos destaques na campanha do rebaixado time santista. Atrás de um nome de peso, a diretoria aproveitou o impasse entre Everton Ribeiro e Flamengo pela renovação, e fechou com o experiente meio-campista. Para seduzir o jogador, considerado a maior contratação da SAF tricolor, o clube ofereceu um ano a mais de contrato além da oportunidade de ser embaixador do Grupo City após a aposentadoria.

Everton Ribeiro, ex-Flamengo, é uma das principais contratações do Bahia após venda da SAF para o Grupo City. Foto: Tiago Caldas/EC Bahia

Outra demonstração de força por parte do Bahia no mercado foi a vitória na queda-de-braço com Palmeiras e Corinthians pela contratação do meia Caio Alexandre, um dos destaques do Brasileirão de 2023 pelo Fortaleza. O time baiano garantiu 100% dos direitos do atleta por R$ 24,3 milhões, a maior compra da história do clube e do futebol nordestino.

Tanto o Grupo City quanto o Bahia são reservados quanto aos objetivos esportivos e comerciais da parceria, e pouco falam sobre o assunto. O conglomerado chegou a analisar uma parceria com o São Paulo, mas acabou acertando com o tricolor baiano por causa de três fatores: boa gestão, torcida engajada e dívida equacionada.

O presidente do Manchester City, Khaldoon Al Mubarak, também é CEO da Mubadala Investment Company, fundo soberano dos Emirados Árabes cujos investimentos são avaliados em US$ 280 bilhões (R$ 1,41 trilhão), segundo a empresa. Em 2021, a investidora pagou aproximadamente US$ 1,8 bilhão (R$ 10 bi na cotação da época) à Petrobras para adquirir a Refinaria de Mataripe, segunda maior do País. Ela está localizada em São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador, na Bahia.

Para administrar a refinaria, a Mubadala criou a Acelen, empresa petroquímica que patrocina tanto o Bahia quanto o Vitória, maior rival do clube tricolor. Recentemente, a Mubadala formalizou nova proposta aos clubes membros da Libra pela exploração comercial da liga. Segundo o ge, a oferta atual consiste na criação de uma agência para comandar a venda dos direitos de transmissão do Brasileirão a partir de 2025. Os clubes da Libra teriam 50% desta empresa e o fundo ficaria com a outra metade. A investidora garante que a receita anual será de R$ 1,4 bilhão caso a Libra tenha nove clubes na primeira divisão. O valor pode variar de acordo com a quantidade de times na Série A.

Khaldoon Al Mubarak é presidente do Manchester City e CEO da fundo de investimentos Mubadala.  Foto: STEFAN ROUSSEAU / AFP

O QUE É O GRUPO CITY?

A ideia de um conglomerado multiclubes teve um esboço na década de 1990. A empresa de investimento ENIC tinha ações (minoritárias ou majoritárias) em vários clubes europeus, como Tottenham, da Inglaterra, além de Slavia Praga, da República Checa, AEK Athens, da Grécia, dentre outros. Mas a companhia não controlava o futebol desses times, nem adotava uma estratégia focada dentro de campo. O objetivo era ter ações para posteriormente revendê-las obtendo lucro.

Mas o início dessa nova tendência está também ligada ao livro “A Bola Não Entra por Acaso”, do CEO do Manchester City, Ferran Soriano, que se destacou como vice-presidente de operações no Barcelona e trocou o time espanhol pelo inglês há uma década. Para ele, várias outras indústrias já atuam dentro da lógica da multipropriedade de ativos e somente agora o futebol assumiu esse papel.

O espanhol Ferran Soriano é CEO do Grupo City.  Foto: Michel Euler / AP

Soriano foi o responsável por orquestrar a criação do City Football Group (Grupo City). Em 2005, ainda no Barcelona, ele liderou conversas para gerir um time na liga americana que pudesse abrigar talentos emergentes do mercado sul-americano e também explorar de forma consistente a marca Barça para o público dos Estados Unidos.

O emergente mercado da Major League Soccer (MLS) precisava ser melhor explorado, indo muito além da realização esporádica de amistosos e escolinhas em solo americano. A ideia não saiu do papel por divergências internas, mas foi colocada em prática quando Soriano trocou o time espanhol pela equipe inglesa.

O RENASCIMENTO DO MANCHESTER CITY

Em 2008, o xeque Mansour bin Zayed Al Nahyane, membro da família real dos Emirados Árabes Unidos, escolheu o Manchester City para “injetar” sua fortuna, proveniente das receitas do país com reservas de petróleo e combustíveis fósseis. Então, por meio do Abu Dhabi United Group, é criado o Grupo City, que tinha como principal objetivo elevar o patamar do clube, que não conquistava um título de expressão desde a década de 1970 e vivia sob a sombra do rival Manchester United.

Mansour é irmão de Maomé bin Zayed Al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes e monarca absolutista. O investimento dos árabes no futebol levanta suspeita de sportwashing, prática que utiliza o esporte para limpar a imagem de determinado país ou governo, uma vez que a nação do Golfo Pérsico mantém relações estreitas com nações democráticas do Ocidente, como o próprio Brasil, por causa de seus negócios — a Mubadala, por exemplo, possui investimentos em 50 países diferentes.

O Grupo City engloba uma série de equipes a uma rede global no futebol. Além da “matriz” em Manchester, outros 11 clubes estão sob o escopo dos Emirados, incluindo o Bolívar, da Bolívia, que atua como parceiro. Em pouco mais de 15 anos, o investimento no clube inglês – que já foi alvo de investigação da Uefa e será julgada em breve pela Premier League – rendeu diversas conquistas: 22 títulos, com sete troféus do Campeonato Inglês e uma Champions League, conquistada na última temporada.

Desde sua chegada, Mansour e seu grupo gastaram mais de 2,27 bilhões de euros (R$ 12 bilhões) com reforços. É o caso de nomes como o ídolo argentino Sergio Aguero, o meia belga Kevin de Bruyne e o artilheiro norueguês Erling Haaland, que elevaram o patamar do clube a um dos mais competitivos da Europa. A expectativa é de que algo semelhante ocorra com Bahia, que já contratou três reforços para 2024 e pode surpreender nas próximas temporadas. O City também recebeu investimentos diretos na melhora de seus centros esportivos e de treinamento.

Elano, ex-meia do Santos e da seleção brasileira, é um dos jogadores que acompanhou esse processo de transição do Manchester City. Comprado pelo clube em 2007, o jogador viveu o antes e o depois do investimento do mundo árabe. É tido como um ídolo na cidade, mesmo não tendo conquistado um título sequer em seu período na Inglaterra. No projeto de globalização, fortalecido pelo conglomerado de clubes, o ex-atleta é uma peça lembrada pelo City, como marca e time.

“O City melhorou a estrutura interna, foram criados setores de imprensa, nutricionista, melhoria de academia, melhoria de fisiologia e consequentemente a chegada de outros grandes atletas. Sou muito grato a tudo que o clube já me proporcionou”, afirmou Elano, ao Estadão, em evento do Manchester City em São Paulo na última semana. “O Bahia está tendo a oportunidade, com o Rogério, com todo o elenco, de conhecer o que é Manchester City de perto e isso está sendo positivo.”

O Bahia pode seguir esse caminho do City, mas no Brasil. Na pré-temporada em Manchester, contou com o apoio e suporte de toda a estrutura do Grupo City. “Foi muito legal. Como parte do City Football Group, o clube está focado em ajudar (o Bahia) como pode, com ideias e sugestões. Rogério (Ceni) vem fazendo um trabalho muito bom e foi ótimo recebê-lo aqui”, afirmou Pep Guardiola, em entrevista coletiva na última semana. “Talvez eles nos recompensem e nos convidem a ir ao Brasil no futuro.”

Ao que tudo indica, o Bahia mudou de patamar. O tricolor baiano fez contratações importantes na atual janela de transferências, como o meio-campista Everton Ribeiro, ex-Flamengo, e a gastou quantia recorde de R$ 50 milhões para bater de frente com equipes de maior poder aquisitivo, como Palmeiras e Corinthians. O movimento arrojado no mercado da bola está ligado diretamente à parceria com o Grupo City, conglomerado de multiclubes que tem o Manchester City, time apoiado com o dinheiro dos Emirados Árabes Unidos, como principal expoente.

Em dezembro de 2022, após conseguir o acesso no Brasileirão, o Bahia acompanhou Botafogo, Vasco e Cruzeiro, e instituiu uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Os sócios aprovaram a venda de 90% do negócio para o Grupo City, com uma promessa de investimento de R$ 80 milhões no futebol do clube. Depois de uma temporada sem grandes reforços e lutando contra o rebaixamento no Brasileirão, o Bahia iniciou 2024 montando uma equipe visando brigar na parte de cima da tabela do campeonato nacional.

Depois de rejeitar uma proposta de R$ 25 milhões do Palmeiras por Cauly, o Bahia pagou um valor semelhante ao Santos para contratar o volante Jean Lucas, um dos destaques na campanha do rebaixado time santista. Atrás de um nome de peso, a diretoria aproveitou o impasse entre Everton Ribeiro e Flamengo pela renovação, e fechou com o experiente meio-campista. Para seduzir o jogador, considerado a maior contratação da SAF tricolor, o clube ofereceu um ano a mais de contrato além da oportunidade de ser embaixador do Grupo City após a aposentadoria.

Everton Ribeiro, ex-Flamengo, é uma das principais contratações do Bahia após venda da SAF para o Grupo City. Foto: Tiago Caldas/EC Bahia

Outra demonstração de força por parte do Bahia no mercado foi a vitória na queda-de-braço com Palmeiras e Corinthians pela contratação do meia Caio Alexandre, um dos destaques do Brasileirão de 2023 pelo Fortaleza. O time baiano garantiu 100% dos direitos do atleta por R$ 24,3 milhões, a maior compra da história do clube e do futebol nordestino.

Tanto o Grupo City quanto o Bahia são reservados quanto aos objetivos esportivos e comerciais da parceria, e pouco falam sobre o assunto. O conglomerado chegou a analisar uma parceria com o São Paulo, mas acabou acertando com o tricolor baiano por causa de três fatores: boa gestão, torcida engajada e dívida equacionada.

O presidente do Manchester City, Khaldoon Al Mubarak, também é CEO da Mubadala Investment Company, fundo soberano dos Emirados Árabes cujos investimentos são avaliados em US$ 280 bilhões (R$ 1,41 trilhão), segundo a empresa. Em 2021, a investidora pagou aproximadamente US$ 1,8 bilhão (R$ 10 bi na cotação da época) à Petrobras para adquirir a Refinaria de Mataripe, segunda maior do País. Ela está localizada em São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador, na Bahia.

Para administrar a refinaria, a Mubadala criou a Acelen, empresa petroquímica que patrocina tanto o Bahia quanto o Vitória, maior rival do clube tricolor. Recentemente, a Mubadala formalizou nova proposta aos clubes membros da Libra pela exploração comercial da liga. Segundo o ge, a oferta atual consiste na criação de uma agência para comandar a venda dos direitos de transmissão do Brasileirão a partir de 2025. Os clubes da Libra teriam 50% desta empresa e o fundo ficaria com a outra metade. A investidora garante que a receita anual será de R$ 1,4 bilhão caso a Libra tenha nove clubes na primeira divisão. O valor pode variar de acordo com a quantidade de times na Série A.

Khaldoon Al Mubarak é presidente do Manchester City e CEO da fundo de investimentos Mubadala.  Foto: STEFAN ROUSSEAU / AFP

O QUE É O GRUPO CITY?

A ideia de um conglomerado multiclubes teve um esboço na década de 1990. A empresa de investimento ENIC tinha ações (minoritárias ou majoritárias) em vários clubes europeus, como Tottenham, da Inglaterra, além de Slavia Praga, da República Checa, AEK Athens, da Grécia, dentre outros. Mas a companhia não controlava o futebol desses times, nem adotava uma estratégia focada dentro de campo. O objetivo era ter ações para posteriormente revendê-las obtendo lucro.

Mas o início dessa nova tendência está também ligada ao livro “A Bola Não Entra por Acaso”, do CEO do Manchester City, Ferran Soriano, que se destacou como vice-presidente de operações no Barcelona e trocou o time espanhol pelo inglês há uma década. Para ele, várias outras indústrias já atuam dentro da lógica da multipropriedade de ativos e somente agora o futebol assumiu esse papel.

O espanhol Ferran Soriano é CEO do Grupo City.  Foto: Michel Euler / AP

Soriano foi o responsável por orquestrar a criação do City Football Group (Grupo City). Em 2005, ainda no Barcelona, ele liderou conversas para gerir um time na liga americana que pudesse abrigar talentos emergentes do mercado sul-americano e também explorar de forma consistente a marca Barça para o público dos Estados Unidos.

O emergente mercado da Major League Soccer (MLS) precisava ser melhor explorado, indo muito além da realização esporádica de amistosos e escolinhas em solo americano. A ideia não saiu do papel por divergências internas, mas foi colocada em prática quando Soriano trocou o time espanhol pela equipe inglesa.

O RENASCIMENTO DO MANCHESTER CITY

Em 2008, o xeque Mansour bin Zayed Al Nahyane, membro da família real dos Emirados Árabes Unidos, escolheu o Manchester City para “injetar” sua fortuna, proveniente das receitas do país com reservas de petróleo e combustíveis fósseis. Então, por meio do Abu Dhabi United Group, é criado o Grupo City, que tinha como principal objetivo elevar o patamar do clube, que não conquistava um título de expressão desde a década de 1970 e vivia sob a sombra do rival Manchester United.

Mansour é irmão de Maomé bin Zayed Al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes e monarca absolutista. O investimento dos árabes no futebol levanta suspeita de sportwashing, prática que utiliza o esporte para limpar a imagem de determinado país ou governo, uma vez que a nação do Golfo Pérsico mantém relações estreitas com nações democráticas do Ocidente, como o próprio Brasil, por causa de seus negócios — a Mubadala, por exemplo, possui investimentos em 50 países diferentes.

O Grupo City engloba uma série de equipes a uma rede global no futebol. Além da “matriz” em Manchester, outros 11 clubes estão sob o escopo dos Emirados, incluindo o Bolívar, da Bolívia, que atua como parceiro. Em pouco mais de 15 anos, o investimento no clube inglês – que já foi alvo de investigação da Uefa e será julgada em breve pela Premier League – rendeu diversas conquistas: 22 títulos, com sete troféus do Campeonato Inglês e uma Champions League, conquistada na última temporada.

Desde sua chegada, Mansour e seu grupo gastaram mais de 2,27 bilhões de euros (R$ 12 bilhões) com reforços. É o caso de nomes como o ídolo argentino Sergio Aguero, o meia belga Kevin de Bruyne e o artilheiro norueguês Erling Haaland, que elevaram o patamar do clube a um dos mais competitivos da Europa. A expectativa é de que algo semelhante ocorra com Bahia, que já contratou três reforços para 2024 e pode surpreender nas próximas temporadas. O City também recebeu investimentos diretos na melhora de seus centros esportivos e de treinamento.

Elano, ex-meia do Santos e da seleção brasileira, é um dos jogadores que acompanhou esse processo de transição do Manchester City. Comprado pelo clube em 2007, o jogador viveu o antes e o depois do investimento do mundo árabe. É tido como um ídolo na cidade, mesmo não tendo conquistado um título sequer em seu período na Inglaterra. No projeto de globalização, fortalecido pelo conglomerado de clubes, o ex-atleta é uma peça lembrada pelo City, como marca e time.

“O City melhorou a estrutura interna, foram criados setores de imprensa, nutricionista, melhoria de academia, melhoria de fisiologia e consequentemente a chegada de outros grandes atletas. Sou muito grato a tudo que o clube já me proporcionou”, afirmou Elano, ao Estadão, em evento do Manchester City em São Paulo na última semana. “O Bahia está tendo a oportunidade, com o Rogério, com todo o elenco, de conhecer o que é Manchester City de perto e isso está sendo positivo.”

O Bahia pode seguir esse caminho do City, mas no Brasil. Na pré-temporada em Manchester, contou com o apoio e suporte de toda a estrutura do Grupo City. “Foi muito legal. Como parte do City Football Group, o clube está focado em ajudar (o Bahia) como pode, com ideias e sugestões. Rogério (Ceni) vem fazendo um trabalho muito bom e foi ótimo recebê-lo aqui”, afirmou Pep Guardiola, em entrevista coletiva na última semana. “Talvez eles nos recompensem e nos convidem a ir ao Brasil no futuro.”

Ao que tudo indica, o Bahia mudou de patamar. O tricolor baiano fez contratações importantes na atual janela de transferências, como o meio-campista Everton Ribeiro, ex-Flamengo, e a gastou quantia recorde de R$ 50 milhões para bater de frente com equipes de maior poder aquisitivo, como Palmeiras e Corinthians. O movimento arrojado no mercado da bola está ligado diretamente à parceria com o Grupo City, conglomerado de multiclubes que tem o Manchester City, time apoiado com o dinheiro dos Emirados Árabes Unidos, como principal expoente.

Em dezembro de 2022, após conseguir o acesso no Brasileirão, o Bahia acompanhou Botafogo, Vasco e Cruzeiro, e instituiu uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Os sócios aprovaram a venda de 90% do negócio para o Grupo City, com uma promessa de investimento de R$ 80 milhões no futebol do clube. Depois de uma temporada sem grandes reforços e lutando contra o rebaixamento no Brasileirão, o Bahia iniciou 2024 montando uma equipe visando brigar na parte de cima da tabela do campeonato nacional.

Depois de rejeitar uma proposta de R$ 25 milhões do Palmeiras por Cauly, o Bahia pagou um valor semelhante ao Santos para contratar o volante Jean Lucas, um dos destaques na campanha do rebaixado time santista. Atrás de um nome de peso, a diretoria aproveitou o impasse entre Everton Ribeiro e Flamengo pela renovação, e fechou com o experiente meio-campista. Para seduzir o jogador, considerado a maior contratação da SAF tricolor, o clube ofereceu um ano a mais de contrato além da oportunidade de ser embaixador do Grupo City após a aposentadoria.

Everton Ribeiro, ex-Flamengo, é uma das principais contratações do Bahia após venda da SAF para o Grupo City. Foto: Tiago Caldas/EC Bahia

Outra demonstração de força por parte do Bahia no mercado foi a vitória na queda-de-braço com Palmeiras e Corinthians pela contratação do meia Caio Alexandre, um dos destaques do Brasileirão de 2023 pelo Fortaleza. O time baiano garantiu 100% dos direitos do atleta por R$ 24,3 milhões, a maior compra da história do clube e do futebol nordestino.

Tanto o Grupo City quanto o Bahia são reservados quanto aos objetivos esportivos e comerciais da parceria, e pouco falam sobre o assunto. O conglomerado chegou a analisar uma parceria com o São Paulo, mas acabou acertando com o tricolor baiano por causa de três fatores: boa gestão, torcida engajada e dívida equacionada.

O presidente do Manchester City, Khaldoon Al Mubarak, também é CEO da Mubadala Investment Company, fundo soberano dos Emirados Árabes cujos investimentos são avaliados em US$ 280 bilhões (R$ 1,41 trilhão), segundo a empresa. Em 2021, a investidora pagou aproximadamente US$ 1,8 bilhão (R$ 10 bi na cotação da época) à Petrobras para adquirir a Refinaria de Mataripe, segunda maior do País. Ela está localizada em São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador, na Bahia.

Para administrar a refinaria, a Mubadala criou a Acelen, empresa petroquímica que patrocina tanto o Bahia quanto o Vitória, maior rival do clube tricolor. Recentemente, a Mubadala formalizou nova proposta aos clubes membros da Libra pela exploração comercial da liga. Segundo o ge, a oferta atual consiste na criação de uma agência para comandar a venda dos direitos de transmissão do Brasileirão a partir de 2025. Os clubes da Libra teriam 50% desta empresa e o fundo ficaria com a outra metade. A investidora garante que a receita anual será de R$ 1,4 bilhão caso a Libra tenha nove clubes na primeira divisão. O valor pode variar de acordo com a quantidade de times na Série A.

Khaldoon Al Mubarak é presidente do Manchester City e CEO da fundo de investimentos Mubadala.  Foto: STEFAN ROUSSEAU / AFP

O QUE É O GRUPO CITY?

A ideia de um conglomerado multiclubes teve um esboço na década de 1990. A empresa de investimento ENIC tinha ações (minoritárias ou majoritárias) em vários clubes europeus, como Tottenham, da Inglaterra, além de Slavia Praga, da República Checa, AEK Athens, da Grécia, dentre outros. Mas a companhia não controlava o futebol desses times, nem adotava uma estratégia focada dentro de campo. O objetivo era ter ações para posteriormente revendê-las obtendo lucro.

Mas o início dessa nova tendência está também ligada ao livro “A Bola Não Entra por Acaso”, do CEO do Manchester City, Ferran Soriano, que se destacou como vice-presidente de operações no Barcelona e trocou o time espanhol pelo inglês há uma década. Para ele, várias outras indústrias já atuam dentro da lógica da multipropriedade de ativos e somente agora o futebol assumiu esse papel.

O espanhol Ferran Soriano é CEO do Grupo City.  Foto: Michel Euler / AP

Soriano foi o responsável por orquestrar a criação do City Football Group (Grupo City). Em 2005, ainda no Barcelona, ele liderou conversas para gerir um time na liga americana que pudesse abrigar talentos emergentes do mercado sul-americano e também explorar de forma consistente a marca Barça para o público dos Estados Unidos.

O emergente mercado da Major League Soccer (MLS) precisava ser melhor explorado, indo muito além da realização esporádica de amistosos e escolinhas em solo americano. A ideia não saiu do papel por divergências internas, mas foi colocada em prática quando Soriano trocou o time espanhol pela equipe inglesa.

O RENASCIMENTO DO MANCHESTER CITY

Em 2008, o xeque Mansour bin Zayed Al Nahyane, membro da família real dos Emirados Árabes Unidos, escolheu o Manchester City para “injetar” sua fortuna, proveniente das receitas do país com reservas de petróleo e combustíveis fósseis. Então, por meio do Abu Dhabi United Group, é criado o Grupo City, que tinha como principal objetivo elevar o patamar do clube, que não conquistava um título de expressão desde a década de 1970 e vivia sob a sombra do rival Manchester United.

Mansour é irmão de Maomé bin Zayed Al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes e monarca absolutista. O investimento dos árabes no futebol levanta suspeita de sportwashing, prática que utiliza o esporte para limpar a imagem de determinado país ou governo, uma vez que a nação do Golfo Pérsico mantém relações estreitas com nações democráticas do Ocidente, como o próprio Brasil, por causa de seus negócios — a Mubadala, por exemplo, possui investimentos em 50 países diferentes.

O Grupo City engloba uma série de equipes a uma rede global no futebol. Além da “matriz” em Manchester, outros 11 clubes estão sob o escopo dos Emirados, incluindo o Bolívar, da Bolívia, que atua como parceiro. Em pouco mais de 15 anos, o investimento no clube inglês – que já foi alvo de investigação da Uefa e será julgada em breve pela Premier League – rendeu diversas conquistas: 22 títulos, com sete troféus do Campeonato Inglês e uma Champions League, conquistada na última temporada.

Desde sua chegada, Mansour e seu grupo gastaram mais de 2,27 bilhões de euros (R$ 12 bilhões) com reforços. É o caso de nomes como o ídolo argentino Sergio Aguero, o meia belga Kevin de Bruyne e o artilheiro norueguês Erling Haaland, que elevaram o patamar do clube a um dos mais competitivos da Europa. A expectativa é de que algo semelhante ocorra com Bahia, que já contratou três reforços para 2024 e pode surpreender nas próximas temporadas. O City também recebeu investimentos diretos na melhora de seus centros esportivos e de treinamento.

Elano, ex-meia do Santos e da seleção brasileira, é um dos jogadores que acompanhou esse processo de transição do Manchester City. Comprado pelo clube em 2007, o jogador viveu o antes e o depois do investimento do mundo árabe. É tido como um ídolo na cidade, mesmo não tendo conquistado um título sequer em seu período na Inglaterra. No projeto de globalização, fortalecido pelo conglomerado de clubes, o ex-atleta é uma peça lembrada pelo City, como marca e time.

“O City melhorou a estrutura interna, foram criados setores de imprensa, nutricionista, melhoria de academia, melhoria de fisiologia e consequentemente a chegada de outros grandes atletas. Sou muito grato a tudo que o clube já me proporcionou”, afirmou Elano, ao Estadão, em evento do Manchester City em São Paulo na última semana. “O Bahia está tendo a oportunidade, com o Rogério, com todo o elenco, de conhecer o que é Manchester City de perto e isso está sendo positivo.”

O Bahia pode seguir esse caminho do City, mas no Brasil. Na pré-temporada em Manchester, contou com o apoio e suporte de toda a estrutura do Grupo City. “Foi muito legal. Como parte do City Football Group, o clube está focado em ajudar (o Bahia) como pode, com ideias e sugestões. Rogério (Ceni) vem fazendo um trabalho muito bom e foi ótimo recebê-lo aqui”, afirmou Pep Guardiola, em entrevista coletiva na última semana. “Talvez eles nos recompensem e nos convidem a ir ao Brasil no futuro.”

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