A Flórida tem se destacado como “sede” do esporte dos Estados Unidos. Orlando busca concentrar esportes, em especial o futebol e é a única cidade a ter dois estádios como sede do novo Mundial de Clubes, em 2025. Lá ainda é a casa do Orlando Pride, de Marta, e berço da Florida Cup (hoje FC Series), que já se expande para outras cidades, mas mantém sua centralidade na capital da Disney. Em uma disputa saudável, mas competitiva, o objetivo é fazer frente a Miami, que ganhou um escritório da Fifa e chama atenção com os astros Lionel Messi, do Inter Miami, e Jimmy Butler, do Miami Heat, além da Fórmula 1, tênis e UFC.
Orlando ficou de fora das sedes da Copa do Mundo 2026. Entretanto, o entendimento é que Orlando seja entreposto para Miami, que sediará o torneio. “Elas acabam se complementando. É claro que existe uma certa rivalidade. Agora, com o Mundial de Clubes, Miami vai ser uma sede, Orlando sendo uma sede, complementa”, avalia ao Estadão o CEO da FC Series, Ricardo Villar, que acredita na relação para a Copa daqui a dois anos. Segundo a Visit Orlando, associação comercial de empresas da cidade, Orlando recebe 70 milhões de turistas anualmente.
O empenho do município também é exemplificado no investimento público de US$ 400 milhões (R$ 2,2 bilhões) para ampliação do Camping World Stadium. Atualmente o local pode receber 65 mil pessoas. A última remodelação, em 2014, reconstruiu 90% da estrutura, ao custo de, na época, US$ 200 milhões.
O local já é a cara do futebol em Orlando. O Camping World é uma das sedes para o Mundial do próximo ano. O recorde de público do estádio é atualmente de 63.811 pessoas, na vitória do Arsenal por 4 a 0 contra o Chelsea pela FC Series de 2022. Além do Mundial em 2026, ele receberá o Pro Bowl, o jogo das estrelas da NFL em 2025.
Neste ano, o local foi palco do amistoso entre Brasil e Estados Unidos, empatado por 1 a 1, em junho. As duas equipes também se enfrentaram lá pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 1994.
A outra sede do novo Mundial da Fifa em Orlando é o Inter&Co, casa do Orlando City, da MLS, e do Orlando Pride. Mais modesto, com capacidade de 25 mil torcedores, o local recebeu dois jogos da Copa América 2024. Lá, Canadá e Chile ficaram no 0 a 0, e Panamá venceu a Bolívia por 3 a 1.
Ainda não há definição sobre quais jogos do Mundial vão ocorrer na cidade. Há outras dez sedes: Los Angeles, Seattle, Miami, Atlanta, Charlotte, Nasvhille, Cincinatti, Washington, Philadelphia e Nova York. O torneio será de 15 de junho a 13 de julho de 2025. Palmeiras, Flamengo e Fluminense já têm vaga na competição, que ainda pode ter Atlético-MG ou Botafogo (no caso de um dos dois vencer a Libertadores deste ano).
“(A proximidade entre Miami e Orlando) ajuda logisticamente. Aí cabe à organizadora entender como ele não vai esvaziar um e o outro. Então, você acaba fazendo um jogo e, se o mesmo time jogar em outra cidade, se esse jogo não tem tamanho, ou importância, você acaba esvaziando. Agora, se tem o torcedor apaixonado, ele vai assistir aos dois como se fosse uma Copa do Mundo, como se fosse um Mundial de Clubes”, avalia Villar.
De acordo com uma pesquisa da plataforma Kayak referente à 2023, Orlando e Miami estão no pódio das cidades mais pesquisadas, ao lado de Lisboa. A Fifa confirmou recentemente o Inter Miami, de Messi, como representante do país anfitrião. O clube ficou com o título da Supporters’ Shield, troféu que é concedido ao time de melhor campanha na temporada regular da Major League Soccer (MLS), a liga americana de futebol.
Tentativa de levar ‘soccer’ aos EUA não é novidade
Os Estados Unidos investem nos esportes em termos de espetáculo, para criar produtos comercializáveis. O futebol já passou por promessas frustradas de crescimento anteriormente. Agora, a configuração é diferente. É o que acredita o CEO da Heatmap, especialista em marketing esportivo, Renê Salviano.
“Os Estados Unidos, há anos, vem sendo um grande centro do futebol. Liga sólida, organizada e virou destino não somente de superatletas como também de talentos que despontam em vários países do mundo. Como tudo que fazem no esporte, estes eventos vão levar mais audiência para seus produtos” opina.
Professor de marketing esportivo pela ESPM, Ivan Martinho coloca a grande presença de latinos em regiões dos Estados Unidos como um fator que auxilia a disseminação do futebol no país da América do Norte. “A crescente influência da cultural latina, sediar grandes eventos e ter estrelas de primeira grandeza jogando a liga local têm se mostrado uma receita vencedora para mudar de patamar a importância desse esporte no mercado mais competitivo do mundo.
Segundo o Departamento do Censo dos Estados Unidos, em 2021, a população latino-americana no país era de 62,1 milhões e representava 18,7% do total. Já quando se fala em brasileiros, o Ministério das Relações Exteriores aponta 1,9 milhão de pessoas nos Estados Unidos. Os estados “mais verdes e amarelos” são Boston (390 mil), Nova York (500 mil) e a Flórida (295 mil).
Martinho, contudo, considera que o futebol ainda está longe de disputar espaço com outros esportes, como o basquete e o futebol americano, fortalecidos na NBA e NFL, respectivamente. “Mas o futebol tem tudo para consolidar sua presença dessa vez”, analisa.
Com o Mundial de Clubes 2025, a Fifa espera faturar US$ 2,9 bilhões (R$ 16,4 bilhões). Já com a Copa do Mundo 2026, que também conta com sedes no México e Canadá, o faturamento esperado pela Fifa é de US$ 11 bilhões (R$ 62,5 bilhões) à Fifa.