Como explicar o fato de Neymar permanecer em campo com lesão ligamentar lateral durante 11 minutos em uma Copa do Mundo? Tite se perdeu nas respostas após a partida. Disse primeiro que ele ficou porque o Brasil precisava dele, para depois assumir que não sabia que o jogador estava machucado. Ora, não deveria ter acontecido. Craque nenhum do mundo se submeteria a 11 minutos de sofrimento para ajudar o time numa estreia de competição.
Então não cola. Revi os 11 minutos de Neymar após a lesão em jogada com Milenkovic. Foi dura, mas de jogo. Neymar fez cara de dor, esfregou o local atingido e seguiu jogando.
Começou nesse instante, aos 24 do segundo tempo, a contagem dos 11 minutos de Neymar com lesão ligamentar no tornozelo. Em nenhum momento, ele parou de correr ou se abaixou por causa da contusão. Estava cansado, não deu nenhum pique, mas não parou. Trotou em alguns momentos quando a Sérvia atacou. Ficou no grande círculo, mais pela esquerda, ao lado de Vini Jr., que deixou o campo antes dele até.
Em duas jogadas de ataque, Neymar acompanhou o lance, pediu a bola, mas não a recebeu por erro de passe. Sempre voltava trotando, sem fazer força, mas também sem mancar. Não mostrou qualquer sintoma de dor. Ainda teve tempo de passar para Vini Jr. achar Richarlison na área, jogada que resultou no segundo gol do Brasil na estreia.
Foram 11 minutos, do 24 aos 35, de um Neymar aparentemente mais cansado do que machucado. Ele não sofreu nenhuma outra falta nesse período - havia tomada nove antes.
No 11.º minuto após a falta, Neymar sentou no gramado. Sua fisionomia já estava fechada. Thiago Silva e Marquinhos se juntaram a ele. A chuteira do pé direito foi desamarrada. Neymar comentou alguma coisa com os companheiros. A expressão era de preocupação. Tite foi avisado. Trocou Neymar por Antony. Vini Jr. e Richarlison há tinham saído.
Neymar segurou a onda durante esses 11 minutos. Ele chegou ao Catar focado. Sempre soube que a Copa de 2022 seria sua maior chance de se recolocar entre os melhores, no grupo dos brasileiros campeões do mundo. Neymar não reclamou das pancadas, não fez firulas, não cobrou a arbitragem como em Mundiais passados.
Ele não pediu socorro. Não avisou ninguém da comissão técnica que estava machucado. Ninguém da comissão também percebeu qualquer problema nele. Neymar tomou sozinho a decisão de permanecer no jogo. Não se deu contra da gravidade. Suportou a dor até onde deu. Não pensou que poderia, assim, agravar a lesão.
Na ânsia de voltar a ser Neymar, aquele que o Santos mandou para o Barcelona e que foi vendido ao PSG, o atacante resolveu encarar esses 11 minutos de dor. O Brasil já vencia por 1 a 0. A seleção poderia ter ficado sem ele nesse tempo.