Terminando o Campeonato Paulista, vencido pelo Palmeiras, o Estadão aponta quem foram os melhores e piores da 124ª edição do Estadual mais importante do País. Foi considerada, na avaliação, não só a atuação de times e seus personagens - atletas, técnicos e dirigentes -, mas também tudo o que compõe a competição, como o gramado dos estádios e o insólito regulamento.
Os melhores do Paulistão
Endrick
Aos 17 anos, o garoto comandou a vitória do Palmeiras por 2 a 0 sobre o Santos, que garantiu o título ao Alviverde diante da sua torcida no Allianz Parque. Endrick sofreu o pênalti cobrado por Raphael Veiga que abriu o placar no primeiro tempo e, na etapa final, iniciou a jogada do gol marcado por Aníbal Moreno.
Endrick conquistou o quinto título com a camisa do Palmeiras: Paulistão (2024 e 2023), Campeonato Brasileiro (2022 e 2023) e Supercopa (2023).
Torcida do Santos
O rebaixamento inédito do Santos à segunda divisão do Brasileiro deixou revoltada a torcida, mas não a fez abandonar o time. Prova disso foi a presença em peso dos santistas nos duelos do Paulistão, incluindo em estádios dos rivais.
A torcida do Santos foi responsável pelo maior público da Neo Química Arena, estádio do Corinthians, em 2024. Mais de 44 mil santistas viram a equipe derrotar o Red Bull Bragantino na semifinal. No MorumBis, casa do São Paulo, o Santos colocou 50.132 pessoas nas arquibancadas. Na época, esse havia sido o maior público do Campeonato Paulista no ano. Mas a marca foi superado pelo São Paulo posteriormente.
Dupla argentina do Palmeiras
Flaco López e Aníbal Moreno foram dois dos principais destaques do Palmeiras no Paulistão. Ninguém fez mais gols que o atacante, artilheiro da competição, com dez gols, e nenhum outro jogador desarmou tanto quanto o volante palmeirense de 24 anos, que veio do Racing, da Argentina, e rapidamente se adaptou ao futebol brasileiro. Foi do meio-campista, aliás, o gol que deu à equipe o tri do Paulistão.
López, um centroavante canhoto alto e boa técnica, já está há quase dois anos no Palmeiras e levou mais tempo para se encaixar na equipe. Mas quando o fez deslanchou.
Novorizontino
Time de boa gestão e que esteve perto de subir à Série A do Brasileiro no ano passado, o Novorizontino empatou com o Palmeiras (1 a 1) jogando melhor, venceu Santos (3 a 1) e Corinthians (2 a 1) fora de casa na primeira fase e eliminou o São Paulo nos pênaltis dentro do MorumBis. Foi eliminado pelo Palmeiras nas semifinais, mas caiu de pé, novamente dificultando ao máximo a vida da equipe de Abel Ferreira. Um dos destaques, o meia Rômulo foi vendido ao Palmeiras.
A equipe de Novorizonte, treinada por Eduardo Batista, tem apenas 14 anos de fundação e colhe os frutos de um trabalho profissional. No ano passado, se tornou a primeira associação do futebol brasileiro a ser 100% transformada em SAF.
Gil
Gil joga, aos 36 anos, a última temporada de sua carreira. No Santos, o zagueiro veterano recuperou o moral que não tinha mais no Corinthians, que o dispensou no fim do ano passado. Aceitar a proposta santista se mostrou benéfica para os dois lados. O defensor deu experiência ao time e, num ambiente de menor pressão, demonstrou ainda poder jogar em alto nível mesmo na reta final de sua trajetória no futebol.
O zagueiro disputou todos os jogos do Santos no Paulistão. Mais experiente e soberano na bola aérea , o veterano deu equilíbrio à defesa fazendo boa dupla com o jovem Joaquim, defensor de velocidade e forte na marcação.
Premiação
Campeão do Campeonato Paulista, o Palmeiras ganhará R$ 5 milhões de premiação. O montante não é alto em comparação ao que ganham os campeões de outros torneios, como a Copa do Brasil, que dará R$ 73,5 milhões ao ganhador nesta temporada, mas o Paulistão é o único Estadual a pagar uma premiação em dinheiro ao vencedor. O vice-campeão Santos levará R$ 1,65 milhão de bonificação.
Os piores do Paulistão
Mano Menezes
A terceira foi a pior passagem de Mano Menezes pelo Corinthians, que o demitiu no início de fevereiro, interrompendo um trabalho curto, de quase cinco meses. Em 20 partidas sob o comando do gaúcho de 61 anos, o time ganhou apenas seis vezes, empatou cinco e sofreu nove derrotas. Foram fundamentais para a queda do treinador a pressão da torcida e a sequência de quatro reveses para Ituano, São Bernardo, São Paulo e Novorizontino.
Gramado do Allianz Parque
O gramado atual do Allianz Parque está em boas condições, mas foi necessário uma reforma, que durou quase dois meses, para que o piso voltasse a estar em bom estado. Alvo de reclamações de Abel Ferreira, jogadores do Palmeiras e adversários, o gramado sintético ganhou 22 toneladas de cortiça importadas de Portugal no lugar do composto termoplástico, de material sintético e oriundo da indústria petrolífera, que derreteu devido às ondas de calor e à poluição e formou uma espécie de gosma que grudava nas travas das chuteiras dos atletas. A cortiça é um material orgânico, natural, de origem vegetal, com capacidade de isolamento térmico e que pode ser obtido na natureza, da casca da árvore conhecida como sobreiro, típica da Península Ibérica.
A troca do composto da superfície artificial, instalada em 2020, coube a Soccer Grass e à Real Arenas, empresa da WTorre responsável pela administração do arena e que está em pé de guerra com o Palmeiras. As cobranças sobre o gramado foram apenas mais um capítulo da briga entre a WTorre e o clube, que cobra R$ 160 milhões da empresa na Justiça. O caso está em sigilo, sem previsão de conclusão.
Santo André e Ituano
Santo André e Ituano e venceram apenas um de seus 12 jogos. Seria impossível, com campanhas tão ruins, permanecer na primeira divisão do futebol paulista. O time do ABC somou apenas seis pontos e foi protagonista da pior trajetória entre os 16 clubes que disputaram esta edição do Estadual. Seu único triunfo foi conquistado na última rodada, quando não era mais possível escapar. A equipe de Itu somou oito. Ambos estavam no Grupo A.
Carlos Belmonte
Irritado depois do Choque-Rei da primeira fase do Paulistão, que terminou em empate por 1 a 1, Carlos Belmonte atacou Abel Ferreira com um xingamento de cunho xenófobo. O diretor do São Paulo foi flagrado reclamando, de maneira exaltada, com o árbitro do clássico, Matheus Delgado Candançan, e xingando o treinador do Palmeiras. “Safado do c...! O Abel apitou para vocês, este português de merda”, esbravejou o cartola, no túnel que dá acesso ao gramado do MorumBis. Ele, o presidente Julio Casares e outros são-paulinos reclamaram que o palmeirense Richard Ríos deveria ter sido expulso após falta em Pablo Maia e que o time tricolor teve um pênalti não marcado em Luciano, após consulta do árbitro ao VAR.
No dia seguinte ao episódio, o Palmeiras afirmou que o dirigente foi xenofóbico e disse que cogitava ir à Justiça. Passada mais de uma semana do jogo, o cartola decidiu pedir desculpas ao técnico. Ele gravou um vídeo enviado à FPF, como parte de um acordo com o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) de São Paulo, para que os jogadores envolvidos na confusão não fossem punidos. A agremiação pagou R$ 205 mil em multas. Belmonte pagou R$ 50 mil e não pôde frequentar os jogos seguintes do Paulistão.
Regulamento
O formato de disputa do Paulistão tem algumas peculiaridades e estranhezas que permitem que um time some menos pontos do que equipes de outras chaves na primeira chave e, mesmo assim, se classifique ao mata-mata. Neste ano, a beneficiada pelo regulamento esdrúxulo da competição foi a Portuguesa, que chegou a brigar para não cair, somou apenas dez pontos em 12 jogos e conseguiu a vaga nas quartas de final porque seu grupo teve baixa pontuação.
A Portuguesa foi sortuda porque Santo André e Ituano, os dois rebaixados nesta edição, caíram na sua chave e fizeram péssimas campanhas. Quem foi prejudicado pelo burlesco sistema de disputa foi o São Bernardo, que fez a sexta melhor campanha da primeira fase, com 21 pontos, pontuação insuficiente para avançar às quartas porque o Grupo D, o mais disputado, teve São Paulo e Novorizontino como classificados, com 22 pontos cada.