Na véspera do 7 a 1, cheguei tarde ao hotel onde a equipe do Grupo Estado se hospedara em Belo Horizonte. Já era noite. Eu ficara em Teresópolis para acompanhar o último treino da seleção brasileira, o treino-apronto realizado à tarde, para o jogo com a Alemanha. Só viajei depois.
Havia incerteza sobre quem iria jogar. Thiago Silva estava suspenso, pelo cartão bobo recebido contra a Colômbia. Porém, o que o mundo queria saber é quem Felipão escalaria no lugar de Neymar, posto fora de combate com o golpe de MMA do Zúñiga.
Havia apreensão pela ausência de Neymar, claramente incumbido de levar a seleção brasileira nas costas, como se Copa do Mundo fosse um torneio quadrangular qualquer, mas também pelo fato de o adversário ser a Alemanha. Eles estavam jogando bem; nós não estávamos jogando nada.
As informações que vinham de Santa Cruz de Cabrália davam conta que a Alemanha estava treinando muito. O que nossos olhos viam em Teresópolis era uma seleção treinando pouco, quase sempre uma hora por dia, sob o argumento de que os jogadores estavam cansados, em fim de temporada, e podiam estourar. Mas e os alemães, não estavam?
Voltemos ao hotel. Quando cheguei, os colegas já se preparavam para dormir, mas alguns vieram me perguntar como foi o treino. Lembro-me da palavra que usei para definir a “atividade”. Mas prefiro não escrever. Até porque não dá para descrever um treino em espaço reduzido (espaço reduzido, não campo reduzido), com “times’' de dois jogadores, que mudavam constantemente de formação e no qual os jogadores de um time limitavam-se a tentar driblar os do outro ou a tentar “tabelas’'.
Foi a maneira que Felipão encontrou para despistar, para esconder a escalação dos jornalistas e, por consequência, dos alemães. Acabou escondendo o futebol também. Treino que é bom...
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Ao relatar o “treino’' para o pessoal, desconfiança, ansiedade e pessimismo aumentaram. Cansado, dormi bem. Acho. Creio que todos os outros da equipe não.
O hotel em que estávamos era novo, recém-inaugurado (se não me engano, às vésperas da Copa). Ficava às margens da lagoa da Pampulha, em frente a um clube naútico e perto da Igreja de São Francisco de Assis, a igreja da Pampunha, projetada por Oscar Niemeyer e um dos pontos turísticos mais importantes de BH.
Na manhã do jogo, já no café, todos estávamos ansiosos e nervosos. Numa tentativa de descontrair, alguém sugeriu que fôssemos à igreja pedir proteção. Para a seleção. Era uma brincadeira. Mas não concordei. Acho que Deus tinha coisas mais importantes com que se preocupar do que proteger uma seleção mal preparada. São Francisco de Assis também tinha seus animaizinhos para zelar.
Fomos a pé até o Mineirão. O hotel também ficava perto do estádio e caminhando era mais fácil de chegar do que de carro. Ao contrário de outros jogos, as brincadeiras, palhaçadas e falatório no trajeto quase sumiram por completo. O clima estava estranho. Havia tensão.
No Mineirão, na tribuna de imprensa, a ansiedade para saber a escalação era grande. De maneira geral, havia pouca expectativa em relação à seleção entre os jornalistas. Pelo que o time NÃO o havia feito até aquelas quartas de final, pela falta que Neymar faria e também pelo prejuízo que a ausência de Thiago Silva causaria.
A torcida, ao contrário, estava bastante animada. Otimista. Determinada em seu objetivo de empurrar a seleção para a conquista do título mundial em sua casa. Pena que torcida nenhuma ganha jogo se o time não colaborar.
A rigor, na imprensa poucos acreditavam que o Brasil passaria pela Alemanha. Tanto que o comentário comum era: “Acho que não vai dar... Mas se a seleção passar da Alemanha, aí ninguém segura. O Brasil vai ser campeão’'. O problema era superar a Alemanha.
Quando saiu a escalação, com Dante e Bernard, principalmente este, no time, o que era pessimismo virou certeza de derrota. O burburinho foi grande, e demorado. Digamos que passou a haver uma maioria com certeza de derrota. Alguns colegas do Estado permaneceram otimistas. Ou pelo menos esperançosos.
Mas, como diz o ditado, nada é tão ruim que não possa piorar. A derrota, eu e muitos ao meu redor esperávamos. Aliás, sabíamos que viria desde o momento em que a escalação foi divulgada. Mas a surra, o banho de bola não estavam no programa. Como disse o Galvão, virou passeio e, a partir do 2 a 0, a cada gol alemão nos olhávamos. Incrédulos, sem reação, boquiaberto. Surpresos.
Aquele 8 de julho de 2014 acabou sendo um dia de aprendizado. Aprendemos que mesmo quando se sabe que a derrota virá, se pode ficar surpreso com a maneira como ela é construída. Antes e durante os tais 90 minutos.