O Palmeiras não vai mais jogar no Allianz Parque enquanto a Real Arenas, empresa criada pela WTorre para gerir o estádio, não reparar o gramado, motivo de reclamações constantes do técnico Abel Ferreira e até da presidente Leila Pereira. A decisão foi comunicada pelo clube em nota divulgada neste domingo, logo após a vitória por 2 a 1 sobre o Santos, no Allianz. O Estadão procurou a WTorre e aguarda posicionamento.
No texto, o Palmeiras exige que a Real Arenas “honre com a sua obrigação de realizar a manutenção adequada do campo” e ameaça pedir a interdição do estádio. Do seu próprio estádio. Também defende que os problemas observados no local não estão relacionados ao fato de o gramado ser sintético, além de mostrar preocupação com a integridade dos atletas, até porque as condições do solo têm sido apontadas como causadoras de lesões. O último a se machucar foi o atacante Bruno Rodrigues. Neste domingo, Giuliano, do Santos, também apontou o estado do campo como motivo de sua lesão.
“Importante salientar que o problema não é a grama sintética, implementada justamente com o intuito de oferecer aos atletas um piso sempre em perfeitas condições, mas o descaso da superficiária com a qualidade do campo, que exige melhorias urgentes. Em função da irresponsabilidade de terceiros, não temos o direito de colocar em risco a integridade física de profissionais – sejam do Palmeiras, sejam das equipes adversárias. Caso a superficiária do Allianz Parque insista em protelar a solução necessária para este grave problema, exigiremos junto aos órgãos competentes a interdição da arena”, diz o clube em nota oficial.
Há um atrito em curso entre Palmeiras e WTorre. Mais de uma vez, o técnico Abel Ferreira reclamou das condições do gramado, cena repetida nesta domingo, depois do clássico com o time da Vila. O português nunca escondeu a insatisfação, especialmente frente às consequências dos shows realizados na Arena, como as miçangas que ficaram espalhadas pela grama depois dos shows da cantora Taylor Swift, em novembro do ano passado.
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O desentendimento, contudo, vai além de discussões referentes à qualidade do campo. De acordo com Leila Pereira, a Real Arenas deve cerca de R$ 150 milhões ao clube paulista, valor referente a repasses de receita pelo uso da arena palmeirense. “O que posso dizer a vocês é que uma receita que seria muito relevante ao Palmeiras e não recebemos um centavo”, reclamou em entrevista coletiva, há pouco mais de duas semanas.
O caso está na Justiça de São Paulo e também na polícia, que apura crimes de apropriação indébita e associação criminosa a pedido do Palmeiras. O clube afirma que, desde que o Allianz Parque foi inaugurado, a Real Arenas só fez repasses em novembro e dezembro de 2014, e de janeiro a junho de 2015 (exceto o mês de maio). A construtora reconhece o débito, mas contesta o valor que está sendo cobrado.
Na coletiva em que comentou sobre a dívida da construtora, Leila também citou os novos investimentos da empresa de engenharia em outros clubes brasileiros. “É uma empresa que está fechando com o São Paulo, com Santos, com o Maracanã, e não paga um centavo para o Palmeiras. Um centavo”, observou.
Leia a nota oficial do Palmeiras na íntegra
A Sociedade Esportiva Palmeiras informa que, em razão das atuais condições do gramado do Allianz Parque, somente voltará a mandar jogos no estádio quando a Real Arenas honrar com a sua obrigação de realizar a manutenção adequada do campo.
Importante salientar que o problema não é a grama sintética, implementada justamente com o intuito de oferecer aos atletas um piso sempre em perfeitas condições, mas o descaso da superficiária com a qualidade do campo, que exige melhorias urgentes.
Em função da irresponsabilidade de terceiros, não temos o direito de colocar em risco a integridade física de profissionais – sejam do Verdão, sejam das equipes adversárias.
Caso a superficiária do Allianz Parque insista em protelar a solução necessária para este grave problema, exigiremos junto aos órgãos competentes a interdição da arena.
Entenda o imbróglio envolvendo Palmeiras e WTorre
Com o aval da presidente Leila Pereira e de uma junta de advogados especializados, o clube pede a apuração de possíveis crimes de apropriação indébita e associação criminosa, além do bloqueio de bens, valores e contas da Real Arenas e seus gestores, e a quebra do sigilo bancário da empresa desde novembro de 2014, ano do início da parceria e inauguração do estádio.
Segundo o Palmeiras, somente os valores de novembro e dezembro de 2014 e de janeiro a junho de 2015, exceto maio, foram pagos. A dívida é discutida na Justiça desde 2017, por meio de uma ação de execução de título extrajudicial. Como ainda não houve solução, a direção do clube fez a denúncia à polícia, que abriu um inquérito no 23º Distrito Policial de São Paulo (em Perdizes) em maio do ano passado.
O valor é considerado incontroverso pelo Palmeiras, como consta no inquérito. A Real Arenas, por sua vez, contesta os números do débito.
O contrato firmado entre as partes prevê que o Palmeiras receba mensalmente valores referentes a receitas geradas no Allianz Parque com aluguéis para shows, exploração de áreas como restaurantes e estacionamentos, locações de cadeiras, camarotes e naming rigths. Trata-se de um valor progressivo. Como são 30 anos de parceria e o contrato começou a valer no ano de inauguração da arena, tem vigência até novembro de 2044.