Pepe calou Morumbi há 37 anos com time cascudo e tirou título do Palmeiras com a Inter de Limeira


Campanha foi marcada por uma tragédia no elenco com a morte do zagueiro Zezinho Figueroa durante treino; time do interior paulista se uniu e ofereceu taça à memória do atleta

Por Toni Assis
Atualização:

O ano foi 1986. O palco: o Morumbi. Nas arquibancadas, um público que praticamente lotou o estádio do São Paulo nos dois jogos viu o franco favorito Palmeiras enfrentar a voluntariosa equipe da Inter de Limeira na decisão do Estadual. À frente de um time “cascudo” e vibrante, o então cinquentão treinador Pepe conseguiu o improvável. Com um empate sem gols na primeira disputa, e uma vitória contundente de 2 a 1 no encontro derradeiro, ele alçou o elenco do interior à condição de campeão paulista. “Foi o título mais importante da minha carreira como técnico, sem dúvida. Por causa desse campeonato, meu nome chegou a ser cotado para a seleção brasileira”, disse Pepe em entrevista ao Estadão.

Aos 88 anos e com a memória em dia, o ex-ponta-esquerda, que atuou ao lado de Pelé, no Santos, demonstrou entusiasmo ao lembrar daquela campanha. Desafiado pela reportagem a escalar o time campeão paulista, a resposta veio de imediato: “Silas; João Luís, Juarez, Bolívar e Pecos; Manguinha, Gilberto Costa e João Batista; Tato, Kita e Lê ou Gilson Gênio pela ponta-esquerda. Foi um time que entrou para a história da Internacional de Limeira e do Pepe”, disse.

Para entender a dimensão do feito, é necessário recuar no tempo. Nos anos 80, os campeonatos estaduais tinham um peso bem maior do que atualmente. Para se ter uma ideia, o Paulistão teve mais de seis meses de duração (do final de fevereiro ao início de setembro) e além do título, a Inter ainda encerrou aquela edição com o artilheiro do torneio (Kita) e ainda com o ataque mais positivo: 59 gols.

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Pepe, o Canhão da Vila, relembra título com a Internacional em 1986. Foto: Leonardo Benassatto/ Reuters

“A Inter era um time com cabeça, tronco e membros. Uma equipe com jogadores experientes e atletas mais novos que se encaixaram bem no esquema. Ali, ninguém tinha medo de pressão, vaia e nem se iludia com aplausos”, afirmou Pepe.

Na preleção, diante de um Morumbi abarrotado de palmeirenses, e de uma torcida muito barulhenta, o então comandante tratou de usar a sua larga experiência no futebol para tranquilizar seus comandados. Pepe ainda elencou um fator primordial que alavancou o grupo: a coragem.

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“Na preleção, coloquei a nossa equipe em termos de igualdade com o Palmeiras. Eles tinham uma grande torcida e um bom time. Mas nós tínhamos a nossa maneira de atuar. Era entrar e jogar. Tinha um grupo corajoso nas mãos”, afirmou.

TÉCNICO AO ESTILO “SAL E PIMENTA”

Com um campeonato tão longo e sem a pretensão de entrar no torneio com expectativa de conquista, o comandante foi moldando um estilo de jogo eficiente no decorrer da competição. No trato com os atletas, o Canhão da Vila sabia usar o tom adequado, de acordo com a situação.

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“Eu tinha um pouco de sal e um pouco de pimenta para lidar com os jogadores. Às vezes você tem de dar bronca, mas na maioria das vezes, ganhava a confiança dos jogadores na conversa, orientando taticamente. A Inter tinha um contra-ataque muito forte. Às vezes o adversário apertava a gente e, numa roubada de bola, com dois ou três toques, chegávamos ao ataque e fazíamos o gol”, comentou.

Palmeiras queria sair de uma incômoda fila de títulos, mas foi superado pela Inter de Limeira em uma final que ficou marcada como um vexame história da equipe alviverde. Foto: Domicio Pinheiro/ AE

Do pragmatismo que garantiu a vantagem de 2 a 0 no início do segundo tempo, ao drama nos minutos finais com o gol do palmeirense Amarildo, Pepe se recorda do ambiente tenso que marcou os minutos finais daquela decisão.

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“Quando eles fizeram 2 a 1, tivemos de suportar a pressão. O Palmeiras estava na fila havia nove anos. Mas nós tínhamos um lado mental muito forte. Nos 15 minutos finais, só faltou entrar o presidente em campo, mas a nossa experiência acabou prevalecendo e conseguimos o feito. Olha, eu trabalhei no Brasil em grandes equipes e também no exterior, mas esse título foi marcante demais.”

Volta olímpica para Zezinho

Na volta olímpica, veio também o momento de tentar amenizar uma tragédia que marcou o início do trabalho tanto dos jogadores quanto da comissão técnica da Inter de Limeira. Durante um treinamento, o zagueiro Zezinho Figueroa, de então 33 anos, teve um mal-súbito e caiu no gramado. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu ao aneurisma cerebral e morreu.

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“Foi um abalo gigantesco. Era um defensor de muita qualidade e praticamente imbatível no jogo aéreo. Tinha muita experiência. Infelizmente, acabamos trabalhando pouco tempo juntos. Era um atleta experiente e que ia nos ajudar muito. Fizemos um pacto para fazer um belo Campeonato Paulista em sua homenagem. No momento de comemorar o título, nada mais justo do que oferecer a conquista do Campeonato Paulista a ele”, afirmou Pepe.

Diante de um rival que vinha com um peso de quase uma década sem conseguir ser campeão paulista, a experiência dentro de campo dos mais velhos foi fundamental. Dois atletas, em especial, serviram para conduzir a campanha: o zagueiro Bolívar e o volante Manguinha. “Na defesa, o atacante pensava duas vezes antes de entrar na área por causa do Bolívar. Era leal, mas jogava muito forte e não perdia a viagem. No meio, o Manguinha controlava o ritmo e era o termômetro do time.”

Mas é de Gilberto Costa, outro de seus atletas com alta rodagem, que Pepe tem a melhor história daquela final. “Ele ficava perto do Dulcídio (Wanderley Boschilia, juiz da partida) nos minutos finais e falava para acabar logo porque ele também entraria para história por ser o primeiro juiz a apitar um jogo de título de uma equipe do interior. Quando me contou no vestiário, não aguentei.”

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Mesmo jogando as duas partidas longe de casa, a Inter superou a pressão da torcida palmeirense e foi campeã. Foto: Domicio Pinheiro/ AE

O ano de 86 reservou a Pepe ainda mais uma conquista importante no cenário brasileiro. Com o São Paulo, ele venceu o Campeonato Nacional fazendo a final diante do Guarani em decisão realizada em Campinas.

“As temporadas de 86 e 87 foram importantes porque me firmaram como treinador. Deixei de ser aquele ex-jogador que chutava forte, e que jogou com o Pelé, para ser valorizado como grande técnico e que sabia ser bom taticamente. Depois disso vieram convites para trabalhar no exterior e fui para a Arábia, Japão e Portugal.”

FAVORITISMO FICA COM PALMEIRAS

Na esfera esportiva, ainda mais quando se trata de uma decisão entre adversários de patamares diferentes, é comum relacionar o time mais poderoso ao gigante Golias, enquanto o azarão assume o papel de Davi. A edição do Estadual deste ano chega a seu final dentro desses moldes e apresenta o milionário time do técnico português Abel Ferreira como favorito contra um modesto Água Santa, de Diadema.

Apesar de ter ajudado a protagonizar uma das maiores surpresas em finais de Campeonato Paulista com a Inter, Pepe aponta o Palmeiras como franco favorito. “O Palmeiras tem um grande time, a torcida deve tomar o estádio inteiro. Diferentemente de 1986, o Palmeiras de agora está embalado, tem um grande técnico, e dificilmente vai perder a chance de ganhar esse título”, comentou.

De olho nos jogos finais do Paulista, o ex-ponta-esquerda espera uma grande partida e diz que não vai tomar partido para nenhum dos dois times. “Vou torcer para um grande jogo de futebol. Quero parabenizar o Água Santa pela belíssima campanha que realizou e tenho certeza de que a decisão vai ser muito disputada.”

O ano foi 1986. O palco: o Morumbi. Nas arquibancadas, um público que praticamente lotou o estádio do São Paulo nos dois jogos viu o franco favorito Palmeiras enfrentar a voluntariosa equipe da Inter de Limeira na decisão do Estadual. À frente de um time “cascudo” e vibrante, o então cinquentão treinador Pepe conseguiu o improvável. Com um empate sem gols na primeira disputa, e uma vitória contundente de 2 a 1 no encontro derradeiro, ele alçou o elenco do interior à condição de campeão paulista. “Foi o título mais importante da minha carreira como técnico, sem dúvida. Por causa desse campeonato, meu nome chegou a ser cotado para a seleção brasileira”, disse Pepe em entrevista ao Estadão.

Aos 88 anos e com a memória em dia, o ex-ponta-esquerda, que atuou ao lado de Pelé, no Santos, demonstrou entusiasmo ao lembrar daquela campanha. Desafiado pela reportagem a escalar o time campeão paulista, a resposta veio de imediato: “Silas; João Luís, Juarez, Bolívar e Pecos; Manguinha, Gilberto Costa e João Batista; Tato, Kita e Lê ou Gilson Gênio pela ponta-esquerda. Foi um time que entrou para a história da Internacional de Limeira e do Pepe”, disse.

Para entender a dimensão do feito, é necessário recuar no tempo. Nos anos 80, os campeonatos estaduais tinham um peso bem maior do que atualmente. Para se ter uma ideia, o Paulistão teve mais de seis meses de duração (do final de fevereiro ao início de setembro) e além do título, a Inter ainda encerrou aquela edição com o artilheiro do torneio (Kita) e ainda com o ataque mais positivo: 59 gols.

Pepe, o Canhão da Vila, relembra título com a Internacional em 1986. Foto: Leonardo Benassatto/ Reuters

“A Inter era um time com cabeça, tronco e membros. Uma equipe com jogadores experientes e atletas mais novos que se encaixaram bem no esquema. Ali, ninguém tinha medo de pressão, vaia e nem se iludia com aplausos”, afirmou Pepe.

Na preleção, diante de um Morumbi abarrotado de palmeirenses, e de uma torcida muito barulhenta, o então comandante tratou de usar a sua larga experiência no futebol para tranquilizar seus comandados. Pepe ainda elencou um fator primordial que alavancou o grupo: a coragem.

“Na preleção, coloquei a nossa equipe em termos de igualdade com o Palmeiras. Eles tinham uma grande torcida e um bom time. Mas nós tínhamos a nossa maneira de atuar. Era entrar e jogar. Tinha um grupo corajoso nas mãos”, afirmou.

TÉCNICO AO ESTILO “SAL E PIMENTA”

Com um campeonato tão longo e sem a pretensão de entrar no torneio com expectativa de conquista, o comandante foi moldando um estilo de jogo eficiente no decorrer da competição. No trato com os atletas, o Canhão da Vila sabia usar o tom adequado, de acordo com a situação.

“Eu tinha um pouco de sal e um pouco de pimenta para lidar com os jogadores. Às vezes você tem de dar bronca, mas na maioria das vezes, ganhava a confiança dos jogadores na conversa, orientando taticamente. A Inter tinha um contra-ataque muito forte. Às vezes o adversário apertava a gente e, numa roubada de bola, com dois ou três toques, chegávamos ao ataque e fazíamos o gol”, comentou.

Palmeiras queria sair de uma incômoda fila de títulos, mas foi superado pela Inter de Limeira em uma final que ficou marcada como um vexame história da equipe alviverde. Foto: Domicio Pinheiro/ AE

Do pragmatismo que garantiu a vantagem de 2 a 0 no início do segundo tempo, ao drama nos minutos finais com o gol do palmeirense Amarildo, Pepe se recorda do ambiente tenso que marcou os minutos finais daquela decisão.

“Quando eles fizeram 2 a 1, tivemos de suportar a pressão. O Palmeiras estava na fila havia nove anos. Mas nós tínhamos um lado mental muito forte. Nos 15 minutos finais, só faltou entrar o presidente em campo, mas a nossa experiência acabou prevalecendo e conseguimos o feito. Olha, eu trabalhei no Brasil em grandes equipes e também no exterior, mas esse título foi marcante demais.”

Volta olímpica para Zezinho

Na volta olímpica, veio também o momento de tentar amenizar uma tragédia que marcou o início do trabalho tanto dos jogadores quanto da comissão técnica da Inter de Limeira. Durante um treinamento, o zagueiro Zezinho Figueroa, de então 33 anos, teve um mal-súbito e caiu no gramado. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu ao aneurisma cerebral e morreu.

“Foi um abalo gigantesco. Era um defensor de muita qualidade e praticamente imbatível no jogo aéreo. Tinha muita experiência. Infelizmente, acabamos trabalhando pouco tempo juntos. Era um atleta experiente e que ia nos ajudar muito. Fizemos um pacto para fazer um belo Campeonato Paulista em sua homenagem. No momento de comemorar o título, nada mais justo do que oferecer a conquista do Campeonato Paulista a ele”, afirmou Pepe.

Diante de um rival que vinha com um peso de quase uma década sem conseguir ser campeão paulista, a experiência dentro de campo dos mais velhos foi fundamental. Dois atletas, em especial, serviram para conduzir a campanha: o zagueiro Bolívar e o volante Manguinha. “Na defesa, o atacante pensava duas vezes antes de entrar na área por causa do Bolívar. Era leal, mas jogava muito forte e não perdia a viagem. No meio, o Manguinha controlava o ritmo e era o termômetro do time.”

Mas é de Gilberto Costa, outro de seus atletas com alta rodagem, que Pepe tem a melhor história daquela final. “Ele ficava perto do Dulcídio (Wanderley Boschilia, juiz da partida) nos minutos finais e falava para acabar logo porque ele também entraria para história por ser o primeiro juiz a apitar um jogo de título de uma equipe do interior. Quando me contou no vestiário, não aguentei.”

Mesmo jogando as duas partidas longe de casa, a Inter superou a pressão da torcida palmeirense e foi campeã. Foto: Domicio Pinheiro/ AE

O ano de 86 reservou a Pepe ainda mais uma conquista importante no cenário brasileiro. Com o São Paulo, ele venceu o Campeonato Nacional fazendo a final diante do Guarani em decisão realizada em Campinas.

“As temporadas de 86 e 87 foram importantes porque me firmaram como treinador. Deixei de ser aquele ex-jogador que chutava forte, e que jogou com o Pelé, para ser valorizado como grande técnico e que sabia ser bom taticamente. Depois disso vieram convites para trabalhar no exterior e fui para a Arábia, Japão e Portugal.”

FAVORITISMO FICA COM PALMEIRAS

Na esfera esportiva, ainda mais quando se trata de uma decisão entre adversários de patamares diferentes, é comum relacionar o time mais poderoso ao gigante Golias, enquanto o azarão assume o papel de Davi. A edição do Estadual deste ano chega a seu final dentro desses moldes e apresenta o milionário time do técnico português Abel Ferreira como favorito contra um modesto Água Santa, de Diadema.

Apesar de ter ajudado a protagonizar uma das maiores surpresas em finais de Campeonato Paulista com a Inter, Pepe aponta o Palmeiras como franco favorito. “O Palmeiras tem um grande time, a torcida deve tomar o estádio inteiro. Diferentemente de 1986, o Palmeiras de agora está embalado, tem um grande técnico, e dificilmente vai perder a chance de ganhar esse título”, comentou.

De olho nos jogos finais do Paulista, o ex-ponta-esquerda espera uma grande partida e diz que não vai tomar partido para nenhum dos dois times. “Vou torcer para um grande jogo de futebol. Quero parabenizar o Água Santa pela belíssima campanha que realizou e tenho certeza de que a decisão vai ser muito disputada.”

O ano foi 1986. O palco: o Morumbi. Nas arquibancadas, um público que praticamente lotou o estádio do São Paulo nos dois jogos viu o franco favorito Palmeiras enfrentar a voluntariosa equipe da Inter de Limeira na decisão do Estadual. À frente de um time “cascudo” e vibrante, o então cinquentão treinador Pepe conseguiu o improvável. Com um empate sem gols na primeira disputa, e uma vitória contundente de 2 a 1 no encontro derradeiro, ele alçou o elenco do interior à condição de campeão paulista. “Foi o título mais importante da minha carreira como técnico, sem dúvida. Por causa desse campeonato, meu nome chegou a ser cotado para a seleção brasileira”, disse Pepe em entrevista ao Estadão.

Aos 88 anos e com a memória em dia, o ex-ponta-esquerda, que atuou ao lado de Pelé, no Santos, demonstrou entusiasmo ao lembrar daquela campanha. Desafiado pela reportagem a escalar o time campeão paulista, a resposta veio de imediato: “Silas; João Luís, Juarez, Bolívar e Pecos; Manguinha, Gilberto Costa e João Batista; Tato, Kita e Lê ou Gilson Gênio pela ponta-esquerda. Foi um time que entrou para a história da Internacional de Limeira e do Pepe”, disse.

Para entender a dimensão do feito, é necessário recuar no tempo. Nos anos 80, os campeonatos estaduais tinham um peso bem maior do que atualmente. Para se ter uma ideia, o Paulistão teve mais de seis meses de duração (do final de fevereiro ao início de setembro) e além do título, a Inter ainda encerrou aquela edição com o artilheiro do torneio (Kita) e ainda com o ataque mais positivo: 59 gols.

Pepe, o Canhão da Vila, relembra título com a Internacional em 1986. Foto: Leonardo Benassatto/ Reuters

“A Inter era um time com cabeça, tronco e membros. Uma equipe com jogadores experientes e atletas mais novos que se encaixaram bem no esquema. Ali, ninguém tinha medo de pressão, vaia e nem se iludia com aplausos”, afirmou Pepe.

Na preleção, diante de um Morumbi abarrotado de palmeirenses, e de uma torcida muito barulhenta, o então comandante tratou de usar a sua larga experiência no futebol para tranquilizar seus comandados. Pepe ainda elencou um fator primordial que alavancou o grupo: a coragem.

“Na preleção, coloquei a nossa equipe em termos de igualdade com o Palmeiras. Eles tinham uma grande torcida e um bom time. Mas nós tínhamos a nossa maneira de atuar. Era entrar e jogar. Tinha um grupo corajoso nas mãos”, afirmou.

TÉCNICO AO ESTILO “SAL E PIMENTA”

Com um campeonato tão longo e sem a pretensão de entrar no torneio com expectativa de conquista, o comandante foi moldando um estilo de jogo eficiente no decorrer da competição. No trato com os atletas, o Canhão da Vila sabia usar o tom adequado, de acordo com a situação.

“Eu tinha um pouco de sal e um pouco de pimenta para lidar com os jogadores. Às vezes você tem de dar bronca, mas na maioria das vezes, ganhava a confiança dos jogadores na conversa, orientando taticamente. A Inter tinha um contra-ataque muito forte. Às vezes o adversário apertava a gente e, numa roubada de bola, com dois ou três toques, chegávamos ao ataque e fazíamos o gol”, comentou.

Palmeiras queria sair de uma incômoda fila de títulos, mas foi superado pela Inter de Limeira em uma final que ficou marcada como um vexame história da equipe alviverde. Foto: Domicio Pinheiro/ AE

Do pragmatismo que garantiu a vantagem de 2 a 0 no início do segundo tempo, ao drama nos minutos finais com o gol do palmeirense Amarildo, Pepe se recorda do ambiente tenso que marcou os minutos finais daquela decisão.

“Quando eles fizeram 2 a 1, tivemos de suportar a pressão. O Palmeiras estava na fila havia nove anos. Mas nós tínhamos um lado mental muito forte. Nos 15 minutos finais, só faltou entrar o presidente em campo, mas a nossa experiência acabou prevalecendo e conseguimos o feito. Olha, eu trabalhei no Brasil em grandes equipes e também no exterior, mas esse título foi marcante demais.”

Volta olímpica para Zezinho

Na volta olímpica, veio também o momento de tentar amenizar uma tragédia que marcou o início do trabalho tanto dos jogadores quanto da comissão técnica da Inter de Limeira. Durante um treinamento, o zagueiro Zezinho Figueroa, de então 33 anos, teve um mal-súbito e caiu no gramado. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu ao aneurisma cerebral e morreu.

“Foi um abalo gigantesco. Era um defensor de muita qualidade e praticamente imbatível no jogo aéreo. Tinha muita experiência. Infelizmente, acabamos trabalhando pouco tempo juntos. Era um atleta experiente e que ia nos ajudar muito. Fizemos um pacto para fazer um belo Campeonato Paulista em sua homenagem. No momento de comemorar o título, nada mais justo do que oferecer a conquista do Campeonato Paulista a ele”, afirmou Pepe.

Diante de um rival que vinha com um peso de quase uma década sem conseguir ser campeão paulista, a experiência dentro de campo dos mais velhos foi fundamental. Dois atletas, em especial, serviram para conduzir a campanha: o zagueiro Bolívar e o volante Manguinha. “Na defesa, o atacante pensava duas vezes antes de entrar na área por causa do Bolívar. Era leal, mas jogava muito forte e não perdia a viagem. No meio, o Manguinha controlava o ritmo e era o termômetro do time.”

Mas é de Gilberto Costa, outro de seus atletas com alta rodagem, que Pepe tem a melhor história daquela final. “Ele ficava perto do Dulcídio (Wanderley Boschilia, juiz da partida) nos minutos finais e falava para acabar logo porque ele também entraria para história por ser o primeiro juiz a apitar um jogo de título de uma equipe do interior. Quando me contou no vestiário, não aguentei.”

Mesmo jogando as duas partidas longe de casa, a Inter superou a pressão da torcida palmeirense e foi campeã. Foto: Domicio Pinheiro/ AE

O ano de 86 reservou a Pepe ainda mais uma conquista importante no cenário brasileiro. Com o São Paulo, ele venceu o Campeonato Nacional fazendo a final diante do Guarani em decisão realizada em Campinas.

“As temporadas de 86 e 87 foram importantes porque me firmaram como treinador. Deixei de ser aquele ex-jogador que chutava forte, e que jogou com o Pelé, para ser valorizado como grande técnico e que sabia ser bom taticamente. Depois disso vieram convites para trabalhar no exterior e fui para a Arábia, Japão e Portugal.”

FAVORITISMO FICA COM PALMEIRAS

Na esfera esportiva, ainda mais quando se trata de uma decisão entre adversários de patamares diferentes, é comum relacionar o time mais poderoso ao gigante Golias, enquanto o azarão assume o papel de Davi. A edição do Estadual deste ano chega a seu final dentro desses moldes e apresenta o milionário time do técnico português Abel Ferreira como favorito contra um modesto Água Santa, de Diadema.

Apesar de ter ajudado a protagonizar uma das maiores surpresas em finais de Campeonato Paulista com a Inter, Pepe aponta o Palmeiras como franco favorito. “O Palmeiras tem um grande time, a torcida deve tomar o estádio inteiro. Diferentemente de 1986, o Palmeiras de agora está embalado, tem um grande técnico, e dificilmente vai perder a chance de ganhar esse título”, comentou.

De olho nos jogos finais do Paulista, o ex-ponta-esquerda espera uma grande partida e diz que não vai tomar partido para nenhum dos dois times. “Vou torcer para um grande jogo de futebol. Quero parabenizar o Água Santa pela belíssima campanha que realizou e tenho certeza de que a decisão vai ser muito disputada.”

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