Pelé 80 anos: quando o Rei do Futebol bateu de frente com o regime militar e enfrentou racismo


Ao anunciar a aposentadoria da seleção brasileira, ele precisou enfrentar políticos e dirigentes esportivos como João Havelange para manter decisão

Por João Prata

Quando deixou a seleção brasileira, em 1971, Pelé precisou mostrar uma nova face. Para cumprir sua decisão, ele bateu de frente com diversos políticos do regime militar do País, enfrentou ainda poderosos dirigentes esportivos como João Havelange e ainda teve de lidar com racismo de parte da opinião pública. A aposentadoria da seleção aconteceu após a conquista do tricampeonato mundial em 1970, no México. Pelé tinha 30 anos na época e vivia seu melhor momento da carreira. Sua intenção era continuar jogando pelo Santos, com quem tinha contrato até 1974, mas também queria se arriscar como empresário, ganhar dinheiro com a imagem de melhor jogador do mundo.

Pelé em sua despedida pela seleção brasileira no Morumbi., em 1971. Foto: Domicio Pinheiro/ Estadão

"Era um capital simbólico que ele tinha como campeão. Mas a pressão foi muito forte. Imagina o maior jogador de futebol se despedir da seleção brasileira no auge sem qualquer homenagem do governo? Foi isso que aconteceu", relembra o historiador José Paulo Florenzano, que publicou pesquisa sobre o assunto analisando os jornais da época.

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Era um período em que o regime militar tentava atrelar as grandes apresentações da seleção, especialmente na Copa de 1970, à imagem do governo: "vamos todos juntos, pra frente Brasil, salve a seleção". Mas para Pelé, o assunto estava encerrado e ninguém o faria voltar atrás.

A abertura de um texto do Estadão de 7 de julho de 1971 deixa claro o que estava acontecendo. "Pelé ficou surpreso e ameaçou um sorriso quando soube que alguns setores do governo consideraram a sua saída da seleção um ato de indisciplina esportiva. No início, Pelé simplesmente não acreditou que fosse possível. Ele havia acabado de chegar a Bragança para continuar filmando 'A Marcha'."

Carta de Pelé ao Estadão, publicada na edição de 8 de fevereiro de 1974. Foto: Acervo/ Estadão
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Pelé tinha outras prioridades, como a matéria mostra. O governo não aceitava sua saída e, por isso, não quis prestar qualquer homenagem ao jogador nas partidas de despedida. O ministro Jarbas Passarinho disse ao Estadão em 8 de julho de 1971 que "só a sua despedida definitiva é que governo e o povo lhe prestarão a consagração que o encerramento de sua atividade justificará."

João Havelange, então presidente da CBD (a antiga CBF), tentava ganhar prestígio no mundo esportivo em busca do cargo de presidente da Fifa. Para tentar manter Pelé na seleção, ele invocou um decreto-lei de número 5.199 que lhe outorgava o direito de "requisitar qualquer jogador" sujeito a "ser suspenso e sofrer outras punições legais, dentro da legislação" em caso de recusa. "O Pelé peitou o Havelange nessa ocasião e em outras. Ele chegou às últimas consequências dizendo que se fosse pressionado, encerrava a carreira no futebol. O Estadão foi o principal jornal que saiu em defesa da decisão de Pelé", lembrou Florenzano.

Pelé em 100 fotos do Estadão

1 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
2 | 100

Pelé

Foto: Domicio Pinheiro/ Estadão
3 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
4 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
5 | 100

Brasil conquistou a Copa do Mundo de 1958 e 1962 com Pelé e Garrincha

Foto: Acervo/Estadão
6 | 100

Pelé e Garrincha

Foto: Carlos Chicarino/Estadão
7 | 100

Pelé e Kelly Cristina

Foto: Acervo/Estadão
8 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
9 | 100

Pelé na final da Copa do Mundo de 1970

Foto: Oswaldo Palermo/AE
10 | 100

Pelé

Foto: Acervo/AE
11 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Claudine Petroli/Estadão
12 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Equipe/Estadão
13 | 100

Pelé

Foto: Acervo/AE
14 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Acervo/Estadão
15 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
16 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
17 | 100

Pelé

Foto: Acervo Estadão
18 | 100

Copa do Chile (1962)

Foto: Acervo/Estadão
19 | 100

Pelé

Foto: Oswaldo Jurno/ Estadão
20 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
21 | 100

Jairzinho e Pelé

Foto: Acervo/Estadão
22 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
23 | 100

Casamento do Pelé

Foto: Acervo/Estadão
24 | 100

Pelé no Chile

Foto: Reginaldo Manente/ Estadão
25 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
26 | 100

Pelé (1975)

Foto: Wellington Budim dos Reis
27 | 100

Pelé e Garrincha

Foto: Acervo/Estadão
28 | 100

Pelé e Coutinho

Foto: Acervo/Estadão
29 | 100

Pelé e Tostão

Foto: Domício PInheiro/Estadão
30 | 100

Pelé

Foto: Acervo/ Estadão
31 | 100

Pelé

Foto: Acervo
32 | 100

Pelé e Xuxa

Foto: Rodney Mello/ Estadão
33 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
34 | 100

Pelé goleiro

Foto: Acervo/Estadão
35 | 100

Seleção (1960)

Foto: Acervo/Estadão
36 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
37 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
38 | 100

Pelé e Bellini

Foto: Acervo/Estadão
39 | 100

Pelé faz alongamento

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
40 | 100

Soco no ar

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
41 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
42 | 100

Pelé em campo

Foto: Acervo/Estadão
43 | 100

Pelé se despede da Seleção

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
44 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
45 | 100

Pelé no refeitório

Foto: Domício Pinheiro
46 | 100

O Reio do Futebol e a Rainha da Inglaterra

Foto: Acervo/Estadão
47 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
48 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
49 | 100

Pelé e Gérson

Foto: Acervo/Estadão
50 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
51 | 100

Pelé universitário

Foto: Acervo/Estadão
52 | 100

Pelé no treino

Foto: Alberto Marques/Estadão
53 | 100

Jogadores leem o Estadão

Foto: Acervo/Estadão
54 | 100

Cartas para Pelé

Foto: Acervo/Estadão
55 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
56 | 100

Pelé e seus fãs

Foto: Acervo/Estadão
57 | 100

Pelé de terno e gravata

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
58 | 100

Pelé distribue autógrafos

Foto: Acervo/Estadão
59 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
60 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
61 | 100

Pelé é examinado

Foto: Acervo/Estadão
62 | 100

Pelé no Chile

Foto: Acervo/Estadão
63 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
64 | 100

Pelé relaxa

Foto: Acervo/Estadão
65 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
66 | 100

Pelé discute em campo

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
67 | 100

Pelé

Foto: Claudine Petroli/Estadão
68 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
69 | 100

Pelé e Tostão

Foto: Acervo/Estadão
70 | 100

Bicicleta de Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
71 | 100

Pelé e Aymoré

Foto: Acervo/Estadão
72 | 100

Pelé recebe o carinho dos fãs

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
73 | 100

Pelé na rádio Eldorado

Foto: Acervo/Estadão
74 | 100

Pelé à mesa

Foto: Acervo/Estadão
75 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
76 | 100

Pelé e seu Aero Willys

Foto: Vizonni/Estadão
77 | 100

Pelá no ataque

Foto: Acervo/Estadão
78 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
79 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
80 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
81 | 100

Pelé (1969)

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
82 | 100

Pelé e Eder Jofre

Foto: Acervo/Estadão
83 | 100

Pelé (1974)

Foto: Acervo/Estadão
84 | 100

Pelé (1974)

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Pelé (1969)

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
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Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
90 | 100

Pelé (1960)

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
91 | 100

Pelé (1959)

Foto: Acervo/Estadão
92 | 100

Didi e Pelé

Foto: Antônio Lúcio/Estadão
93 | 100

Pelé e Antônio Ermírio de Moraes

Foto: Joveci de Freitas/Estadão
94 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
95 | 100

Pelé e Mazzola

Foto: Acervo/Estadão
96 | 100

Pelé ministro do Esporte

Foto: José Paulo Lacerda/ Estadão
97 | 100

Pelé

Foto: Sérgio Dutti/ Estadão
98 | 100

Pelé

Foto: Rafael Neddemermey/ Estadão
99 | 100

Pelé e o milésimo gol no jornal

Foto: Eduardo Nicolau/Estadão
100 | 100

Pelé (2019)

Foto: Wether Sanatana/ Estadão
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No dia 10 de julho, véspera do primeiro jogo de despedida, o jornal publicou um editorial com o título: 'Episódio esportivo passa a ser político'. O primeiro parágrafo: "O inábil e irritado recuo do governo, cancelando as homenagens oficiais na despedida de Pelé da Seleção Brasileira imprimiu um colorido político a um episódio que deveria esgotar-se no plano esportivo, e criou para o esquema publicitário governamental uma situação que não pode deixar de ser reconhecida como altamente desconfortável."

Pelé durante partida contra a Áustria, no Morumbi, em 1971. Foto: Arquivo/ AE

Foram dois jogos de despedida. O primeiro em 11 de julho de 1971, no Morumbi, contra a Áustria. Havia mais de 110 mil torcedores gritando "fica". Pelé marcou o gol do Brasil no empate por 1 a 1, seu último gol pela seleção. Sete dias depois houve o duelo com a Iugoslávia no Maracanã, com 140 mil torcedores clamando "fica", que terminou em empate por 2 a 2.

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A pressão não parou por aí. Em janeiro de 1972, o Estadão destacou: "Pelé não aceitou, ontem à tarde em Brasília, o último e mais importante apelo de quantos lhe foram feitos para voltar à seleção brasileira e participar da Mini-Copa: do presidente Garrastazu Médici, que o apresentou 'na condição de representante da torcida brasileira', durante audiência concedida no Palácio do Planalto ao jogador e à diretoria do Santos Futebol Clube."

O 'não' foi um golpe também em Havelange, que tentava organizar um torneio com as principais seleções do mundo em 1972. Era parte de sua campanha para assumir a presidência da Fifa, que viria a ser bem sucedida. Mas o torneio não foi. Além de Pelé, Alemanha, Itália e Inglaterra também não quiseram participar.

A pressão em cima do Rei do Futebol continuava sem dar trégua. Parte da opinião pública tomou as dores do governo militar e passou a tentar apresentar Pelé como uma pessoa gananciosa, que havia deixado a seleção para ganhar dinheiro. Pelé, obviamente, era bastante requisitado para comerciais e filmes. O jornal Cidade de Santos publicou uma série de charges contra Pelé, assinadas por J.C. Lôbo, algumas preconceituosas, apresentando o Rei do Futebol como vendedor de refrigerante no estádio, por exemplo. "Foram muitas charges e comentários racistas. O Pelé querer contribuir para a sociedade como empresário, no fundo, a interpretação é essa: o lugar do Pelé é no campo jogando bola, uma maneira de designar o lugar do negro na sociedade", opinou Florenzano. 

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Em fevereiro de 1974, a Copa do Mundo se aproximando, Pelé enviou carta ao então editor de Esportes do Estadão, Luís Carlos Ramos, para reafirmar que não voltaria a vestir a camisa do Brasil. "Finalmente alguém conseguiu sintetizar em um só artigo toda a minha consciente decisão de não mais jogar pela seleção brasileira e os problemas que com ela estão criando, tentando, através de motivações absurdas, jogar a opinião pública contra a minha pessoa", escreveu Pelé.

Dois dias depois, Florenzano recorda que Pelé recebeu uma carta de João Havelange pedindo mais uma vez que repensasse. "Minha esperança cresce ao recordar suas provas de amor, como cidadão e tricampeão mundial de futebol, aos anseios em que palpita a presença do Brasil", escreveu o mandatário. Pelé rebateu com agradecimentos: "É chegado o momento de mostrar aos brasileiros que posso ser útil ao País em outros campos de atividades, com a mesma dedicação, honestidade e motivação com que sempre defendi a nossa Seleção. Contando com a compreensão de V.Sas., cordialmente." 

Os militares ainda não se deram por satisfeito. Em abril, Pelé foi recebido por dois ministros em Brasília e precisou manter mais uma vez a decisão. O Estadão conta que na ocasião o Rei do Futebol chegou a comentar com amigos que cogitava antecipar sua aposentadoria em abril e não em outubro, como previa. Quando notaram que não teria como fazê-lo participar da Copa da Alemanha, em 1974, Pelé se tornou para muitos um inimigo do Brasil. Durante os jogos do Mundial, motivados também pelas fracas atuações da equipe nacional, familiares de Pelé em Santos chegaram a ser ameaçados

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Pouco depois da viagem de Pelé para Europa, onde estava assistindo a Copa do Mundo, uma nova ameaça contra o jogador começou a surgir nos comentários que se ouviam pelas ruas de Santos: caso o Brasil perdesse os primeiros jogos e saísse do campeonato, a sua casa no canal 6, bairro da Ponta da Praia, seria apedrejada. Pelé não se rendeu.

Quando deixou a seleção brasileira, em 1971, Pelé precisou mostrar uma nova face. Para cumprir sua decisão, ele bateu de frente com diversos políticos do regime militar do País, enfrentou ainda poderosos dirigentes esportivos como João Havelange e ainda teve de lidar com racismo de parte da opinião pública. A aposentadoria da seleção aconteceu após a conquista do tricampeonato mundial em 1970, no México. Pelé tinha 30 anos na época e vivia seu melhor momento da carreira. Sua intenção era continuar jogando pelo Santos, com quem tinha contrato até 1974, mas também queria se arriscar como empresário, ganhar dinheiro com a imagem de melhor jogador do mundo.

Pelé em sua despedida pela seleção brasileira no Morumbi., em 1971. Foto: Domicio Pinheiro/ Estadão

"Era um capital simbólico que ele tinha como campeão. Mas a pressão foi muito forte. Imagina o maior jogador de futebol se despedir da seleção brasileira no auge sem qualquer homenagem do governo? Foi isso que aconteceu", relembra o historiador José Paulo Florenzano, que publicou pesquisa sobre o assunto analisando os jornais da época.

Era um período em que o regime militar tentava atrelar as grandes apresentações da seleção, especialmente na Copa de 1970, à imagem do governo: "vamos todos juntos, pra frente Brasil, salve a seleção". Mas para Pelé, o assunto estava encerrado e ninguém o faria voltar atrás.

A abertura de um texto do Estadão de 7 de julho de 1971 deixa claro o que estava acontecendo. "Pelé ficou surpreso e ameaçou um sorriso quando soube que alguns setores do governo consideraram a sua saída da seleção um ato de indisciplina esportiva. No início, Pelé simplesmente não acreditou que fosse possível. Ele havia acabado de chegar a Bragança para continuar filmando 'A Marcha'."

Carta de Pelé ao Estadão, publicada na edição de 8 de fevereiro de 1974. Foto: Acervo/ Estadão

Pelé tinha outras prioridades, como a matéria mostra. O governo não aceitava sua saída e, por isso, não quis prestar qualquer homenagem ao jogador nas partidas de despedida. O ministro Jarbas Passarinho disse ao Estadão em 8 de julho de 1971 que "só a sua despedida definitiva é que governo e o povo lhe prestarão a consagração que o encerramento de sua atividade justificará."

João Havelange, então presidente da CBD (a antiga CBF), tentava ganhar prestígio no mundo esportivo em busca do cargo de presidente da Fifa. Para tentar manter Pelé na seleção, ele invocou um decreto-lei de número 5.199 que lhe outorgava o direito de "requisitar qualquer jogador" sujeito a "ser suspenso e sofrer outras punições legais, dentro da legislação" em caso de recusa. "O Pelé peitou o Havelange nessa ocasião e em outras. Ele chegou às últimas consequências dizendo que se fosse pressionado, encerrava a carreira no futebol. O Estadão foi o principal jornal que saiu em defesa da decisão de Pelé", lembrou Florenzano.

Pelé em 100 fotos do Estadão

1 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
2 | 100

Pelé

Foto: Domicio Pinheiro/ Estadão
3 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
4 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
5 | 100

Brasil conquistou a Copa do Mundo de 1958 e 1962 com Pelé e Garrincha

Foto: Acervo/Estadão
6 | 100

Pelé e Garrincha

Foto: Carlos Chicarino/Estadão
7 | 100

Pelé e Kelly Cristina

Foto: Acervo/Estadão
8 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
9 | 100

Pelé na final da Copa do Mundo de 1970

Foto: Oswaldo Palermo/AE
10 | 100

Pelé

Foto: Acervo/AE
11 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Claudine Petroli/Estadão
12 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Equipe/Estadão
13 | 100

Pelé

Foto: Acervo/AE
14 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Acervo/Estadão
15 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
16 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
17 | 100

Pelé

Foto: Acervo Estadão
18 | 100

Copa do Chile (1962)

Foto: Acervo/Estadão
19 | 100

Pelé

Foto: Oswaldo Jurno/ Estadão
20 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
21 | 100

Jairzinho e Pelé

Foto: Acervo/Estadão
22 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
23 | 100

Casamento do Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé no Chile

Foto: Reginaldo Manente/ Estadão
25 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
26 | 100

Pelé (1975)

Foto: Wellington Budim dos Reis
27 | 100

Pelé e Garrincha

Foto: Acervo/Estadão
28 | 100

Pelé e Coutinho

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé e Tostão

Foto: Domício PInheiro/Estadão
30 | 100

Pelé

Foto: Acervo/ Estadão
31 | 100

Pelé

Foto: Acervo
32 | 100

Pelé e Xuxa

Foto: Rodney Mello/ Estadão
33 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé goleiro

Foto: Acervo/Estadão
35 | 100

Seleção (1960)

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
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Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Pelé e Bellini

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé faz alongamento

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
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Soco no ar

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
41 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
42 | 100

Pelé em campo

Foto: Acervo/Estadão
43 | 100

Pelé se despede da Seleção

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Pelé

Foto: Acervo/Estadão
45 | 100

Pelé no refeitório

Foto: Domício Pinheiro
46 | 100

O Reio do Futebol e a Rainha da Inglaterra

Foto: Acervo/Estadão
47 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
48 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
49 | 100

Pelé e Gérson

Foto: Acervo/Estadão
50 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
51 | 100

Pelé universitário

Foto: Acervo/Estadão
52 | 100

Pelé no treino

Foto: Alberto Marques/Estadão
53 | 100

Jogadores leem o Estadão

Foto: Acervo/Estadão
54 | 100

Cartas para Pelé

Foto: Acervo/Estadão
55 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
56 | 100

Pelé e seus fãs

Foto: Acervo/Estadão
57 | 100

Pelé de terno e gravata

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
58 | 100

Pelé distribue autógrafos

Foto: Acervo/Estadão
59 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
60 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
61 | 100

Pelé é examinado

Foto: Acervo/Estadão
62 | 100

Pelé no Chile

Foto: Acervo/Estadão
63 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé relaxa

Foto: Acervo/Estadão
65 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
66 | 100

Pelé discute em campo

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
67 | 100

Pelé

Foto: Claudine Petroli/Estadão
68 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
69 | 100

Pelé e Tostão

Foto: Acervo/Estadão
70 | 100

Bicicleta de Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
71 | 100

Pelé e Aymoré

Foto: Acervo/Estadão
72 | 100

Pelé recebe o carinho dos fãs

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
73 | 100

Pelé na rádio Eldorado

Foto: Acervo/Estadão
74 | 100

Pelé à mesa

Foto: Acervo/Estadão
75 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
76 | 100

Pelé e seu Aero Willys

Foto: Vizonni/Estadão
77 | 100

Pelá no ataque

Foto: Acervo/Estadão
78 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
79 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
80 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
81 | 100

Pelé (1969)

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
82 | 100

Pelé e Eder Jofre

Foto: Acervo/Estadão
83 | 100

Pelé (1974)

Foto: Acervo/Estadão
84 | 100

Pelé (1974)

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
85 | 100

Pelé (1969)

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
86 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
87 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
88 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
89 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
90 | 100

Pelé (1960)

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
91 | 100

Pelé (1959)

Foto: Acervo/Estadão
92 | 100

Didi e Pelé

Foto: Antônio Lúcio/Estadão
93 | 100

Pelé e Antônio Ermírio de Moraes

Foto: Joveci de Freitas/Estadão
94 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
95 | 100

Pelé e Mazzola

Foto: Acervo/Estadão
96 | 100

Pelé ministro do Esporte

Foto: José Paulo Lacerda/ Estadão
97 | 100

Pelé

Foto: Sérgio Dutti/ Estadão
98 | 100

Pelé

Foto: Rafael Neddemermey/ Estadão
99 | 100

Pelé e o milésimo gol no jornal

Foto: Eduardo Nicolau/Estadão
100 | 100

Pelé (2019)

Foto: Wether Sanatana/ Estadão

No dia 10 de julho, véspera do primeiro jogo de despedida, o jornal publicou um editorial com o título: 'Episódio esportivo passa a ser político'. O primeiro parágrafo: "O inábil e irritado recuo do governo, cancelando as homenagens oficiais na despedida de Pelé da Seleção Brasileira imprimiu um colorido político a um episódio que deveria esgotar-se no plano esportivo, e criou para o esquema publicitário governamental uma situação que não pode deixar de ser reconhecida como altamente desconfortável."

Pelé durante partida contra a Áustria, no Morumbi, em 1971. Foto: Arquivo/ AE

Foram dois jogos de despedida. O primeiro em 11 de julho de 1971, no Morumbi, contra a Áustria. Havia mais de 110 mil torcedores gritando "fica". Pelé marcou o gol do Brasil no empate por 1 a 1, seu último gol pela seleção. Sete dias depois houve o duelo com a Iugoslávia no Maracanã, com 140 mil torcedores clamando "fica", que terminou em empate por 2 a 2.

A pressão não parou por aí. Em janeiro de 1972, o Estadão destacou: "Pelé não aceitou, ontem à tarde em Brasília, o último e mais importante apelo de quantos lhe foram feitos para voltar à seleção brasileira e participar da Mini-Copa: do presidente Garrastazu Médici, que o apresentou 'na condição de representante da torcida brasileira', durante audiência concedida no Palácio do Planalto ao jogador e à diretoria do Santos Futebol Clube."

O 'não' foi um golpe também em Havelange, que tentava organizar um torneio com as principais seleções do mundo em 1972. Era parte de sua campanha para assumir a presidência da Fifa, que viria a ser bem sucedida. Mas o torneio não foi. Além de Pelé, Alemanha, Itália e Inglaterra também não quiseram participar.

A pressão em cima do Rei do Futebol continuava sem dar trégua. Parte da opinião pública tomou as dores do governo militar e passou a tentar apresentar Pelé como uma pessoa gananciosa, que havia deixado a seleção para ganhar dinheiro. Pelé, obviamente, era bastante requisitado para comerciais e filmes. O jornal Cidade de Santos publicou uma série de charges contra Pelé, assinadas por J.C. Lôbo, algumas preconceituosas, apresentando o Rei do Futebol como vendedor de refrigerante no estádio, por exemplo. "Foram muitas charges e comentários racistas. O Pelé querer contribuir para a sociedade como empresário, no fundo, a interpretação é essa: o lugar do Pelé é no campo jogando bola, uma maneira de designar o lugar do negro na sociedade", opinou Florenzano. 

Em fevereiro de 1974, a Copa do Mundo se aproximando, Pelé enviou carta ao então editor de Esportes do Estadão, Luís Carlos Ramos, para reafirmar que não voltaria a vestir a camisa do Brasil. "Finalmente alguém conseguiu sintetizar em um só artigo toda a minha consciente decisão de não mais jogar pela seleção brasileira e os problemas que com ela estão criando, tentando, através de motivações absurdas, jogar a opinião pública contra a minha pessoa", escreveu Pelé.

Dois dias depois, Florenzano recorda que Pelé recebeu uma carta de João Havelange pedindo mais uma vez que repensasse. "Minha esperança cresce ao recordar suas provas de amor, como cidadão e tricampeão mundial de futebol, aos anseios em que palpita a presença do Brasil", escreveu o mandatário. Pelé rebateu com agradecimentos: "É chegado o momento de mostrar aos brasileiros que posso ser útil ao País em outros campos de atividades, com a mesma dedicação, honestidade e motivação com que sempre defendi a nossa Seleção. Contando com a compreensão de V.Sas., cordialmente." 

Os militares ainda não se deram por satisfeito. Em abril, Pelé foi recebido por dois ministros em Brasília e precisou manter mais uma vez a decisão. O Estadão conta que na ocasião o Rei do Futebol chegou a comentar com amigos que cogitava antecipar sua aposentadoria em abril e não em outubro, como previa. Quando notaram que não teria como fazê-lo participar da Copa da Alemanha, em 1974, Pelé se tornou para muitos um inimigo do Brasil. Durante os jogos do Mundial, motivados também pelas fracas atuações da equipe nacional, familiares de Pelé em Santos chegaram a ser ameaçados

Pouco depois da viagem de Pelé para Europa, onde estava assistindo a Copa do Mundo, uma nova ameaça contra o jogador começou a surgir nos comentários que se ouviam pelas ruas de Santos: caso o Brasil perdesse os primeiros jogos e saísse do campeonato, a sua casa no canal 6, bairro da Ponta da Praia, seria apedrejada. Pelé não se rendeu.

Quando deixou a seleção brasileira, em 1971, Pelé precisou mostrar uma nova face. Para cumprir sua decisão, ele bateu de frente com diversos políticos do regime militar do País, enfrentou ainda poderosos dirigentes esportivos como João Havelange e ainda teve de lidar com racismo de parte da opinião pública. A aposentadoria da seleção aconteceu após a conquista do tricampeonato mundial em 1970, no México. Pelé tinha 30 anos na época e vivia seu melhor momento da carreira. Sua intenção era continuar jogando pelo Santos, com quem tinha contrato até 1974, mas também queria se arriscar como empresário, ganhar dinheiro com a imagem de melhor jogador do mundo.

Pelé em sua despedida pela seleção brasileira no Morumbi., em 1971. Foto: Domicio Pinheiro/ Estadão

"Era um capital simbólico que ele tinha como campeão. Mas a pressão foi muito forte. Imagina o maior jogador de futebol se despedir da seleção brasileira no auge sem qualquer homenagem do governo? Foi isso que aconteceu", relembra o historiador José Paulo Florenzano, que publicou pesquisa sobre o assunto analisando os jornais da época.

Era um período em que o regime militar tentava atrelar as grandes apresentações da seleção, especialmente na Copa de 1970, à imagem do governo: "vamos todos juntos, pra frente Brasil, salve a seleção". Mas para Pelé, o assunto estava encerrado e ninguém o faria voltar atrás.

A abertura de um texto do Estadão de 7 de julho de 1971 deixa claro o que estava acontecendo. "Pelé ficou surpreso e ameaçou um sorriso quando soube que alguns setores do governo consideraram a sua saída da seleção um ato de indisciplina esportiva. No início, Pelé simplesmente não acreditou que fosse possível. Ele havia acabado de chegar a Bragança para continuar filmando 'A Marcha'."

Carta de Pelé ao Estadão, publicada na edição de 8 de fevereiro de 1974. Foto: Acervo/ Estadão

Pelé tinha outras prioridades, como a matéria mostra. O governo não aceitava sua saída e, por isso, não quis prestar qualquer homenagem ao jogador nas partidas de despedida. O ministro Jarbas Passarinho disse ao Estadão em 8 de julho de 1971 que "só a sua despedida definitiva é que governo e o povo lhe prestarão a consagração que o encerramento de sua atividade justificará."

João Havelange, então presidente da CBD (a antiga CBF), tentava ganhar prestígio no mundo esportivo em busca do cargo de presidente da Fifa. Para tentar manter Pelé na seleção, ele invocou um decreto-lei de número 5.199 que lhe outorgava o direito de "requisitar qualquer jogador" sujeito a "ser suspenso e sofrer outras punições legais, dentro da legislação" em caso de recusa. "O Pelé peitou o Havelange nessa ocasião e em outras. Ele chegou às últimas consequências dizendo que se fosse pressionado, encerrava a carreira no futebol. O Estadão foi o principal jornal que saiu em defesa da decisão de Pelé", lembrou Florenzano.

Pelé em 100 fotos do Estadão

1 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
2 | 100

Pelé

Foto: Domicio Pinheiro/ Estadão
3 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
4 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
5 | 100

Brasil conquistou a Copa do Mundo de 1958 e 1962 com Pelé e Garrincha

Foto: Acervo/Estadão
6 | 100

Pelé e Garrincha

Foto: Carlos Chicarino/Estadão
7 | 100

Pelé e Kelly Cristina

Foto: Acervo/Estadão
8 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
9 | 100

Pelé na final da Copa do Mundo de 1970

Foto: Oswaldo Palermo/AE
10 | 100

Pelé

Foto: Acervo/AE
11 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Claudine Petroli/Estadão
12 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Equipe/Estadão
13 | 100

Pelé

Foto: Acervo/AE
14 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Acervo/Estadão
15 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
16 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
17 | 100

Pelé

Foto: Acervo Estadão
18 | 100

Copa do Chile (1962)

Foto: Acervo/Estadão
19 | 100

Pelé

Foto: Oswaldo Jurno/ Estadão
20 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
21 | 100

Jairzinho e Pelé

Foto: Acervo/Estadão
22 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
23 | 100

Casamento do Pelé

Foto: Acervo/Estadão
24 | 100

Pelé no Chile

Foto: Reginaldo Manente/ Estadão
25 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
26 | 100

Pelé (1975)

Foto: Wellington Budim dos Reis
27 | 100

Pelé e Garrincha

Foto: Acervo/Estadão
28 | 100

Pelé e Coutinho

Foto: Acervo/Estadão
29 | 100

Pelé e Tostão

Foto: Domício PInheiro/Estadão
30 | 100

Pelé

Foto: Acervo/ Estadão
31 | 100

Pelé

Foto: Acervo
32 | 100

Pelé e Xuxa

Foto: Rodney Mello/ Estadão
33 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
34 | 100

Pelé goleiro

Foto: Acervo/Estadão
35 | 100

Seleção (1960)

Foto: Acervo/Estadão
36 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
37 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
38 | 100

Pelé e Bellini

Foto: Acervo/Estadão
39 | 100

Pelé faz alongamento

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
40 | 100

Soco no ar

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
41 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
42 | 100

Pelé em campo

Foto: Acervo/Estadão
43 | 100

Pelé se despede da Seleção

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
44 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
45 | 100

Pelé no refeitório

Foto: Domício Pinheiro
46 | 100

O Reio do Futebol e a Rainha da Inglaterra

Foto: Acervo/Estadão
47 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
48 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
49 | 100

Pelé e Gérson

Foto: Acervo/Estadão
50 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
51 | 100

Pelé universitário

Foto: Acervo/Estadão
52 | 100

Pelé no treino

Foto: Alberto Marques/Estadão
53 | 100

Jogadores leem o Estadão

Foto: Acervo/Estadão
54 | 100

Cartas para Pelé

Foto: Acervo/Estadão
55 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
56 | 100

Pelé e seus fãs

Foto: Acervo/Estadão
57 | 100

Pelé de terno e gravata

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
58 | 100

Pelé distribue autógrafos

Foto: Acervo/Estadão
59 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
60 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
61 | 100

Pelé é examinado

Foto: Acervo/Estadão
62 | 100

Pelé no Chile

Foto: Acervo/Estadão
63 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
64 | 100

Pelé relaxa

Foto: Acervo/Estadão
65 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
66 | 100

Pelé discute em campo

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
67 | 100

Pelé

Foto: Claudine Petroli/Estadão
68 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
69 | 100

Pelé e Tostão

Foto: Acervo/Estadão
70 | 100

Bicicleta de Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
71 | 100

Pelé e Aymoré

Foto: Acervo/Estadão
72 | 100

Pelé recebe o carinho dos fãs

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
73 | 100

Pelé na rádio Eldorado

Foto: Acervo/Estadão
74 | 100

Pelé à mesa

Foto: Acervo/Estadão
75 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
76 | 100

Pelé e seu Aero Willys

Foto: Vizonni/Estadão
77 | 100

Pelá no ataque

Foto: Acervo/Estadão
78 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
79 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
80 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
81 | 100

Pelé (1969)

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
82 | 100

Pelé e Eder Jofre

Foto: Acervo/Estadão
83 | 100

Pelé (1974)

Foto: Acervo/Estadão
84 | 100

Pelé (1974)

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
85 | 100

Pelé (1969)

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
86 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
87 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
88 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
89 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
90 | 100

Pelé (1960)

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
91 | 100

Pelé (1959)

Foto: Acervo/Estadão
92 | 100

Didi e Pelé

Foto: Antônio Lúcio/Estadão
93 | 100

Pelé e Antônio Ermírio de Moraes

Foto: Joveci de Freitas/Estadão
94 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
95 | 100

Pelé e Mazzola

Foto: Acervo/Estadão
96 | 100

Pelé ministro do Esporte

Foto: José Paulo Lacerda/ Estadão
97 | 100

Pelé

Foto: Sérgio Dutti/ Estadão
98 | 100

Pelé

Foto: Rafael Neddemermey/ Estadão
99 | 100

Pelé e o milésimo gol no jornal

Foto: Eduardo Nicolau/Estadão
100 | 100

Pelé (2019)

Foto: Wether Sanatana/ Estadão

No dia 10 de julho, véspera do primeiro jogo de despedida, o jornal publicou um editorial com o título: 'Episódio esportivo passa a ser político'. O primeiro parágrafo: "O inábil e irritado recuo do governo, cancelando as homenagens oficiais na despedida de Pelé da Seleção Brasileira imprimiu um colorido político a um episódio que deveria esgotar-se no plano esportivo, e criou para o esquema publicitário governamental uma situação que não pode deixar de ser reconhecida como altamente desconfortável."

Pelé durante partida contra a Áustria, no Morumbi, em 1971. Foto: Arquivo/ AE

Foram dois jogos de despedida. O primeiro em 11 de julho de 1971, no Morumbi, contra a Áustria. Havia mais de 110 mil torcedores gritando "fica". Pelé marcou o gol do Brasil no empate por 1 a 1, seu último gol pela seleção. Sete dias depois houve o duelo com a Iugoslávia no Maracanã, com 140 mil torcedores clamando "fica", que terminou em empate por 2 a 2.

A pressão não parou por aí. Em janeiro de 1972, o Estadão destacou: "Pelé não aceitou, ontem à tarde em Brasília, o último e mais importante apelo de quantos lhe foram feitos para voltar à seleção brasileira e participar da Mini-Copa: do presidente Garrastazu Médici, que o apresentou 'na condição de representante da torcida brasileira', durante audiência concedida no Palácio do Planalto ao jogador e à diretoria do Santos Futebol Clube."

O 'não' foi um golpe também em Havelange, que tentava organizar um torneio com as principais seleções do mundo em 1972. Era parte de sua campanha para assumir a presidência da Fifa, que viria a ser bem sucedida. Mas o torneio não foi. Além de Pelé, Alemanha, Itália e Inglaterra também não quiseram participar.

A pressão em cima do Rei do Futebol continuava sem dar trégua. Parte da opinião pública tomou as dores do governo militar e passou a tentar apresentar Pelé como uma pessoa gananciosa, que havia deixado a seleção para ganhar dinheiro. Pelé, obviamente, era bastante requisitado para comerciais e filmes. O jornal Cidade de Santos publicou uma série de charges contra Pelé, assinadas por J.C. Lôbo, algumas preconceituosas, apresentando o Rei do Futebol como vendedor de refrigerante no estádio, por exemplo. "Foram muitas charges e comentários racistas. O Pelé querer contribuir para a sociedade como empresário, no fundo, a interpretação é essa: o lugar do Pelé é no campo jogando bola, uma maneira de designar o lugar do negro na sociedade", opinou Florenzano. 

Em fevereiro de 1974, a Copa do Mundo se aproximando, Pelé enviou carta ao então editor de Esportes do Estadão, Luís Carlos Ramos, para reafirmar que não voltaria a vestir a camisa do Brasil. "Finalmente alguém conseguiu sintetizar em um só artigo toda a minha consciente decisão de não mais jogar pela seleção brasileira e os problemas que com ela estão criando, tentando, através de motivações absurdas, jogar a opinião pública contra a minha pessoa", escreveu Pelé.

Dois dias depois, Florenzano recorda que Pelé recebeu uma carta de João Havelange pedindo mais uma vez que repensasse. "Minha esperança cresce ao recordar suas provas de amor, como cidadão e tricampeão mundial de futebol, aos anseios em que palpita a presença do Brasil", escreveu o mandatário. Pelé rebateu com agradecimentos: "É chegado o momento de mostrar aos brasileiros que posso ser útil ao País em outros campos de atividades, com a mesma dedicação, honestidade e motivação com que sempre defendi a nossa Seleção. Contando com a compreensão de V.Sas., cordialmente." 

Os militares ainda não se deram por satisfeito. Em abril, Pelé foi recebido por dois ministros em Brasília e precisou manter mais uma vez a decisão. O Estadão conta que na ocasião o Rei do Futebol chegou a comentar com amigos que cogitava antecipar sua aposentadoria em abril e não em outubro, como previa. Quando notaram que não teria como fazê-lo participar da Copa da Alemanha, em 1974, Pelé se tornou para muitos um inimigo do Brasil. Durante os jogos do Mundial, motivados também pelas fracas atuações da equipe nacional, familiares de Pelé em Santos chegaram a ser ameaçados

Pouco depois da viagem de Pelé para Europa, onde estava assistindo a Copa do Mundo, uma nova ameaça contra o jogador começou a surgir nos comentários que se ouviam pelas ruas de Santos: caso o Brasil perdesse os primeiros jogos e saísse do campeonato, a sua casa no canal 6, bairro da Ponta da Praia, seria apedrejada. Pelé não se rendeu.

Quando deixou a seleção brasileira, em 1971, Pelé precisou mostrar uma nova face. Para cumprir sua decisão, ele bateu de frente com diversos políticos do regime militar do País, enfrentou ainda poderosos dirigentes esportivos como João Havelange e ainda teve de lidar com racismo de parte da opinião pública. A aposentadoria da seleção aconteceu após a conquista do tricampeonato mundial em 1970, no México. Pelé tinha 30 anos na época e vivia seu melhor momento da carreira. Sua intenção era continuar jogando pelo Santos, com quem tinha contrato até 1974, mas também queria se arriscar como empresário, ganhar dinheiro com a imagem de melhor jogador do mundo.

Pelé em sua despedida pela seleção brasileira no Morumbi., em 1971. Foto: Domicio Pinheiro/ Estadão

"Era um capital simbólico que ele tinha como campeão. Mas a pressão foi muito forte. Imagina o maior jogador de futebol se despedir da seleção brasileira no auge sem qualquer homenagem do governo? Foi isso que aconteceu", relembra o historiador José Paulo Florenzano, que publicou pesquisa sobre o assunto analisando os jornais da época.

Era um período em que o regime militar tentava atrelar as grandes apresentações da seleção, especialmente na Copa de 1970, à imagem do governo: "vamos todos juntos, pra frente Brasil, salve a seleção". Mas para Pelé, o assunto estava encerrado e ninguém o faria voltar atrás.

A abertura de um texto do Estadão de 7 de julho de 1971 deixa claro o que estava acontecendo. "Pelé ficou surpreso e ameaçou um sorriso quando soube que alguns setores do governo consideraram a sua saída da seleção um ato de indisciplina esportiva. No início, Pelé simplesmente não acreditou que fosse possível. Ele havia acabado de chegar a Bragança para continuar filmando 'A Marcha'."

Carta de Pelé ao Estadão, publicada na edição de 8 de fevereiro de 1974. Foto: Acervo/ Estadão

Pelé tinha outras prioridades, como a matéria mostra. O governo não aceitava sua saída e, por isso, não quis prestar qualquer homenagem ao jogador nas partidas de despedida. O ministro Jarbas Passarinho disse ao Estadão em 8 de julho de 1971 que "só a sua despedida definitiva é que governo e o povo lhe prestarão a consagração que o encerramento de sua atividade justificará."

João Havelange, então presidente da CBD (a antiga CBF), tentava ganhar prestígio no mundo esportivo em busca do cargo de presidente da Fifa. Para tentar manter Pelé na seleção, ele invocou um decreto-lei de número 5.199 que lhe outorgava o direito de "requisitar qualquer jogador" sujeito a "ser suspenso e sofrer outras punições legais, dentro da legislação" em caso de recusa. "O Pelé peitou o Havelange nessa ocasião e em outras. Ele chegou às últimas consequências dizendo que se fosse pressionado, encerrava a carreira no futebol. O Estadão foi o principal jornal que saiu em defesa da decisão de Pelé", lembrou Florenzano.

Pelé em 100 fotos do Estadão

1 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
2 | 100

Pelé

Foto: Domicio Pinheiro/ Estadão
3 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
4 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
5 | 100

Brasil conquistou a Copa do Mundo de 1958 e 1962 com Pelé e Garrincha

Foto: Acervo/Estadão
6 | 100

Pelé e Garrincha

Foto: Carlos Chicarino/Estadão
7 | 100

Pelé e Kelly Cristina

Foto: Acervo/Estadão
8 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
9 | 100

Pelé na final da Copa do Mundo de 1970

Foto: Oswaldo Palermo/AE
10 | 100

Pelé

Foto: Acervo/AE
11 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Claudine Petroli/Estadão
12 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Equipe/Estadão
13 | 100

Pelé

Foto: Acervo/AE
14 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Acervo/Estadão
15 | 100

Despedida de Pelé do Santos

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
16 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
17 | 100

Pelé

Foto: Acervo Estadão
18 | 100

Copa do Chile (1962)

Foto: Acervo/Estadão
19 | 100

Pelé

Foto: Oswaldo Jurno/ Estadão
20 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
21 | 100

Jairzinho e Pelé

Foto: Acervo/Estadão
22 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
23 | 100

Casamento do Pelé

Foto: Acervo/Estadão
24 | 100

Pelé no Chile

Foto: Reginaldo Manente/ Estadão
25 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
26 | 100

Pelé (1975)

Foto: Wellington Budim dos Reis
27 | 100

Pelé e Garrincha

Foto: Acervo/Estadão
28 | 100

Pelé e Coutinho

Foto: Acervo/Estadão
29 | 100

Pelé e Tostão

Foto: Domício PInheiro/Estadão
30 | 100

Pelé

Foto: Acervo/ Estadão
31 | 100

Pelé

Foto: Acervo
32 | 100

Pelé e Xuxa

Foto: Rodney Mello/ Estadão
33 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
34 | 100

Pelé goleiro

Foto: Acervo/Estadão
35 | 100

Seleção (1960)

Foto: Acervo/Estadão
36 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
37 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
38 | 100

Pelé e Bellini

Foto: Acervo/Estadão
39 | 100

Pelé faz alongamento

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
40 | 100

Soco no ar

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
41 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
42 | 100

Pelé em campo

Foto: Acervo/Estadão
43 | 100

Pelé se despede da Seleção

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
44 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
45 | 100

Pelé no refeitório

Foto: Domício Pinheiro
46 | 100

O Reio do Futebol e a Rainha da Inglaterra

Foto: Acervo/Estadão
47 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
48 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
49 | 100

Pelé e Gérson

Foto: Acervo/Estadão
50 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
51 | 100

Pelé universitário

Foto: Acervo/Estadão
52 | 100

Pelé no treino

Foto: Alberto Marques/Estadão
53 | 100

Jogadores leem o Estadão

Foto: Acervo/Estadão
54 | 100

Cartas para Pelé

Foto: Acervo/Estadão
55 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
56 | 100

Pelé e seus fãs

Foto: Acervo/Estadão
57 | 100

Pelé de terno e gravata

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
58 | 100

Pelé distribue autógrafos

Foto: Acervo/Estadão
59 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
60 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
61 | 100

Pelé é examinado

Foto: Acervo/Estadão
62 | 100

Pelé no Chile

Foto: Acervo/Estadão
63 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
64 | 100

Pelé relaxa

Foto: Acervo/Estadão
65 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
66 | 100

Pelé discute em campo

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
67 | 100

Pelé

Foto: Claudine Petroli/Estadão
68 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
69 | 100

Pelé e Tostão

Foto: Acervo/Estadão
70 | 100

Bicicleta de Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
71 | 100

Pelé e Aymoré

Foto: Acervo/Estadão
72 | 100

Pelé recebe o carinho dos fãs

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
73 | 100

Pelé na rádio Eldorado

Foto: Acervo/Estadão
74 | 100

Pelé à mesa

Foto: Acervo/Estadão
75 | 100

Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
76 | 100

Pelé e seu Aero Willys

Foto: Vizonni/Estadão
77 | 100

Pelá no ataque

Foto: Acervo/Estadão
78 | 100

Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Pelé

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Pelé (1969)

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
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Pelé e Eder Jofre

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé (1974)

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé (1974)

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Pelé (1969)

Foto: Reginaldo Manente/Estadão
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Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé

Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
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Pelé (1960)

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Pelé (1959)

Foto: Acervo/Estadão
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Didi e Pelé

Foto: Antônio Lúcio/Estadão
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Pelé e Antônio Ermírio de Moraes

Foto: Joveci de Freitas/Estadão
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Pelé

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé e Mazzola

Foto: Acervo/Estadão
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Pelé ministro do Esporte

Foto: José Paulo Lacerda/ Estadão
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Pelé

Foto: Sérgio Dutti/ Estadão
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Pelé

Foto: Rafael Neddemermey/ Estadão
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Pelé e o milésimo gol no jornal

Foto: Eduardo Nicolau/Estadão
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Pelé (2019)

Foto: Wether Sanatana/ Estadão

No dia 10 de julho, véspera do primeiro jogo de despedida, o jornal publicou um editorial com o título: 'Episódio esportivo passa a ser político'. O primeiro parágrafo: "O inábil e irritado recuo do governo, cancelando as homenagens oficiais na despedida de Pelé da Seleção Brasileira imprimiu um colorido político a um episódio que deveria esgotar-se no plano esportivo, e criou para o esquema publicitário governamental uma situação que não pode deixar de ser reconhecida como altamente desconfortável."

Pelé durante partida contra a Áustria, no Morumbi, em 1971. Foto: Arquivo/ AE

Foram dois jogos de despedida. O primeiro em 11 de julho de 1971, no Morumbi, contra a Áustria. Havia mais de 110 mil torcedores gritando "fica". Pelé marcou o gol do Brasil no empate por 1 a 1, seu último gol pela seleção. Sete dias depois houve o duelo com a Iugoslávia no Maracanã, com 140 mil torcedores clamando "fica", que terminou em empate por 2 a 2.

A pressão não parou por aí. Em janeiro de 1972, o Estadão destacou: "Pelé não aceitou, ontem à tarde em Brasília, o último e mais importante apelo de quantos lhe foram feitos para voltar à seleção brasileira e participar da Mini-Copa: do presidente Garrastazu Médici, que o apresentou 'na condição de representante da torcida brasileira', durante audiência concedida no Palácio do Planalto ao jogador e à diretoria do Santos Futebol Clube."

O 'não' foi um golpe também em Havelange, que tentava organizar um torneio com as principais seleções do mundo em 1972. Era parte de sua campanha para assumir a presidência da Fifa, que viria a ser bem sucedida. Mas o torneio não foi. Além de Pelé, Alemanha, Itália e Inglaterra também não quiseram participar.

A pressão em cima do Rei do Futebol continuava sem dar trégua. Parte da opinião pública tomou as dores do governo militar e passou a tentar apresentar Pelé como uma pessoa gananciosa, que havia deixado a seleção para ganhar dinheiro. Pelé, obviamente, era bastante requisitado para comerciais e filmes. O jornal Cidade de Santos publicou uma série de charges contra Pelé, assinadas por J.C. Lôbo, algumas preconceituosas, apresentando o Rei do Futebol como vendedor de refrigerante no estádio, por exemplo. "Foram muitas charges e comentários racistas. O Pelé querer contribuir para a sociedade como empresário, no fundo, a interpretação é essa: o lugar do Pelé é no campo jogando bola, uma maneira de designar o lugar do negro na sociedade", opinou Florenzano. 

Em fevereiro de 1974, a Copa do Mundo se aproximando, Pelé enviou carta ao então editor de Esportes do Estadão, Luís Carlos Ramos, para reafirmar que não voltaria a vestir a camisa do Brasil. "Finalmente alguém conseguiu sintetizar em um só artigo toda a minha consciente decisão de não mais jogar pela seleção brasileira e os problemas que com ela estão criando, tentando, através de motivações absurdas, jogar a opinião pública contra a minha pessoa", escreveu Pelé.

Dois dias depois, Florenzano recorda que Pelé recebeu uma carta de João Havelange pedindo mais uma vez que repensasse. "Minha esperança cresce ao recordar suas provas de amor, como cidadão e tricampeão mundial de futebol, aos anseios em que palpita a presença do Brasil", escreveu o mandatário. Pelé rebateu com agradecimentos: "É chegado o momento de mostrar aos brasileiros que posso ser útil ao País em outros campos de atividades, com a mesma dedicação, honestidade e motivação com que sempre defendi a nossa Seleção. Contando com a compreensão de V.Sas., cordialmente." 

Os militares ainda não se deram por satisfeito. Em abril, Pelé foi recebido por dois ministros em Brasília e precisou manter mais uma vez a decisão. O Estadão conta que na ocasião o Rei do Futebol chegou a comentar com amigos que cogitava antecipar sua aposentadoria em abril e não em outubro, como previa. Quando notaram que não teria como fazê-lo participar da Copa da Alemanha, em 1974, Pelé se tornou para muitos um inimigo do Brasil. Durante os jogos do Mundial, motivados também pelas fracas atuações da equipe nacional, familiares de Pelé em Santos chegaram a ser ameaçados

Pouco depois da viagem de Pelé para Europa, onde estava assistindo a Copa do Mundo, uma nova ameaça contra o jogador começou a surgir nos comentários que se ouviam pelas ruas de Santos: caso o Brasil perdesse os primeiros jogos e saísse do campeonato, a sua casa no canal 6, bairro da Ponta da Praia, seria apedrejada. Pelé não se rendeu.

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