Por que ‘futuros craques’ da seleção não conseguem deslanchar na Europa?


Momento vivido por nomes como Endrick e Vitor Roque coloca ponto de interrogação sobre a carreira de jovens brasileiros no Velho Continente

Por Rodrigo Sampaio

Após a eliminação para a Croácia na Copa do Mundo do Catar, a seleção brasileira indicou a necessidade de contar com novos protagonistas para suceder Neymar e dividir as atenções com Vini Jr. no Mundial de 2026. Promessas da nova geração dão esperança ao País na busca pelo Hexa, mas a dificuldade de jogadores com grandes expectativas, como Endrick e Vitor Roque, em deslanchar no futebol europeu, coloca um ponto de interrogação sobre a carreira destes atletas no Velho Continente.

É cada vez mais comum gigantes da Europa negociarem a contratação de jogadores da América do Sul antes mesmo de eles chegarem à maioridade. Com os avanços nas ferramentas que auxiliam na captação de talentos, os clubes optam por comprar atletas antes de o valor de mercado deles aumentar, e ficam incumbidos de terminar a formação do jovem no principal centro do futebol no planeta.

Endrick, ex-Palmeiras, ainda não emplacou com a camisa do Real Madrid. Foto: Reprodução/Real Madrid
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Endrick foi negociado pelo Palmeiras ao Real Madrid em 2022, quando ele tinha apenas 16 anos, em uma transação de 60 milhões de euros (R$ 330 milhões). À época, ele acabara de subir ao profissional após reinar na base palmeirense, vencendo pelo menos um título em todas as categorias desde o sub-11. Em 2023, foi o grande destaque da equipe de Abel Ferreira na arrancada para o título Brasileiro, sendo convocado para a seleção brasileira e chamando a atenção da imprensa espanhola, que já projetava sucesso do prodígio nos gramados do país.

A trajetória de Endrick com a camisa do Real tem sido de pouco brilho até o momento. Nos primeiros seis meses, foram 15 jogos, mas apenas um como titular, e dois gols marcados. O jovem acumulou somente 158 minutos em campo, o que lhe custou a presença nas últimas convocações da seleção brasileira. Na segunda-feira, ele recebeu oportunidade entre os 11 iniciais no duelo com a modesta Deportiva Mineira, mas teve atuação discreta na goleada por 5 a 0.

Alguns fatores contribuem para a falta de sequência de Endrick no Real Madrid, que apesar da liderança na LaLiga, corre o risco de ficar fora até mesmo dos playoffs das oitavas de final da Champions. Em princípio, ele disputa posição com Kylian Mbappé, astro da seleção francesa e um dos principais nomes do futebol mundial. Como se o cenário já não fosse complicado, o brasileiro ainda está atrás de Arda Güller, promissor meio-campista cuja expectativas também são altas, e Brahim Díaz, meia-atacante da seleção marroquina de maior bagagem, com passagens por Milan e Manchester City.

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“O Endrick dá azar de chegar no Real Madrid em um momento que o time não está resolvido na frente. O Mbappé é contratado também e a equipe tem dificuldade de encaixar ele com Rodrygo e Vini Jr. O Ancelotti chega a testar formações com dois atacantes quando o Vinicius se machuca, mas com o trio disponível, ele tenta usá-los sempre para o time ganhar entrosamento. Acaba sobrando pouco espaços para outros atacantes”, observa Ubiratan Leal, comentarista esportivo dos canais ESPN.

Tanto Vini Jr. quanto Rodrygo “estagiaram” no Castilla, o Real Madrid B, antes de fazerem parte do time principal. Contudo, Endrick chegou na Espanha com um projeto para ser aproveitado no time principal logo de cara. Um descenso à equipe alternativa chegou a ser ventilado na imprensa espanhola. “O Endrick chega no Real com mais cartaz do que o Vini e o Rodrygo. Ir pra o Castilla pode limar ainda mais a confiança dele”, aponta Ubiratan. “Um empréstimo para um time com condições de ele se desenvolver, como aconteceu com o Vitor Roque, no Betis, é mais interessante.”

Revelado nas categorias de base do Cruzeiro, Vitor Roque chegou ao Athletico como grande promessa e respondeu rapidamente, sendo protagonista do time paranaense com apenas 17 anos. O sucesso do jovem o levou a ser negociado com o Barcelona por 71 milhões de euros (cerca de R$ 381 milhões). Contudo, ele ficou escanteado no time catalão, cuja referência na frente é o artilheiro polonês Robert Lewandowski.

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Assim como Endrick, Vitor Roque também não conseguiu corresponder em campo nas poucas chances que teve. Com a sua contratação bancada por Deco, diretor de futebol do Barcelona, o brasileiro não contou com o prestígio de Xavi, técnico do time em sua chegada na Espanha, e teve dificuldade para atender os pedidos do alemão Hansi Flick, atual comandante da equipe, para jogar pelos lados.

Vitor Roque teve apenas 353 minutos minutos com a camisa do Barcelona, com dois gols em 16 jogos, números similares de Endrick no Real. O caminho encontrado pela diretoria foi emprestá-lo ao Betis, time intermediário da LaLiga. “Ele tem jogado bem e tá começando a a recuperar um pouco a imagem dele, mostrando que tem condições de jogar na Europa”, diz Ubiratan.

Vitor Roque não teve sequência no Barcelona e agora tenta vida nova no Betis.  Foto: Reprodução/@Barcelona
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Não é apenas Endrick e Vitor Roque que deixaram a desejar no início de suas trajetórias na Europa. O meia-atacante Luis Guilherme, de 18 anos, negociado pelo Palmeiras junto ao West Ham por mais de R$ 170 milhões, praticamente não é utilizado no time de Londres. Cenário semelhante é vivido por Deivid Washington, de 19 anos, no Chelsea, também na Inglaterra. O atacante mal apresentou seu futebol com a camisa do Santos e foi vendido por 20 milhões de euros (R$ 105,4 milhões).

Para Ubiratan Leal, a adaptação ao futebol inglês tende a ser mais complicada do que em outros lugares pelo dinamismo e intensidade das partidas. O comentarista acredita que Estêvão também pode ter de lidar com a falta de minutos no Chelsea. Destaque do Palmeiras na temporada, o jogador de 17 anos vai para o Chelsea após a disputa do Mundial de Clubes, em julho. O prodígio foi negociado com os ingleses em uma operação de 61,5 milhões de euros (R$ 358 milhões) e marcou presença nos compromissos recentes da seleção.

“O Chelsea é um time que já está encaixado e tem um problema de ter muitos jogadores no elenco. O Maresca (técnico) já falou que quer trabalhar só com 25 atletas e deixar os outros treinando. Não duvidaria o Estêvão ter mais dificuldade até do que o Endrick”, diz o comentarista. “O Maresca fala que vê o Estêvão jogando como 10, mas essa é justamente a função do Cole Palmer, craque do time.”

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Ansiedade e rodagem

É difícil apontar a idade ideal para um jogador ir para a Europa, em qual país ele irá se adaptar melhor, ou se o retorno ao futebol brasileiro é o melhor caminho. Há casos como o de Luiz Henrique, que completou 24 anos no último dia 2 de janeiro. “Escondido” no Betis, ele retornou ao Brasil e se firmou como um dos protagonistas do Botafogo na conquista dos títulos da Libertadores e Brasileirão. Agora, tem o desejo de retornar ao Velho Continente para emplacar o bom momento também no Velho Continente em uma equipe de maior relevância.

Há casos também como o de Savinho, de 20 anos. Contratado pelo Grupo City junto ao Atlético-MG, sua presença no time inglês foi descartada logo de cara, sendo emprestado para times da França e Holanda até se firmar no modesto Girona, da Espanha, onde brilhou e foi “efetivado” para jogar na equipe de Pep Guardiola. O técnico espanhol considera o brasileiro titular absoluto, e o atacante é outro que conquistou espaço na seleção.

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Para João Ricardo Cozac, psicólogo do esporte e presidente da Associação Paulista da Psicologia do esporte e do exercício físico, as altas expectativas sobre jovens, como nos casos de Endrick e Vitor Roque, podem acabar pesando no desenvolvimento.

“O que se observa que esses atletas que saem do Brasil de forma ainda desconhecida têm um pouco mais de resiliência para aguardar o desenvolvimento, e a melhora adaptação do que os atletas que já saem com grandes expectativas. Por conta da notoriedade pública, da qualidade e da alta performance, eles saem com a expectativa que vai mudar o ambiente, mas o seu entorno não vai mudar, e começa a ter problemas com idioma, clima, alimentação e muitas vezes de estrutura técnica. A Europa tem conceitos peculiares ao nosso”, explica.

“É importante o atleta ter o apoio do trabalho de psicologia para auxiliar na ambientação de novos fatores, também para equilibrar as expectativas de tudo o que o atleta sonhou. O papel da família e do treinador acaba sendo importante nesse sentido caso esse sonho acaba não acontecendo na mesma intensidade e velocidade desejada pelo jogador”, conclui.

Após a eliminação para a Croácia na Copa do Mundo do Catar, a seleção brasileira indicou a necessidade de contar com novos protagonistas para suceder Neymar e dividir as atenções com Vini Jr. no Mundial de 2026. Promessas da nova geração dão esperança ao País na busca pelo Hexa, mas a dificuldade de jogadores com grandes expectativas, como Endrick e Vitor Roque, em deslanchar no futebol europeu, coloca um ponto de interrogação sobre a carreira destes atletas no Velho Continente.

É cada vez mais comum gigantes da Europa negociarem a contratação de jogadores da América do Sul antes mesmo de eles chegarem à maioridade. Com os avanços nas ferramentas que auxiliam na captação de talentos, os clubes optam por comprar atletas antes de o valor de mercado deles aumentar, e ficam incumbidos de terminar a formação do jovem no principal centro do futebol no planeta.

Endrick, ex-Palmeiras, ainda não emplacou com a camisa do Real Madrid. Foto: Reprodução/Real Madrid

Endrick foi negociado pelo Palmeiras ao Real Madrid em 2022, quando ele tinha apenas 16 anos, em uma transação de 60 milhões de euros (R$ 330 milhões). À época, ele acabara de subir ao profissional após reinar na base palmeirense, vencendo pelo menos um título em todas as categorias desde o sub-11. Em 2023, foi o grande destaque da equipe de Abel Ferreira na arrancada para o título Brasileiro, sendo convocado para a seleção brasileira e chamando a atenção da imprensa espanhola, que já projetava sucesso do prodígio nos gramados do país.

A trajetória de Endrick com a camisa do Real tem sido de pouco brilho até o momento. Nos primeiros seis meses, foram 15 jogos, mas apenas um como titular, e dois gols marcados. O jovem acumulou somente 158 minutos em campo, o que lhe custou a presença nas últimas convocações da seleção brasileira. Na segunda-feira, ele recebeu oportunidade entre os 11 iniciais no duelo com a modesta Deportiva Mineira, mas teve atuação discreta na goleada por 5 a 0.

Alguns fatores contribuem para a falta de sequência de Endrick no Real Madrid, que apesar da liderança na LaLiga, corre o risco de ficar fora até mesmo dos playoffs das oitavas de final da Champions. Em princípio, ele disputa posição com Kylian Mbappé, astro da seleção francesa e um dos principais nomes do futebol mundial. Como se o cenário já não fosse complicado, o brasileiro ainda está atrás de Arda Güller, promissor meio-campista cuja expectativas também são altas, e Brahim Díaz, meia-atacante da seleção marroquina de maior bagagem, com passagens por Milan e Manchester City.

“O Endrick dá azar de chegar no Real Madrid em um momento que o time não está resolvido na frente. O Mbappé é contratado também e a equipe tem dificuldade de encaixar ele com Rodrygo e Vini Jr. O Ancelotti chega a testar formações com dois atacantes quando o Vinicius se machuca, mas com o trio disponível, ele tenta usá-los sempre para o time ganhar entrosamento. Acaba sobrando pouco espaços para outros atacantes”, observa Ubiratan Leal, comentarista esportivo dos canais ESPN.

Tanto Vini Jr. quanto Rodrygo “estagiaram” no Castilla, o Real Madrid B, antes de fazerem parte do time principal. Contudo, Endrick chegou na Espanha com um projeto para ser aproveitado no time principal logo de cara. Um descenso à equipe alternativa chegou a ser ventilado na imprensa espanhola. “O Endrick chega no Real com mais cartaz do que o Vini e o Rodrygo. Ir pra o Castilla pode limar ainda mais a confiança dele”, aponta Ubiratan. “Um empréstimo para um time com condições de ele se desenvolver, como aconteceu com o Vitor Roque, no Betis, é mais interessante.”

Revelado nas categorias de base do Cruzeiro, Vitor Roque chegou ao Athletico como grande promessa e respondeu rapidamente, sendo protagonista do time paranaense com apenas 17 anos. O sucesso do jovem o levou a ser negociado com o Barcelona por 71 milhões de euros (cerca de R$ 381 milhões). Contudo, ele ficou escanteado no time catalão, cuja referência na frente é o artilheiro polonês Robert Lewandowski.

Assim como Endrick, Vitor Roque também não conseguiu corresponder em campo nas poucas chances que teve. Com a sua contratação bancada por Deco, diretor de futebol do Barcelona, o brasileiro não contou com o prestígio de Xavi, técnico do time em sua chegada na Espanha, e teve dificuldade para atender os pedidos do alemão Hansi Flick, atual comandante da equipe, para jogar pelos lados.

Vitor Roque teve apenas 353 minutos minutos com a camisa do Barcelona, com dois gols em 16 jogos, números similares de Endrick no Real. O caminho encontrado pela diretoria foi emprestá-lo ao Betis, time intermediário da LaLiga. “Ele tem jogado bem e tá começando a a recuperar um pouco a imagem dele, mostrando que tem condições de jogar na Europa”, diz Ubiratan.

Vitor Roque não teve sequência no Barcelona e agora tenta vida nova no Betis.  Foto: Reprodução/@Barcelona

Não é apenas Endrick e Vitor Roque que deixaram a desejar no início de suas trajetórias na Europa. O meia-atacante Luis Guilherme, de 18 anos, negociado pelo Palmeiras junto ao West Ham por mais de R$ 170 milhões, praticamente não é utilizado no time de Londres. Cenário semelhante é vivido por Deivid Washington, de 19 anos, no Chelsea, também na Inglaterra. O atacante mal apresentou seu futebol com a camisa do Santos e foi vendido por 20 milhões de euros (R$ 105,4 milhões).

Para Ubiratan Leal, a adaptação ao futebol inglês tende a ser mais complicada do que em outros lugares pelo dinamismo e intensidade das partidas. O comentarista acredita que Estêvão também pode ter de lidar com a falta de minutos no Chelsea. Destaque do Palmeiras na temporada, o jogador de 17 anos vai para o Chelsea após a disputa do Mundial de Clubes, em julho. O prodígio foi negociado com os ingleses em uma operação de 61,5 milhões de euros (R$ 358 milhões) e marcou presença nos compromissos recentes da seleção.

“O Chelsea é um time que já está encaixado e tem um problema de ter muitos jogadores no elenco. O Maresca (técnico) já falou que quer trabalhar só com 25 atletas e deixar os outros treinando. Não duvidaria o Estêvão ter mais dificuldade até do que o Endrick”, diz o comentarista. “O Maresca fala que vê o Estêvão jogando como 10, mas essa é justamente a função do Cole Palmer, craque do time.”

Ansiedade e rodagem

É difícil apontar a idade ideal para um jogador ir para a Europa, em qual país ele irá se adaptar melhor, ou se o retorno ao futebol brasileiro é o melhor caminho. Há casos como o de Luiz Henrique, que completou 24 anos no último dia 2 de janeiro. “Escondido” no Betis, ele retornou ao Brasil e se firmou como um dos protagonistas do Botafogo na conquista dos títulos da Libertadores e Brasileirão. Agora, tem o desejo de retornar ao Velho Continente para emplacar o bom momento também no Velho Continente em uma equipe de maior relevância.

Há casos também como o de Savinho, de 20 anos. Contratado pelo Grupo City junto ao Atlético-MG, sua presença no time inglês foi descartada logo de cara, sendo emprestado para times da França e Holanda até se firmar no modesto Girona, da Espanha, onde brilhou e foi “efetivado” para jogar na equipe de Pep Guardiola. O técnico espanhol considera o brasileiro titular absoluto, e o atacante é outro que conquistou espaço na seleção.

Para João Ricardo Cozac, psicólogo do esporte e presidente da Associação Paulista da Psicologia do esporte e do exercício físico, as altas expectativas sobre jovens, como nos casos de Endrick e Vitor Roque, podem acabar pesando no desenvolvimento.

“O que se observa que esses atletas que saem do Brasil de forma ainda desconhecida têm um pouco mais de resiliência para aguardar o desenvolvimento, e a melhora adaptação do que os atletas que já saem com grandes expectativas. Por conta da notoriedade pública, da qualidade e da alta performance, eles saem com a expectativa que vai mudar o ambiente, mas o seu entorno não vai mudar, e começa a ter problemas com idioma, clima, alimentação e muitas vezes de estrutura técnica. A Europa tem conceitos peculiares ao nosso”, explica.

“É importante o atleta ter o apoio do trabalho de psicologia para auxiliar na ambientação de novos fatores, também para equilibrar as expectativas de tudo o que o atleta sonhou. O papel da família e do treinador acaba sendo importante nesse sentido caso esse sonho acaba não acontecendo na mesma intensidade e velocidade desejada pelo jogador”, conclui.

Após a eliminação para a Croácia na Copa do Mundo do Catar, a seleção brasileira indicou a necessidade de contar com novos protagonistas para suceder Neymar e dividir as atenções com Vini Jr. no Mundial de 2026. Promessas da nova geração dão esperança ao País na busca pelo Hexa, mas a dificuldade de jogadores com grandes expectativas, como Endrick e Vitor Roque, em deslanchar no futebol europeu, coloca um ponto de interrogação sobre a carreira destes atletas no Velho Continente.

É cada vez mais comum gigantes da Europa negociarem a contratação de jogadores da América do Sul antes mesmo de eles chegarem à maioridade. Com os avanços nas ferramentas que auxiliam na captação de talentos, os clubes optam por comprar atletas antes de o valor de mercado deles aumentar, e ficam incumbidos de terminar a formação do jovem no principal centro do futebol no planeta.

Endrick, ex-Palmeiras, ainda não emplacou com a camisa do Real Madrid. Foto: Reprodução/Real Madrid

Endrick foi negociado pelo Palmeiras ao Real Madrid em 2022, quando ele tinha apenas 16 anos, em uma transação de 60 milhões de euros (R$ 330 milhões). À época, ele acabara de subir ao profissional após reinar na base palmeirense, vencendo pelo menos um título em todas as categorias desde o sub-11. Em 2023, foi o grande destaque da equipe de Abel Ferreira na arrancada para o título Brasileiro, sendo convocado para a seleção brasileira e chamando a atenção da imprensa espanhola, que já projetava sucesso do prodígio nos gramados do país.

A trajetória de Endrick com a camisa do Real tem sido de pouco brilho até o momento. Nos primeiros seis meses, foram 15 jogos, mas apenas um como titular, e dois gols marcados. O jovem acumulou somente 158 minutos em campo, o que lhe custou a presença nas últimas convocações da seleção brasileira. Na segunda-feira, ele recebeu oportunidade entre os 11 iniciais no duelo com a modesta Deportiva Mineira, mas teve atuação discreta na goleada por 5 a 0.

Alguns fatores contribuem para a falta de sequência de Endrick no Real Madrid, que apesar da liderança na LaLiga, corre o risco de ficar fora até mesmo dos playoffs das oitavas de final da Champions. Em princípio, ele disputa posição com Kylian Mbappé, astro da seleção francesa e um dos principais nomes do futebol mundial. Como se o cenário já não fosse complicado, o brasileiro ainda está atrás de Arda Güller, promissor meio-campista cuja expectativas também são altas, e Brahim Díaz, meia-atacante da seleção marroquina de maior bagagem, com passagens por Milan e Manchester City.

“O Endrick dá azar de chegar no Real Madrid em um momento que o time não está resolvido na frente. O Mbappé é contratado também e a equipe tem dificuldade de encaixar ele com Rodrygo e Vini Jr. O Ancelotti chega a testar formações com dois atacantes quando o Vinicius se machuca, mas com o trio disponível, ele tenta usá-los sempre para o time ganhar entrosamento. Acaba sobrando pouco espaços para outros atacantes”, observa Ubiratan Leal, comentarista esportivo dos canais ESPN.

Tanto Vini Jr. quanto Rodrygo “estagiaram” no Castilla, o Real Madrid B, antes de fazerem parte do time principal. Contudo, Endrick chegou na Espanha com um projeto para ser aproveitado no time principal logo de cara. Um descenso à equipe alternativa chegou a ser ventilado na imprensa espanhola. “O Endrick chega no Real com mais cartaz do que o Vini e o Rodrygo. Ir pra o Castilla pode limar ainda mais a confiança dele”, aponta Ubiratan. “Um empréstimo para um time com condições de ele se desenvolver, como aconteceu com o Vitor Roque, no Betis, é mais interessante.”

Revelado nas categorias de base do Cruzeiro, Vitor Roque chegou ao Athletico como grande promessa e respondeu rapidamente, sendo protagonista do time paranaense com apenas 17 anos. O sucesso do jovem o levou a ser negociado com o Barcelona por 71 milhões de euros (cerca de R$ 381 milhões). Contudo, ele ficou escanteado no time catalão, cuja referência na frente é o artilheiro polonês Robert Lewandowski.

Assim como Endrick, Vitor Roque também não conseguiu corresponder em campo nas poucas chances que teve. Com a sua contratação bancada por Deco, diretor de futebol do Barcelona, o brasileiro não contou com o prestígio de Xavi, técnico do time em sua chegada na Espanha, e teve dificuldade para atender os pedidos do alemão Hansi Flick, atual comandante da equipe, para jogar pelos lados.

Vitor Roque teve apenas 353 minutos minutos com a camisa do Barcelona, com dois gols em 16 jogos, números similares de Endrick no Real. O caminho encontrado pela diretoria foi emprestá-lo ao Betis, time intermediário da LaLiga. “Ele tem jogado bem e tá começando a a recuperar um pouco a imagem dele, mostrando que tem condições de jogar na Europa”, diz Ubiratan.

Vitor Roque não teve sequência no Barcelona e agora tenta vida nova no Betis.  Foto: Reprodução/@Barcelona

Não é apenas Endrick e Vitor Roque que deixaram a desejar no início de suas trajetórias na Europa. O meia-atacante Luis Guilherme, de 18 anos, negociado pelo Palmeiras junto ao West Ham por mais de R$ 170 milhões, praticamente não é utilizado no time de Londres. Cenário semelhante é vivido por Deivid Washington, de 19 anos, no Chelsea, também na Inglaterra. O atacante mal apresentou seu futebol com a camisa do Santos e foi vendido por 20 milhões de euros (R$ 105,4 milhões).

Para Ubiratan Leal, a adaptação ao futebol inglês tende a ser mais complicada do que em outros lugares pelo dinamismo e intensidade das partidas. O comentarista acredita que Estêvão também pode ter de lidar com a falta de minutos no Chelsea. Destaque do Palmeiras na temporada, o jogador de 17 anos vai para o Chelsea após a disputa do Mundial de Clubes, em julho. O prodígio foi negociado com os ingleses em uma operação de 61,5 milhões de euros (R$ 358 milhões) e marcou presença nos compromissos recentes da seleção.

“O Chelsea é um time que já está encaixado e tem um problema de ter muitos jogadores no elenco. O Maresca (técnico) já falou que quer trabalhar só com 25 atletas e deixar os outros treinando. Não duvidaria o Estêvão ter mais dificuldade até do que o Endrick”, diz o comentarista. “O Maresca fala que vê o Estêvão jogando como 10, mas essa é justamente a função do Cole Palmer, craque do time.”

Ansiedade e rodagem

É difícil apontar a idade ideal para um jogador ir para a Europa, em qual país ele irá se adaptar melhor, ou se o retorno ao futebol brasileiro é o melhor caminho. Há casos como o de Luiz Henrique, que completou 24 anos no último dia 2 de janeiro. “Escondido” no Betis, ele retornou ao Brasil e se firmou como um dos protagonistas do Botafogo na conquista dos títulos da Libertadores e Brasileirão. Agora, tem o desejo de retornar ao Velho Continente para emplacar o bom momento também no Velho Continente em uma equipe de maior relevância.

Há casos também como o de Savinho, de 20 anos. Contratado pelo Grupo City junto ao Atlético-MG, sua presença no time inglês foi descartada logo de cara, sendo emprestado para times da França e Holanda até se firmar no modesto Girona, da Espanha, onde brilhou e foi “efetivado” para jogar na equipe de Pep Guardiola. O técnico espanhol considera o brasileiro titular absoluto, e o atacante é outro que conquistou espaço na seleção.

Para João Ricardo Cozac, psicólogo do esporte e presidente da Associação Paulista da Psicologia do esporte e do exercício físico, as altas expectativas sobre jovens, como nos casos de Endrick e Vitor Roque, podem acabar pesando no desenvolvimento.

“O que se observa que esses atletas que saem do Brasil de forma ainda desconhecida têm um pouco mais de resiliência para aguardar o desenvolvimento, e a melhora adaptação do que os atletas que já saem com grandes expectativas. Por conta da notoriedade pública, da qualidade e da alta performance, eles saem com a expectativa que vai mudar o ambiente, mas o seu entorno não vai mudar, e começa a ter problemas com idioma, clima, alimentação e muitas vezes de estrutura técnica. A Europa tem conceitos peculiares ao nosso”, explica.

“É importante o atleta ter o apoio do trabalho de psicologia para auxiliar na ambientação de novos fatores, também para equilibrar as expectativas de tudo o que o atleta sonhou. O papel da família e do treinador acaba sendo importante nesse sentido caso esse sonho acaba não acontecendo na mesma intensidade e velocidade desejada pelo jogador”, conclui.

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