Somos os melhores! Venceremos de maneira tranquila! Nosso futebol é o maior do mundo! Só o Brasil é penta. São afirmações que ouvimos sempre. A única real é a que somos penta, as outras são ilusões, falta de respeito e prepotência. Um dia desses, estava sendo discutida pelo nosso poder legislativo a retirada de R$ 500 milhões da pasta do Esporte e Cultura. “O que isso tem a ver com futebol?”, perguntariam os que não têm ideia de como se formam atletas, inclusive os próprios atletas. E aí aparece o tema na Olimpíada e na Copa: “Nossa, poucas medalhas temos”! “Mais uma vez perdemos na Copa”. Mesmo assim, nos achamos os melhores.
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Sem escola, educação, regras e disciplina, é um País fadado a não ter resultados importantes. Vide Olimpíada, Copa e torneios de base. Nos Sul-americanos Sub-20 de 2013 e 17, o Brasil não se classificou para o Mundial. Para quem não sabe, dez países disputam o Sul-americano. Os quatro mais bem colocados vão ao Mundial. Pasmem, ficamos fora duas vezes. E ainda temos a cara de pau de dizer que somos os melhores.
Não temos uma liga boa (nem temos liga). Nossos atletas são lapidados na Europa. E vivenciamos o paternalismo - quando lá chegamos, temos de ouvir: “é brasileiro, temos de fazê-lo virar um cidadão!”. Viciamos e mimamos os meninos. “O importante é o jogo no domingo!” Muitas vezes ouvi isso. Se o menino faz gol, o comportamento dele em nada importa. Em torneios internacionais, fica cada vez mais evidente que não temos um modelo a ser seguido, copiado e/ou iniciado. Aí, quando somos derrotados pela Bélgica, muitos falam em surpresa.
O trabalho dos belgas teve início em 2000, há 18 anos. Todos os setores participam: federação, clubes, técnicos e imprensa fomentam o positivismo e o torcedor entende e abraça o que está sendo proposto (os alemães os copiaram. E os ingleses). A parte mais envolvida é o atleta. Entendendo que deve aprender e respeitar a profissão e tudo que é inerente a ela. Não podemos a cada derrota acreditar que tudo está errado. Não estava tudo certo quando chegamos à Copa. Não quero me apegar a discutir derrotas e vitórias. O resultado de 90 minutos não se resume ao projeto fora. O projeto fora é a base de sustentação. Mas, no campo, muitas situações surgem. Uma falha de posicionamento, escorregão, erro técnico.
Eu falo em algo maior. Temos a mania de encher os “gringos” de elogios e não ter paciência para fazer algo por aqui. Elogiamos Tabárez no Uruguai (belíssimo trabalho) e batemos pesado nos técnicos mais antigos no Brasil. Elogiamos a linha de três dos rivais, mas não aceitamos aqui. É passado do momento de a CBF implementar algo de plano futuro e pararmos de ficar na dependência de nossa qualidade. Não podemos admitir que a extensão do Brasil seja um entrave à adoção de métodos e propostas modernas, conectadas aos clubes pela formação dos atletas. A diferença diminuiu quando perdemos as ruas, as praias, o campo de terra e desvalorizamos o futsal. Éramos naturais antes. Hoje não fazemos mais de forma espontânea o que eles fazem in vitro.
Formar cidadãos é mais importante que formar atletas de qualidade. Temos a chance de iniciar um processo. Com cidadãos bem formados, qualidade de atletas e pela nossa riqueza de mistura, melhores resultados virão, e com regularidade. Temos de parar com a prepotência de achar que somos os melhores. Temos qualidade, mas não temos base. Isso tem regime de urgência. Precisamos achar o modelo Brasil. No estatuto, o 1.º item: Humildade e Respeito!
*ALEX, EX-JOGADOR E COMENTARISTA DA ESPN
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