Dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, sete tem um estrangeiro no comando técnico. O sucesso de nomes como Abel Ferreira e Jorge Jesus nos últimos anos fez com que as equipes optassem por nomes internacionais para comandar os elencos. É o caso do Corinthians, que apostou em António Oliveira e Ramón Díaz nesta temporada, e do São Paulo, que contratou Luis Zubeldía após a demissão de Thiago Carpini.
Desde Charlie Williams, em 1911, 49 treinadores estrangeiros conquistaram ao menos um título de primeiro escalão no futebol brasileiro (Estadual, Regional, Nacional ou Internacional). O Estadão levantou as principais conquistas de cada um destes nomes para elencar os cinco maiores e melhores comandantes estrangeiros que passaram pelo País desde o século 20, no início do futebol.
O levantamento considerou, além das conquistas, o impacto que cada treinador teve sobre o futebol em seu respectivo período. Charlie Williams, por exemplo, conquistou três vezes o Campeonato Carioca (dois pelo Fluminense e um pelo América-RJ), em um período que não existiam competições nacionais. Além disso, foi o primeiro treinador do clube após se tornar profissional.
Menções honrosas
De todos os técnicos que passaram pelo futebol brasileiro e levantaram ao menos um troféu, alguns nomes obtiveram destaque, mas ficaram da lista elaborada pelo Estadão. Félix Magno, do Uruguai, é um destes. Como jogador e técnico, passou por uma série de clubes da Região Sul do País, e se sagrou multicampeão Estadual por Avaí, Atlético-MG e Coritiba. Ao todo, conquistou nove títulos de primeiro em sua carreira como treinador.
“Os métodos de Magno revolucionaram o futebol local, ainda muito amador. As noções táticas, os treinos técnicos, a rigidez de suas cobranças e as atividades físicas elaboradas contribuíram para formação da geração azurra tetracampeã”, afirmam Adalberto Jorge Klüser, Felipe Matos e Spyros Apóstolo Diamantaras no livro “O Time da Raça - Almanaque de 90 anos” do Avaí, que treinou entre 1943 e 1944.
Outro nome relevante, em uma região completamente oposta à de Magno, é o de Juan Celly, argentino, mas que ganhou o título de cidadão sergipano por seus feitos no futebol do Estado. Após uma carreira curta, com passagens por Flamengo e Sport, se consagrou como treinador por uma série de clubes da região Nordeste. Entre eles, o Itabaiana, pelo qual conquistou quatro vezes o Campeonato Sergipano.
Morto em 2015, em Aracaju, Celly – ou Cartita Blanca, como ficou conhecido – conquistou nove campeonatos estaduais ao longo de sua passagem como treinador no Brasil.
Por fim, um nome mais recente no cenário, mas que já ganhou destaque no País, é o de Juan Pablo Vojvoda. O treinador do Fortaleza já conquistou três vezes o Campeonato Cearense, além de ter duas Copas do Nordeste em seu currículo. O argentino também levou o clube tricolor à final da Copa Sul-Americana em 2023, que terminou com o vice-campeonato, e disputa com Botafogo e Palmeiras o título brasileiro neste ano.
5. Charlie Williams, Inglaterra
Já citado, Charlie Williams entra na lista por sua importância em “abrir os caminhos” para treinadores estrangeiros no futebol brasileiro. Natural de Welling, no Reino Unido, começou sua carreira como goleiro e se tornou, segundo os registros oficiais, o primeiro jogador da posição a marcar um gol, durante passagem pelo Manchester City.
Após pendurar as chuteiras, foi convidado por Oscar Cox, fundador do Fluminense, a comandar a equipe em 1911, após levar a Dinamarca à medalha de prata no futebol masculino na Olimpíada de 1908. Em seu primeiro ano no Rio, já levou o clube tricolor à conquista do Campeonato Carioca. Em 1912, também participou do primeiro clássico entre Flamengo e Fluminense, em 1912.
Comandou o Fluminense em 1911, 1912 e entre 1924 e 1926. É um dos quatro únicos comandantes estrangeiros da equipe desde que se profissionalizou, em 1911.
4. Carlos Volante, Argentina
Carlos Volante é importante para o futebol brasileiro tanto como treinador, como quanto jogador. Ao longo de sua carreira, atuou em clubes franceses, italianos e encerrou sua carreira no Flamengo, em 1944. É a partir de seu nome que surge a forma como a posição de “volante” é nomeada atualmente.
“Pouco a pouco, Volante batizaria a própria posição em que jogava, assim como Chiclete e Gillete tornaram-se marcas referência deseus produtos. Volante foi o primeiro volante”, afirma Sidney Garambone no prefácio de “Os 11 maiores volantes do futebol brasileiro”.
Dois anos depois, Volante já se lançou na carreira de treinador, tendo obtido destaque principalmente em Vitória e Bahia. O início, no entanto, foi no Internacional, clube pelo qual conquistou o Campeonato Gaúcho. No tricolor baiano, comandou a equipe no jogo extra da final da Taça Brasil de 1959 – que viria a ser reconhecida posteriormente como um título do Campeonato Brasileiro.
Até a conquista de Jorge Jesus com o Flamengo, em 2019, Volante era o único treinador estrangeiro a conquistar o principal título nacional do País.
3. Ventura Cambón, Uruguai
Abrindo o top 3, Ventura Cambón, treinador que comandou o Palmeiras na conquista da Copa Rio de 1951 – e que o clube busca a legitimação como Mundial de Clubes. Ele chegou ao Palestra Itália, em 1930, ainda como jogador e desde então nunca mais deixou a equipe. Viveu e morreu no lado alviverde de São Paulo, tendo participado da transição de nome do clube e da conquista internacional.
“Ele é sempre lembrado por aquela gigantesca conquista, que, sem dúvida alguma, é motivo de muito orgulho. Mas quem conhece a história dele, ou os poucos que ainda estão em vida e tiveram a oportunidade de acompanhar a sua trajetória, sabem que ele foi muito, muito mais do que o técnico do Mundial de 1951. Ventura viveu o Palmeiras do dia em que chegou ao clube até o último suspiro”, afirma Miro Moraes, historiador do Departamento de Acervo Histórico do Palmeiras.
Como efetivo ou interino, acumulou 15 passagens diferentes pelo Palmeiras, totalizando 305 partidas – é, atualmente, o estrangeiro que mais vezes ficou à frente do clube. Além da Copa Rio, conquistou duas vezes o Campeonato Paulista e um Rio São-Paulo. Morreu em 1957, trabalhando no Palmeiras, que foi o único empregador de sua Carteira de Trabalho desde que chegou ao Brasil.
2. Jorge Jesus, Portugal
Jesus chegou ao Brasil em 2019, em um momento que o Flamengo havia acabado de conquistar o Campeonato Carioca, mas buscava um nome para substituir Abel Braga. Mesmo sem ter completado uma temporada sequer no Brasil, trabalho apenas entre 2019 e 2020, marcou o futebol brasileiro com a forma que transformou o futebol do Flamengo.
Com Gabigol, Bruno Henrique e Éverton Ribeiro, Jesus levou o Flamengo à primeira Libertadores desde 2019, à conquista do Campeonato Brasileiro – com recorde de pontos no formato atual, com 20 clubes – e ao vice-campeonato no Mundial de Clubes contra o Liverpool. Também conquistou Recopa Sul-Americana, Supercopa do Brasil e Campeonato Carioca em sua passagem pelo Brasil.
Foram 58 partidas à frente do Flamengo, com um aproveitamento superior a 81%, em pouco mais de 13 meses de trabalho. Deixou o Brasil no contexto da pandemia da Covid-19, em 2020, para assumir o comando do Benfica, em Portugal. Hoje no Al-Hilal, seu nome continua sendo lembrado na Gávea, quando o clube troca de comando técnico.
1. Abel Ferreira, Portugal
Compatriota de Jesus, o domínio de Abel Ferreira e do Palmeiras desde 2020 é algo inédito no futebol brasileiro. Desde que chegou, o português conquistou dez títulos pelo clube: duas Libertadores, uma Recopa Sul-Americana, dois Campeonatos Brasileiros, uma Copa do Brasil, uma Supercopa do Brasil e três Campeonatos Paulistas.
Nenhum outro treinador estrangeiro conquistou o mesmo número de títulos de primeiro escalão que Abel Ferreira, que permanecerá no Palmeiras até 2025. Ele ainda terá a chance de levar o clube à conquista inédita do Super Mundial de Clubes em 2025, com 32 equipes, e que será realizados nos Estados Unidos. Neste ano, ainda tem a chance de levar o clube ao tricampeonato brasileiro – algo que não acontece desde o São Paulo, entre 2006 e 2008.