Fábrica de talentosos jovens jogadores, o Palmeiras vê Endrick, já negociado com o Real Madrid, brilhar no profissional, e já lapida outras joias da base. Estevão Willian, meia-atacante de 16 anos, destaque da seleção brasileira no Mundial Sub-17, é o próximo talento trabalhado no clube e que em breve estará definitivamente integrado ao elenco principal.
Depois do bom desempenho no Mundial Sub-17, Estevão passou a treinar pontualmente com o time principal e foi relacionado pela primeira vez para uma partida da equipe de Abel Ferreira na última quarta-feira. O treinador levou o menino para compor o banco de reservas contra o América Mineiro, na goleada por 4 a 0.
A performance de destaque na Indonésia e a lesão de Luís Guilherme aceleraram a promoção de Estevão aos profissionais. Ele ainda não está definitivamente integrado ao grupo principal - o que deve ocorrer em 2024 -, mas passou a ganhar mais espaço no time treinado por Abel.
O Estadão apurou que não existe um planejamento específico para Estevão, como havia para Endrick, mas o atleta já é visto de forma especial dentro do clube. Há um cuidado para que seu desenvolvimento seja feito sem açodamento e que ele não pule etapas importantes de sua formação.
Seu talento, no entanto, faz com que ele tenha de avançar alguns processos antes de outros jogadores na base, mesmo aos 16. A tendência é que o jogador, chamado de “Messinho” quando ainda jogava na base do Cruzeiro, faça parte cada vez mais do grupo de apoio ao profissional, participando de treinos na Academia da Barra Funda aos poucos, para que seja feita uma transição gradual de grupo.
“Ele tem uma capacidade alta de ser decisivo. Tem assistência, tem gol. É muito completo”, resume ao Estadão Rafael Paiva, técnico do sub-17 do Palmeiras. “Assim como o Endrick, o Estevão é muito talentoso. De fato, tem um talento acima da média. Temos que aguardar o tempo dele. É o tempo que vai dizer o quão rápido ele vai conseguir atingir os objetivos dele e do clube”.
Enquanto isso, Estevão fica à disposição pra defender a base palmeirense, como ocorreu com Endrick e também Luís Guilherme, que joga na mesma posição dele. O garoto disputou 34 partidas com o time sub-17 em 2022 e outros 18 jogos com o sub-20 nesta temporada. Pelo clube alviverde, foi campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior neste ano, além dos títulos dos Campeonatos Paulistas sub-17 e sub-15 da temporada passada e do bi da Copa do Brasil Sub-17 em 2022 e 2023.
“Claro que planejo altos níveis, mas primeiro quero conquistar títulos, fazer gols, subir para o profissional e, se Deus quiser, fazer uma história linda por eles”, afirmou Estevão após marcar três gols e assegurar o título brasileiro sub-17 ao Palmeiras.
Destaque internacional
Acostumada a usar superlativos para se referir aos jovens talentos brasileiros, a imprensa espanhola está encantada com Estevão. Ele está em evidência no país que já tem Vini Jr e Rodrygo e em breve terá Endrick. O Diário As publicou que o adolescente pode seguir os passos de Endrick e se transformar no “próximo gênio do futebol brasileiro”. Já o Marca, ao citar o jogo sem brilho da seleção brasileira na Copa do Mundo Sub-17, disse que o Brasil tinha um “Fenômeno” em mãos.
Seu brilho, claro, desperta o interesse de grandes clubes da Europa. O Paris Saint-Germain acenou com uma proposta que poderia chegar a 40 milhões de euros, perto de R$ 215 milhões. O Palmeiras não quis negócio. E, mais recentemente, segundo o jornal Mundo Deportivo, o Real Madrid buscou saber insistentemente a situação do jogador.
André Cury, empresário de Estevão, disse que existem ofertas “altíssimas” pelo seu agenciado, mas sobre as quais ainda não se discute em razão da idade do atleta. Ele crê que o meia-atacante “vai fechar com algum dos grandes” clubes da Europa.
Meu nome é Estevão, não Messinho
Nascido em 24 de abril de 2007, Estevão se mudou aos oito anos para Belo Horizonte. Passou a jogar pelo Cruzeiro, a convite de dirigentes do clube, que viram um DVD de suas atuações no futsal, pelo Toque de Bola, de Franca (SP), sua cidade natal.
Em busca de um centro mais competitivo, Estevão vinculou-se ao Palmeiras por meio de um contrato de formação em 2021, fato que motivou troca de acusações e uma disputa entre o time paulista e o mineiro.
Com o que a família recebe, foi possível se mudar para São Paulo e alugar um apartamento. Estevão mora com o pai, Ivo Gonçalves, a mãe, Hetiene, e a irmã mais nova, Esther, de sete anos. Ivo vê no filho capacidade de ajudar a resgatar a essência do futebol brasileiro.
“Valorizamos muito a seleção brasileira e, a partir dos 7 a 1 (derrota para a Alemanha na Copa de 2014), nunca mais as coisas se encaixaram do mesmo jeito no futebol brasileiro. Jogadores como Estevão têm essa condição de resgatar nossa essência, de o futebol brasileiro voltar a jogar com alegria”, disse o pai.
As jogadas em velocidade, partindo com a bola dominada, o fizeram ser comparado a Messi, que, nas categorias de base do Barcelona, superava adversários mais velhos da mesma forma. O canhoto do Palmeiras, que também joga com a 10, faz o mesmo. Mas o jovem prefere deixar de lado qualquer tipo de comparação e recusa o apelido que remete ao astro argentino eleito oito vezes o melhor jogador do mundo.
“As pessoas precisam me ver como Estevão, que é o meu nome. Estou construindo minha trajetória, as coisas vão acontecer naturalmente, com a ajuda de Deus. Claro que é uma honra ser comparado a esse craque, tem um lado saudável, mas sou eu que vou ajudar minha equipe, com minhas decisões dentro de campo. Tenho meu estilo próprio”, afirmou ele ao Estadão no ano passado.
No dia 24 de abril, quando completou 16 anos, Estevão assinou seu primeiro contrato profissional com o Palmeiras, com multa rescisória de 45 milhões de euros, cerca de R$ 240 milhões. O acordo tem duração de três anos, tempo máximo permitido pela Fifa para atletas dessa idade.