O empate por 2 a 2 com a Holanda, na segunda-feira, em Gelsenkirchen, serviu apenas para a já rebaixada Alemanha cumprir tabela na primeira edição da Liga das Nações e encerrar de forma melancólica uma temporada que teve inédita eliminação na fase de grupos da Copa do Mundo da Rússia, em junho, e um sentimento que os próprios alemães não esperavam vivenciar tão cedo.
O 7 a 1 que chocou o Brasil no Mineirão há quatro anos, seguido do título mundial conquistado sobre a Argentina, deu ao planeta – e em especial aos brasileiros – a sensação de que se estava diante do modelo de jogo a ser seguido no futebol, seja pelos conceitos táticos em campo, seja pela gestão fora dele.
Porém, os vexames deste ano encheram de pontos de interrogação o tal modelo e fizeram os próprios alemães se questionarem se tudo aquilo, de fato, havia sido um marco na história do futebol ou apenas circunstâncias de um jogo que tem como um de seus maiores atrativos justamente erguer e derrubar times num piscar de olhos.
"Ficamos muito entusiasmados e otimistas depois da Copa de 2014 e em 2017, quando ganhamos a Copa das Confederações com um jovem time e vencemos a Euro Sub-21. Isso nos levou a acreditar que poderíamos realmente criar uma dinastia com a combinação dos campeões mundiais e de todos aqueles jovens talentos", analisa Heiko Niedderer, repórter do jornal alemão Bild. "Mas talvez isso também tenha nos levado a uma arrogância em relação à seleção. Talvez o apetite por mais tenha se perdido pelo caminho", admite o jornalista, que acompanha tanto a seleção nacional quanto o Bayern de Munique a serviço do periódico.
Base do grupo dirigido por Joachim Löw ao longo dos 12 anos de trabalho do treinador à frente da seleção, o Bayern é um bom termômetro do momento do futebol alemão. O atual hexacampeão é apenas o quinto colocado da liga nacional, a sete pontos de distância do Borussia Dortmund, e tem o técnico croata Niko Kovac na corda bamba.
Técnico da Alemanha é culpado por demora em renovação
Pouco antes do fiasco na Rússia, Löw teve seu contrato renovado para o quarto ciclo, ou seja, em tese estará no Mundial do Catar, em 2022. Mas os resultados negativos cobram seu preço e há quem questione a permanência dele no comando. A maior reclamação é de que o técnico se agarrou à geração de 2014 e perdeu tempo precioso na renovação do time.
"Ele teve muito sucesso nos últimos anos. Ganhou uma Copa, todos o amavam. Pessoalmente, eu esperava por sua aposentadoria. Mas Löw disse que analisou tudo e tem poder para a reconstrução. A coisa mais importante será ele não se apegar aos heróis de 2014. Precisa dar mais chances aos jovens, como Sané, Brandt, Havertz e Gnabry", diz Florian Plettenberg, jornalista do canal Sport1.
Nos últimos jogos, já se vislumbra parte desse processo. No jogo contra a Holanda, por exemplo, Thomas Müller, um dos ícones da geração de 2014, iniciou a partida no banco. Os resultados, porém, não ajudam. O time vencia por 2 a 0 até os 40 do segundo tempo. Sofreu o empate nos acréscimos. Nesta temporada, a Alemanha ganhou apenas quatro de 13 jogos, sendo três amistosos. A única vitória em duelos oficiais foi o 2 a 1 na Suécia, na Copa da Rússia.
Análise: 'O Löw precisa ter coragem para mudar'
No momento, temos sido bastante críticos ao time graças à terrível Copa do Mundo e também aos jogos posteriores, que não foram muito melhores. E claro que há muitas reclamações sobre Löw. Normalmente, qualquer técnico eliminado na fase de grupos de um Mundial seria demitido imediatamente. Mas certamente ele tinha um bônus pelo título de 2014. Atualmente, há muitas discussões sobre se ele ainda é o cara para transformar o time. O maior problema foi que Löw quis desesperadamente manter a sua tática da posse de bola e não tinha um plano B, o que nos custou a Copa do Mundo. Isso funcionou bem por um tempo, mas agora parece que outras equipes se adaptaram para jogar contra. Ele precisa ter coragem para mudar algumas coisas.
Heiko Niedderer, REPÓRTER DO JORNAL ‘BILD’
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