A “era Fernando Diniz” começou com uma goleada da seleção brasileira sobre a Bolívia por 5 a 1. No entanto, os dois últimos resultados (vitória sobre o Peru por 1 a 0 e empate com a Venezuela por 1 a 1) foram construídos com gols de defensores (Marquinhos e Gabriel Magalhães) e mostraram uma relevante dificuldade do Brasil construir placares positivos com a ajuda de seus atacantes. Eles não estão bem.
Diniz não tem muito tempo para implementar suas ideias e formar uma nova seleção. Seu prazo como comandante expira em junho de 2024 com a chegada do italiano Carlo Ancelotti, como reafirma a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Portanto, restam apenas cinco partidas para o técnico do Fluminense: três jogos pelas Eliminatórias da Copa de 2026 (diante de Uruguai, Colômbia e Argentina) e dois amistosos em março de 2024 (contra Espanha e mais um adversário ainda não definido).
Apesar das condições, o treinador definiu um time titular e fez mudanças obrigatórias por causa de lesões. No ataque, no sonolento empate com a Venezuela, o treinador optou por jogar com Vinícius Júnior, Rodrygo e Richarlison. Neymar fez novamente uma função mais de armador, mas buscou aproximação com o ataque a todo momento. Também não foi bem.
Uma das principais contestações sobre Diniz se dá sobre a escolha de Richarlison, do Tottenham, como centroavante. O camisa 9 não vem bem em seu clube e na seleção ele tem deixado a desejar. O Estadão fez um levantamento da média de gols por partida, e também de assistências, dos jogadores convocados por Diniz nesta Data Fifa e ao longo do ano de 2023, somados os desempenhos em clube e seleção, competições oficiais e amistosos.
Neymar aparece como o atacante com melhores médias de gols e assistências ao longo do ano em seu time e também na seleção. Apesar de ser o jogador que menos entrou em campo (18 partidas). O jogador do Al-Hilal tem mais gols (oito) do que Richarlison (seis gols em 37 jogos), Matheus Cunha (quatro gols em 33 partidas) e David Neres (seis gols em 42 jogos).
É importante diferenciar as funções de cada atleta em campo. Enquanto Neymar tem uma obrigação de construtor, Vini Jr., Rodrygo e David Neres usualmente são utilizados pelas beiradas, o que favorece a atuação como assistentes (passes para gol) e de goleadores. Eles deveriam ser mais objetivos, com arrancadas e arremates.
Má fase de Richarlison afeta seleção e tem origem extracampo
Na função de centroavante, Gabriel Jesus tem estatísticas melhores do que as de Richarlison e Matheus Cunha. O atacante do Arsenal é peça importante para o time de Londres, que tem sido um dos grandes destaques na Inglaterra após anos de marasmo. Matheus Cunha, apesar dos números não muito convincentes, costuma ser titular do Wolverhampton, enquanto Richarlison tem oscilado entre titularidade e reserva no Tottenham.
“É uma escolha técnica, porque já falei isso em outra ocasião. O Richarlison, se tivesse feito um gol em cada partida, e teve chances para fazer, a gente estaria falando que ele jogou bem e foi o máximo. Ele não fez gol, mas jogou bem os dois jogos. Na parte tática e na parte técnica, contribuiu muito para o time”, avaliou Fernando Diniz antes do duelo com a Venezuela. Contra o Uruguai, a tendência é que Jesus assuma o posto de centroavante.
Em setembro, Richarlison revelou que problemas particulares acabaram atrapalhando o seu desempenho dentro das quatro linhas e que estava em busca de ajuda psicológica. “Pessoas que estavam próximas só de olho no meu dinheiro, botei para ‘ralar’ também. Agora é procurar ajuda psicológica. Acho que é importante estar bem focado para que as coisas comecem a acontecer novamente”, disse o atacante.
Na última semana, o atacante se mostrou confiante e refletiu sobre a importância de vestir a camisa 9 do Brasil. “Tenho muito orgulho de vestir a camisa 9, mas agora eu sei o peso que o Ronaldo carregava e que outros grandes jogadores que vestiram a camisa carregavam. Porque quando você veste o número 9, a expectativa de que você faça gols sempre é enorme”, afirmou ao olympics.com.
Seleção mudou muito de Tite para Diniz?
As estatísticas referentes aos primeiros três duelos comandados por Fernando Diniz revelam uma seleção muito parecida com a que Tite montou e liderou durante a Copa do Mundo do Catar, em 2022. Em campo, a escalação de Brasil x Croácia, que culminou na queda brasileira nas quartas de final, tem apenas um atleta que não foi convocado ainda por Diniz: o zagueiro Thiago Silva.
A alteração significativa nos números diz respeito à posse de bola. Nos últimos três jogos com time titular sob o comando de Tite, a seleção brasileira obteve 53% de média de posse diante de Croácia, Coreia do Sul e Suíça. Com Diniz, o Brasil teve 71,3%, indicada a ressalva sobre os adversários enfrentados pela seleção nesse período: Bolívia, Peru e Venezuela. Confira outros dados:
Diante do Uruguai, nesta terça-feira, às 21h, Fernando Diniz terá seu maior desafio no comando da seleção. Enfrentando a bicampeã mundial, comandado por Marcelo “El Loco” Bielsa, no Estádio Centenário de Montevidéu, o técnico do Fluminense poderá mostrar uma correção de rota no setor ofensivo. Em novembro, o Brasil volta a se reunir para encarar adversários de patamar mais elevado: Colômbia, fora de casa, e a campeã mundial Argentina, no Maracanã.