Quem é Romarinho? Empresário teve nome vinculado em mensagens para Bauermann no esquema de apostas


Investigados na Operação Penalidade Máxima é ex-jogador das categorias de base do Palmeiras e sócio de empresa do ramo automotivo em SP

Por Murillo César Alves
Atualização:

Em uma das conversas de Eduardo Bauermann, zagueiro do Santos, interceptadas pelo Ministério Público de Goiás na segunda fase da Operação Penalidade Máxima nesta segunda-feira, um dos nomes citados no diálogo ganhou destaque: o de Romarinho, ex-jogador, que teve seu endereço de e-mail divulgado à imprensa.

“Romarinho_camisa-9″ é o endereço de e-mail de Romario Hugo dos Santos, um dos apostadores investigados pelo MP. Natural de Belo Horizonte, passou pelas categorias de base do Palmeiras, mas não obteve sucesso futebol profissional, com breves experiências em clubes como Atlético Sorocaba e Ponte Preta, antes de encerrar sua carreira em 2019.

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Aos 28 anos, Romario teve seu nome citado nas mensagens enviadas por um apostador a Bauermann no último ano, quando o zagueiro do Santos foi aliciado para receber cartão em dois jogos do Brasileirão 2022: contra Avaí e Botafogo. No diálogo, Romarinho revela que teve um prejuízo de R$ 800 mil em apostas e insistiu para que o atleta o ressarcisse – já que Bauermann não teria cumprido com sua parte no acordo.

Bauermann e Romarinho conversam diretamente antes da partida contra o Botafogo, pelo Brasileirão de 2022. Foto: Reprodução

Ao tentar realizar uma transferência na chave PIX, enviada por Romário, encontra-se a empresa “R11CAR VEICULOS LTDA”, fundada em 2019 e da qual Romario é o único sócio-administrador. O ex-jogador entrou no negócio em 2021, dois anos após se aposentar do futebol profissional. A empresa não está sob investigação.

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Localizada na Freguesia do Ó, bairro na zona norte de São Paulo, a empresa leva o nome fantasia R11Imports. Ela não é investigada pelo Ministério Público, diferentemente de Romario. O empresário é acusado pelo MP de organização criminosa e, de acordo com a investigação, responsável pelos repasses dos pagamentos aos jogadores.

Romarinho teve uma breve carreira como jogador profissional. Foto: Divulgação/Passo Fundo

De acordo com o órgão, o ex-jogador transferiu à conta de Gabriel Tota, do Juventude, R$ 10 mil para que o jogador fosse advertido com um cartão amarelo na derrota para o Goiás, por 1 a 0, no Brasileirão do último ano.

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Na denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), Romarinho estaria envolvido em cinco jogos: Goiás X Juventude, Red Bull Bragantino X América-MG, Palmeiras X Cuiabá, além dos jogos do Santos contra Avaí e Botafogo, todos válidos pelo Brasileirão de 2022.

Em nota enviada ao Estadão, assinada pelos advogados Matheus Segala Batista e Mayara Baldo de Oliveira, responsáveis pela defesa do empresário, ressaltam a inocência de seu cliente no caso. Nesta terça-feira, a Justiça de Goiás acatou o pedido de denúncia do MP, do qual Romario é um dos investigados.

A defesa também afirmou que as mensagens à Bauermann não são de autoria do empresário, mas os documentos do MP confirmam que houve um contato direto entre as partes, inclusive por meio de chamadas de vídeo. O celular do empresário e conta com os registros de conversas com o zagueiro.

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A Justiça acatou nesta terça a denúncia do MP na Operação Penalidade Máxima, tornando réu 13 suspeitos de envolvimento no esquema. Entre eles está Romarinho, preso em São Paulo desde o dia 18 de abril, preventivamente.

Confira a nota da defesa na íntegra

A Equipe Jurídica de Romario Hugo dos Santos vem, por meio desta nota, informar que Romario desconhece as imputações que estão sendo feitas em seu desfavor e que eventuais dúvidas serão esclarecidas e sanadas no deslinde processual.

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Ressalta-se que, por ora, o feito encontra-se em um momento ainda embrionário de uma suposta e, talvez, imaginaria, formação de culpa.

Outrossim, trata-se de pessoa primária, de conduta ilibada e que figura como empresário do setor automotivo há mais de cinco anos, não havendo qualquer envolvimento com a prática de delitos.

Nesta oportunidade, por meio de seus Advogados, coloca-se à disposição para dirimir quaisquer eventuais dúvidas, eis que é de seu absoluto interesse provar sua inconteste inocência.

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Quais foram as conversas de Bauermann com o apostador?

Reveladas pela revista Veja nesta segunda-feira, as conversas entre Bauermann e o apostador ocorreram em dois momentos, após o jogo contra o Avaí e o Botafogo. Confira abaixo trechos da conversa entre atleta e apostador:

05/11/2022 - Dia do jogo contra o Avaí

  • Eduardo Bauermann (12h55): “Mano, só me avisa antes se realmente vai dar pra fazer, senão nem tomo cartão a toa, entende”.
  • Apostador (12h56): “Fica em paz, irmão. Vai dar certo. Nois (sic) sempre dá um jeito. Mano se você falou pra alguém (da) aposta manda não apostar mais, demoro (sic). Tmj vamos pra cima”.
  • Eduardo Bauermann (13h05): “Não, não, nem falei nada mano... quem comentou que faria uma aposta também foi o Luiz Taveira (empresário do zagueiro), mas ele falou brincando.. acho que não iria fazer. Mas se alguém me chamar aqui pra fazer vou cortar já”.
  • Apostador (18h31): “Truta, o que você fez da sua vida, mano? Qual a fita? Truta, você foi pago para fazer o que, mano???? Você vai pagar todo meu prejuízo, mano. E aí, truta?????”.

Na sequência, o apostador enviou uma captura de tela com a escalação do Santos na partida. Bauermann, titular, não recebeu cartão amarelo. Após não cumprir o acordo e ter recebido o dinheiro, Bauermann acertou ser expulso na partida seguinte da competição, contra o Botafogo. A seguir, a sequência das mensagens:

10/11/2022 - Dia do jogo contra o Botafogo

  • Apostador (22h37 - 23h50): “Olha a p... da m... que você fez. Mano, por que você não fez a p... que eu te falei. Mano, por que não tomou essa p... no primeiro tempo. Por que não deu uma p... de uma cutuvelada (sic). Mano, por que você não me escuta, mano. Você me f... de novo mano. Mais (sic) dessa vez você vai resolver. Mano, você vai me pagar, tudo. Eu te pedi, eu confiei em você mano. E você me desonrou. De novo mano. Não tô acreditando nisso. Não deu certo porque você não escuta os outros. Era uma p... de uma curuvelada (sic), um tapa na cara do jogador. Só isso, você não fez mano, por que você não quis”.
  • Eduardo Bauermann (23h54): “Mano, de coração, não foi porque eu não quis, eu te juro! Senão não tinha tomado nem no final e teria inventado uma desculpa para você...”.
  • Apostador (23h54): “Por que você não deu uma cotovelada no cara????”.

Em outro momento, o apostador insiste que Bauermann arque com o “prejuízo” das apostas. Em um dos prints divulgados, o homem apostou R$ 70 na plataforma Bet365.

  • Apostador (12h39): “O barato vai ficar louco para você”
  • Eduardo Bauermann (12h40): “Mas estou correndo atrás pra conseguir te pagar esses 800 mil que você falou”.
  • Apostador (12h51): “Cadê os 50 (mil) que eu já te mandei mano?”.
  • Eduardo Bauermann (12h52): “Tá aqui, nem mexi nesse dinheiro”.
  • Apostador (12h59): “Já vê aí pra já mandar esse dinheiro mano”.

Após o diálogo, o apostador realizou uma chamada de vídeo com Bauermann, enviou um vídeo do jogo entre Fluminense x Goiás, do Brasileirão de 2022 – vitória do time carioca por 3 a 0. Inicialmente, este jogo não está entre os investigados da Operação Penalidade Máxima.

Operação Penalidade Máxima

O MP, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), deflagraram a segunda fase da Operação Penalidade Máxima — a primeira etapa foi realizada em fevereiro. Três mandados de prisão, 16 de preventiva e 20 de busca e apreensão foram cumpridos em 16 municípios de 20 Estados brasileiros diferentes, incluindo São Paulo e Rio. As investigações já denunciaram 14 pessoas à Justiça.

De acordo com o promotor responsável pela investigação, Fernando Cesconetto, os jogadores da Série A que participavam do esquema recebiam até R$ 60 mil após o fim de sua atuação no ‘jogo marcado’, quantia que saltava para R$ 100 mil nos Estaduais deste ano. Cesconetto afirmou ainda que, mesmo que ocorra apenas a promessa de pagamento, os envolvidos cometeram crime, assim como quando se dá o pagamento efetivo em troca da manipulação de resultado.

As pessoas denunciadas podem responder por crimes de participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e de corrupção em práticas esportivas previstas no Estatuto do Torcedor. Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão em dois endereços em São Paulo, os investigadores encontraram armas, munições e granadas de efeito moral de uso restrito das forças de segurança. Os jogadores também podem perder seu registro nas entidades esportivas, de modo a não poder mais realizar a profissão.

Ao todo, desta vez, oito partidas do Brasileirão 2022 foram alvo do esquema de apostas realizado pelo grupo criminoso. A manipulação se dava por meio de ações dos jogadores dentro de campo, ou seja, diretamente ligados com as ações esportivas.

Em uma das conversas de Eduardo Bauermann, zagueiro do Santos, interceptadas pelo Ministério Público de Goiás na segunda fase da Operação Penalidade Máxima nesta segunda-feira, um dos nomes citados no diálogo ganhou destaque: o de Romarinho, ex-jogador, que teve seu endereço de e-mail divulgado à imprensa.

“Romarinho_camisa-9″ é o endereço de e-mail de Romario Hugo dos Santos, um dos apostadores investigados pelo MP. Natural de Belo Horizonte, passou pelas categorias de base do Palmeiras, mas não obteve sucesso futebol profissional, com breves experiências em clubes como Atlético Sorocaba e Ponte Preta, antes de encerrar sua carreira em 2019.

Aos 28 anos, Romario teve seu nome citado nas mensagens enviadas por um apostador a Bauermann no último ano, quando o zagueiro do Santos foi aliciado para receber cartão em dois jogos do Brasileirão 2022: contra Avaí e Botafogo. No diálogo, Romarinho revela que teve um prejuízo de R$ 800 mil em apostas e insistiu para que o atleta o ressarcisse – já que Bauermann não teria cumprido com sua parte no acordo.

Bauermann e Romarinho conversam diretamente antes da partida contra o Botafogo, pelo Brasileirão de 2022. Foto: Reprodução

Ao tentar realizar uma transferência na chave PIX, enviada por Romário, encontra-se a empresa “R11CAR VEICULOS LTDA”, fundada em 2019 e da qual Romario é o único sócio-administrador. O ex-jogador entrou no negócio em 2021, dois anos após se aposentar do futebol profissional. A empresa não está sob investigação.

Localizada na Freguesia do Ó, bairro na zona norte de São Paulo, a empresa leva o nome fantasia R11Imports. Ela não é investigada pelo Ministério Público, diferentemente de Romario. O empresário é acusado pelo MP de organização criminosa e, de acordo com a investigação, responsável pelos repasses dos pagamentos aos jogadores.

Romarinho teve uma breve carreira como jogador profissional. Foto: Divulgação/Passo Fundo

De acordo com o órgão, o ex-jogador transferiu à conta de Gabriel Tota, do Juventude, R$ 10 mil para que o jogador fosse advertido com um cartão amarelo na derrota para o Goiás, por 1 a 0, no Brasileirão do último ano.

Na denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), Romarinho estaria envolvido em cinco jogos: Goiás X Juventude, Red Bull Bragantino X América-MG, Palmeiras X Cuiabá, além dos jogos do Santos contra Avaí e Botafogo, todos válidos pelo Brasileirão de 2022.

Em nota enviada ao Estadão, assinada pelos advogados Matheus Segala Batista e Mayara Baldo de Oliveira, responsáveis pela defesa do empresário, ressaltam a inocência de seu cliente no caso. Nesta terça-feira, a Justiça de Goiás acatou o pedido de denúncia do MP, do qual Romario é um dos investigados.

A defesa também afirmou que as mensagens à Bauermann não são de autoria do empresário, mas os documentos do MP confirmam que houve um contato direto entre as partes, inclusive por meio de chamadas de vídeo. O celular do empresário e conta com os registros de conversas com o zagueiro.

A Justiça acatou nesta terça a denúncia do MP na Operação Penalidade Máxima, tornando réu 13 suspeitos de envolvimento no esquema. Entre eles está Romarinho, preso em São Paulo desde o dia 18 de abril, preventivamente.

Confira a nota da defesa na íntegra

A Equipe Jurídica de Romario Hugo dos Santos vem, por meio desta nota, informar que Romario desconhece as imputações que estão sendo feitas em seu desfavor e que eventuais dúvidas serão esclarecidas e sanadas no deslinde processual.

Ressalta-se que, por ora, o feito encontra-se em um momento ainda embrionário de uma suposta e, talvez, imaginaria, formação de culpa.

Outrossim, trata-se de pessoa primária, de conduta ilibada e que figura como empresário do setor automotivo há mais de cinco anos, não havendo qualquer envolvimento com a prática de delitos.

Nesta oportunidade, por meio de seus Advogados, coloca-se à disposição para dirimir quaisquer eventuais dúvidas, eis que é de seu absoluto interesse provar sua inconteste inocência.

Quais foram as conversas de Bauermann com o apostador?

Reveladas pela revista Veja nesta segunda-feira, as conversas entre Bauermann e o apostador ocorreram em dois momentos, após o jogo contra o Avaí e o Botafogo. Confira abaixo trechos da conversa entre atleta e apostador:

05/11/2022 - Dia do jogo contra o Avaí

  • Eduardo Bauermann (12h55): “Mano, só me avisa antes se realmente vai dar pra fazer, senão nem tomo cartão a toa, entende”.
  • Apostador (12h56): “Fica em paz, irmão. Vai dar certo. Nois (sic) sempre dá um jeito. Mano se você falou pra alguém (da) aposta manda não apostar mais, demoro (sic). Tmj vamos pra cima”.
  • Eduardo Bauermann (13h05): “Não, não, nem falei nada mano... quem comentou que faria uma aposta também foi o Luiz Taveira (empresário do zagueiro), mas ele falou brincando.. acho que não iria fazer. Mas se alguém me chamar aqui pra fazer vou cortar já”.
  • Apostador (18h31): “Truta, o que você fez da sua vida, mano? Qual a fita? Truta, você foi pago para fazer o que, mano???? Você vai pagar todo meu prejuízo, mano. E aí, truta?????”.

Na sequência, o apostador enviou uma captura de tela com a escalação do Santos na partida. Bauermann, titular, não recebeu cartão amarelo. Após não cumprir o acordo e ter recebido o dinheiro, Bauermann acertou ser expulso na partida seguinte da competição, contra o Botafogo. A seguir, a sequência das mensagens:

10/11/2022 - Dia do jogo contra o Botafogo

  • Apostador (22h37 - 23h50): “Olha a p... da m... que você fez. Mano, por que você não fez a p... que eu te falei. Mano, por que não tomou essa p... no primeiro tempo. Por que não deu uma p... de uma cutuvelada (sic). Mano, por que você não me escuta, mano. Você me f... de novo mano. Mais (sic) dessa vez você vai resolver. Mano, você vai me pagar, tudo. Eu te pedi, eu confiei em você mano. E você me desonrou. De novo mano. Não tô acreditando nisso. Não deu certo porque você não escuta os outros. Era uma p... de uma curuvelada (sic), um tapa na cara do jogador. Só isso, você não fez mano, por que você não quis”.
  • Eduardo Bauermann (23h54): “Mano, de coração, não foi porque eu não quis, eu te juro! Senão não tinha tomado nem no final e teria inventado uma desculpa para você...”.
  • Apostador (23h54): “Por que você não deu uma cotovelada no cara????”.

Em outro momento, o apostador insiste que Bauermann arque com o “prejuízo” das apostas. Em um dos prints divulgados, o homem apostou R$ 70 na plataforma Bet365.

  • Apostador (12h39): “O barato vai ficar louco para você”
  • Eduardo Bauermann (12h40): “Mas estou correndo atrás pra conseguir te pagar esses 800 mil que você falou”.
  • Apostador (12h51): “Cadê os 50 (mil) que eu já te mandei mano?”.
  • Eduardo Bauermann (12h52): “Tá aqui, nem mexi nesse dinheiro”.
  • Apostador (12h59): “Já vê aí pra já mandar esse dinheiro mano”.

Após o diálogo, o apostador realizou uma chamada de vídeo com Bauermann, enviou um vídeo do jogo entre Fluminense x Goiás, do Brasileirão de 2022 – vitória do time carioca por 3 a 0. Inicialmente, este jogo não está entre os investigados da Operação Penalidade Máxima.

Operação Penalidade Máxima

O MP, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), deflagraram a segunda fase da Operação Penalidade Máxima — a primeira etapa foi realizada em fevereiro. Três mandados de prisão, 16 de preventiva e 20 de busca e apreensão foram cumpridos em 16 municípios de 20 Estados brasileiros diferentes, incluindo São Paulo e Rio. As investigações já denunciaram 14 pessoas à Justiça.

De acordo com o promotor responsável pela investigação, Fernando Cesconetto, os jogadores da Série A que participavam do esquema recebiam até R$ 60 mil após o fim de sua atuação no ‘jogo marcado’, quantia que saltava para R$ 100 mil nos Estaduais deste ano. Cesconetto afirmou ainda que, mesmo que ocorra apenas a promessa de pagamento, os envolvidos cometeram crime, assim como quando se dá o pagamento efetivo em troca da manipulação de resultado.

As pessoas denunciadas podem responder por crimes de participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e de corrupção em práticas esportivas previstas no Estatuto do Torcedor. Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão em dois endereços em São Paulo, os investigadores encontraram armas, munições e granadas de efeito moral de uso restrito das forças de segurança. Os jogadores também podem perder seu registro nas entidades esportivas, de modo a não poder mais realizar a profissão.

Ao todo, desta vez, oito partidas do Brasileirão 2022 foram alvo do esquema de apostas realizado pelo grupo criminoso. A manipulação se dava por meio de ações dos jogadores dentro de campo, ou seja, diretamente ligados com as ações esportivas.

Em uma das conversas de Eduardo Bauermann, zagueiro do Santos, interceptadas pelo Ministério Público de Goiás na segunda fase da Operação Penalidade Máxima nesta segunda-feira, um dos nomes citados no diálogo ganhou destaque: o de Romarinho, ex-jogador, que teve seu endereço de e-mail divulgado à imprensa.

“Romarinho_camisa-9″ é o endereço de e-mail de Romario Hugo dos Santos, um dos apostadores investigados pelo MP. Natural de Belo Horizonte, passou pelas categorias de base do Palmeiras, mas não obteve sucesso futebol profissional, com breves experiências em clubes como Atlético Sorocaba e Ponte Preta, antes de encerrar sua carreira em 2019.

Aos 28 anos, Romario teve seu nome citado nas mensagens enviadas por um apostador a Bauermann no último ano, quando o zagueiro do Santos foi aliciado para receber cartão em dois jogos do Brasileirão 2022: contra Avaí e Botafogo. No diálogo, Romarinho revela que teve um prejuízo de R$ 800 mil em apostas e insistiu para que o atleta o ressarcisse – já que Bauermann não teria cumprido com sua parte no acordo.

Bauermann e Romarinho conversam diretamente antes da partida contra o Botafogo, pelo Brasileirão de 2022. Foto: Reprodução

Ao tentar realizar uma transferência na chave PIX, enviada por Romário, encontra-se a empresa “R11CAR VEICULOS LTDA”, fundada em 2019 e da qual Romario é o único sócio-administrador. O ex-jogador entrou no negócio em 2021, dois anos após se aposentar do futebol profissional. A empresa não está sob investigação.

Localizada na Freguesia do Ó, bairro na zona norte de São Paulo, a empresa leva o nome fantasia R11Imports. Ela não é investigada pelo Ministério Público, diferentemente de Romario. O empresário é acusado pelo MP de organização criminosa e, de acordo com a investigação, responsável pelos repasses dos pagamentos aos jogadores.

Romarinho teve uma breve carreira como jogador profissional. Foto: Divulgação/Passo Fundo

De acordo com o órgão, o ex-jogador transferiu à conta de Gabriel Tota, do Juventude, R$ 10 mil para que o jogador fosse advertido com um cartão amarelo na derrota para o Goiás, por 1 a 0, no Brasileirão do último ano.

Na denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), Romarinho estaria envolvido em cinco jogos: Goiás X Juventude, Red Bull Bragantino X América-MG, Palmeiras X Cuiabá, além dos jogos do Santos contra Avaí e Botafogo, todos válidos pelo Brasileirão de 2022.

Em nota enviada ao Estadão, assinada pelos advogados Matheus Segala Batista e Mayara Baldo de Oliveira, responsáveis pela defesa do empresário, ressaltam a inocência de seu cliente no caso. Nesta terça-feira, a Justiça de Goiás acatou o pedido de denúncia do MP, do qual Romario é um dos investigados.

A defesa também afirmou que as mensagens à Bauermann não são de autoria do empresário, mas os documentos do MP confirmam que houve um contato direto entre as partes, inclusive por meio de chamadas de vídeo. O celular do empresário e conta com os registros de conversas com o zagueiro.

A Justiça acatou nesta terça a denúncia do MP na Operação Penalidade Máxima, tornando réu 13 suspeitos de envolvimento no esquema. Entre eles está Romarinho, preso em São Paulo desde o dia 18 de abril, preventivamente.

Confira a nota da defesa na íntegra

A Equipe Jurídica de Romario Hugo dos Santos vem, por meio desta nota, informar que Romario desconhece as imputações que estão sendo feitas em seu desfavor e que eventuais dúvidas serão esclarecidas e sanadas no deslinde processual.

Ressalta-se que, por ora, o feito encontra-se em um momento ainda embrionário de uma suposta e, talvez, imaginaria, formação de culpa.

Outrossim, trata-se de pessoa primária, de conduta ilibada e que figura como empresário do setor automotivo há mais de cinco anos, não havendo qualquer envolvimento com a prática de delitos.

Nesta oportunidade, por meio de seus Advogados, coloca-se à disposição para dirimir quaisquer eventuais dúvidas, eis que é de seu absoluto interesse provar sua inconteste inocência.

Quais foram as conversas de Bauermann com o apostador?

Reveladas pela revista Veja nesta segunda-feira, as conversas entre Bauermann e o apostador ocorreram em dois momentos, após o jogo contra o Avaí e o Botafogo. Confira abaixo trechos da conversa entre atleta e apostador:

05/11/2022 - Dia do jogo contra o Avaí

  • Eduardo Bauermann (12h55): “Mano, só me avisa antes se realmente vai dar pra fazer, senão nem tomo cartão a toa, entende”.
  • Apostador (12h56): “Fica em paz, irmão. Vai dar certo. Nois (sic) sempre dá um jeito. Mano se você falou pra alguém (da) aposta manda não apostar mais, demoro (sic). Tmj vamos pra cima”.
  • Eduardo Bauermann (13h05): “Não, não, nem falei nada mano... quem comentou que faria uma aposta também foi o Luiz Taveira (empresário do zagueiro), mas ele falou brincando.. acho que não iria fazer. Mas se alguém me chamar aqui pra fazer vou cortar já”.
  • Apostador (18h31): “Truta, o que você fez da sua vida, mano? Qual a fita? Truta, você foi pago para fazer o que, mano???? Você vai pagar todo meu prejuízo, mano. E aí, truta?????”.

Na sequência, o apostador enviou uma captura de tela com a escalação do Santos na partida. Bauermann, titular, não recebeu cartão amarelo. Após não cumprir o acordo e ter recebido o dinheiro, Bauermann acertou ser expulso na partida seguinte da competição, contra o Botafogo. A seguir, a sequência das mensagens:

10/11/2022 - Dia do jogo contra o Botafogo

  • Apostador (22h37 - 23h50): “Olha a p... da m... que você fez. Mano, por que você não fez a p... que eu te falei. Mano, por que não tomou essa p... no primeiro tempo. Por que não deu uma p... de uma cutuvelada (sic). Mano, por que você não me escuta, mano. Você me f... de novo mano. Mais (sic) dessa vez você vai resolver. Mano, você vai me pagar, tudo. Eu te pedi, eu confiei em você mano. E você me desonrou. De novo mano. Não tô acreditando nisso. Não deu certo porque você não escuta os outros. Era uma p... de uma curuvelada (sic), um tapa na cara do jogador. Só isso, você não fez mano, por que você não quis”.
  • Eduardo Bauermann (23h54): “Mano, de coração, não foi porque eu não quis, eu te juro! Senão não tinha tomado nem no final e teria inventado uma desculpa para você...”.
  • Apostador (23h54): “Por que você não deu uma cotovelada no cara????”.

Em outro momento, o apostador insiste que Bauermann arque com o “prejuízo” das apostas. Em um dos prints divulgados, o homem apostou R$ 70 na plataforma Bet365.

  • Apostador (12h39): “O barato vai ficar louco para você”
  • Eduardo Bauermann (12h40): “Mas estou correndo atrás pra conseguir te pagar esses 800 mil que você falou”.
  • Apostador (12h51): “Cadê os 50 (mil) que eu já te mandei mano?”.
  • Eduardo Bauermann (12h52): “Tá aqui, nem mexi nesse dinheiro”.
  • Apostador (12h59): “Já vê aí pra já mandar esse dinheiro mano”.

Após o diálogo, o apostador realizou uma chamada de vídeo com Bauermann, enviou um vídeo do jogo entre Fluminense x Goiás, do Brasileirão de 2022 – vitória do time carioca por 3 a 0. Inicialmente, este jogo não está entre os investigados da Operação Penalidade Máxima.

Operação Penalidade Máxima

O MP, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), deflagraram a segunda fase da Operação Penalidade Máxima — a primeira etapa foi realizada em fevereiro. Três mandados de prisão, 16 de preventiva e 20 de busca e apreensão foram cumpridos em 16 municípios de 20 Estados brasileiros diferentes, incluindo São Paulo e Rio. As investigações já denunciaram 14 pessoas à Justiça.

De acordo com o promotor responsável pela investigação, Fernando Cesconetto, os jogadores da Série A que participavam do esquema recebiam até R$ 60 mil após o fim de sua atuação no ‘jogo marcado’, quantia que saltava para R$ 100 mil nos Estaduais deste ano. Cesconetto afirmou ainda que, mesmo que ocorra apenas a promessa de pagamento, os envolvidos cometeram crime, assim como quando se dá o pagamento efetivo em troca da manipulação de resultado.

As pessoas denunciadas podem responder por crimes de participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e de corrupção em práticas esportivas previstas no Estatuto do Torcedor. Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão em dois endereços em São Paulo, os investigadores encontraram armas, munições e granadas de efeito moral de uso restrito das forças de segurança. Os jogadores também podem perder seu registro nas entidades esportivas, de modo a não poder mais realizar a profissão.

Ao todo, desta vez, oito partidas do Brasileirão 2022 foram alvo do esquema de apostas realizado pelo grupo criminoso. A manipulação se dava por meio de ações dos jogadores dentro de campo, ou seja, diretamente ligados com as ações esportivas.

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