Que menina pode, sim, jogar futebol todo mundo já sabe. Mas, diferentemente do que se vê nas categorias profissionais e nas divisões de base dos clubes, Giovanna Waksman esbanja habilidade atuando entre meninos. Com apenas 12 anos, ela é a camisa 10 e titular dos times sub-12 e sub-13 do Botafogo e tratada como joia no clube do Rio.
As comparações com Marta, eleita seis vezes melhor jogadora de futebol do mundo pela Fifa, são inevitáveis. Mas a qualidade com a bola no pé já salta aos olhos dos torcedores cariocas. O nome de Giovanna começou a figurar na boca dos botafoguenses no último dia 30 de outubro, após a vitória por 3 a 0 sobre o Vasco no Torneio Super 8, na categoria sub-12. Além de uma assistência, a jogadora marcou um golaço, arrancando do campo de defesa e tocando por cobertura na saída do goleiro.
Moradora de Jacarepaguá, na zona oeste carioca, Giovanna iniciou sua trajetória no Botafogo em janeiro deste ano. Descoberta através de vídeos na internet, ela passou a ser monitorada até finalmente o clube entrar em contato com seus pais e oferecer uma bolsa à jovem jogadora, para ser observada de perto pelos profissionais alvinegros. Inicialmente, começou a treinar com as jogadoras do sub-18 e do time adulto, pois o clube não possuía uma categoria feminina para encaixá-la. No entanto, sua desenvoltura levou o Botafogo a colocar a garota para trabalhar na base do time masculino.
Tiano Gomes, gerente geral das divisões de base do Botafogo, afirma que a jovem promessa está “à vontade” entre os garotos e encara com naturalidade os jogos no masculino. Ele também ressalta, ainda, a boa recepção dos meninos com a chegada de Giovanna. “A aceitação, desde o momento que ela fez o primeiro treino com os meninos, foi excepcional. Algo muito legal e bonito de se ver. Os nossos meninos a receberam da melhor forma possível, a comissão técnica, de uma forma muito respeitosa, carinhosa e sem diferenciar nada. Hoje ela é uma peça fundamental na equipe e vem se desenvolvendo com muita facilidade. É uma felicidade enorme ver tudo o que vem acontecendo com ela”, diz.
Meia “clássica” com enorme visão de jogo, visão periférica acentuada e excelente finalização, segundo o técnico Glaucio Carvalho, a camisa 10 alvinegra já acumula 17 gols atuando entre os meninos do Botafogo. Os últimos dois foram marcados na final do Super 8, contra o Flamengo. Após a equipe sair perdendo por 2 a 0, Giovanna comandou a busca pelo empate, levando a decisão para os pênaltis. Apesar de converter sua cobrança, o título ficou com a equipe da Gávea.
Rose de Sá, coordenadora do futebol feminino, explica que um dos motivos para integrar a jovem nas competições masculinas é o fato do seu nível físico e técnico ser acima das meninas de sua idade. “Nosso projeto com Giovanna é mantê-la treinando com nossa equipe adulta, continuar disputando campeonatos pela nossa base masculina até quando suas valências físicas continuarem em igualdade de performance com os meninos”, afirma. “Ela é diferenciada”, completa.
Giovanna também já acumula prêmios na carreira ainda embrionária. Também jogando entre garotos ela recebeu o prêmio de melhor jogadora do Campeonato Carioca de Base na categoria sub-09, quando também foi a artilheira do torneio pelo Sogima FC, time responsável por trabalhar a base do Cabofriense. A conquista mais recente da jovem atleta foi a assinatura com a Nike, a primeira jogadora na idade dela a assinar com a marca de material esportivo.
O próximo desafio da jovem promessa é a disputa da Copa Nike Feminina Sub-17, torneio no qual vai atuar cedida ao Internacional. O Botafogo vê o empréstimo como parte do processo de lapidação da joia, que está nos planos do clube para 2022 e onde deve seguir desenvolvendo seu futebol no caminho até o profissional.
“Em 2022 teremos categorias de base feminina e já que estamos com 99% fechado com um grande parceiro para o próximo ano, que além de estrutura de treinamento virá também com aporte financeiro, fazendo desta forma que a atleta Giovanna jogue pelo Botafogo e também consigamos revelar novos talentos”, diz Rose.