Rebaixado pela primeira vez, o Santos terá o ano de 2024 para se reestruturar, em meio à uma nova gestão liderada por Marcelo Teixeira, e uma queda na receita, resultado dos contratos de transmissão da Série A, que o clube não terá acesso na próxima temporada. A previsão orçamentária para o período na Segundona, aprovada pelo presidente Andrés Rueda antes mesmo da eleição da Teixeira, contava com os ganhos do Brasileirão de 2023 e com os direitos de transmissão na próxima temporada. O Santos perderá cerca de R$ 80 milhões. A receita fará falta.
No Brasileirão, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divide a fatia dos direitos de transmissão da competição entre os 16 primeiros colocados do torneio, de acordo com a posição final de cada uma das equipes na última rodada. Apenas os quatro rebaixados não recebem a fatia do bolo ao final da competição. Ao Estadão, os candidatos à eleição santista em dezembro afirmaram que a queda para a Série B agravou problemas financeiros do clube e não havia certeza de que o Santos conseguiria pagar o 13º salário de seus funcionários e o que devia para os atletas. Desse ponto de vista, 2024 começou no fim de 2023, com o clube sem dinheiro.
Para sanar as dívidas de novembro, o Santos, ainda liderado por Rueda, recorreu a um empréstimo bancário e um adiantamento dos ganhos do Paulistão de 2024. Ao todo, essa operação gira em torno de R$ 45 milhões – R$ 30 milhões da Federação Paulista de Futebol (FPF) e o restante proveniente do empréstimo no mercado. Com isso, o Santos já inicia o próximo ano sem 75% da receita das transmissões do Campeonato Paulista e sem poder contar com premiações na Série B – apenas os quatro primeiros colocados dividem R$ 10 milhões entre si.
Orçamento previsto para 2024
Em novembro, antes mesmo da última rodada do Campeonato Brasileiro e da eleição no clube, o Santos aprovou seu orçamento para o próximo ano fiscal. A previsão era de ter, em dezembro de 2024, um superávit de R$ 6 milhões, em um cenário otimista. A receita orçada é de R$ 395 milhões, mas deve sofrer queda devido à ausência dos pagamentos do Brasileirão. Nessa primeira análise, foram considerados R$ 90 milhões com contratos de transmissão e pay-per-view. Mas isso mudou com o rebaixamento.
Para efeito de comparação, o Criciúma, que subiu para a primeira divisão nesta temporada, teve um orçamento de R$ 8 milhões com as cotas estáticas de transmissão da CBF. Isso equivale a 8% do que foi planejado pelo Santos, ainda na gestão Rueda, e aprovado no conselho fiscal.
Previsão versus realidade
Inicialmente, a previsão do Santos era de um gasto de R$ 211 milhões com o futebol profissional, que é um aumento em relação à 2023 – cerca de 3,5%. Esses números não devem se manter na gestão de Marcelo Teixeira, quando haverá uma revisão no orçamento.
O otimismo no planejamento, como foi analisado pelo conselho fiscal, se deve principalmente pela venda dos jogadores: em 2024, a meta é de que o clube arrecade mais de R$ 130 milhões, impulsionado principalmente por Marcos Leonardo, que tem tudo acertado com a Roma, da Itália. Mas em 2023, o time somou ‘apenas’ R$ 80 milhões com as negociações de seus atletas.
Segundo apurou o Estadão, Rueda admitiu, em conversas com os cinco candidatos à presidência – Ricardo Agostinho, Marcelo Teixeira, Rodrigo Marino, Maurício Maruca e Wladimir Mattos –, que o atacante santista será vendido em 2024. Há uma cláusula em seu contrato que obriga o Santos a se desfazer do atacante caso receba uma oferta superior a 18 milhões de euros – R$ 97 milhões. A Roma já havia oferecido 12 milhões de euros.
Outra questão que aperta o orçamento da temporada é o Santos só ter dois torneios a disputar em 2024. Apesar de uma previsão otimista de R$ 47 milhões com premiações, a equipe está fora da Copa do Brasil. Em 2023, somente chegar às oitavas de final significou acumular R$ 6,3 milhões em premiação. Nas quartas, R$ 10,6 milhões, e na semifinal, R$ 19,6 milhões. Além do dinheiro embolsado ao longo da competição, por exemplo, o campeão São Paulo recebeu mais R$ 70 milhões pelo título, totalizando mais de R$ 90 milhões arrecadado com prêmio em dinheiro pela campanha. O Santos está fora dessa receita. O Paulistão paga bem menos.
Quem sai, quem fica e quem chega?
A principal mudança que o Santos teve depois da queda para a Série B foi a troca total na comissão técnica. Marcelo Fernandes, último treinador a passar pelo clube na temporada, não foi mantido, Já era sabido. Nenhum dos candidatos nas eleições expressou esse desejo em suas campanhas. Procurado por Teixeira como plano B, depois da negativa de Thiago Carpini, Fábio Carille retornará à equipe que comandou entre 2021 e 2022, após o Santos pagar a multa para seu atual clube japonês no valor de US$ 1,5 milhão. Carille será o ‘pai’ dessa reformulação.
Alexandre Gallo, coordenador técnico do clube, permanece, a pedido do presidente. Após o rebaixamento, ele foi o único a aparecer na entrevista coletiva e conversar com os jornalistas na Vila Belmiro. A maioria dos presidenciáveis não o culpou pela crise e fracasso do Santos – este ‘fardo’ ficou a cargo de Rueda.
“Fiquei muito puto, com todo mundo. A responsabilidade é de todos, dos atletas, dos funcionários. Descobri muita coisa errada no Santos, em todos os segmentos”, afirmou Gallo, na entrevista logo após a queda para a Série B. Além de Carille, o time já se reforçou com os meias Giuliano e Diego Pituca. Gallo se preparou para ocupar o cargo e tem o respeito do santista.
Redução nos salários
Com a queda nas finanças, o Santos precisará enxugar sua folha salarial. Além de Marcos Leonardo, que sonha com a Europa, o time já se desfez de uma parcela dos 35 atletas que terminaram o Brasileirão. Dentre eles, o trio que veio do Água Santa após o Campeonato Paulista: Gabriel Inocêncio, Luan Dias e Bruno Mezenga estavam emprestados e retornaram à Diadema.
Camacho, com vínculo até dezembro, é outro que não terá seu contrato renovado, e Soteldo, camisa 10, foi cedido, em empréstimo, ao Grêmio. Outro nome que também pode deixar a Vila é o de Jean Lucas, colocado no mercado por Marcelo Teixeira.
Dos que ficam, o clube adotou uma nova política salarial para a redução dos gastos – já que não terá uma parcela das receitas em 2024. Tomás Rincón, volante venezuelano, é um dos nomes que aceitaram redução salarial para permanecer na equipe no próximo ano. O mesmo ocorreu com o capitão João Paulo e deve se repetir com Maximiliano Silvera, que passou a ser mais aproveitado na reta final do Brasileirão.
Números de 2023
O desempenho do Santos, além do Campeonato Brasileiro, ajuda a explicar porque o clube terminou o ano rebaixado à Série B. Eliminado na fase de grupos do Campeonato Paulista e da Sul-Americana, sem conseguir garantir vaga para a Copa do Brasil de 2024 e com quatro treinadores ao longo de 12 meses, o time não conseguiu atingir o nível esperado pela torcida, que também fez das suas com brigas e invasões e atrapalhou o time com punições imposta à Vila.
No Brasileirão, o Santos teve a terceira pior defesa – à frente apenas de América-MG e Coritiba – e amargou a 17ª colocação após a derrota para o Fortaleza, na Vila. Assim como o Corinthians, em 2007, o time alvinegro começou a última rodada fora da zona de rebaixamento, mas terminou no Z-4 após os resultados dos adversários diretos – neste caso, Vasco e Bahia. A defesa foi uma das principais fraquezas da equipe, com 87 gols sofridos, frente aos 64 marcados, ao longo do ano. As trocas de comando na gestão Rueda também atrapalharam o rendimento do elenco.
Com 19 vitórias, 19 empates e 24 derrotas em toda a temporada, o Santos não atingiu nenhum dos objetivos previstos pela direção do clube. Entre as metas esportivas estavam o vice-campeonato paulista e o sexto lugar no Brasileirão, que não vieram. Dos cerca de R$ 53 milhões projetados com premiações, o clube recebeu apenas R$ 13 milhões.
Futuro com Marcelo Teixeira
Marcelo Teixeira é do futebol. Já foi presidente do Santos, assim como seu pai, Milton Teixeira, décadas atrás. Ele vai fazer uma limpa no time, reduzir os gastos e buscar dinheiro na cidade. Ele próprio pode dar crédito ao clube, como já fez no passado. Diz ter um patrocinador nas mãos de R$ 100 milhões. A escolha de Fábio Carille foi um acerto. Vai precisar vender jogadores para tentar fazer caixa. Terá de jogar fora da Vila após a negociação de um novo estádio com a WTorre. O Pacaembu é o local escolhido em São Paulo.
Em seu discurso como novo presidente, Teixeira apontou para três caminhos em 2024: fazer o novo estádio, buscar receita e formar um time para subir da Série B. Se conseguir tudo isso em seu primeiro ano de mandato, ganhará respaldo para os outros dois.