Seleções africanas apostam em técnicos locais para reescrever história na Copa do Catar


Camarões, Gana e Senegal foram às quartas de final em edições passadas e abastecem sonho de buscar o pódio

Por Marcos Antomil

As seleções africanas jamais conseguiram alcançar as semifinais de uma Copa do Mundo. Após a frustração de 2018, em que nenhuma equipe do continente superou a fase de grupos, Senegal, Marrocos, Gana, Camarões e Tunísia querem alavancar seu potencial e colocar a África pelo menos entre as oito melhores seleções do mundo.

Para isso, as seleções africanas que disputam o Mundial do Catar apostam excepcionalmente em treinadores locais. Senegal conta com Aliou Cissé, e Camarões tem Rigobert Song como comandante. Gana emplacou Otto Addo, enquanto Marrocos disputa o torneio com Walid Regragui como técnico, e a Tunísia é liderada por Jalel Kadri. Tradicionalmente, técnicos europeus comandavam as seleções da África. Em 2022, assistimos a uma mudança de direção que deve impactar diretamente na produção futebolística de cada país.

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Marroquino Walid Regragui substituiu Vahid Halilhodžić no comando técnico do Marrocos.  Foto: José Manuel Vidal/ EFE

Apenas em três ocasiões uma seleção africana chegou às quartas de final. A primeira delas foi Camarões, em 1990. Depois, Senegal, em 2002. Em 2010, foi a vez de Gana. As três equipes estão no Catar para superar os feitos anteriores e reposicionar os holofotes do torneio mais esperado do ano.

HISTÓRICO

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Na Itália, Roger Milla liderou os camaroneses, que eram franco atiradores e conseguiram superar poderosos adversários, espantando o mundo do futebol. No Grupo B, Camarões enfrentou logo de cara a Argentina, que defendia o título mundial, conquistado pela segunda vez quatro anos antes, no México. A derrota para os camaroneses por 1 a 0 fez com que os argentinos ficassem na modesta terceira posição do grupo, cruzando o caminho e eliminando o Brasil nas oitavas de final. Camarões, por sua vez, continuou a trilhar um caminho de vitória, batendo a Romênia, por 2 a 1, na segunda rodada, mas sendo goleada pela União Soviética, por 4 a 0, no encerramento da fase inicial.

Nas oitavas de final, Roger Milla marcou os dois gols da vitória sobre a forte geração colombiana na prorrogação. Nas quartas, a adversária foi a Inglaterra. Camarões saiu atrás, mas conseguiu virar o marcador no segundo tempo. Uma nova reviravolta, recheada de polêmica com a marcação de dois pênaltis, colocou de novo os ingleses em vantagem, esgotando as esperanças africanas de chegar à semifinal.

Em 2022, Camarões enfrentará ainda mais dificuldades por não desfrutar do mesmo brilho. No Grupo G, ao lado de Brasil, Sérvia e Suíça, tem uma verdadeira “missão impossível”, diante das barreiras impostas por problemas políticos que envolvem o comando do país e da federação, além da polêmica convocação em que o treinador camaronês Rigobert Song parecia desconhecer alguns dos jogadores chamados.

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Camaronês Rigobert Song dirige seu país na Copa do Mundo do Catar. Foto: Lee Jin-man/ AP

SURPRESA

Em 2022, Senegal trilhou caminho parecido ao de Camarões. Debutando em Copas do Mundo, os senegaleses estrearam na competição diante dos campeões da edição anterior, a França, e também deixaram todos boquiabertos com o triunfo magro, por 1 a 0. Depois, empataram com a forte Dinamarca, um dos destaques do Mundial de 1998, por 1 a 1. Na rodada final, um grande duelo com o Uruguai e novamente igualdade no marcador, 3 a 3.

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Contra a Suécia, nas oitavas de final, Senegal precisou da prorrogação para despachar a Suécia, por 2 a 1. Nas quartas, mais um jogo de 120 minutos, mas o resultado não foi favorável: derrota por 1 a 0 para a Turquia e adeus ao sonho das semifinais.

Senegal disputa pela primeira vez dois Mundiais seguidos. No Catar, chegam como campeões africanos e a seleção do continente mais promissora. No Grupo A, pegam a regenerada Holanda, além do anfitrião Catar e do perigoso Equador. O técnico Aliou Cissé, que esteve em campo em 2002, vislumbra nesta Copa provar que seus atletas valem tanto ou mais que os rivais de seleções sul-americanas e europeias.

Técnico Aliou Cissé atuou na vitória de Senegal sobre a França na Copa de 2002. Foto: Desmond Boylan/ Reuters
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Há algumas edições, fomos ao Mundial conhecer a competição. Nós estávamos lá para aprender. Agora, estamos aqui para competir. As seleções africanas vão ao Catar para vencer. Quando olho para os meus meio-campistas, meus defensores, meu goleiro, não tenho nada a invejar, digamos, da França ou da Espanha. Kalidou Koulibaly é tão valioso quanto Marquinhos para o Brasil ou John Stones para a Inglaterra. Hugo Lloris não é melhor que Édouard Mendy. Esse é o tipo de confiança que quero que meus jogadores tenham. Quero que digam a si mesmos que, se a França pode vencer, por que não nós?

Aliou Cissé, técnico de Senegal, ao New York Times

MEMORÁVEL

Na Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, uma jornada épica, com requintes de crueldade, marcou a campanha de Gana. Os ganeses haviam feito um bom Mundial em 2006, quando chegaram às oitavas de final e caíram diante da seleção brasileira. Quatro anos mais tarde, na primeira Copa em território africano, as energias conspiravam para um final mais feliz.

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O Grupo D não era apontado como capaz de produzir zebras. Austrália, Sérvia e Gana lutariam pelo segundo lugar, enquanto a Alemanha não deveria ter muita dificuldade para se classificar na liderança da Chave. Os ganeses venceram a Sérvia na estreia (1 a 0), depois empataram com a Austrália (1 a 1) e acabaram derrotados pelos alemães pelo placar mínimo. No mata-mata, como franco atiradores, Gana foi a única africana a se classificar. Nas oitavas, minimizaram o favoritismo dos Estados Unidos com um triunfo por 2 a 1 na prorrogação.

A batalha das quartas entraria para os almanaques da Copa do Mundo. Com o empate em 1 a 1 no tempo normal, mais 30 minutos aguardavam Uruguai e Gana. No minuto final da prorrogação, um lance que ficou marcado na história. Luis Suárez impediu um gol ganês ao salvar um chute com a mão na linha do gol. O atacante foi expulso e o pênalti, assinalado. Asamoah Gyan desperdiçou a cobrança, levando o duelo para os pênaltis. Gana esteve muito perto da semifinal, mas nas cobranças de pênalti, os bicampeões levaram a melhor, ganhando por 4 a 2, com direito a cavadinha de Loco Abreu na batida decisiva.

Lance do jogo entre Gana e Uruguai marcou a história da Copa de 2010. Foto: Siphiwe Sibeko/ Reuters

No Catar, Gana reencontrará o Uruguai no dia 2 de dezembro, pela rodada final da fase de grupos. “Com certeza isso vai estar na cabeça de alguns jogadores, porque na época foi uma partida decisiva não só para Gana, mas para toda a África. Se tivesse vencido, Gana seria a primeira equipe africana em toda a história das Copas a chegar numa semifinal. Foi muito doloroso, mas agora é outra geração que está em campo”, afirmou à Fifa o técnico ganês Otto Addo, que confia em um ótimo mundial de seus comandados.

Temos três adversários difíceis na fase de grupos. Se não conseguirmos jogar o necessário ou não estivermos prontos para cumprir com as exigências táticas, será difícil. Especialmente porque Portugal, Uruguai e Coreia do Sul são seleções muito fortes, com qualidade dentro e fora do campo. Será difícil pará-los, mas, como eu disse, temos qualidade para derrotá-los. Se passarmos da fase de grupos, tudo será possível

Otto Addo, técnico ganês

Marrocos e Tunísia não tiveram grandes feitos em suas participações em Mundiais. Os marroquinos só foram às oitavas em 1986, enquanto os tunisianos jamais passaram de fase. Marrocos está no Grupo F, ao lado de Bélgica, Canadá e Croácia. A Tunísia encara França, Austrália e Dinamarca na Chave D.

As seleções africanas jamais conseguiram alcançar as semifinais de uma Copa do Mundo. Após a frustração de 2018, em que nenhuma equipe do continente superou a fase de grupos, Senegal, Marrocos, Gana, Camarões e Tunísia querem alavancar seu potencial e colocar a África pelo menos entre as oito melhores seleções do mundo.

Para isso, as seleções africanas que disputam o Mundial do Catar apostam excepcionalmente em treinadores locais. Senegal conta com Aliou Cissé, e Camarões tem Rigobert Song como comandante. Gana emplacou Otto Addo, enquanto Marrocos disputa o torneio com Walid Regragui como técnico, e a Tunísia é liderada por Jalel Kadri. Tradicionalmente, técnicos europeus comandavam as seleções da África. Em 2022, assistimos a uma mudança de direção que deve impactar diretamente na produção futebolística de cada país.

Marroquino Walid Regragui substituiu Vahid Halilhodžić no comando técnico do Marrocos.  Foto: José Manuel Vidal/ EFE

Apenas em três ocasiões uma seleção africana chegou às quartas de final. A primeira delas foi Camarões, em 1990. Depois, Senegal, em 2002. Em 2010, foi a vez de Gana. As três equipes estão no Catar para superar os feitos anteriores e reposicionar os holofotes do torneio mais esperado do ano.

HISTÓRICO

Na Itália, Roger Milla liderou os camaroneses, que eram franco atiradores e conseguiram superar poderosos adversários, espantando o mundo do futebol. No Grupo B, Camarões enfrentou logo de cara a Argentina, que defendia o título mundial, conquistado pela segunda vez quatro anos antes, no México. A derrota para os camaroneses por 1 a 0 fez com que os argentinos ficassem na modesta terceira posição do grupo, cruzando o caminho e eliminando o Brasil nas oitavas de final. Camarões, por sua vez, continuou a trilhar um caminho de vitória, batendo a Romênia, por 2 a 1, na segunda rodada, mas sendo goleada pela União Soviética, por 4 a 0, no encerramento da fase inicial.

Nas oitavas de final, Roger Milla marcou os dois gols da vitória sobre a forte geração colombiana na prorrogação. Nas quartas, a adversária foi a Inglaterra. Camarões saiu atrás, mas conseguiu virar o marcador no segundo tempo. Uma nova reviravolta, recheada de polêmica com a marcação de dois pênaltis, colocou de novo os ingleses em vantagem, esgotando as esperanças africanas de chegar à semifinal.

Em 2022, Camarões enfrentará ainda mais dificuldades por não desfrutar do mesmo brilho. No Grupo G, ao lado de Brasil, Sérvia e Suíça, tem uma verdadeira “missão impossível”, diante das barreiras impostas por problemas políticos que envolvem o comando do país e da federação, além da polêmica convocação em que o treinador camaronês Rigobert Song parecia desconhecer alguns dos jogadores chamados.

Camaronês Rigobert Song dirige seu país na Copa do Mundo do Catar. Foto: Lee Jin-man/ AP

SURPRESA

Em 2022, Senegal trilhou caminho parecido ao de Camarões. Debutando em Copas do Mundo, os senegaleses estrearam na competição diante dos campeões da edição anterior, a França, e também deixaram todos boquiabertos com o triunfo magro, por 1 a 0. Depois, empataram com a forte Dinamarca, um dos destaques do Mundial de 1998, por 1 a 1. Na rodada final, um grande duelo com o Uruguai e novamente igualdade no marcador, 3 a 3.

Contra a Suécia, nas oitavas de final, Senegal precisou da prorrogação para despachar a Suécia, por 2 a 1. Nas quartas, mais um jogo de 120 minutos, mas o resultado não foi favorável: derrota por 1 a 0 para a Turquia e adeus ao sonho das semifinais.

Senegal disputa pela primeira vez dois Mundiais seguidos. No Catar, chegam como campeões africanos e a seleção do continente mais promissora. No Grupo A, pegam a regenerada Holanda, além do anfitrião Catar e do perigoso Equador. O técnico Aliou Cissé, que esteve em campo em 2002, vislumbra nesta Copa provar que seus atletas valem tanto ou mais que os rivais de seleções sul-americanas e europeias.

Técnico Aliou Cissé atuou na vitória de Senegal sobre a França na Copa de 2002. Foto: Desmond Boylan/ Reuters
Há algumas edições, fomos ao Mundial conhecer a competição. Nós estávamos lá para aprender. Agora, estamos aqui para competir. As seleções africanas vão ao Catar para vencer. Quando olho para os meus meio-campistas, meus defensores, meu goleiro, não tenho nada a invejar, digamos, da França ou da Espanha. Kalidou Koulibaly é tão valioso quanto Marquinhos para o Brasil ou John Stones para a Inglaterra. Hugo Lloris não é melhor que Édouard Mendy. Esse é o tipo de confiança que quero que meus jogadores tenham. Quero que digam a si mesmos que, se a França pode vencer, por que não nós?

Aliou Cissé, técnico de Senegal, ao New York Times

MEMORÁVEL

Na Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, uma jornada épica, com requintes de crueldade, marcou a campanha de Gana. Os ganeses haviam feito um bom Mundial em 2006, quando chegaram às oitavas de final e caíram diante da seleção brasileira. Quatro anos mais tarde, na primeira Copa em território africano, as energias conspiravam para um final mais feliz.

O Grupo D não era apontado como capaz de produzir zebras. Austrália, Sérvia e Gana lutariam pelo segundo lugar, enquanto a Alemanha não deveria ter muita dificuldade para se classificar na liderança da Chave. Os ganeses venceram a Sérvia na estreia (1 a 0), depois empataram com a Austrália (1 a 1) e acabaram derrotados pelos alemães pelo placar mínimo. No mata-mata, como franco atiradores, Gana foi a única africana a se classificar. Nas oitavas, minimizaram o favoritismo dos Estados Unidos com um triunfo por 2 a 1 na prorrogação.

A batalha das quartas entraria para os almanaques da Copa do Mundo. Com o empate em 1 a 1 no tempo normal, mais 30 minutos aguardavam Uruguai e Gana. No minuto final da prorrogação, um lance que ficou marcado na história. Luis Suárez impediu um gol ganês ao salvar um chute com a mão na linha do gol. O atacante foi expulso e o pênalti, assinalado. Asamoah Gyan desperdiçou a cobrança, levando o duelo para os pênaltis. Gana esteve muito perto da semifinal, mas nas cobranças de pênalti, os bicampeões levaram a melhor, ganhando por 4 a 2, com direito a cavadinha de Loco Abreu na batida decisiva.

Lance do jogo entre Gana e Uruguai marcou a história da Copa de 2010. Foto: Siphiwe Sibeko/ Reuters

No Catar, Gana reencontrará o Uruguai no dia 2 de dezembro, pela rodada final da fase de grupos. “Com certeza isso vai estar na cabeça de alguns jogadores, porque na época foi uma partida decisiva não só para Gana, mas para toda a África. Se tivesse vencido, Gana seria a primeira equipe africana em toda a história das Copas a chegar numa semifinal. Foi muito doloroso, mas agora é outra geração que está em campo”, afirmou à Fifa o técnico ganês Otto Addo, que confia em um ótimo mundial de seus comandados.

Temos três adversários difíceis na fase de grupos. Se não conseguirmos jogar o necessário ou não estivermos prontos para cumprir com as exigências táticas, será difícil. Especialmente porque Portugal, Uruguai e Coreia do Sul são seleções muito fortes, com qualidade dentro e fora do campo. Será difícil pará-los, mas, como eu disse, temos qualidade para derrotá-los. Se passarmos da fase de grupos, tudo será possível

Otto Addo, técnico ganês

Marrocos e Tunísia não tiveram grandes feitos em suas participações em Mundiais. Os marroquinos só foram às oitavas em 1986, enquanto os tunisianos jamais passaram de fase. Marrocos está no Grupo F, ao lado de Bélgica, Canadá e Croácia. A Tunísia encara França, Austrália e Dinamarca na Chave D.

As seleções africanas jamais conseguiram alcançar as semifinais de uma Copa do Mundo. Após a frustração de 2018, em que nenhuma equipe do continente superou a fase de grupos, Senegal, Marrocos, Gana, Camarões e Tunísia querem alavancar seu potencial e colocar a África pelo menos entre as oito melhores seleções do mundo.

Para isso, as seleções africanas que disputam o Mundial do Catar apostam excepcionalmente em treinadores locais. Senegal conta com Aliou Cissé, e Camarões tem Rigobert Song como comandante. Gana emplacou Otto Addo, enquanto Marrocos disputa o torneio com Walid Regragui como técnico, e a Tunísia é liderada por Jalel Kadri. Tradicionalmente, técnicos europeus comandavam as seleções da África. Em 2022, assistimos a uma mudança de direção que deve impactar diretamente na produção futebolística de cada país.

Marroquino Walid Regragui substituiu Vahid Halilhodžić no comando técnico do Marrocos.  Foto: José Manuel Vidal/ EFE

Apenas em três ocasiões uma seleção africana chegou às quartas de final. A primeira delas foi Camarões, em 1990. Depois, Senegal, em 2002. Em 2010, foi a vez de Gana. As três equipes estão no Catar para superar os feitos anteriores e reposicionar os holofotes do torneio mais esperado do ano.

HISTÓRICO

Na Itália, Roger Milla liderou os camaroneses, que eram franco atiradores e conseguiram superar poderosos adversários, espantando o mundo do futebol. No Grupo B, Camarões enfrentou logo de cara a Argentina, que defendia o título mundial, conquistado pela segunda vez quatro anos antes, no México. A derrota para os camaroneses por 1 a 0 fez com que os argentinos ficassem na modesta terceira posição do grupo, cruzando o caminho e eliminando o Brasil nas oitavas de final. Camarões, por sua vez, continuou a trilhar um caminho de vitória, batendo a Romênia, por 2 a 1, na segunda rodada, mas sendo goleada pela União Soviética, por 4 a 0, no encerramento da fase inicial.

Nas oitavas de final, Roger Milla marcou os dois gols da vitória sobre a forte geração colombiana na prorrogação. Nas quartas, a adversária foi a Inglaterra. Camarões saiu atrás, mas conseguiu virar o marcador no segundo tempo. Uma nova reviravolta, recheada de polêmica com a marcação de dois pênaltis, colocou de novo os ingleses em vantagem, esgotando as esperanças africanas de chegar à semifinal.

Em 2022, Camarões enfrentará ainda mais dificuldades por não desfrutar do mesmo brilho. No Grupo G, ao lado de Brasil, Sérvia e Suíça, tem uma verdadeira “missão impossível”, diante das barreiras impostas por problemas políticos que envolvem o comando do país e da federação, além da polêmica convocação em que o treinador camaronês Rigobert Song parecia desconhecer alguns dos jogadores chamados.

Camaronês Rigobert Song dirige seu país na Copa do Mundo do Catar. Foto: Lee Jin-man/ AP

SURPRESA

Em 2022, Senegal trilhou caminho parecido ao de Camarões. Debutando em Copas do Mundo, os senegaleses estrearam na competição diante dos campeões da edição anterior, a França, e também deixaram todos boquiabertos com o triunfo magro, por 1 a 0. Depois, empataram com a forte Dinamarca, um dos destaques do Mundial de 1998, por 1 a 1. Na rodada final, um grande duelo com o Uruguai e novamente igualdade no marcador, 3 a 3.

Contra a Suécia, nas oitavas de final, Senegal precisou da prorrogação para despachar a Suécia, por 2 a 1. Nas quartas, mais um jogo de 120 minutos, mas o resultado não foi favorável: derrota por 1 a 0 para a Turquia e adeus ao sonho das semifinais.

Senegal disputa pela primeira vez dois Mundiais seguidos. No Catar, chegam como campeões africanos e a seleção do continente mais promissora. No Grupo A, pegam a regenerada Holanda, além do anfitrião Catar e do perigoso Equador. O técnico Aliou Cissé, que esteve em campo em 2002, vislumbra nesta Copa provar que seus atletas valem tanto ou mais que os rivais de seleções sul-americanas e europeias.

Técnico Aliou Cissé atuou na vitória de Senegal sobre a França na Copa de 2002. Foto: Desmond Boylan/ Reuters
Há algumas edições, fomos ao Mundial conhecer a competição. Nós estávamos lá para aprender. Agora, estamos aqui para competir. As seleções africanas vão ao Catar para vencer. Quando olho para os meus meio-campistas, meus defensores, meu goleiro, não tenho nada a invejar, digamos, da França ou da Espanha. Kalidou Koulibaly é tão valioso quanto Marquinhos para o Brasil ou John Stones para a Inglaterra. Hugo Lloris não é melhor que Édouard Mendy. Esse é o tipo de confiança que quero que meus jogadores tenham. Quero que digam a si mesmos que, se a França pode vencer, por que não nós?

Aliou Cissé, técnico de Senegal, ao New York Times

MEMORÁVEL

Na Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, uma jornada épica, com requintes de crueldade, marcou a campanha de Gana. Os ganeses haviam feito um bom Mundial em 2006, quando chegaram às oitavas de final e caíram diante da seleção brasileira. Quatro anos mais tarde, na primeira Copa em território africano, as energias conspiravam para um final mais feliz.

O Grupo D não era apontado como capaz de produzir zebras. Austrália, Sérvia e Gana lutariam pelo segundo lugar, enquanto a Alemanha não deveria ter muita dificuldade para se classificar na liderança da Chave. Os ganeses venceram a Sérvia na estreia (1 a 0), depois empataram com a Austrália (1 a 1) e acabaram derrotados pelos alemães pelo placar mínimo. No mata-mata, como franco atiradores, Gana foi a única africana a se classificar. Nas oitavas, minimizaram o favoritismo dos Estados Unidos com um triunfo por 2 a 1 na prorrogação.

A batalha das quartas entraria para os almanaques da Copa do Mundo. Com o empate em 1 a 1 no tempo normal, mais 30 minutos aguardavam Uruguai e Gana. No minuto final da prorrogação, um lance que ficou marcado na história. Luis Suárez impediu um gol ganês ao salvar um chute com a mão na linha do gol. O atacante foi expulso e o pênalti, assinalado. Asamoah Gyan desperdiçou a cobrança, levando o duelo para os pênaltis. Gana esteve muito perto da semifinal, mas nas cobranças de pênalti, os bicampeões levaram a melhor, ganhando por 4 a 2, com direito a cavadinha de Loco Abreu na batida decisiva.

Lance do jogo entre Gana e Uruguai marcou a história da Copa de 2010. Foto: Siphiwe Sibeko/ Reuters

No Catar, Gana reencontrará o Uruguai no dia 2 de dezembro, pela rodada final da fase de grupos. “Com certeza isso vai estar na cabeça de alguns jogadores, porque na época foi uma partida decisiva não só para Gana, mas para toda a África. Se tivesse vencido, Gana seria a primeira equipe africana em toda a história das Copas a chegar numa semifinal. Foi muito doloroso, mas agora é outra geração que está em campo”, afirmou à Fifa o técnico ganês Otto Addo, que confia em um ótimo mundial de seus comandados.

Temos três adversários difíceis na fase de grupos. Se não conseguirmos jogar o necessário ou não estivermos prontos para cumprir com as exigências táticas, será difícil. Especialmente porque Portugal, Uruguai e Coreia do Sul são seleções muito fortes, com qualidade dentro e fora do campo. Será difícil pará-los, mas, como eu disse, temos qualidade para derrotá-los. Se passarmos da fase de grupos, tudo será possível

Otto Addo, técnico ganês

Marrocos e Tunísia não tiveram grandes feitos em suas participações em Mundiais. Os marroquinos só foram às oitavas em 1986, enquanto os tunisianos jamais passaram de fase. Marrocos está no Grupo F, ao lado de Bélgica, Canadá e Croácia. A Tunísia encara França, Austrália e Dinamarca na Chave D.

As seleções africanas jamais conseguiram alcançar as semifinais de uma Copa do Mundo. Após a frustração de 2018, em que nenhuma equipe do continente superou a fase de grupos, Senegal, Marrocos, Gana, Camarões e Tunísia querem alavancar seu potencial e colocar a África pelo menos entre as oito melhores seleções do mundo.

Para isso, as seleções africanas que disputam o Mundial do Catar apostam excepcionalmente em treinadores locais. Senegal conta com Aliou Cissé, e Camarões tem Rigobert Song como comandante. Gana emplacou Otto Addo, enquanto Marrocos disputa o torneio com Walid Regragui como técnico, e a Tunísia é liderada por Jalel Kadri. Tradicionalmente, técnicos europeus comandavam as seleções da África. Em 2022, assistimos a uma mudança de direção que deve impactar diretamente na produção futebolística de cada país.

Marroquino Walid Regragui substituiu Vahid Halilhodžić no comando técnico do Marrocos.  Foto: José Manuel Vidal/ EFE

Apenas em três ocasiões uma seleção africana chegou às quartas de final. A primeira delas foi Camarões, em 1990. Depois, Senegal, em 2002. Em 2010, foi a vez de Gana. As três equipes estão no Catar para superar os feitos anteriores e reposicionar os holofotes do torneio mais esperado do ano.

HISTÓRICO

Na Itália, Roger Milla liderou os camaroneses, que eram franco atiradores e conseguiram superar poderosos adversários, espantando o mundo do futebol. No Grupo B, Camarões enfrentou logo de cara a Argentina, que defendia o título mundial, conquistado pela segunda vez quatro anos antes, no México. A derrota para os camaroneses por 1 a 0 fez com que os argentinos ficassem na modesta terceira posição do grupo, cruzando o caminho e eliminando o Brasil nas oitavas de final. Camarões, por sua vez, continuou a trilhar um caminho de vitória, batendo a Romênia, por 2 a 1, na segunda rodada, mas sendo goleada pela União Soviética, por 4 a 0, no encerramento da fase inicial.

Nas oitavas de final, Roger Milla marcou os dois gols da vitória sobre a forte geração colombiana na prorrogação. Nas quartas, a adversária foi a Inglaterra. Camarões saiu atrás, mas conseguiu virar o marcador no segundo tempo. Uma nova reviravolta, recheada de polêmica com a marcação de dois pênaltis, colocou de novo os ingleses em vantagem, esgotando as esperanças africanas de chegar à semifinal.

Em 2022, Camarões enfrentará ainda mais dificuldades por não desfrutar do mesmo brilho. No Grupo G, ao lado de Brasil, Sérvia e Suíça, tem uma verdadeira “missão impossível”, diante das barreiras impostas por problemas políticos que envolvem o comando do país e da federação, além da polêmica convocação em que o treinador camaronês Rigobert Song parecia desconhecer alguns dos jogadores chamados.

Camaronês Rigobert Song dirige seu país na Copa do Mundo do Catar. Foto: Lee Jin-man/ AP

SURPRESA

Em 2022, Senegal trilhou caminho parecido ao de Camarões. Debutando em Copas do Mundo, os senegaleses estrearam na competição diante dos campeões da edição anterior, a França, e também deixaram todos boquiabertos com o triunfo magro, por 1 a 0. Depois, empataram com a forte Dinamarca, um dos destaques do Mundial de 1998, por 1 a 1. Na rodada final, um grande duelo com o Uruguai e novamente igualdade no marcador, 3 a 3.

Contra a Suécia, nas oitavas de final, Senegal precisou da prorrogação para despachar a Suécia, por 2 a 1. Nas quartas, mais um jogo de 120 minutos, mas o resultado não foi favorável: derrota por 1 a 0 para a Turquia e adeus ao sonho das semifinais.

Senegal disputa pela primeira vez dois Mundiais seguidos. No Catar, chegam como campeões africanos e a seleção do continente mais promissora. No Grupo A, pegam a regenerada Holanda, além do anfitrião Catar e do perigoso Equador. O técnico Aliou Cissé, que esteve em campo em 2002, vislumbra nesta Copa provar que seus atletas valem tanto ou mais que os rivais de seleções sul-americanas e europeias.

Técnico Aliou Cissé atuou na vitória de Senegal sobre a França na Copa de 2002. Foto: Desmond Boylan/ Reuters
Há algumas edições, fomos ao Mundial conhecer a competição. Nós estávamos lá para aprender. Agora, estamos aqui para competir. As seleções africanas vão ao Catar para vencer. Quando olho para os meus meio-campistas, meus defensores, meu goleiro, não tenho nada a invejar, digamos, da França ou da Espanha. Kalidou Koulibaly é tão valioso quanto Marquinhos para o Brasil ou John Stones para a Inglaterra. Hugo Lloris não é melhor que Édouard Mendy. Esse é o tipo de confiança que quero que meus jogadores tenham. Quero que digam a si mesmos que, se a França pode vencer, por que não nós?

Aliou Cissé, técnico de Senegal, ao New York Times

MEMORÁVEL

Na Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, uma jornada épica, com requintes de crueldade, marcou a campanha de Gana. Os ganeses haviam feito um bom Mundial em 2006, quando chegaram às oitavas de final e caíram diante da seleção brasileira. Quatro anos mais tarde, na primeira Copa em território africano, as energias conspiravam para um final mais feliz.

O Grupo D não era apontado como capaz de produzir zebras. Austrália, Sérvia e Gana lutariam pelo segundo lugar, enquanto a Alemanha não deveria ter muita dificuldade para se classificar na liderança da Chave. Os ganeses venceram a Sérvia na estreia (1 a 0), depois empataram com a Austrália (1 a 1) e acabaram derrotados pelos alemães pelo placar mínimo. No mata-mata, como franco atiradores, Gana foi a única africana a se classificar. Nas oitavas, minimizaram o favoritismo dos Estados Unidos com um triunfo por 2 a 1 na prorrogação.

A batalha das quartas entraria para os almanaques da Copa do Mundo. Com o empate em 1 a 1 no tempo normal, mais 30 minutos aguardavam Uruguai e Gana. No minuto final da prorrogação, um lance que ficou marcado na história. Luis Suárez impediu um gol ganês ao salvar um chute com a mão na linha do gol. O atacante foi expulso e o pênalti, assinalado. Asamoah Gyan desperdiçou a cobrança, levando o duelo para os pênaltis. Gana esteve muito perto da semifinal, mas nas cobranças de pênalti, os bicampeões levaram a melhor, ganhando por 4 a 2, com direito a cavadinha de Loco Abreu na batida decisiva.

Lance do jogo entre Gana e Uruguai marcou a história da Copa de 2010. Foto: Siphiwe Sibeko/ Reuters

No Catar, Gana reencontrará o Uruguai no dia 2 de dezembro, pela rodada final da fase de grupos. “Com certeza isso vai estar na cabeça de alguns jogadores, porque na época foi uma partida decisiva não só para Gana, mas para toda a África. Se tivesse vencido, Gana seria a primeira equipe africana em toda a história das Copas a chegar numa semifinal. Foi muito doloroso, mas agora é outra geração que está em campo”, afirmou à Fifa o técnico ganês Otto Addo, que confia em um ótimo mundial de seus comandados.

Temos três adversários difíceis na fase de grupos. Se não conseguirmos jogar o necessário ou não estivermos prontos para cumprir com as exigências táticas, será difícil. Especialmente porque Portugal, Uruguai e Coreia do Sul são seleções muito fortes, com qualidade dentro e fora do campo. Será difícil pará-los, mas, como eu disse, temos qualidade para derrotá-los. Se passarmos da fase de grupos, tudo será possível

Otto Addo, técnico ganês

Marrocos e Tunísia não tiveram grandes feitos em suas participações em Mundiais. Os marroquinos só foram às oitavas em 1986, enquanto os tunisianos jamais passaram de fase. Marrocos está no Grupo F, ao lado de Bélgica, Canadá e Croácia. A Tunísia encara França, Austrália e Dinamarca na Chave D.

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