Depois de cinco anos, o Vitória vai jogar novamente a Série A do Campeonato Brasileiro. A equipe baiana não só conquistou o acesso com duas rodadas de antecedência como também garantiu o título inédito da segunda divisão, o primeiro troféu nacional de sua história. O clube contou com o apoio incondicional dos torcedores durante as 38 rodadas, mas outro parceiro, este mais inusitado, também foi importante na caminhada rumo à primeira divisão. O site de anúncios para acompanhantes Fatal Model, patrocinador do Vitória, foi a responsável por viabilizar contratações e contribuir para a mobilização da torcida.
A Fatal Model se define como a “maior e mais segura plataforma de acompanhantes do Brasil”, e uma de suas bandeiras é lutar pelo “respeito, empoderamento e dignificação” dos profissionais do ramo, seja mulher, homem ou trans. A parceria com o Vitória foi firmada em fevereiro deste ano, poucos meses depois de o clube subir da Série C para a segunda divisão nacional. O site estampou as mangas da camisa. À época, o presidente Fábio Mota afirmou se tratar do maior patrocínio da história do rubro-negro baiano para a região do uniforme. Por confidencialidade de contrato, os valores do acordo não foram divulgados.
O site também teve participação direta nas contratações do meio-campista Giovanni Augusto e do atacante Matheusinho, destaques do Vitória na campanha do título da Série B. A marca foi a responsável por custear as inscrições dos jogadores no Boletim Informativo Diário da CBF (BID). Eles chegaram ao clube para a disputa da Segundona após se destacarem nos Estaduais por Guarani e Ypiranga, respectivamente, e figuraram entre os titulares do time comandado pelo técnico Leo Condé durante quase toda a competição.
A torcida do Vitória rapidamente aderiu à parceria, que rendeu até música entre os rubro-negros, com o clube ganhando a alcunha de “time da furança”. Bandeirões com o nome do site também se tornaram comuns nas arquibancadas do Barradão ao longo da temporada — o clube teve a melhor média de público da Série B (22.842 pagantes). Em julho, a Fatal Model estendeu o acordo com o Vitória, passando a estampar a barra frontal da camisa, abaixo do patrocinador máster, a casa de apostas Betnacional. A ampliação da parceria foi anunciada por meio de um vídeo bem-humorado com Vampeta, ídolo do clube baiano, e Bruna Surfistinha, ex-acompanhante que lançou best seller e teve a vida retratada em filme.
“Tem sido muito gratificante fazer parte da trajetória do Vitória. Ao longo desta temporada, tivemos experiências incríveis com o clube e a torcida, que abraçaram a nossa causa. As iniciativas são uma forma de retribuir esse apoio. Mais do que um simples patrocinador, somos parceiros do Vitória na busca por seus objetivos”, afirma Nina Sag, diretora de comunicação da Fatal Model.
“Quando firmamos o patrocínio, já sabíamos que a torcida do Vitória era extremamente apaixonada e engajada com o clube. Desde o momento inicial, o clube e a torcida tem nos ajudado na luta pela quebra de preconceitos que cercam a profissão. A parceria nos abriu portas no futebol brasileiro, que nos permitem disseminar cada vez mais nossos ideais de respeito, igualdade e dignidade”, disse.
A adesão do torcedor motivou a realização de diversas ativações por parte da marca, como a distribuição de cem camisas oficiais em diferentes pontos de Salvador e a desconto de 90% na assinatura da plataforma para sócios-torcedores do Vitória. Somente nos primeiros dias após o anúncio do acordo, a Fatal Model registrou aumento de 40% dos números de suas redes sociais.
Resistência
O presidente Fábio Mota conta que encontrou um cenário de insolvência quando assumiu o Vitória, com o clube devendo R$ 250 milhões, com seis meses de salários atrasados e com dificuldade de gerar novas receitas por causa da queda para a Série C. Segundo o mandatário, ele procurou diversas empresas dispostas a patrocinar o time e teve retorno positivo da Fatal Model, que até então patrocinava campeonatos e equipes menores do cenário nacional. Mota conta que enfrentou a resistência de conselheiros e da imprensa local quando a parceira estava na iminência de ser concretizada. Por outro lado, ele ressalta o caráter inclusivo do clube e destaca o apoio irrestrito da torcida, inclusive da ala feminina.
“O Vitória é um clube eclético. A Bahia é a cidade onde o preconceito não existe e nós fomos na mesma linha. Ninguém queria fazer o patrocínio. Depois que o Vitória fez, surgiu uma fila de clubes me ligando para saber como era o acordo”, diz o dirigente. “A torcida do Vitória é o maior advogado que a Fatal Model tem, principalmente os mais jovens, que são mente aberta e que entenderam o momento do clube. Então foi criada uma sinergia grande, especialmente das torcedoras do Vitória.”
O presidente do Vitória conta, ainda, que durante a disputa da Série B ele firmou um acordo com a Fatal Model para que o patrocínio da marca a outras equipes tivessem o aval do rubro-negro baiano. O clube também tem gatilhos contratuais com patrocinadores que preveem um aumento de 50% a 70% pelo acesso à primeira divisão. O Vitória projeta um orçamento recorde, quase quatro vezes maior para o próximo ano, saindo de R$ 60 para R$ 220 milhões. Nesse bolo estão, principalmente, bilheterias e direitos de transmissão dos jogos.