Tecnologia e hidratação: clubes adotam medidas para mitigar impactos do calor, seca e ar poluído


Cuidados com atletas visam prevenir até mesmo doenças respiratórias e cardiovasculares

Por Ricardo Magatti, Leonardo Catto e Bruno Accorsi
Atualização:

As ondas de calor e as secas intensas assolam o planeta e provocam mudanças também no cotidiano dos atletas de alto rendimento, que se preocupam com os malefícios da péssima qualidade do ar e da baixa umidade. Alguns clubes de futebol investem em aparelhos tecnológicos e medidas simples para mitigar os efeitos da crise climática, com seca recorde, temperaturas elevadíssimas e o fogo se alastrando em diferentes lugares do País.

Há uma preocupação especial quanto à possibilidade de desidratação dos jogadores. Nesse cenário, a hidratação ainda ganha mais importância, como prevenção da elevação da temperatura corporal. “O risco principal é a hipertermia, que pode levar a quadros graves como confusão mental e até problemas cardiovasculares”, explica Flávia Magalhães, médica e nutricionista que trabalha com esporte há mais de 20 anos. Ela sugere que, nos casos de atletas, deve ser feito um acompanhamento por meio de testes de urina para verificar casos de desidratação ou super-hidratação, além de considerar ajustes antes de jogos e treinos.

Mesmo acostumados ao alto rendimento e detentores de maior resistência física, jogadores correm riscos tão altos quanto pessoas que não praticam esporte profissionalmente. “Os atletas são, na verdade, as principais vítimas da elevação exagerada da temperatura do corpo e suas graves consequências, inclusive com risco de morte. Isso porque durante a atividade física intensa, o metabolismo aumenta muito e a produção de calor também, desafiando a estabilidade térmica”, explica Maria Cecília Maiorano, doutora em Pneumologia pela USP.

continua após a publicidade

O Palmeiras, por exemplo, adquiriu recentemente uma mini estação meteorológica, que mede temperatura, umidade, pressão atmosférica, velocidade do vento e precipitação na Academia de Futebol, o centro de treinamento da equipe, na zona oeste de São Paulo, cidade em que qualidade do ar foi considerada a pior do mundo nesta semana, de acordo com a empresa suíça de tecnologia IQAir, que monitora as condições da poluição em grandes cidades.

O clube diz que os profissionais orientam para que os atletas não descuidem da hidratação dentro e fora do CT. Segundo o Palmeiras, independentemente do tempo seco, é feito um monitoramento da carga interna dos atletas (frequência cardíaca), que pode aumentar em temperaturas extremas.

Tanto ar poluído quanto alta temperatura são perigos para corpo humano, mesmo no caso de atletas. Foto: Rafael Ribeiro/CBF
continua após a publicidade

A prática de atividades físicas em temperaturas elevadas pode ser prejudicial à saúde e é capaz de causar desidratação severa, insolação, cãibra, fadiga e arritmia — esta última podendo provocar até mesmo uma parada cardíaca. “A temperatura normal de uma pessoa é de 36,5 a 37,8 graus. Em ambientes quentes, essa temperatura pode fazer a pessoa apresentar um quadro febril. Esta febre já é algo com maior dano para o nosso organismo”, explica Karina Hatano, médica do esporte do Espaço Einstein, do Hospital Albert Einstein.

Segundo a especialista, os atletas devem consumir cerca de 500ml de água pelo menos duas horas antes da partida. Depois, de 150ml a 200ml a cada 30 minutos, e mais 500ml ao fim da atividade física para repor o líquido perdido na transpiração. Durante uma partida de futebol, os atletas são abastecidos por membros da delegação com copos e garrafas de água e bebidas isotônicas.

Tendo isso em mente, o Corinthians afirmou que reforçou a recomendação para os atletas se hidratarem mais e disse ter disponibilizado mais pontos de hidratação no CT Dr. Joaquim Grava. Além disso, a equipe médica do clube recomendou a lavagem nasal com soro fisiológico aos jogadores.

continua após a publicidade

Procedimentos parecidos foram adotados pelo São Paulo, que também reforçou a importância da hidratação, monitorada pelos profissionais tricolores, e disponibiliza água e isotônico em praticamente todos os ambientes do CT da Barra Funda. O clube também tem orientado os atletas a umidificar os quartos na hora de dormir.

Quanto aos treinamentos, a comissão técnica tem evitado horários mais quentes. Nesta semana, as duas atividades comandadas por Zubeldía antes da partida contra o Cruzeiro foram marcadas para as 16 horas de sexta e 15h30 de sábado.

continua após a publicidade

Cuiabá, Fortaleza e Sport fazem uso do MX3, um aparelho que tem, entre outras funções, a de analisar a hidratação dos jogadores de maneira mais rápida e certeira por meio da saliva dos atletas, com resultados precisos em menos de 30 segundos.

“Conseguimos separar os atletas em três grupos: totalmente hidratado, levemente desidratado e um grau mais grave de desidratação. De acordo com essa avaliação, montamos um protocolo para ele durante o dia de atividades”, explica Tiago Fontoura, coordenador de Nutrição do Fortaleza.

“Caso a desidratação seja leve, fazemos um trabalho mais focado em líquidos de acordo com o peso corporal do jogador, porém, se for algo mais pesado, fazemos também o uso de eletrólitos para auxiliar no equilíbrio hídrico”, acrescenta.

continua após a publicidade
Última semana foi marcada por paisagens tomadas por fumaças oriundas de incêndios no interior do Brasil. Foto: Daniel Teixeira/Estadao

No caso do ar poluído, como aconteceu em diferentes regiões do Brasil por causa da fumaça de queimadas, as consequências podem se manifestar a longo prazo, e atletas de alto rendimento também estão sujeitos aos riscos.

“Em dias muito poluídos, a prática de atividade física pode ser prejudicial, mesmo para atletas, pois a quantidade de ar que entra em nossos pulmões durante o exercício é muito maior do que no repouso, aumentando assim a inalação de poluentes, com risco aumentado de doenças respiratórias e cardíacas”, diz a pneumologista Maria Cecília Maiorano. “Pessoas saudáveis e atletas estão sob menor risco do que populações vulneráveis como idosos, crianças e portadores de doenças cardíacas e pulmonares crônicas, mas não se pode dizer que estão isentos.”

continua após a publicidade

Em Ribeirão Preto, cidade do interior paulista fortemente afetada pelo clima seco, as aulas chegaram a ser suspensas na última semana de agosto para a “garantir a saúde e segurança dos estudantes e profissionais” após o avanço dos focos de incêndio e da fumaça decorrente das chamas. No município, treina o Botafogo-SP, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro e tem buscado soluções para mitigar o impacto do calor em seus atletas. Apesar disso, alguns têm enfrentado problemas.

“A principal medida foi otimizar a hidratação dos atletas no pré, intra e pós-treino. Além da onda de calor e tempo seco, estamos tendo o problema das queimadas. Para ajudar nessa situação, deixamos em todos os quartos de concentração dos atletas um umidificador de ar e orientamos sempre eles a fazerem lavagem nasal e nebulização com soro fisiológico. Mesmo assim, alguns jogadores ainda sofrem com aumento de coriza, agudização de rinite e/ou sinusite. Nesses casos, temos que entrar com medicação”, comenta Rodrigo Brochetto, coordenador médico do Botafogo Futebol SA.

Outro time que disputa a Série B, o Guarani tem há algumas temporadas protocolos bem estabelecidos de hidratação, reposição de eletrólitos e medidas de atenuação dos efeitos do tempo quente e seco nas diferentes regiões do Brasil, conforme o fisiologista do clube, Rafael Grazioli. “Realizamos e reforçamos estes protocolos em todos os dias que antecedem os jogos nestas regiões e viemos para Belém dois dias antes da partida com o Paysandu também para facilitar essa adaptação”.

Um estudo conduzido por pesquisadores da USP, publicado no começo deste ano na revista Environmental Research, foi o primeiro a demonstrar a relação entre respirar ar com poluição e o desenvolvimento de fibrose cardíaca, um indicador de doenças do coração. O estudo teve coordenação do professor Paulo Saldiva e foi desenvolvido a partir da análise de autópsia de 238 pessoas que viviam em São Paulo. A hipertensão é um fator que aumenta o risco da ocorrência de fibrose cardíaca.

Quando a umidade do ar está baixa, o atleta não nota o suor, que evapora rapidamente, e pode não perceber a desidratação. Situação contrária ao ar seco, um calor úmido também tem seus riscos. “Também é desconfortável para o atleta. Você vê a camisa encharcada. Tem uma desidratação e gera dificuldade em controlar temperatura corpora”, explica o fisiologista do Atlético-MG, Roberto Chiari.

Ele atenta para atividades que acontecem no final da manhã, a partir de 10h. Segundo o fisiologista, é o momento do dia com menor umidade relativa do ar, como nos jogos às 11h. O ideal é evitar a prática nessa janela de tempo, até meados da tarde.

As ondas de calor e as secas intensas assolam o planeta e provocam mudanças também no cotidiano dos atletas de alto rendimento, que se preocupam com os malefícios da péssima qualidade do ar e da baixa umidade. Alguns clubes de futebol investem em aparelhos tecnológicos e medidas simples para mitigar os efeitos da crise climática, com seca recorde, temperaturas elevadíssimas e o fogo se alastrando em diferentes lugares do País.

Há uma preocupação especial quanto à possibilidade de desidratação dos jogadores. Nesse cenário, a hidratação ainda ganha mais importância, como prevenção da elevação da temperatura corporal. “O risco principal é a hipertermia, que pode levar a quadros graves como confusão mental e até problemas cardiovasculares”, explica Flávia Magalhães, médica e nutricionista que trabalha com esporte há mais de 20 anos. Ela sugere que, nos casos de atletas, deve ser feito um acompanhamento por meio de testes de urina para verificar casos de desidratação ou super-hidratação, além de considerar ajustes antes de jogos e treinos.

Mesmo acostumados ao alto rendimento e detentores de maior resistência física, jogadores correm riscos tão altos quanto pessoas que não praticam esporte profissionalmente. “Os atletas são, na verdade, as principais vítimas da elevação exagerada da temperatura do corpo e suas graves consequências, inclusive com risco de morte. Isso porque durante a atividade física intensa, o metabolismo aumenta muito e a produção de calor também, desafiando a estabilidade térmica”, explica Maria Cecília Maiorano, doutora em Pneumologia pela USP.

O Palmeiras, por exemplo, adquiriu recentemente uma mini estação meteorológica, que mede temperatura, umidade, pressão atmosférica, velocidade do vento e precipitação na Academia de Futebol, o centro de treinamento da equipe, na zona oeste de São Paulo, cidade em que qualidade do ar foi considerada a pior do mundo nesta semana, de acordo com a empresa suíça de tecnologia IQAir, que monitora as condições da poluição em grandes cidades.

O clube diz que os profissionais orientam para que os atletas não descuidem da hidratação dentro e fora do CT. Segundo o Palmeiras, independentemente do tempo seco, é feito um monitoramento da carga interna dos atletas (frequência cardíaca), que pode aumentar em temperaturas extremas.

Tanto ar poluído quanto alta temperatura são perigos para corpo humano, mesmo no caso de atletas. Foto: Rafael Ribeiro/CBF

A prática de atividades físicas em temperaturas elevadas pode ser prejudicial à saúde e é capaz de causar desidratação severa, insolação, cãibra, fadiga e arritmia — esta última podendo provocar até mesmo uma parada cardíaca. “A temperatura normal de uma pessoa é de 36,5 a 37,8 graus. Em ambientes quentes, essa temperatura pode fazer a pessoa apresentar um quadro febril. Esta febre já é algo com maior dano para o nosso organismo”, explica Karina Hatano, médica do esporte do Espaço Einstein, do Hospital Albert Einstein.

Segundo a especialista, os atletas devem consumir cerca de 500ml de água pelo menos duas horas antes da partida. Depois, de 150ml a 200ml a cada 30 minutos, e mais 500ml ao fim da atividade física para repor o líquido perdido na transpiração. Durante uma partida de futebol, os atletas são abastecidos por membros da delegação com copos e garrafas de água e bebidas isotônicas.

Tendo isso em mente, o Corinthians afirmou que reforçou a recomendação para os atletas se hidratarem mais e disse ter disponibilizado mais pontos de hidratação no CT Dr. Joaquim Grava. Além disso, a equipe médica do clube recomendou a lavagem nasal com soro fisiológico aos jogadores.

Procedimentos parecidos foram adotados pelo São Paulo, que também reforçou a importância da hidratação, monitorada pelos profissionais tricolores, e disponibiliza água e isotônico em praticamente todos os ambientes do CT da Barra Funda. O clube também tem orientado os atletas a umidificar os quartos na hora de dormir.

Quanto aos treinamentos, a comissão técnica tem evitado horários mais quentes. Nesta semana, as duas atividades comandadas por Zubeldía antes da partida contra o Cruzeiro foram marcadas para as 16 horas de sexta e 15h30 de sábado.

Cuiabá, Fortaleza e Sport fazem uso do MX3, um aparelho que tem, entre outras funções, a de analisar a hidratação dos jogadores de maneira mais rápida e certeira por meio da saliva dos atletas, com resultados precisos em menos de 30 segundos.

“Conseguimos separar os atletas em três grupos: totalmente hidratado, levemente desidratado e um grau mais grave de desidratação. De acordo com essa avaliação, montamos um protocolo para ele durante o dia de atividades”, explica Tiago Fontoura, coordenador de Nutrição do Fortaleza.

“Caso a desidratação seja leve, fazemos um trabalho mais focado em líquidos de acordo com o peso corporal do jogador, porém, se for algo mais pesado, fazemos também o uso de eletrólitos para auxiliar no equilíbrio hídrico”, acrescenta.

Última semana foi marcada por paisagens tomadas por fumaças oriundas de incêndios no interior do Brasil. Foto: Daniel Teixeira/Estadao

No caso do ar poluído, como aconteceu em diferentes regiões do Brasil por causa da fumaça de queimadas, as consequências podem se manifestar a longo prazo, e atletas de alto rendimento também estão sujeitos aos riscos.

“Em dias muito poluídos, a prática de atividade física pode ser prejudicial, mesmo para atletas, pois a quantidade de ar que entra em nossos pulmões durante o exercício é muito maior do que no repouso, aumentando assim a inalação de poluentes, com risco aumentado de doenças respiratórias e cardíacas”, diz a pneumologista Maria Cecília Maiorano. “Pessoas saudáveis e atletas estão sob menor risco do que populações vulneráveis como idosos, crianças e portadores de doenças cardíacas e pulmonares crônicas, mas não se pode dizer que estão isentos.”

Em Ribeirão Preto, cidade do interior paulista fortemente afetada pelo clima seco, as aulas chegaram a ser suspensas na última semana de agosto para a “garantir a saúde e segurança dos estudantes e profissionais” após o avanço dos focos de incêndio e da fumaça decorrente das chamas. No município, treina o Botafogo-SP, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro e tem buscado soluções para mitigar o impacto do calor em seus atletas. Apesar disso, alguns têm enfrentado problemas.

“A principal medida foi otimizar a hidratação dos atletas no pré, intra e pós-treino. Além da onda de calor e tempo seco, estamos tendo o problema das queimadas. Para ajudar nessa situação, deixamos em todos os quartos de concentração dos atletas um umidificador de ar e orientamos sempre eles a fazerem lavagem nasal e nebulização com soro fisiológico. Mesmo assim, alguns jogadores ainda sofrem com aumento de coriza, agudização de rinite e/ou sinusite. Nesses casos, temos que entrar com medicação”, comenta Rodrigo Brochetto, coordenador médico do Botafogo Futebol SA.

Outro time que disputa a Série B, o Guarani tem há algumas temporadas protocolos bem estabelecidos de hidratação, reposição de eletrólitos e medidas de atenuação dos efeitos do tempo quente e seco nas diferentes regiões do Brasil, conforme o fisiologista do clube, Rafael Grazioli. “Realizamos e reforçamos estes protocolos em todos os dias que antecedem os jogos nestas regiões e viemos para Belém dois dias antes da partida com o Paysandu também para facilitar essa adaptação”.

Um estudo conduzido por pesquisadores da USP, publicado no começo deste ano na revista Environmental Research, foi o primeiro a demonstrar a relação entre respirar ar com poluição e o desenvolvimento de fibrose cardíaca, um indicador de doenças do coração. O estudo teve coordenação do professor Paulo Saldiva e foi desenvolvido a partir da análise de autópsia de 238 pessoas que viviam em São Paulo. A hipertensão é um fator que aumenta o risco da ocorrência de fibrose cardíaca.

Quando a umidade do ar está baixa, o atleta não nota o suor, que evapora rapidamente, e pode não perceber a desidratação. Situação contrária ao ar seco, um calor úmido também tem seus riscos. “Também é desconfortável para o atleta. Você vê a camisa encharcada. Tem uma desidratação e gera dificuldade em controlar temperatura corpora”, explica o fisiologista do Atlético-MG, Roberto Chiari.

Ele atenta para atividades que acontecem no final da manhã, a partir de 10h. Segundo o fisiologista, é o momento do dia com menor umidade relativa do ar, como nos jogos às 11h. O ideal é evitar a prática nessa janela de tempo, até meados da tarde.

As ondas de calor e as secas intensas assolam o planeta e provocam mudanças também no cotidiano dos atletas de alto rendimento, que se preocupam com os malefícios da péssima qualidade do ar e da baixa umidade. Alguns clubes de futebol investem em aparelhos tecnológicos e medidas simples para mitigar os efeitos da crise climática, com seca recorde, temperaturas elevadíssimas e o fogo se alastrando em diferentes lugares do País.

Há uma preocupação especial quanto à possibilidade de desidratação dos jogadores. Nesse cenário, a hidratação ainda ganha mais importância, como prevenção da elevação da temperatura corporal. “O risco principal é a hipertermia, que pode levar a quadros graves como confusão mental e até problemas cardiovasculares”, explica Flávia Magalhães, médica e nutricionista que trabalha com esporte há mais de 20 anos. Ela sugere que, nos casos de atletas, deve ser feito um acompanhamento por meio de testes de urina para verificar casos de desidratação ou super-hidratação, além de considerar ajustes antes de jogos e treinos.

Mesmo acostumados ao alto rendimento e detentores de maior resistência física, jogadores correm riscos tão altos quanto pessoas que não praticam esporte profissionalmente. “Os atletas são, na verdade, as principais vítimas da elevação exagerada da temperatura do corpo e suas graves consequências, inclusive com risco de morte. Isso porque durante a atividade física intensa, o metabolismo aumenta muito e a produção de calor também, desafiando a estabilidade térmica”, explica Maria Cecília Maiorano, doutora em Pneumologia pela USP.

O Palmeiras, por exemplo, adquiriu recentemente uma mini estação meteorológica, que mede temperatura, umidade, pressão atmosférica, velocidade do vento e precipitação na Academia de Futebol, o centro de treinamento da equipe, na zona oeste de São Paulo, cidade em que qualidade do ar foi considerada a pior do mundo nesta semana, de acordo com a empresa suíça de tecnologia IQAir, que monitora as condições da poluição em grandes cidades.

O clube diz que os profissionais orientam para que os atletas não descuidem da hidratação dentro e fora do CT. Segundo o Palmeiras, independentemente do tempo seco, é feito um monitoramento da carga interna dos atletas (frequência cardíaca), que pode aumentar em temperaturas extremas.

Tanto ar poluído quanto alta temperatura são perigos para corpo humano, mesmo no caso de atletas. Foto: Rafael Ribeiro/CBF

A prática de atividades físicas em temperaturas elevadas pode ser prejudicial à saúde e é capaz de causar desidratação severa, insolação, cãibra, fadiga e arritmia — esta última podendo provocar até mesmo uma parada cardíaca. “A temperatura normal de uma pessoa é de 36,5 a 37,8 graus. Em ambientes quentes, essa temperatura pode fazer a pessoa apresentar um quadro febril. Esta febre já é algo com maior dano para o nosso organismo”, explica Karina Hatano, médica do esporte do Espaço Einstein, do Hospital Albert Einstein.

Segundo a especialista, os atletas devem consumir cerca de 500ml de água pelo menos duas horas antes da partida. Depois, de 150ml a 200ml a cada 30 minutos, e mais 500ml ao fim da atividade física para repor o líquido perdido na transpiração. Durante uma partida de futebol, os atletas são abastecidos por membros da delegação com copos e garrafas de água e bebidas isotônicas.

Tendo isso em mente, o Corinthians afirmou que reforçou a recomendação para os atletas se hidratarem mais e disse ter disponibilizado mais pontos de hidratação no CT Dr. Joaquim Grava. Além disso, a equipe médica do clube recomendou a lavagem nasal com soro fisiológico aos jogadores.

Procedimentos parecidos foram adotados pelo São Paulo, que também reforçou a importância da hidratação, monitorada pelos profissionais tricolores, e disponibiliza água e isotônico em praticamente todos os ambientes do CT da Barra Funda. O clube também tem orientado os atletas a umidificar os quartos na hora de dormir.

Quanto aos treinamentos, a comissão técnica tem evitado horários mais quentes. Nesta semana, as duas atividades comandadas por Zubeldía antes da partida contra o Cruzeiro foram marcadas para as 16 horas de sexta e 15h30 de sábado.

Cuiabá, Fortaleza e Sport fazem uso do MX3, um aparelho que tem, entre outras funções, a de analisar a hidratação dos jogadores de maneira mais rápida e certeira por meio da saliva dos atletas, com resultados precisos em menos de 30 segundos.

“Conseguimos separar os atletas em três grupos: totalmente hidratado, levemente desidratado e um grau mais grave de desidratação. De acordo com essa avaliação, montamos um protocolo para ele durante o dia de atividades”, explica Tiago Fontoura, coordenador de Nutrição do Fortaleza.

“Caso a desidratação seja leve, fazemos um trabalho mais focado em líquidos de acordo com o peso corporal do jogador, porém, se for algo mais pesado, fazemos também o uso de eletrólitos para auxiliar no equilíbrio hídrico”, acrescenta.

Última semana foi marcada por paisagens tomadas por fumaças oriundas de incêndios no interior do Brasil. Foto: Daniel Teixeira/Estadao

No caso do ar poluído, como aconteceu em diferentes regiões do Brasil por causa da fumaça de queimadas, as consequências podem se manifestar a longo prazo, e atletas de alto rendimento também estão sujeitos aos riscos.

“Em dias muito poluídos, a prática de atividade física pode ser prejudicial, mesmo para atletas, pois a quantidade de ar que entra em nossos pulmões durante o exercício é muito maior do que no repouso, aumentando assim a inalação de poluentes, com risco aumentado de doenças respiratórias e cardíacas”, diz a pneumologista Maria Cecília Maiorano. “Pessoas saudáveis e atletas estão sob menor risco do que populações vulneráveis como idosos, crianças e portadores de doenças cardíacas e pulmonares crônicas, mas não se pode dizer que estão isentos.”

Em Ribeirão Preto, cidade do interior paulista fortemente afetada pelo clima seco, as aulas chegaram a ser suspensas na última semana de agosto para a “garantir a saúde e segurança dos estudantes e profissionais” após o avanço dos focos de incêndio e da fumaça decorrente das chamas. No município, treina o Botafogo-SP, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro e tem buscado soluções para mitigar o impacto do calor em seus atletas. Apesar disso, alguns têm enfrentado problemas.

“A principal medida foi otimizar a hidratação dos atletas no pré, intra e pós-treino. Além da onda de calor e tempo seco, estamos tendo o problema das queimadas. Para ajudar nessa situação, deixamos em todos os quartos de concentração dos atletas um umidificador de ar e orientamos sempre eles a fazerem lavagem nasal e nebulização com soro fisiológico. Mesmo assim, alguns jogadores ainda sofrem com aumento de coriza, agudização de rinite e/ou sinusite. Nesses casos, temos que entrar com medicação”, comenta Rodrigo Brochetto, coordenador médico do Botafogo Futebol SA.

Outro time que disputa a Série B, o Guarani tem há algumas temporadas protocolos bem estabelecidos de hidratação, reposição de eletrólitos e medidas de atenuação dos efeitos do tempo quente e seco nas diferentes regiões do Brasil, conforme o fisiologista do clube, Rafael Grazioli. “Realizamos e reforçamos estes protocolos em todos os dias que antecedem os jogos nestas regiões e viemos para Belém dois dias antes da partida com o Paysandu também para facilitar essa adaptação”.

Um estudo conduzido por pesquisadores da USP, publicado no começo deste ano na revista Environmental Research, foi o primeiro a demonstrar a relação entre respirar ar com poluição e o desenvolvimento de fibrose cardíaca, um indicador de doenças do coração. O estudo teve coordenação do professor Paulo Saldiva e foi desenvolvido a partir da análise de autópsia de 238 pessoas que viviam em São Paulo. A hipertensão é um fator que aumenta o risco da ocorrência de fibrose cardíaca.

Quando a umidade do ar está baixa, o atleta não nota o suor, que evapora rapidamente, e pode não perceber a desidratação. Situação contrária ao ar seco, um calor úmido também tem seus riscos. “Também é desconfortável para o atleta. Você vê a camisa encharcada. Tem uma desidratação e gera dificuldade em controlar temperatura corpora”, explica o fisiologista do Atlético-MG, Roberto Chiari.

Ele atenta para atividades que acontecem no final da manhã, a partir de 10h. Segundo o fisiologista, é o momento do dia com menor umidade relativa do ar, como nos jogos às 11h. O ideal é evitar a prática nessa janela de tempo, até meados da tarde.

As ondas de calor e as secas intensas assolam o planeta e provocam mudanças também no cotidiano dos atletas de alto rendimento, que se preocupam com os malefícios da péssima qualidade do ar e da baixa umidade. Alguns clubes de futebol investem em aparelhos tecnológicos e medidas simples para mitigar os efeitos da crise climática, com seca recorde, temperaturas elevadíssimas e o fogo se alastrando em diferentes lugares do País.

Há uma preocupação especial quanto à possibilidade de desidratação dos jogadores. Nesse cenário, a hidratação ainda ganha mais importância, como prevenção da elevação da temperatura corporal. “O risco principal é a hipertermia, que pode levar a quadros graves como confusão mental e até problemas cardiovasculares”, explica Flávia Magalhães, médica e nutricionista que trabalha com esporte há mais de 20 anos. Ela sugere que, nos casos de atletas, deve ser feito um acompanhamento por meio de testes de urina para verificar casos de desidratação ou super-hidratação, além de considerar ajustes antes de jogos e treinos.

Mesmo acostumados ao alto rendimento e detentores de maior resistência física, jogadores correm riscos tão altos quanto pessoas que não praticam esporte profissionalmente. “Os atletas são, na verdade, as principais vítimas da elevação exagerada da temperatura do corpo e suas graves consequências, inclusive com risco de morte. Isso porque durante a atividade física intensa, o metabolismo aumenta muito e a produção de calor também, desafiando a estabilidade térmica”, explica Maria Cecília Maiorano, doutora em Pneumologia pela USP.

O Palmeiras, por exemplo, adquiriu recentemente uma mini estação meteorológica, que mede temperatura, umidade, pressão atmosférica, velocidade do vento e precipitação na Academia de Futebol, o centro de treinamento da equipe, na zona oeste de São Paulo, cidade em que qualidade do ar foi considerada a pior do mundo nesta semana, de acordo com a empresa suíça de tecnologia IQAir, que monitora as condições da poluição em grandes cidades.

O clube diz que os profissionais orientam para que os atletas não descuidem da hidratação dentro e fora do CT. Segundo o Palmeiras, independentemente do tempo seco, é feito um monitoramento da carga interna dos atletas (frequência cardíaca), que pode aumentar em temperaturas extremas.

Tanto ar poluído quanto alta temperatura são perigos para corpo humano, mesmo no caso de atletas. Foto: Rafael Ribeiro/CBF

A prática de atividades físicas em temperaturas elevadas pode ser prejudicial à saúde e é capaz de causar desidratação severa, insolação, cãibra, fadiga e arritmia — esta última podendo provocar até mesmo uma parada cardíaca. “A temperatura normal de uma pessoa é de 36,5 a 37,8 graus. Em ambientes quentes, essa temperatura pode fazer a pessoa apresentar um quadro febril. Esta febre já é algo com maior dano para o nosso organismo”, explica Karina Hatano, médica do esporte do Espaço Einstein, do Hospital Albert Einstein.

Segundo a especialista, os atletas devem consumir cerca de 500ml de água pelo menos duas horas antes da partida. Depois, de 150ml a 200ml a cada 30 minutos, e mais 500ml ao fim da atividade física para repor o líquido perdido na transpiração. Durante uma partida de futebol, os atletas são abastecidos por membros da delegação com copos e garrafas de água e bebidas isotônicas.

Tendo isso em mente, o Corinthians afirmou que reforçou a recomendação para os atletas se hidratarem mais e disse ter disponibilizado mais pontos de hidratação no CT Dr. Joaquim Grava. Além disso, a equipe médica do clube recomendou a lavagem nasal com soro fisiológico aos jogadores.

Procedimentos parecidos foram adotados pelo São Paulo, que também reforçou a importância da hidratação, monitorada pelos profissionais tricolores, e disponibiliza água e isotônico em praticamente todos os ambientes do CT da Barra Funda. O clube também tem orientado os atletas a umidificar os quartos na hora de dormir.

Quanto aos treinamentos, a comissão técnica tem evitado horários mais quentes. Nesta semana, as duas atividades comandadas por Zubeldía antes da partida contra o Cruzeiro foram marcadas para as 16 horas de sexta e 15h30 de sábado.

Cuiabá, Fortaleza e Sport fazem uso do MX3, um aparelho que tem, entre outras funções, a de analisar a hidratação dos jogadores de maneira mais rápida e certeira por meio da saliva dos atletas, com resultados precisos em menos de 30 segundos.

“Conseguimos separar os atletas em três grupos: totalmente hidratado, levemente desidratado e um grau mais grave de desidratação. De acordo com essa avaliação, montamos um protocolo para ele durante o dia de atividades”, explica Tiago Fontoura, coordenador de Nutrição do Fortaleza.

“Caso a desidratação seja leve, fazemos um trabalho mais focado em líquidos de acordo com o peso corporal do jogador, porém, se for algo mais pesado, fazemos também o uso de eletrólitos para auxiliar no equilíbrio hídrico”, acrescenta.

Última semana foi marcada por paisagens tomadas por fumaças oriundas de incêndios no interior do Brasil. Foto: Daniel Teixeira/Estadao

No caso do ar poluído, como aconteceu em diferentes regiões do Brasil por causa da fumaça de queimadas, as consequências podem se manifestar a longo prazo, e atletas de alto rendimento também estão sujeitos aos riscos.

“Em dias muito poluídos, a prática de atividade física pode ser prejudicial, mesmo para atletas, pois a quantidade de ar que entra em nossos pulmões durante o exercício é muito maior do que no repouso, aumentando assim a inalação de poluentes, com risco aumentado de doenças respiratórias e cardíacas”, diz a pneumologista Maria Cecília Maiorano. “Pessoas saudáveis e atletas estão sob menor risco do que populações vulneráveis como idosos, crianças e portadores de doenças cardíacas e pulmonares crônicas, mas não se pode dizer que estão isentos.”

Em Ribeirão Preto, cidade do interior paulista fortemente afetada pelo clima seco, as aulas chegaram a ser suspensas na última semana de agosto para a “garantir a saúde e segurança dos estudantes e profissionais” após o avanço dos focos de incêndio e da fumaça decorrente das chamas. No município, treina o Botafogo-SP, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro e tem buscado soluções para mitigar o impacto do calor em seus atletas. Apesar disso, alguns têm enfrentado problemas.

“A principal medida foi otimizar a hidratação dos atletas no pré, intra e pós-treino. Além da onda de calor e tempo seco, estamos tendo o problema das queimadas. Para ajudar nessa situação, deixamos em todos os quartos de concentração dos atletas um umidificador de ar e orientamos sempre eles a fazerem lavagem nasal e nebulização com soro fisiológico. Mesmo assim, alguns jogadores ainda sofrem com aumento de coriza, agudização de rinite e/ou sinusite. Nesses casos, temos que entrar com medicação”, comenta Rodrigo Brochetto, coordenador médico do Botafogo Futebol SA.

Outro time que disputa a Série B, o Guarani tem há algumas temporadas protocolos bem estabelecidos de hidratação, reposição de eletrólitos e medidas de atenuação dos efeitos do tempo quente e seco nas diferentes regiões do Brasil, conforme o fisiologista do clube, Rafael Grazioli. “Realizamos e reforçamos estes protocolos em todos os dias que antecedem os jogos nestas regiões e viemos para Belém dois dias antes da partida com o Paysandu também para facilitar essa adaptação”.

Um estudo conduzido por pesquisadores da USP, publicado no começo deste ano na revista Environmental Research, foi o primeiro a demonstrar a relação entre respirar ar com poluição e o desenvolvimento de fibrose cardíaca, um indicador de doenças do coração. O estudo teve coordenação do professor Paulo Saldiva e foi desenvolvido a partir da análise de autópsia de 238 pessoas que viviam em São Paulo. A hipertensão é um fator que aumenta o risco da ocorrência de fibrose cardíaca.

Quando a umidade do ar está baixa, o atleta não nota o suor, que evapora rapidamente, e pode não perceber a desidratação. Situação contrária ao ar seco, um calor úmido também tem seus riscos. “Também é desconfortável para o atleta. Você vê a camisa encharcada. Tem uma desidratação e gera dificuldade em controlar temperatura corpora”, explica o fisiologista do Atlético-MG, Roberto Chiari.

Ele atenta para atividades que acontecem no final da manhã, a partir de 10h. Segundo o fisiologista, é o momento do dia com menor umidade relativa do ar, como nos jogos às 11h. O ideal é evitar a prática nessa janela de tempo, até meados da tarde.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.