O ex-meia-atacante Paulo Sérgio saiu do Corinthians para o Bayer Leverkusen em 1993 e logo em sua primeira temporada no Campeonato Alemão foi vice-artilheiro, com 17 gols, feito que o ajudou a ser convocado por Carlos Alberto Parreira para a Copa do Mundo de 1994 pela seleção brasileira, em um momento em que disputava posições com nomes como Rivaldo. Mesmo em grande fase, não teve tanto espaço no grupo e jogou apenas dois jogos, contra Rússia e Camarões.
Ter conquistado uma vaga no grupo que ganhou o Mundial já foi um grande feito, justamente por causa da quantidade de opções disponíveis especialmente para as posições ofensivas. Além de Rivaldo, jogadores como Edmundo, Evair, Edilson e Careca ficaram de fora.
Os tempos eram outros, e o futebol brasileiro estava repleto de estrelas, seja jogando em solo nacional ou na Europa. Quando olha para o passado e observa a atual situação da seleção brasileira, oscilante nas Eliminatórias para a Copa de 2025 e sem título mundial desde 2002, Paulo Sérgio se preocupa ao observar que a maioria dos jogadores que defendem o Brasil não são os grandes protagonistas de seus clubes, salvo alguns casos como os de Vini Jr e Rodrygo.
“Temos que mudar primeiro nossa mentalidade no Brasil para depois querer exigir que tenhamos protagonistas lá fora. São poucos. Infelizmente, estamos vivendo uma geração muito difícil. Estamos para completar 25 anos sem vencer a Copa do Mundo, com uma seleção de resultados muito abaixo daquilo que o torcedor espera”, afirma ao Estadão.
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O versátil ex-meia-atacante de 55 anos acredita que a solução passa por mudanças na formação dos atletas. Habituado aos métodos do futebol da Alemanha, onde brilhou também pelo Bayern de Munique além do Leverkusen, ele entende que o Brasil tem que formar jogadores pensando no estilo de jogo brasileiro, assim como os alemães fazem com sua filosofia própria.
“Nós precisamos de um trabalho nas categorias de base. Precisamos de um trabalho para formar esses atletas e não tirar a qualidade desses atletas. Você não pode pegar um garoto que gosta de jogar de atacante e colocar ele na zaga porque é mais alto. Aí perdemos protagonistas”, diz.
“Temos que ver, primeiro, que não temos mais esses protagonistas no Brasil. Hoje, quantos jogadores do Brasil são protagonistas? Vamos falar do Estêvão, que é um jogador que salta os olhares, mas daqui a pouco já vai embora. Temos o Luiz Henrique, hoje no mercado brasileiro, mas que já esteve lá fora. Se você for falar para mim qual outro, a maioria são estrangeiros”, completa.
Em termos de convocação, o tetracampeão não acredita que existam opções muito acima das que Dorival Júnior tem feito. Ele defende que para extrair o melhor desempenho da seleção é preciso priorizar os jogadores que vivem melhor momento, independentemente da idade que tenham.
“Não tem muito o que fazer. Você precisa mentalizar esses jogadores e colocar esses jogadores na hora certa, no momento certo. E uma coisa que eu gosto muito é você aproveitar o momento do atleta. Eu, por mim, colocaria o Luiz Henrique, porque é um dos principais jogadores nosso hoje. O Savinho está lá fora, mas se machucou, não jogou alguns jogos. Estamos vendo o Luiz Henrique aí sendo um dos principais jogadores. E também por que não dar oportunidade para os garotos, achar que só podem ter lá na frente?”, avalia.
Ser cria do terrão e ser ídolo do Corinthians
Formado nas categorias de base do Corinthians, clube pelo qual foi campeão brasileiro em 1990, Paulo Sérgio gosta do tema formação de jogadores e ajuda o Leverkusen, na figura de embaixador, a se conectar com o futebol brasileiro. Tem críticas à maneira como muitas promessas corintianas foram negociadas recentemente, caso da saída de Wesley para o Al-Nassr, e cobra mudanças do presidente Augusto Melo.
“O Wesley era um grande potencial? Era um grande potencial. Saiu de uma forma ruim? Para mim saiu de uma forma ruim, assim como outros jogadores. Para mim, ter uma gestão tanto na base quanto no profissional é importantíssimo. Você saber a hora de colocar o garoto, a hora de segurar esse garoto, não queimar. O Corinthians sempre teve, durante os últimos anos... trouxe muitos jogadores para o mercado europeu. Muitos já saíram nesses últimos dois, três anos. Eu espero que o Augusto possa trazer para a sua gestão o profissionalismo na base, o entendimento entre base e profissional, coisas que estavam muito divididas”, pontua.
O ex-jogador também entende que é importante pra os clubes e seleções que sejam construídos ídolos, embora saiba que muitos nomes não serão prontamente valorizados no presente. Especificamente sobre o caso do Corinthians, não hesita em dizer que jogadores como Romero e Fagner, identificados com o time e criticados em determinados momentos, já alcançaram o posto da idolatria.
“Uns gostam, outros não gostam. Independentemente disso, o Romero tem passado anos no Corinthians colocando marcas. Você permanecer hoje em um clube como o Corinthians é muito difícil. Permanecer dois, três anos em um clube como esse é difícil. O Fagner também é um dos ídolos. O brasileiro, infelizmente, tem memória curta. Eu deixei o futebol alemão há 22 anos. Estou como embaixador da Bundesliga, uma das lendas do Bayern de Munique e também esse trabalho agora com Bayer Leverkusen, chamado para trabalhar como embaixador. Tudo isso pelo legado. Lá para frente todo mundo vai falar: o Romero foi legal, o Fagner foi legal”, afirma.