Rafael dos Santos Tercilio Garcia, torcedor do São Paulo morto nos arredores do Morumbi durante a comemoração do título da Copa do Brasil sobre o Flamengo, foi vítima de um ferimento no crânio causado por arma de fogo, segundo declaração de óbito. Ele tinha 32 anos e foi encontrado caído após um confronto entre torcedores e policiais do Batalhão de Choque. O são-paulino chegou a ser levado para o Pronto Socorro Campo Limpo, mas não resistiu.
O enterro de Rafael aconteceu na terça-feira, em Itapevi, na Região Metropolitana de SP, onde ele morava. O torcedor era deficiente auditivo e pertencia ao quadro Surdos Tricolores da Torcida Independente, principal uniformizada do São Paulo. Ele trabalhava como operador de loja em uma rede de supermercados e deixa mulher e um filho de oito anos.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) afirmou que um inquérito policial foi instaurado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para investigar o caso. A Polícia Civil busca por testemunhas, imagens das câmeras de segurança do local e outras informações que possam ajudar na elucidação do caso. Na ocasião, os policiais militares realizaram ações de controle de multidão com uso de munições de menor potencial ofensivo como “bean bags”, elastômero (bala de borracha), bombas de gás lacrimogênio e jatos de água.
A confusão começou quando dezenas de torcedores se aglomeraram no portão principal do Morumbi durante a comemoração do título. A situação se tornou mais perigosa quando Jonathan Calleri e Robert Arboleda escalaram o portão e uma guarita, respectivamente, para comemorar com os torcedores. A forte presença dos são-paulinos causou tumulto, dando a impressão de que o portão poderia ser deslocado e até derrubado, causando uma invasão ao local reservado onde estavam os atletas. Foi neste momento que se deu início uma confusão entre a Polícia Militar e os torcedores.
A Polícia Militar instaurou também um inquérito policial militar (IPM) e apura rigorosamente toda a ação ocorrida no último domingo. Ainda de acordo com SSP, os excesso por parte dos policiais que eventualmente sejam identificado, será devidamente investigado e responsabilizado.
O que são bean bags?
As munições “bean bags” (”sacos de feijão”, em tradução literal) passaram ser utilizadas pela Polícia Militar neste ano, substituindo as balas de borracha. Trata-se de pequenas esferas de chumbo armazenadas em pequenos cartuchos de calibre 12. Elas são projetadas para uso no controle de distúrbios.
De acordo com um estudo da brasileira Condor Tecnologias não letais, as “munições do modelo bean bag existentes no mercado [...] apresentam um alto risco a vida devido à combinação de seu projétil de peso elevado e alcance efetivo curto, que acaba por gerar densidade de energia extremamente alta”, o que “aumenta consideravelmente a probabilidade de causar danos críticos a órgãos internos e até fraturas ósseas”. “Além disso, há um grave risco de laceração da pele após um disparo, permitindo que as esferas de chumbo penetrem no corpo, potencializando riscos de lesões.”
Ivalda Aleixo, delegada da DHPP, afirma que uma bean bag foi encontrada na nuca de Rafael e teria provocado a sua morte. A Polícia Civil investiga se, de fato, o disparo partiu de uma arma manuseada por um PM. “Foi muito próximo dele. Porque o impacto foi muito forte. Acertou diretamente nele e à distância curta. Normalmente esse tipo de munição é disparado a uma distância maior justamente para não causar nenhuma lesão”, disse Ivalda, em entrevista à CBN