Torcidas LGBT+ lutam para conquistar espaços nos estádios brasileiros


Número de coletivos e organizadas que apoiam a causa cresceu nos últimos anos no Brasil

Por Rodrigo Almonacid / AFP

Onã Rudá caminha confiante e feliz com sua camisa nas cores do arco-íris pelas arquibancadas da Arena Fonte Nova, casa de seu amado Bahia e de uma das principais torcidas LGBT+ do Brasil. Sua calma, porém, está longe de ser a norma para homossexuais nos estádios brasileiros de futebol.

Esse homem moreno, barbudo, tatuado e com brincos sabe que é privilegiado: o estádio onde joga o tradicional clube de Salvador, atualmente na segunda divisão, mas na iminência de voltar para a Série A, é um local seguro para os gays, que muitas vezes evitam as arenas do futebol por medo de perseguições e agressões.

“Antes ninguém podia vir. Hoje nós existimos: vamos e alguns vão com os amigos, com a família... O grande triunfo é que essas pessoas não precisam mais esconder que são LGBT+ quando vão ao estádio”, diz à AFP esse funcionário da área de comunicação, de 32 anos.

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Oña Rudá é fundador da torcida do Bahia LGBTricolor, que apoia a causa LGBT. Foto: Rafaela Araujo/AFP

Onã Rudá fundou a Torcida LGBTricolor em setembro de 2019 com o apoio do próprio Bahia, reconhecida por suas posições progressistas nos últimos anos e que pode fechar em breve sua venda para o City Group, fundo árabe dono do Manchester City. E aí virar uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol), a exemplo de Vasco, Botafogo e Cruzeiro.

Os quinze integrantes da torcida - um número muito distante das organizadas do Brasil - podem ir sem problemas às arquibancadas com bandeiras ou camisas nas cores do arco-íris. Esses símbolos são evitados pelos homossexuais que frequentam outros estádios brasileiros, onde a homofobia motiva cantos discriminatórios, insultos, olhares hostis e até agressões, em um País que diariamente registra incidentes violentos contra pessoas LGBT+.

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Em 2021, foram registrados pelo menos 16 casos - entre agressões físicas, verbais ou cânticos - de homofobia nos estádios, número que pode ser maior porque nem sempre as vítimas denunciam, segundo relatório da ‘Canarinhos LGBTQ’, organização de torcedores que busca combater a discriminação no futebol.

“Como homem trans, me sinto orgulhoso e acolhido por estar nestas arquibancadas. Nosso lugar é aqui, vivendo o futebol”, diz outro torcedor, Antonio Ramos, estudante de gastronomia, de 28 anos.

‘Mudar o futebol’

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Embora quase todos os principais clubes do Brasil tenham pelo menos uma torcida arco-íris, que surgiu principalmente nesta década, a esmagadora maioria concentra suas ações nas redes sociais por medo de ir aos estádios, embora não estejam isentos de ataques e ameaças no campo virtual.

“Hoje a gente ainda tem um incômodo por parte das torcidas organizadas com relação a esses grupos. Nessas, a questão da masculinidade normativa, da virilidade, muitas vezes associada à homofobia, ainda é muito forte”, explica Luiza Aguiar dos Anjos, autora de vários livros sobre seguidores gays no Brasil.

Além do Bahia, apenas os torcedores cariocas do Vasco (Vasco LGBTQ+), que têm boas relações com os membros das organizadas e os clubes, vão aos estádios sem esconder sua orientação sexual.

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Número de torcidas organizadas que defendem as causas LGBT aumentou nos últimos anos no futebol. Foto: César Magalhães/Agência Pará

Alguns se refugiam individualmente em torcidas antifascistas, como a Tribuna 77 do Grêmio. No ‘tricolor gaúcho’, aliás, ficou famosa a “Coligay” (1977-81), uma das primeiras torcidas de homossexuais do planeta. As torcidas LGBT medem sua força de acordo com o número de seguidores na internet e costumam fazer ativismo político, especialmente de esquerda. Por isso, algumas preferem ser reconhecidas como ‘coletivos’.

“Essas torcidas estão tão interessadas em torcer quanto em mudar o futebol e os próprios clubes, para tornar esses times mais inclusivos”, diz Luiza.

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Sair do armário

Carlos Costa, auxiliar de e-commerce de 30 anos, acompanha o Palmeiras desde 1997. Ele diz que sempre percebeu um clima homofóbico nas arquibancadas. Quando era criança, ia ao estádio com os tios e agora espera que o coletivo do qual faz parte, a ‘PorcoÍris LGBT’, criado no Twitter em 2019, possa frequentar o Allianz Parque em São Paulo de forma “assumida’ a partir de 2023.

No entanto, ele alerta: dependerá de quão “civilizados” os brasileiros estiverem até lá, especialmente se o presidente Jair Bolsonaro for reeleito em 30 de outubro. “Infelizmente, a gente sente que está retrocedendo, com muito ódio às minorias”, diz Carlos.

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Torcedores LGBT não costumam ir aos estádios com símbolos da causa, por medo de represálias. Foto: Werther Santana/Estadão

Por enquanto, os trinta membros ativos da PorcoÍris se consolam indo torcer pelo Palmeiras sem usar símbolos LGBT+, cada um separadamente e em arquibancadas diferentes. Não formam um grupo. Nathan Mouro, de 22 anos, especialista em turismo, e Gleison Oliveira, vendedor de 28 anos, esperam que em algum momento o futebol masculino siga o exemplo do futebol feminino, onde a homossexualidade não é tabu.

“Eu imagino um futuro em que a gente possa expressar nosso posicionamento com a camisa de Palmeiras, frequentar os estádios sem sentir nenhum tipo de repressão ou medo”, diz Gleison.

Onã Rudá caminha confiante e feliz com sua camisa nas cores do arco-íris pelas arquibancadas da Arena Fonte Nova, casa de seu amado Bahia e de uma das principais torcidas LGBT+ do Brasil. Sua calma, porém, está longe de ser a norma para homossexuais nos estádios brasileiros de futebol.

Esse homem moreno, barbudo, tatuado e com brincos sabe que é privilegiado: o estádio onde joga o tradicional clube de Salvador, atualmente na segunda divisão, mas na iminência de voltar para a Série A, é um local seguro para os gays, que muitas vezes evitam as arenas do futebol por medo de perseguições e agressões.

“Antes ninguém podia vir. Hoje nós existimos: vamos e alguns vão com os amigos, com a família... O grande triunfo é que essas pessoas não precisam mais esconder que são LGBT+ quando vão ao estádio”, diz à AFP esse funcionário da área de comunicação, de 32 anos.

Oña Rudá é fundador da torcida do Bahia LGBTricolor, que apoia a causa LGBT. Foto: Rafaela Araujo/AFP

Onã Rudá fundou a Torcida LGBTricolor em setembro de 2019 com o apoio do próprio Bahia, reconhecida por suas posições progressistas nos últimos anos e que pode fechar em breve sua venda para o City Group, fundo árabe dono do Manchester City. E aí virar uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol), a exemplo de Vasco, Botafogo e Cruzeiro.

Os quinze integrantes da torcida - um número muito distante das organizadas do Brasil - podem ir sem problemas às arquibancadas com bandeiras ou camisas nas cores do arco-íris. Esses símbolos são evitados pelos homossexuais que frequentam outros estádios brasileiros, onde a homofobia motiva cantos discriminatórios, insultos, olhares hostis e até agressões, em um País que diariamente registra incidentes violentos contra pessoas LGBT+.

Em 2021, foram registrados pelo menos 16 casos - entre agressões físicas, verbais ou cânticos - de homofobia nos estádios, número que pode ser maior porque nem sempre as vítimas denunciam, segundo relatório da ‘Canarinhos LGBTQ’, organização de torcedores que busca combater a discriminação no futebol.

“Como homem trans, me sinto orgulhoso e acolhido por estar nestas arquibancadas. Nosso lugar é aqui, vivendo o futebol”, diz outro torcedor, Antonio Ramos, estudante de gastronomia, de 28 anos.

‘Mudar o futebol’

Embora quase todos os principais clubes do Brasil tenham pelo menos uma torcida arco-íris, que surgiu principalmente nesta década, a esmagadora maioria concentra suas ações nas redes sociais por medo de ir aos estádios, embora não estejam isentos de ataques e ameaças no campo virtual.

“Hoje a gente ainda tem um incômodo por parte das torcidas organizadas com relação a esses grupos. Nessas, a questão da masculinidade normativa, da virilidade, muitas vezes associada à homofobia, ainda é muito forte”, explica Luiza Aguiar dos Anjos, autora de vários livros sobre seguidores gays no Brasil.

Além do Bahia, apenas os torcedores cariocas do Vasco (Vasco LGBTQ+), que têm boas relações com os membros das organizadas e os clubes, vão aos estádios sem esconder sua orientação sexual.

Número de torcidas organizadas que defendem as causas LGBT aumentou nos últimos anos no futebol. Foto: César Magalhães/Agência Pará

Alguns se refugiam individualmente em torcidas antifascistas, como a Tribuna 77 do Grêmio. No ‘tricolor gaúcho’, aliás, ficou famosa a “Coligay” (1977-81), uma das primeiras torcidas de homossexuais do planeta. As torcidas LGBT medem sua força de acordo com o número de seguidores na internet e costumam fazer ativismo político, especialmente de esquerda. Por isso, algumas preferem ser reconhecidas como ‘coletivos’.

“Essas torcidas estão tão interessadas em torcer quanto em mudar o futebol e os próprios clubes, para tornar esses times mais inclusivos”, diz Luiza.

Sair do armário

Carlos Costa, auxiliar de e-commerce de 30 anos, acompanha o Palmeiras desde 1997. Ele diz que sempre percebeu um clima homofóbico nas arquibancadas. Quando era criança, ia ao estádio com os tios e agora espera que o coletivo do qual faz parte, a ‘PorcoÍris LGBT’, criado no Twitter em 2019, possa frequentar o Allianz Parque em São Paulo de forma “assumida’ a partir de 2023.

No entanto, ele alerta: dependerá de quão “civilizados” os brasileiros estiverem até lá, especialmente se o presidente Jair Bolsonaro for reeleito em 30 de outubro. “Infelizmente, a gente sente que está retrocedendo, com muito ódio às minorias”, diz Carlos.

Torcedores LGBT não costumam ir aos estádios com símbolos da causa, por medo de represálias. Foto: Werther Santana/Estadão

Por enquanto, os trinta membros ativos da PorcoÍris se consolam indo torcer pelo Palmeiras sem usar símbolos LGBT+, cada um separadamente e em arquibancadas diferentes. Não formam um grupo. Nathan Mouro, de 22 anos, especialista em turismo, e Gleison Oliveira, vendedor de 28 anos, esperam que em algum momento o futebol masculino siga o exemplo do futebol feminino, onde a homossexualidade não é tabu.

“Eu imagino um futuro em que a gente possa expressar nosso posicionamento com a camisa de Palmeiras, frequentar os estádios sem sentir nenhum tipo de repressão ou medo”, diz Gleison.

Onã Rudá caminha confiante e feliz com sua camisa nas cores do arco-íris pelas arquibancadas da Arena Fonte Nova, casa de seu amado Bahia e de uma das principais torcidas LGBT+ do Brasil. Sua calma, porém, está longe de ser a norma para homossexuais nos estádios brasileiros de futebol.

Esse homem moreno, barbudo, tatuado e com brincos sabe que é privilegiado: o estádio onde joga o tradicional clube de Salvador, atualmente na segunda divisão, mas na iminência de voltar para a Série A, é um local seguro para os gays, que muitas vezes evitam as arenas do futebol por medo de perseguições e agressões.

“Antes ninguém podia vir. Hoje nós existimos: vamos e alguns vão com os amigos, com a família... O grande triunfo é que essas pessoas não precisam mais esconder que são LGBT+ quando vão ao estádio”, diz à AFP esse funcionário da área de comunicação, de 32 anos.

Oña Rudá é fundador da torcida do Bahia LGBTricolor, que apoia a causa LGBT. Foto: Rafaela Araujo/AFP

Onã Rudá fundou a Torcida LGBTricolor em setembro de 2019 com o apoio do próprio Bahia, reconhecida por suas posições progressistas nos últimos anos e que pode fechar em breve sua venda para o City Group, fundo árabe dono do Manchester City. E aí virar uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol), a exemplo de Vasco, Botafogo e Cruzeiro.

Os quinze integrantes da torcida - um número muito distante das organizadas do Brasil - podem ir sem problemas às arquibancadas com bandeiras ou camisas nas cores do arco-íris. Esses símbolos são evitados pelos homossexuais que frequentam outros estádios brasileiros, onde a homofobia motiva cantos discriminatórios, insultos, olhares hostis e até agressões, em um País que diariamente registra incidentes violentos contra pessoas LGBT+.

Em 2021, foram registrados pelo menos 16 casos - entre agressões físicas, verbais ou cânticos - de homofobia nos estádios, número que pode ser maior porque nem sempre as vítimas denunciam, segundo relatório da ‘Canarinhos LGBTQ’, organização de torcedores que busca combater a discriminação no futebol.

“Como homem trans, me sinto orgulhoso e acolhido por estar nestas arquibancadas. Nosso lugar é aqui, vivendo o futebol”, diz outro torcedor, Antonio Ramos, estudante de gastronomia, de 28 anos.

‘Mudar o futebol’

Embora quase todos os principais clubes do Brasil tenham pelo menos uma torcida arco-íris, que surgiu principalmente nesta década, a esmagadora maioria concentra suas ações nas redes sociais por medo de ir aos estádios, embora não estejam isentos de ataques e ameaças no campo virtual.

“Hoje a gente ainda tem um incômodo por parte das torcidas organizadas com relação a esses grupos. Nessas, a questão da masculinidade normativa, da virilidade, muitas vezes associada à homofobia, ainda é muito forte”, explica Luiza Aguiar dos Anjos, autora de vários livros sobre seguidores gays no Brasil.

Além do Bahia, apenas os torcedores cariocas do Vasco (Vasco LGBTQ+), que têm boas relações com os membros das organizadas e os clubes, vão aos estádios sem esconder sua orientação sexual.

Número de torcidas organizadas que defendem as causas LGBT aumentou nos últimos anos no futebol. Foto: César Magalhães/Agência Pará

Alguns se refugiam individualmente em torcidas antifascistas, como a Tribuna 77 do Grêmio. No ‘tricolor gaúcho’, aliás, ficou famosa a “Coligay” (1977-81), uma das primeiras torcidas de homossexuais do planeta. As torcidas LGBT medem sua força de acordo com o número de seguidores na internet e costumam fazer ativismo político, especialmente de esquerda. Por isso, algumas preferem ser reconhecidas como ‘coletivos’.

“Essas torcidas estão tão interessadas em torcer quanto em mudar o futebol e os próprios clubes, para tornar esses times mais inclusivos”, diz Luiza.

Sair do armário

Carlos Costa, auxiliar de e-commerce de 30 anos, acompanha o Palmeiras desde 1997. Ele diz que sempre percebeu um clima homofóbico nas arquibancadas. Quando era criança, ia ao estádio com os tios e agora espera que o coletivo do qual faz parte, a ‘PorcoÍris LGBT’, criado no Twitter em 2019, possa frequentar o Allianz Parque em São Paulo de forma “assumida’ a partir de 2023.

No entanto, ele alerta: dependerá de quão “civilizados” os brasileiros estiverem até lá, especialmente se o presidente Jair Bolsonaro for reeleito em 30 de outubro. “Infelizmente, a gente sente que está retrocedendo, com muito ódio às minorias”, diz Carlos.

Torcedores LGBT não costumam ir aos estádios com símbolos da causa, por medo de represálias. Foto: Werther Santana/Estadão

Por enquanto, os trinta membros ativos da PorcoÍris se consolam indo torcer pelo Palmeiras sem usar símbolos LGBT+, cada um separadamente e em arquibancadas diferentes. Não formam um grupo. Nathan Mouro, de 22 anos, especialista em turismo, e Gleison Oliveira, vendedor de 28 anos, esperam que em algum momento o futebol masculino siga o exemplo do futebol feminino, onde a homossexualidade não é tabu.

“Eu imagino um futuro em que a gente possa expressar nosso posicionamento com a camisa de Palmeiras, frequentar os estádios sem sentir nenhum tipo de repressão ou medo”, diz Gleison.

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