No início de janeiro, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, pediu a todos os países-membros da entidade que batizassem pelo menos um estádio em cada país com o nome de Pelé. Passado um mês da morte do Rei do Futebol, vítima de complicações decorrentes de um câncer de cólon, poucas nações atenderam ao pedido de Infantino.
Foram as nações lusófonas, isto é, cuja língua oficial ou dominante é o português, as que mais rapidamente decidiram escolher um estádio para batizar com o nome do Rei do Futebol.
Cabo Verde foi o primeiro país a aderir ao tributo póstumo, ao informar em 4 de janeiro a intenção de alterar o nome do Estádio Nacional de Cabo Verde, localizado em Praia, capital do país africano, para Estádio Pelé.
“Pelé foi e será sempre uma referência no Brasil, na nossa lusofonia e em todo resto do mundo, sendo um ídolo que liga várias gerações”, disse na ocasião do anúncio o primeiro-ministro de Cabo Verde, José Ulisses Correia e Silva.
Um dia depois, Guiné-Bissau, mais uma nação africana lusófona, fez o mesmo ao anunciar que o eterno camisa 10 da seleção brasileira e do Santos também terá seu nome eternizado no Estádio da Rocha, localizado em Bafatá e utilizado pelo Sporting Clube de Bafatá, clube fundado em 1937 que compete na primeira divisão do campeonato nacional. Assim como Cabo Verde, ele passará a se chamar Estádio Pelé.
“Pelé é hoje uma figura única no mundo. Todos sabem quem é Pelé, era uma figura planetária”, afirmou o presidente da Federação de Futebol Guiné-Bissau, Carlos Teixeira
A Colômbia, por ora, foi o único país sul-americano a dar a um de seus estádios o nome de Pelé. O tributo aconteceu na cidade de Villavicencio. O Estádio Bello Horizonte, popularmente conhecido como Macal, em homenagem ao prefeito da cidade em 1958, passou a se chamar Estádio Bello Horizonte Rey Pelé. A instalação é casa do Llaneros, equipe da segunda divisão colombiana, e tem capacidade para 15 mil torcedores.
A reverência mais expressiva se deu no México. No último dia 10, o Pachuca inaugurou um trono em alusão ao Rei do Futebol no Estádio Hidalgo. Além disso, no confronto com o Puebla, os jogadores entraram em campo com a camisa amarela da seleção brasileira com o número 10, semelhante ao modelo utilizado na Copa do Mundo de 1970.
A homenagem póstuma ao Rei do Futebol foi feita pelo presidente do clube, Jesús Martínez, e pelos jogadores. O trono permanente está localizado logo abaixo do camarote, na tribuna de honra do estádio, onde os membros da Fifa são recepcionados, e se assemelha aos utilizados por membros da realeza e conta com a assinatura de Pelé em sua estrutura.
“Em cada canto de nossa instituição, você deixou sua luz e sua magia para sempre”, enalteceu o Pachuca, em vídeo em que venera e agradece Pelé. “Aqui viverá para sempre”.
Em Zurique, o campo principal da sede da Fifa na Suíça também passou por mudança. Agora é estádio Pelé-Fifa.
Frases para o Rei
Em centenas de estádios ao redor do mundo, a bola só rolou depois que um minuto de silêncio foi respeitado como forma de tributo a Pelé. Isso foi também uma recomendação da Fifa. No Parque dos Príncipes, Neymar usou uma camiseta em homenagem a Pelé, com o rosto do Rei do Futebol e a frase “Eterno Rei”.
Além do craque brasileiro, Lionel Messi e todos os jogadores do time parisiense também vestiram a camisa ao entrar em campo para o aquecimento. Bruno Guimarães foi além em sua ideia de tornar emocionante a devoção ao Rei.
O meio-campista entrou em campo no duelo entre seu time, o Newcastle, com o Leeds, pelo Campeonato Inglês, com a camisa da seleção brasileira estampando o nome e a assinatura do Rei. Junto com os demais jogadores, aplaudiu o eterno camisa 10 e respeitou um minuto de silêncio. Para citar outros atletas, Antony também usou uma camiseta com mensagem para Pelé, e o goleiro Alisson colocou um buquê de flores no centro do gramado do Anfield Stadium como tributo ao maior de todos.
Avenida, ginásio e busto
No Rio, a Prefeitura alterou o nome de um trecho da Radial Oeste, via que passa em frente ao Maracanã, homenageando o Rei do Futebol. A Avenida Pelé foi “inaugurada” no dia 4 deste mês. A placa com o novo nome do trecho foi colocada em frente a um dos acessos ao Maracanã.
Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes fez a promessa de construir um ginásio esportivo que terá o nome de Rei Pelé. Segundo a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Seme), o projeto para a construção do espaço no Parque das Bicicletas, localizado na Alameda Iraé, Moema, próximo ao Parque do Ibirapuera, está em andamento. O Ginásio deverá ter capacidade para 12 mil pessoas.
Nunes também falou em alterar o nome do Bolsa Atleta, que passará a se chamar Bolsa Atleta Pelé. O programa é um auxílio financeiro da Prefeitura destinado a atletas de alto rendimento, de 14 a 21 anos, praticantes de modalidades que integram Jogos Pan-americanos, Jogos Olímpicos ou Paralímpicos ou Parapan-americanos. Os valores mensais são: R$ 624,28 para atletas de 14 a 17 anos, e R$ 1.248,55 para atletas de 18 a 21 anos.
No velório, o prefeito disse que iria ampliar o Bolsa Atleta Pelé para 5 mil crianças da capital paulista, mas não explicou como isso seria feito. O Estadão questionou a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, mas não teve resposta.
“A gente vai usar a inspiração do Pelé para essa garotada. Quando você põe um sonho, vindo da periferia, você pode correr atrás do seu sonho, e aqueles que têm habilidade possam desenvolver essa habilidade no esporte”, disse o prefeito ao Estadão.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) havia dito que todas as homenagens feitas a Pelé seriam insuficientes e afirmara que pensaria em formas de manter vivo o legado do Rei no Estado.
Claudio Cosme Pereira de Souza, prefeito de Três Corações, cidade onde nasceu o Rei Pelé, tinha prometido a construção de mais um monumento em homenagem ao mais famoso cidadão nascido no município mineiro. Ele não quis dar detalhes, mas avisou que a obra foi projetada pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer. Na cidade, já existem o Museu Pelé, a Casa Pelé e uma estátua.
Súditos na Vila Belmiro
Na Vila Belmiro, palco de 220 jogos da extraordinária carreira de Pelé, o Santos fez uma bonita homenagem ao seu ídolo na estreia no Paulistão. Uma coroa foi colocada no centro do gramado enquanto a assinatura do Rei do Futebol e imagens do craque eram projetadas no campo.
Também foram soltados 1.283 balões em alusão ao número de gols marcados pelo eterno camisa 10. Aquela partida, contra o Mirassol, foi a primeira em que os atletas usaram um uniforme especial, com a coroa gravada no escudo.
Os jogadores do Santos mudaram sua numeração para lembrar o 10 de Pelé. Todos os números estampados nas costas dos atletas compuseram uma conta que o resultado era 10. Marcos Leonardo, por exemplo, foi o “9+1″.
Em meio a um show de luzes na Vila, o Santos levou a campo ídolos eternos e companheiros de Pelé. Eles carregaram uma coroa até um trono, como se entregassem ao Rei. Nas arquibancadas, os torcedores usavam celulares para iluminar o campo.
Andrés Rueda, presidente do clube, também cogitou aposentar a camisa 10 do ídolo, mas desistiu, respeitando um desejo do próprio jogador. “É melhor deixar o número 10 (para ser usado) porque assim o pessoal nunca vai esquecer”, havia dito Pelé, em 2017.
Mausoléu continua fechado
Pelé descansa em um jazigo personalizado colocado em um mausoléu de 200 m² construído para ele no primeiro andar do Memorial Necrópole Ecumênica, homologado pelo Guinness Book, o livro dos recordes, como o cemitério mais alto do mundo.
Na entrada da sala, existem duas estátuas douradas em tamanho real do Rei. O teto do local onde ele descansa exibe uma reprodução de pintura de céu. As paredes são decoradas com imagens históricas de Pelé. O piso é revestido de grama sintética.
A ideia da administração do cemitério é abrir esse mausoléu, um monumento funerário grandioso, para visitação de turistas e fãs. No entanto, um mês depois da morte do Rei, o espaço continua fechado ao público. Ao Estadão, a administração do local afirmou que ainda não há previsão para abertura.