Começou na manhã desta segunda-feira o velório do maior jogador de todos os tempos. Os portões da Vila Belmiro foram abertos às 10h05 (horário de Brasília) para a entrada dos fãs. A maioria dos súditos do Rei do Futebol estão com camisas do Santos, da seleção brasileira ou carregando bandeiras e cartazes com dizeres, como forma de homenagear Pelé. A quem vem à cerimônia, filtro solar e garrafas de água são fundamentais. Boné também ajuda a aliviar o forte calor em Santos, com sensação térmica de mais de 30ºC.
Os torcedores percorrem um corredor que leva do portão ao centro do gramado do estádio santista onde está o corpo de Pelé. Os fãs param por cerca de 30 segundos no local mais próximo ao caixão, a uma distância de cinco metros. Muitos usam as câmeras dos celulares para registrar o momento. Monitores espalhados pelo gramado do estádio instruem as pessoas a prosseguirem com a fila rapidamente. “Não pode parar”, bradam.
Antes de os portões serem abertos, a fila já era grande, e aumentou consideravelmente no início da tarde, fazendo com que o público demore até 2h para chegar no local onde está o corpo do Rei do Futebol para a última homenagem. Há fãs de todos os lugares do País e alguns do exterior. O caixão foi posicionado ao centro do gramado, embaixo da tenda principal por volta das 9h20. A viúva de Pelé, Marcia Aoki, e o filho, Edinho, foram os primeiros familiares a receber os convidados. Os outros filhos chegaram posteriormente.
À frente do caixão estavam Edinho e o ex-jogador Zé Roberto (que entre outros times defendeu o Santos), que foram dois dos responsáveis por carregar o corpo de Pelé ao centro do gramado. O caixão de Pelé está aberto ao público e assim ficará até o fim da solenidade. O fato de o corpo ter sido embalsamado e ficado em área refrigerada no hospital permite que fique aberto durante a cerimônia. Músicas cantadas pelo próprio Pelé, além do hino do Santos, tocam ininterruptamente no sistema de som do estádio.
A fila tem fluído rapidamente e sempre exibe os fãs registrando o momento com a câmera de seus celulares. Eles caminham no tablado posicionado à direita da tenda. Existe um outro tablado do outro lado, quase sempre vazio. Esse espaço serviria para o percurso das autoridades até o caixão, mas elas, com a anuência da família, têm entrado por um terceiro caminho, na área central. A estimativa é de que 2,5 mil pessoas passam por hora pelo velório.
O corpo de Pelé, morto na última quinta-feira, 29, chegou a Vila Belmiro, em Santos, às 3h55 em carro fechado da funerária. O trajeto, de 80 km, entre o hospital Albert Einstein, na zona sul de São Paulo, e o estádio, foi percorrido via rodovia Anchieta com escolta especial feita pela tropa de choque da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal.
A chegada do corpo do Rei ao palco em que tanto brilhou foi acompanhada de perto por um grupo de fãs - alguns deles dormiram na fila - e torcedores organizados do Santos, que renderam homenagens com fogos de artifícios, bandeiras e aplausos, além de jornalistas brasileiros e estrangeiros. São 1.156 jornalistas credenciados, de 31 países trabalhando no evento.
Autoridades e personalidades
Autoridades, como os presidentes da Fifa, Gianni Infantino, e da Conmebol, Alejandro Domínguez, além do Ministro do STF Gilmar Mendes, entraram pelo portão 15 e foram acomodados sob a tenda em que está o caixão, ao lado de familiares e ídolos santistas. No local, há algumas dezenas de cadeiras e muitas coroas de flores. Após cerca de duas horas no local, os presidentes da CBF, FPF, Fifa e Conmebol deixaram a Vila Belmiro.
O Presidente do Cômite Olímpico do Brasil (COB), Paulo Wanderley, foi à Vila Belmiro prestar tributo ao Rei do Futebol e aproveitou o momento para ressaltar a importância de Pelé como ministro do Esporte no governo Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 1998. “Mas uma coisa que tenho observado, que tem se comentado, mas não com tanta ênfase, sobre a época que ele foi Ministro do Esporte, de 1995 a 1998. Quando foi criada a Lei Pelé, que abriu as portas para o esporte estar como está hoje, em questão das verbas oriundas da aposta, da Loteria Federal. Isso realmente é um divisor de águas para o esporte brasileiro, para o esporte olímpico brasileiro, além de ser fã e torcedor”, disse Paulo Wanderley.
Foram instaladas duas tendas no gramado do estádio. Uma menor, a principal, comporta aproximadamente 100 pessoas, e é destinada a familiares e ídolos eternos do Santos, como Pepe e Mengálvio.
O caixão com o corpo de Pelé está disposto embaixo da tenda menor, no centro do gramado, entre as cadeiras. Foram postos tablados dos dois lados de fora da tenda para a passagem de fãs, com distância de cinco metros para o caixão. A outra tenda, maior, vai receber autoridades e convidados, que poderão entrar na tenda principal caso a família libere.
Após uma hora de velório, a família e amigos do Rei do Futebol se posicionaram ao redor do caixão e iniciaram uma corrente de orações, liderada por Edinho, filho de Pelé. Manoel Maria, ex-jogador e melhor amigo do ídolo, foi às lagrimas após a oração e foi confortado por Edinho na sequência.
Gilmar Mendes, a primeira autoridade a chegar
Primeira personalidade a chegar no local, o ministro do STF, Gilmar Mendes, conversou com a imprensa e falou um pouco sobre sua relação com Pelé e com o Santos, seu time do coração. Gilmar Mendes chegou a dizer que “não é santista e sim Pelezista”, em demonstração de respeito e admiração ao Rei do Futebol.
Na sequência, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, chegou ao local acompanhado do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, e o mandatário da Conmebol, Alejandro Domingues. Infantino atendeu a imprensa e comentou a respeito da importância de Pelé para o futebol. “O legado de Pelé é único para o futebol. Ele tinha o dom de Deus, algo que pouquíssimas pessoas na Terra têm. Era um dom que tocava os corações e nossas emoções”, disse Infantino.
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, reafirmou que irá prestar todas as homenagens possíveis para “o maior atleta de todos os tempos”. E definiu como uma “missão” manter o legado do Rei do Futebol em seu mandato.
“Hoje é um momento de dor para todos os fãs do futebol. Estou aqui para reverenciar a memória desse ídolo de todos nós. Quero reafirmar aqui que a CBF fará todas as homenagens possíveis ao maior atleta de todos os tempos. Pelé é eterno. Uma das minhas missões na CBF a partir de agora será a de preservar a sua história e perpetuar o seu legado. O dia que vi o Pelé em ação na minha frente durante um jogo em Ilhéus foi inesquecível. Eu era um adolescente de 13 anos e foi o maior presente que ganhei dos meus pais”, disse o presidente da CBF.
“Lembro ainda hoje da emoção de ter visto o Pelé. Ele fez um dos gols na vitória do Santos contra a seleção local. Dois anos depois, viajei até Salvador para assistir o milésimo gol dele, que acabou não saindo. O Nildo tirou o gol quase na linha. Eu e a Fonte Nova praticamente inteira vaiamos o zagueiro do Bahia. Três dias depois, o Rei marcou o milésimo no Rio diante do Vasco”, lembrou Ednaldo Rodrigues.
Políticos marcam presença no velório
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou presença no velório, com previsão de chegar à Vila Belmiro às 9h de terça-feira, a uma hora do fim da cerimônia. Segundo apurou o Broadcast Político, ele esperava apenas tratativas finais junto à família do jogador. O chefe do Executivo e sua mulher, Janja, enviaram uma coroa de flores à família.
O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas cumpriu sua primeira agenda pública em Santos para se despedir do Rei Pelé. O chefe do Executivo paulista chegou por volta de 11h (horário de Brasília) ao estádio e se dirigiu para a tenda em que está o corpo do Rei do Futebol.
Na saída da solenidade, o governador paulista falou com mais calma com a imprensa. “Foi o maior embaixador brasileiro no exterior, quem mais fez pelo esporte no Brasil”, disse ele sobre o Rei. “É o maior de todos e vai ser sempre o maior de todos. Qualquer homenagem a ele será pouco por tudo que fez”, acrescentou. Ele afirmou que quer “despertar novos talentos” em São Paulo por meio da inspiração de Pelé.
Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, também está na cerimônia e revelou a ampliação do Bolsa Atleta Pelé para 5 mil crianças da capital paulista.
“Hoje a gente tem um Bolsa Atleta, que começamos agora, e vamos expandir para o Bolsa Atleta Pelé. A gente tem um auxílio de aproximadamente R$750 reais, evidentemente com alguns critérios, com as crianças precisando estar na escola. Vou fazer uma ampliação grande, para pelo menos cinco mil crianças poderem usar o Bolsa Atleta Pelé. A gente vai usar a inspiração do Pelé para essa garotada. Quando você põe um sonho, vindo da periferia, você pode correr atrás do seu sonho, e aqueles que têm habilidade possam desenvolver essa habilidade no esporte”, disse ao Estadão.
Claudio Cosme Pereira de Souza, prefeito de Três Corações, cidade onde nasceu o Rei Pelé, afirmou que o município mineiro vai homenagear o Rei com mais um monumento. Ele não quis dar detalhes, mas avisou que a obra foi projetada pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer. Na cidade, ja existem o Museu Pelé, a Casa Pelé e uma estátua.
“Pelé está aqui dentro, mas o coração está em Três Corações. É um momento difícil, mas o Pelé é eterno. Estamos em contato com o Instituto Niemeyer. A família dele nos procurou e quer fazer um monumento em Três Corações. Falta começar o projeto mais importante de Três Corações. O legado Pelé. Pelé não é de Três Corações, é do mundo”, ressaltou o prefeito.
Ex-companheiros dão Adeus a Pelé
Entre os presentes para o adeus ao Rei do Futebol, figuram nomes que escreveram suas histórias no Santos e no futebol ao lado de Pelé. O goleiro Agnaldo, que defendeu a meta santista no icônico jogo do milésimo gol de Pelé, conversou com o Estadão sobre a morte do amigo.
“Com o Pelé, a gente sempre entrava em campo ganhando. O futebol mudou depois que surgiu Pelé. O pessoal faz comparações, mas nao precisa. Pelé é Pelé. Não tem nem vai ter outro. Dei a volta com ele no ombro no Maracanã. Isso ficou marcado. Nunca vou esquecer”, disse Agnaldo.
Manoel Maria, amigo do Rei do Futebol e ex-companheiro de Santos, revelou o sentimento de tristeza de “ter perdido um irmão”, com a morte de Pelé. “Sentimento de tristeza, né? De ter perdido um irmão. Uma convivência de 54 anos. Eu sinto bastante. Esses dias todinhos, quando o vejo dar entrevista, me emociono. Tenho de assimilar isso. Sei que vai passar. Ele sempre será eterno dentro do meu peito, o Edson. Pelé será eterno para o Mundo”, disse.
Confira quem prestou homenagens ao Rei do Futebol
Quem ainda não compareceu ou sinalizou presença no velório tratou de homenagear o Rei do Futebol com o envio de coroas de flores à Vila Belmiro. Segundo apurado pelo Estadão, além do próprio Santos Futebol Clube e seu presidente Andres Rueda, CBF, Federação Paulista de Futebol (e seus respectivos presidentes), o Comitê Olímpico do Brasil, São Paulo e Real Madrid foram algumas entidades que prestaram homenagens. O gesto foi repetido por nomes como o do apresentador Silvio Santos, o narrador Galvão Bueno, o senador Romário, o presidente da república da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol.
Além destas personalidades, Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, o cartunista e desenhista Maurício de Sousa prestaram tributos ao Rei do Futebol. A ALESP, Assembleia legislativa do estado de São Paulo, foi outra entidade a enviar coroa de flores ao velório.
Neymar, astro do Paris Saint-Germain revelado pelo Santos, não pôde comparecer à Vila Belmiro, mas tratou de mandar uma coroa de flores para homenagear o ídolo. O pai do atleta, Neymar da Silva Santos, afirmou que o filho não irá ao velório, já que o Paris Saint-Germain não liberou o atacante para dar o último adeus na cerimônia em Santos. “Não, não, não consegue”, disse Neymar pai ao ser perguntado se o filho estaria na cerimônia.
Velório de Pelé
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