De 1.º de janeiro a 31 de julho, a venda de jogadores do Brasil para o exterior movimentou 213 milhões de euros (R$ 976 milhões). Os dados fazem parte do Raio-X do Mercado 2019, divulgado pela CBF. O montante foi arrecadado com a venda de 91 jogadores.
Os principais destaques do mercado no período foram o lateral Renan Lodi, vendido pelo Atlhetico Paranaense por 20 milhões de euros (R$ 90 milhões) para o Atlético de Madri, da Espanha, e o volante Jean Lucas, revelado pelo Flamengo e que estava emprestado ao Santos, negociado por 8 milhões de euros (cerca de R$ 35 milhões) com o Lyon, da França.
Ao todo, os clubes brasileiros negociaram 635 jogadores com destino ao exterior até 31 de julho, mas somente 91 envolveram valores. As demais transações foram de atletas sem contrato ou emprestados de graça.
O mercado brasileiro é dividido pela CBF em duas janelas de transferências internacionais: a primeira vai de 1.º de janeiro a 3 de abril e a segunda de 1.º de julho a 31 de julho. Por isso, ainda não estão computadas no levantamento negociações como a venda do atacante Pedro, do Fluminense para a Fiorentina, da Itália, por 11 milhões de euros (R$ 50,2 milhões), já que a transação só foi finalizada no dia 2 de setembro.
Para o empresário Junior Pedroso, que cuida da carreira de Gabigol, Lucas Moura, Antony, entre outros, o jogador brasileiro é valorizado no exterior. O agente também vê um investimento maior dos clubes europeus após o Paris Saint-Germain, da França, pagar 222 milhões de euros (cerca de R$ 820 milhões na época, no meio de 2017) para tirar Neymar do Barcelona, da Espanha. É até hoje a maior negociação da história do futebol mundial.
"A ida do Neymar para o PSG alavancou toda essa cadeia de transferências. É um efeito cascata, e acaba surtindo efeito aqui no Brasil. Nossos jogadores são mais caros em relação aos outros países da América do Sul. A Argentina exporta bem menos em termos de quantidade, enquanto a Colômbia tem feito bastante negociações recentemente e o Equador tem entrado neste cenário. No Brasil, os valores são mais caros porque os jogadores ganham salários melhores e são mais completos, com uma formação melhor dentro e fora de campo", analisou Pedroso, em entrevista ao Estado.
Entre 1.º de janeiro a 31 de julho, 983 jogadores fizeram o caminho inverso e vieram do exterior para o Brasil. De acordo com a CBF, essas transações movimentaram 59 milhões de euros (R$ 268 milhões). Dessas 983 negociações, 745 foram registradas pelos clubes no sistema de transferências acessado pela CBF e conectado à Fifa. As outras transferências foram de jogadores amadores (150) e de futsal (88).
Muitos jogadores retornam ao Brasil no período sem custos. Foram os casos de Luiz Adriano e Henrique Dourado (ambos do Palmeiras), Filipe Luís e Rafinha (do Flamengo). O mesmo ocorreu com Daniel Alves, do São Paulo, mas o negócio não foi registrado no relatório da CBF porque foi concluído somente em agosto.
"Na maioria dos casos, quando o jogador volta é porque está em final de contrato ou não tão bem tecnicamente, já na parte final da carreira. Então, o custo é baixo ou acaba sendo zero. Mas depois entram os salários e luvas (bônus pela assinatura de contrato) que chegam ao máximo, já que o clube não teve de investir para comprar o jogador", avaliou Pedroso.
O Raio-X do Mercado divulgado pela CBF inclui ainda negócios realizados apenas entre clubes do país. Até 31 de julho foram registradas 12.493 transferências internas que movimentaram R$ 269 milhões.
Como comparação, durante todo o ano de 2018, de janeiro a dezembro, os clubes do exterior contrataram 792 jogadores e 40 jogadoras do futebol brasileiro. Essas negociações totalizaram R$ 1,4 bilhão. Já os clubes brasileiros trouxeram 677 atletas de várias partes do mundo para atuarem no território nacional ao custo de R$ 209 milhões.
ANÁLISE
Vocação do futebol brasileiro é vender mais do que comprar
Marcelo Robalinho*
A vocação do futebol brasileiro é vender mais do que comprar. Os clubes estão altamente endividados, essa é a triste realidade. As dívidas de impostos, direitos de imagem e comissão de agente são enormes, mas se você deve para outro clube, acaba denunciado na Fifa e punido esportivamente. Por conta disso, o futebol brasileiro ainda vai continuar por muitos anos vendendo mais do que comprando.
É preciso destacar, no entanto, que a grande maioria da movimentação de saída e retorno ao Brasil é gratuita, com jogadores em fim de contrato. Foram os casos do Flamengo, com Filipe Luís e Rafinha, e do São Paulo, com Daniel Alves. São jogadores com um altíssimo custo salarial, mas cujas contratações não envolveram valores. Não por acaso, essas mesmas equipes acabaram vendendo atletas que pouco atuaram pelo time profissional para o exterior. Isso explica muito essa movimentação do mercado brasileiro e a disparidade de valores de compra e venda de atletas.
Não vejo o Brasil como um mercado que vende caro seus jogadores. Muito pelo contrário. No mercado sul-americano, nossas vendas não estão em um patamar muito elevado. Aqui os clubes negociam barato com a Europa quando comparamos com as equipes argentinas, por exemplo. Os clubes colombianos também têm vendido bem nos últimos anos.
No geral, a maioria dos jogadores que retorna ao Brasil é porque não tem mercado na Europa ou na Ásia suficientemente atrativo. Entre ganhar o mesmo salário na China ou em São Paulo, o atleta prefere voltar. Esse tipo de situação pesa na hora de o jogador tomar a sua decisão. Quem tem um bom mercado em alto nível não volta para o Brasil.
Com exceção das grandes estrelas, normalmente quem resolve voltar é um atleta em transição na carreira, que saiu da categoria base e foi tentar a sorte na Europa, não fez sucesso e retornou. Depois da Copa São Paulo de Futebol Junior, centenas de jovens vão para mercados secundários e acabam retornando no meio do ano, quando termina a temporada lá. Ele bate e volta porque se desilude. Muitas vezes são vendidos a eles sonhos longe de se tornarem realidade. Esse movimento se repete no ano seguinte com os mesmos atletas, seguindo a vocação do futebol brasileiro.
*EMPRESÁRIO DE 60 ATLETAS DE 15 PAÍSES