Sentado diante dos jornalistas no auditório do Virtual Stadium, o maior auditório do Centro de Imprensa da Copa do Mundo de 2022, o técnico do Marrocos, Walid Regragui, saboreava o sucesso de ser o primeiro treinador africano a chegar a uma semifinal de um Mundial. Mas, ele não está satisfeito somente com o feito de estar entre as quatro melhores seleções da edição. O comandante sonha em erguer a taça inédita pela seleção marroquina.
“Não estamos satisfeitos. Queremos ganhar a Copa do Mundo”, disse Regragui. “Digo sempre aos meus jogadores para se manterem concentrados e darem tudo de si. Talvez nós não tenhamos outra chance de ganhar este campeonato.”
O treinador justifica a pretensão relembrando a trajetória invicta da sua seleção na competição, eliminando Espanha e Portugal na fase de mata-mata. “Como a França, todas as equipes que enfrentamos até agora neste mundial são grandes seleções”, disse ele. “Estaremos preparados para fazer a surpresa contra a melhor equipe do mundo. Já mostramos do que somos capazes.”
Empossado em setembro, após o seu antecessor, o franco-bósnio Vahid Hallihodzic, entrar em rota de colisão com os principais jogadores, como Hakim Ziyech e Achraf Hakimi, a estratégia de Regragui foi a de dar uma mentalidade coletiva a uma seleção com diferenças. O objetivo era criar um grupo e um estado de espírito. Segundo ele, todos compraram a ideia
“A força do Marrocos foi criar um grupo. Expliquei aos jogadores que para chegar ao objetivo que queríamos precisaríamos de organização e sacrifício”, explica. “Mesmo tendo nascido em vários países, eles amam o Marrocos e me seguiram.”
Para Regragui, Marrocos está colhendo no Mundial do Catar o resultado de um trabalho e investimento. Em 2009, foi inaugurado um centro de treinamento moderno em Salé, no norte do país, batizado de Academia Mohammed VI. Lá começam a ser preparados os jogadores das categorias de base. Olheiros foram espalhados pela Europa e outros continentes para avaliar jogadores com ascendência marroquina que pudessem ter talento para servir a seleção. Foi assim que o goleiro Bounou, o herói da disputa por pênaltis contra a Espanha, foi descoberto no Canadá.
Além de incutir na mente dos jogadores, que era possível chegar longe no Mundial, o técnico criou um espírito de família na sua equipe. Regragui foi um entusiasta da ideia de que a Federação Marroquina de Futebol bancasse a vinda das famílias dos jogadores. Podem manter contato, logo depois das partidas, no gramado. E no dia de descanso, seguinte aos jogos. Todos ficam em um condomínio em The Pearl, um bairro nobre de Doha.
Ao lado de uma multidão de marroquinos que têm apoiado a sua seleção em todos os jogos, serão importantes para fazer o time acreditar no sonho, segundo o treinador. “Queremos ganhar pela África, pelos países árabes, pelos países em desenvolvimento”, disse. “Quando esta Copa começou, nos davam chances mínimas de vencer o Mundial: talvez 0,01%. Mas, nós nunca deixamos de acreditar em nós mesmos e que era possível chegar longe”