Na vida política do Santos desde 2015, Wladimir Mattos não planejava lançar uma candidatura à eleição do clube, que acontece neste sábado, dia 9, muito menos uma semana após o inédito rebaixamento da equipe à Série B do Campeonato Brasileiro. Aos 58 anos, é empresário, tem experiência em pequenos clubes da Baixada Santista, como a Portuguesa Santista, e também é um torcedor indignado com a situação da equipe e com o atual mandatário Andrés Rueda.
Candidato da chapa 2 – “Juntos pelo Santos FC” –, ele concorre com Ricardo Agostinho, Rodrigo Marino, Maurício Maruca e o ex-presidente do clube Marcelo Teixeira. Ao longo de uma conversa de 30 minutos com a reportagem do Estadão, se mostrou lúcido e franco sobre as propostas para o Santos. Em diversos momentos, se apoiou em seu lado torcedor. “Diminuí o ânimo para seguir com o trabalho”, diz, ainda impactado com o pior momento que o time vive em sua história. No entorno da Vila Belmiro estão afixados cartazes em apoio – e divulgação do candidato. Ele almeja desbancar Teixeira na luta pela presidência.
Os problemas do Santos são vários: com apenas duas competições a disputar em 2024 – Paulistão e Série B –, o clube não terá uma série de premiações e direitos de transmissão de TV, que ajudam a sanar dívidas e a folha de pagamentos ao longo dos anos. Além disso, a Federação Paulista de Futebol (FPF) adiantou o pagamento de R$ 20 milhões do total que o Santos deve receber com as cotas de transmissão da competição.
“Situação agora vira 180º em função do rebaixamento. Com muito menos dinheiro, é preciso repensar um elenco com características específicas e diferente da Série A, mais aderente ao Paulistão e ajustado à realidade da Série B. Esse é o nosso plano imediato e está no plano dos primeiros 100 dias da nossa gestão”, revela o candidato. “Na primeira semana, vamos definir novos métodos de governança e revisão orçamentária. Reavaliar contratos. O rebaixamento traz uma oportunidade de refundar o clube.”
Seu maior problema é a falta de dinheiro em caixa, assim como as dívidas e a necessidade de investimento já comprometido da nova temporada. “Entramos em 2024 com o problema das antecipações das receitas. E agora, com o rebaixamento, também não temos a premiação do Brasileirão.”
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) define, em acordo com os demais participantes do Brasileirão, que a premiação da competição, referente aos direitos de transmissão, é dividida em conformidade com a colocação de cada clube após a 38ª rodada. No entanto, os quatro rebaixados não são agraciados com essa fatia. O Santos foi um deles.
A ausência dessa verba preocupa o clube. Em dezembro, quando ainda terá Andrés Rueda na presidência – o candidato eleito assume somente em janeiro do próximo ano, para o triênio 2024-2026 –, o Santos deve ter dificuldades financeiras para arcar com dívidas, folhas de pagamentos de atletas e, principalmente, funcionários. “Nós temos obrigação de negociar com todos os credores para reavaliar o fluxo de pagamento. Consideramos contratar também uma empresa para reestruturação das nossas dívidas.” Há conversas em andamento com investidores para ampliar as receitas do clube para o próximo ano. Valores e possíveis parceiros não foram revelados à reportagem.
Futuro da comissão técnica e time
Novamente, Mattos se coloca como um torcedor ao tratar da situação da comissão técnica e da equipe. “Falharam com a permanência na Série A”, afirma, categoricamente. O futuro de Alexandre Gallo, diretor técnico do futebol, está indefinido. Na entrevista coletiva após o rebaixamento à Série B, o diretor não confirmou se permaneceria no elenco. “Vamos conversar com o candidato eleito”, disse.
“Ele nos surpreendeu positivamente. E expôs de forma superficial alguns dos problemas que nos preocupam: ambiente, vazamentos de informação e comprometimento do elenco. A partir dessa conversa com o Gallo, decidiremos pela continuidade ou não desse seu trabalho”, prioriza Mattos. Já o restante da comissão técnica, liderada por Marcelo Fernandes, não terá a mesma oportunidade. “Nenhum membro permanecerá. Essa foi nossa primeira medida como chapa, antes mesmo de uma possível eleição.”
“A venda de atletas será importante para isso, principalmente do Marcos Leonardo. A ideia é se desfazer daqueles que não se adequem às disputas da Série B.” Mattos não cita nomes, mas diz que são raros “aqueles que se doaram em campo” ao longo das últimas rodadas do Brasileirão, em especial às derrotas para Fluminense (3 a 0) e Fortaleza (2 a 1), ambas na Vila. Gallo, em sua última entrevista coletiva, citou “oito anos de sofrimento” que culminaram no rebaixamento; Mattos está de acordo e culpabiliza, principalmente, as gestões “personalistas, centralizadoras e irracionais”, em suas palavras.
Marcos Leonardo está com sua venda acertada para Europa. Em conversas com todos os candidatos à presidência, Rueda revelou que o atacante deixará o clube em janeiro. Há uma cláusula em seu contrato que obriga o Santos a se desfazer do atleta caso receba uma oferta superior a 18 milhões de euros – algo que acontecerá nas próximas semanas. “Pela qualidade do jogador, era esperado receber mais. Mas, principalmente com o Santos rebaixado, o clube perde o poder de barganha”, pensa Mattos.
Aproximação com o torcedor e nova arena
Um dos desafios da gestão de Mattos – caso eleito – será se aproximar do torcedor. As cenas vistas na Vila, com depredação do patrimônio público, do estádio e de carros nos arredores da cidade impactaram negativamente a gestão. Antes mesmo do fim da partida contra o Fortaleza, torcedores atiravam rojões, morteiros e entoavam palavras de ordem contra Rueda.
“Assim como o torcedor, me senti traído pelo presidente.” Apesar de não planejar a candidatura à presidência desde o primeiro momento – algo que aconteceu naturalmente, devido à insatisfação com o triênio gerido por Rueda –, conta com uma trajetória na política do clube. São duas passagens pelo Conselho Deliberativo, nas eleições de 2014 e 2017. Foi um dos responsáveis por impedir a aprovação de contas do ex-presidente Modesto Roma.
“Aos torcedores que choraram, sofreram com o rebaixamento, no limite da legalidade, nosso compromisso é profissional. Essa sensação de tristeza não seria tão grande se terminássemos na 16ª colocação, fora da zona de rebaixamento.” Para reaproximar esse torcedor, um dos fatores cruciais é a reforma da Vila Belmiro, transformada em uma nova arena, para mais de 30 mil torcedores, junto à WTorre.
O plano da chapa de Mattos – novamente por meio da conversa franca – é entender como funcionará as obras, o planejamento de entrega da construtora e o pagamento para torná-la real. “É preciso adequar esse plano à realidade da Série B. A WTorre tem expertise na construção e administração de arenas. Iremos retomar a conversa com a parte, para readequar à nova realidade.”
Durante a reforma, o plano é de que o Santos passe a utilizar o Pacaembu. É um sonho e plano antigo do clube, mas que nunca foi posto em prática. Para Mattos – e outros candidatos –, o estádio, que será reinaugurado no próximo ano, é o ideal para o torcedor santista por dois fatores: relação íntima com o estádio e, principalmente, pela proximidade com estradas e linhas de transporte público que dão acesso ao local. “É um local que interessa a todos os torcedores de São Paulo. Independentemente da reforma da Vila, precisamos de um plano para utilizar o Pacaembu.” O Canindé não é cogitado como uma opção da chapa enquanto durarem as reformas da arena, que devem se iniciar em 2024.
Para ser eleito, o candidato terá de obter maioria na votação neste sábado e superar seus rivais Ricardo Agostinho, Marcelo Teixeira, Rodrigo Marino e Maurício Maruca com ideias semelhantes no sentido de dar ao Santos mais dinheiro e um time forte. A votação se dará das 10h às 17h. Quase 8 mil (7.662) associados escolheram votar pela internet. O pleito acontece na Vila Belmiro, no Ginásio Athiê Jorge Coury e no Salão de Mármore do estádio.