Olimpíadas 2024: Quem é Guilherme ‘Cachorrão’, nadador que pode dar a primeira medalha ao Brasil


Carioca tem chance de pódio nos 400 metros livre e vai se aventurar nos 10 km das águas abertas

Por Bruno Accorsi
Atualização:

Guilherme Costa foi mordido por um cachorro na infância, ao tentar pegar uma bola isolada enquanto jogava futebol com os amigos em Angra dos Reis, no Rio. No dia seguinte, quando o grupo voltou ao local, o cachorro não foi encontrado, e os amigos brincaram que mordida dada em Guilherme teria matado o animal. A partir de então, ele passou a ser chamado de Cachorrão, apelido pelo qual atende até hoje, enquanto sobe em pódios da natação.

Cachorrão é um dos principais nadadores do Brasil, especialista nos 400 metros. A alcunha pode soar como referência a algum tipo de hostilidade ou brutalidade, características que não combinam com a personalidade do nadador. Tranquilo, de fala leve e dono de um sorriso exibido com frequência, o carioca de 25 anos mostra grande controle emocional nas piscinas, fruto do acompanhamento psicológico que faz semanalmente.

continua após a publicidade

“Eu não tenho medo da frustração. Estou pensando em vencer sempre. Isso não mudou, mas vejo que fui crescendo a cada competição, a cada Mundial. Estou muito satisfeito com o caminho até aqui. Tudo foi pensando em Olimpíada”, disse o atleta em entrevista ao Estadão, antes de embarcar para Paris, enquanto se preparava na Itália.

Se for para fazer analogia com alguma raça de cachorro, o ideal para comparar a Guilherme talvez seja o golden retriever, que é um caçador, mas ao mesmo tempo calmo e amigável. É um cão dessa raça, chamado Thorpe, que faz companhia ao atleta. O nome é o mesmo de um dos maiores nadadores da história: o australiano Ian James Thorpe, dono de cinco ouros olímpicos, além de três pratas e um bronze. Momentos engraçados do pet costumam ser compartilhados pelo brasileiro nas redes sociais.

continua após a publicidade

O nadador começou a se destacar em 2017, quando tinha apenas 18 anos e fez o 19ª lugar nos 1500m livres no Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste. No ano seguinte, foi campeão sul-americano dos 400 metros livre, sua melhor prova. Evoluindo a cada ano, chegou com chance de pódio nos Jogos de Tóquio, em 2021, mas se frustrou, pois parou nas semifinais. No Japão, seu melhor resultado foi o oitavo lugar nos 800 metros.

“Acho que por ser minha primeira Olimpíada, eu demorei para entrar na competição. Demorei para entender onde eu estava e acabei dando mole na minha principal prova. Rapidamente, eu consegui passar por cima, porque nos 800 metros eu fui melhor e cheguei à final, mesmo não estando tão bem naquele momento. Acho que foi mais isso de não entrar ligado na competição”, diz. “Meu ciclo como um todo foi mil vezes melhores que o de Tóquio, em que eu tive uma crescente no ano da Olimpíada. No atual ciclo, eu fui em finais em todos os Mundiais. Foi um ciclo muito melhor”

No Mundial deste ano, Cachorrão bateu na trave e ficou em quarto lugar, como no Mundial de 2023. Na edição de 2022, foi bronze. Em termos de disputas sul-americanas, tem sido soberano, como mostrou com quatro ouros nos Jogos Pan-Americanos (400m, 800m, 4x200 e 1500m).

continua após a publicidade
Guilherme Costa, o Cachorrão, empilhou medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos. Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Também no Rio Sena

Guilherme Costa vai ser o primeiro brasileiro a competir na natação e nas águas abertas em uma edição de Olimpíadas. As chances concretas de medalha estão nas piscinas, onde ele está na final dos 400m livre e pode dar a primeira medalha ao Brasil nas Olimpíadas de Paris, mas o carioca de 25 anos quer aproveitar ao máximo a oportunidade que terá de competir no Rio Sena. Há um pé atrás com toda a discussão sobre a qualidade das águas, mesmo depois de a prefeita de Paris nadar no local para assegurar que a promessa de limpeza foi cumprida. De qualquer forma, a empolgação do brasileiro continua intacta.

continua após a publicidade

“É estranho estar próprio em um dia e em outro não. Vi que tem um plano B, para fazer em outro local caso esteja impróprio. Mas muda um pouco, porque se trocar o loca, muda do dia 9 para o dia 12. Para mim, não seria tão ruim mudar porque eu quero aproveitar os dias entre a piscina e a maratona para subir meu volume de treino de novo, para chegar melhor à maratona”, contou Cachorrão ao Estadão, em entrevista antes de embarcar para Paris.

A oportunidade de disputar os 10 km das águas abertas veio por causa de uma regra extraordinária estabelecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Se um país não tiver um representante na prova, permite-se que nadadores com índices nos 800 metros e 1500 metros na piscina se inscrevam. É o caso de Guilherme Costa, que mal teve como se preparar para a prova adicional.

“Não tive praticamente nada de treino. Eu sei que eu aguento nadar a prova, eu vou conseguir. A única preparação que eu faço um pouquinho é tentar observar um pouco. Minha maior dificuldade é me posicionar melhor na prova. Eu nadei uma Copa do Mundo e senti isso. Eu liderei quase a prova inteira e no final acabei sentindo muito, acho que por acabar me posicionando mal. Sempre tinha gente do meu lado, se aproveitando do meu vácuo, e eu fui cansando. O principal é saber me posicionar bem, porque é uma prova muito imprevisível. Se eu estiver no pelotão da frente no final, tudo pode acontecer”, avalia.

continua após a publicidade

O que acontecer no Rio Sena é bônus. Subir ao pódio em sua especialidade é o foco de Cachorrão, que disputa a final dos 400 metros livre neste sábado, às 15h42 (Brasília), após se classificar com o segundo melhor tempo.

Cachorrão vai competir, ainda, em outras três provas de piscina: os 200 metros livre, os 800 metros livre e o revezamento. No cenário ideal, ele se vê subindo em dois pódios, embora saiba que as chances não sejam tão grandes.

continua após a publicidade

“400 é o principal, mas me vejo bem no 800 também. É uma prova que fui finalista em Tóquio e tenho muito controle, apesar de não focar muito nela. E o 200 é muito novo para mim. É uma prova que eu tenho que evoluir muito ainda e acredito que no próximo ciclo posso brigar por medalha. Quero me testar em Paris porque sei que posso evoluir muito. Sobre o revezamento, este ano não foi, mas é uma prova muito imprevisível”, afirma.

Guilherme Costa foi mordido por um cachorro na infância, ao tentar pegar uma bola isolada enquanto jogava futebol com os amigos em Angra dos Reis, no Rio. No dia seguinte, quando o grupo voltou ao local, o cachorro não foi encontrado, e os amigos brincaram que mordida dada em Guilherme teria matado o animal. A partir de então, ele passou a ser chamado de Cachorrão, apelido pelo qual atende até hoje, enquanto sobe em pódios da natação.

Cachorrão é um dos principais nadadores do Brasil, especialista nos 400 metros. A alcunha pode soar como referência a algum tipo de hostilidade ou brutalidade, características que não combinam com a personalidade do nadador. Tranquilo, de fala leve e dono de um sorriso exibido com frequência, o carioca de 25 anos mostra grande controle emocional nas piscinas, fruto do acompanhamento psicológico que faz semanalmente.

“Eu não tenho medo da frustração. Estou pensando em vencer sempre. Isso não mudou, mas vejo que fui crescendo a cada competição, a cada Mundial. Estou muito satisfeito com o caminho até aqui. Tudo foi pensando em Olimpíada”, disse o atleta em entrevista ao Estadão, antes de embarcar para Paris, enquanto se preparava na Itália.

Se for para fazer analogia com alguma raça de cachorro, o ideal para comparar a Guilherme talvez seja o golden retriever, que é um caçador, mas ao mesmo tempo calmo e amigável. É um cão dessa raça, chamado Thorpe, que faz companhia ao atleta. O nome é o mesmo de um dos maiores nadadores da história: o australiano Ian James Thorpe, dono de cinco ouros olímpicos, além de três pratas e um bronze. Momentos engraçados do pet costumam ser compartilhados pelo brasileiro nas redes sociais.

O nadador começou a se destacar em 2017, quando tinha apenas 18 anos e fez o 19ª lugar nos 1500m livres no Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste. No ano seguinte, foi campeão sul-americano dos 400 metros livre, sua melhor prova. Evoluindo a cada ano, chegou com chance de pódio nos Jogos de Tóquio, em 2021, mas se frustrou, pois parou nas semifinais. No Japão, seu melhor resultado foi o oitavo lugar nos 800 metros.

“Acho que por ser minha primeira Olimpíada, eu demorei para entrar na competição. Demorei para entender onde eu estava e acabei dando mole na minha principal prova. Rapidamente, eu consegui passar por cima, porque nos 800 metros eu fui melhor e cheguei à final, mesmo não estando tão bem naquele momento. Acho que foi mais isso de não entrar ligado na competição”, diz. “Meu ciclo como um todo foi mil vezes melhores que o de Tóquio, em que eu tive uma crescente no ano da Olimpíada. No atual ciclo, eu fui em finais em todos os Mundiais. Foi um ciclo muito melhor”

No Mundial deste ano, Cachorrão bateu na trave e ficou em quarto lugar, como no Mundial de 2023. Na edição de 2022, foi bronze. Em termos de disputas sul-americanas, tem sido soberano, como mostrou com quatro ouros nos Jogos Pan-Americanos (400m, 800m, 4x200 e 1500m).

Guilherme Costa, o Cachorrão, empilhou medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos. Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Também no Rio Sena

Guilherme Costa vai ser o primeiro brasileiro a competir na natação e nas águas abertas em uma edição de Olimpíadas. As chances concretas de medalha estão nas piscinas, onde ele está na final dos 400m livre e pode dar a primeira medalha ao Brasil nas Olimpíadas de Paris, mas o carioca de 25 anos quer aproveitar ao máximo a oportunidade que terá de competir no Rio Sena. Há um pé atrás com toda a discussão sobre a qualidade das águas, mesmo depois de a prefeita de Paris nadar no local para assegurar que a promessa de limpeza foi cumprida. De qualquer forma, a empolgação do brasileiro continua intacta.

“É estranho estar próprio em um dia e em outro não. Vi que tem um plano B, para fazer em outro local caso esteja impróprio. Mas muda um pouco, porque se trocar o loca, muda do dia 9 para o dia 12. Para mim, não seria tão ruim mudar porque eu quero aproveitar os dias entre a piscina e a maratona para subir meu volume de treino de novo, para chegar melhor à maratona”, contou Cachorrão ao Estadão, em entrevista antes de embarcar para Paris.

A oportunidade de disputar os 10 km das águas abertas veio por causa de uma regra extraordinária estabelecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Se um país não tiver um representante na prova, permite-se que nadadores com índices nos 800 metros e 1500 metros na piscina se inscrevam. É o caso de Guilherme Costa, que mal teve como se preparar para a prova adicional.

“Não tive praticamente nada de treino. Eu sei que eu aguento nadar a prova, eu vou conseguir. A única preparação que eu faço um pouquinho é tentar observar um pouco. Minha maior dificuldade é me posicionar melhor na prova. Eu nadei uma Copa do Mundo e senti isso. Eu liderei quase a prova inteira e no final acabei sentindo muito, acho que por acabar me posicionando mal. Sempre tinha gente do meu lado, se aproveitando do meu vácuo, e eu fui cansando. O principal é saber me posicionar bem, porque é uma prova muito imprevisível. Se eu estiver no pelotão da frente no final, tudo pode acontecer”, avalia.

O que acontecer no Rio Sena é bônus. Subir ao pódio em sua especialidade é o foco de Cachorrão, que disputa a final dos 400 metros livre neste sábado, às 15h42 (Brasília), após se classificar com o segundo melhor tempo.

Cachorrão vai competir, ainda, em outras três provas de piscina: os 200 metros livre, os 800 metros livre e o revezamento. No cenário ideal, ele se vê subindo em dois pódios, embora saiba que as chances não sejam tão grandes.

“400 é o principal, mas me vejo bem no 800 também. É uma prova que fui finalista em Tóquio e tenho muito controle, apesar de não focar muito nela. E o 200 é muito novo para mim. É uma prova que eu tenho que evoluir muito ainda e acredito que no próximo ciclo posso brigar por medalha. Quero me testar em Paris porque sei que posso evoluir muito. Sobre o revezamento, este ano não foi, mas é uma prova muito imprevisível”, afirma.

Guilherme Costa foi mordido por um cachorro na infância, ao tentar pegar uma bola isolada enquanto jogava futebol com os amigos em Angra dos Reis, no Rio. No dia seguinte, quando o grupo voltou ao local, o cachorro não foi encontrado, e os amigos brincaram que mordida dada em Guilherme teria matado o animal. A partir de então, ele passou a ser chamado de Cachorrão, apelido pelo qual atende até hoje, enquanto sobe em pódios da natação.

Cachorrão é um dos principais nadadores do Brasil, especialista nos 400 metros. A alcunha pode soar como referência a algum tipo de hostilidade ou brutalidade, características que não combinam com a personalidade do nadador. Tranquilo, de fala leve e dono de um sorriso exibido com frequência, o carioca de 25 anos mostra grande controle emocional nas piscinas, fruto do acompanhamento psicológico que faz semanalmente.

“Eu não tenho medo da frustração. Estou pensando em vencer sempre. Isso não mudou, mas vejo que fui crescendo a cada competição, a cada Mundial. Estou muito satisfeito com o caminho até aqui. Tudo foi pensando em Olimpíada”, disse o atleta em entrevista ao Estadão, antes de embarcar para Paris, enquanto se preparava na Itália.

Se for para fazer analogia com alguma raça de cachorro, o ideal para comparar a Guilherme talvez seja o golden retriever, que é um caçador, mas ao mesmo tempo calmo e amigável. É um cão dessa raça, chamado Thorpe, que faz companhia ao atleta. O nome é o mesmo de um dos maiores nadadores da história: o australiano Ian James Thorpe, dono de cinco ouros olímpicos, além de três pratas e um bronze. Momentos engraçados do pet costumam ser compartilhados pelo brasileiro nas redes sociais.

O nadador começou a se destacar em 2017, quando tinha apenas 18 anos e fez o 19ª lugar nos 1500m livres no Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste. No ano seguinte, foi campeão sul-americano dos 400 metros livre, sua melhor prova. Evoluindo a cada ano, chegou com chance de pódio nos Jogos de Tóquio, em 2021, mas se frustrou, pois parou nas semifinais. No Japão, seu melhor resultado foi o oitavo lugar nos 800 metros.

“Acho que por ser minha primeira Olimpíada, eu demorei para entrar na competição. Demorei para entender onde eu estava e acabei dando mole na minha principal prova. Rapidamente, eu consegui passar por cima, porque nos 800 metros eu fui melhor e cheguei à final, mesmo não estando tão bem naquele momento. Acho que foi mais isso de não entrar ligado na competição”, diz. “Meu ciclo como um todo foi mil vezes melhores que o de Tóquio, em que eu tive uma crescente no ano da Olimpíada. No atual ciclo, eu fui em finais em todos os Mundiais. Foi um ciclo muito melhor”

No Mundial deste ano, Cachorrão bateu na trave e ficou em quarto lugar, como no Mundial de 2023. Na edição de 2022, foi bronze. Em termos de disputas sul-americanas, tem sido soberano, como mostrou com quatro ouros nos Jogos Pan-Americanos (400m, 800m, 4x200 e 1500m).

Guilherme Costa, o Cachorrão, empilhou medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos. Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Também no Rio Sena

Guilherme Costa vai ser o primeiro brasileiro a competir na natação e nas águas abertas em uma edição de Olimpíadas. As chances concretas de medalha estão nas piscinas, onde ele está na final dos 400m livre e pode dar a primeira medalha ao Brasil nas Olimpíadas de Paris, mas o carioca de 25 anos quer aproveitar ao máximo a oportunidade que terá de competir no Rio Sena. Há um pé atrás com toda a discussão sobre a qualidade das águas, mesmo depois de a prefeita de Paris nadar no local para assegurar que a promessa de limpeza foi cumprida. De qualquer forma, a empolgação do brasileiro continua intacta.

“É estranho estar próprio em um dia e em outro não. Vi que tem um plano B, para fazer em outro local caso esteja impróprio. Mas muda um pouco, porque se trocar o loca, muda do dia 9 para o dia 12. Para mim, não seria tão ruim mudar porque eu quero aproveitar os dias entre a piscina e a maratona para subir meu volume de treino de novo, para chegar melhor à maratona”, contou Cachorrão ao Estadão, em entrevista antes de embarcar para Paris.

A oportunidade de disputar os 10 km das águas abertas veio por causa de uma regra extraordinária estabelecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Se um país não tiver um representante na prova, permite-se que nadadores com índices nos 800 metros e 1500 metros na piscina se inscrevam. É o caso de Guilherme Costa, que mal teve como se preparar para a prova adicional.

“Não tive praticamente nada de treino. Eu sei que eu aguento nadar a prova, eu vou conseguir. A única preparação que eu faço um pouquinho é tentar observar um pouco. Minha maior dificuldade é me posicionar melhor na prova. Eu nadei uma Copa do Mundo e senti isso. Eu liderei quase a prova inteira e no final acabei sentindo muito, acho que por acabar me posicionando mal. Sempre tinha gente do meu lado, se aproveitando do meu vácuo, e eu fui cansando. O principal é saber me posicionar bem, porque é uma prova muito imprevisível. Se eu estiver no pelotão da frente no final, tudo pode acontecer”, avalia.

O que acontecer no Rio Sena é bônus. Subir ao pódio em sua especialidade é o foco de Cachorrão, que disputa a final dos 400 metros livre neste sábado, às 15h42 (Brasília), após se classificar com o segundo melhor tempo.

Cachorrão vai competir, ainda, em outras três provas de piscina: os 200 metros livre, os 800 metros livre e o revezamento. No cenário ideal, ele se vê subindo em dois pódios, embora saiba que as chances não sejam tão grandes.

“400 é o principal, mas me vejo bem no 800 também. É uma prova que fui finalista em Tóquio e tenho muito controle, apesar de não focar muito nela. E o 200 é muito novo para mim. É uma prova que eu tenho que evoluir muito ainda e acredito que no próximo ciclo posso brigar por medalha. Quero me testar em Paris porque sei que posso evoluir muito. Sobre o revezamento, este ano não foi, mas é uma prova muito imprevisível”, afirma.

Guilherme Costa foi mordido por um cachorro na infância, ao tentar pegar uma bola isolada enquanto jogava futebol com os amigos em Angra dos Reis, no Rio. No dia seguinte, quando o grupo voltou ao local, o cachorro não foi encontrado, e os amigos brincaram que mordida dada em Guilherme teria matado o animal. A partir de então, ele passou a ser chamado de Cachorrão, apelido pelo qual atende até hoje, enquanto sobe em pódios da natação.

Cachorrão é um dos principais nadadores do Brasil, especialista nos 400 metros. A alcunha pode soar como referência a algum tipo de hostilidade ou brutalidade, características que não combinam com a personalidade do nadador. Tranquilo, de fala leve e dono de um sorriso exibido com frequência, o carioca de 25 anos mostra grande controle emocional nas piscinas, fruto do acompanhamento psicológico que faz semanalmente.

“Eu não tenho medo da frustração. Estou pensando em vencer sempre. Isso não mudou, mas vejo que fui crescendo a cada competição, a cada Mundial. Estou muito satisfeito com o caminho até aqui. Tudo foi pensando em Olimpíada”, disse o atleta em entrevista ao Estadão, antes de embarcar para Paris, enquanto se preparava na Itália.

Se for para fazer analogia com alguma raça de cachorro, o ideal para comparar a Guilherme talvez seja o golden retriever, que é um caçador, mas ao mesmo tempo calmo e amigável. É um cão dessa raça, chamado Thorpe, que faz companhia ao atleta. O nome é o mesmo de um dos maiores nadadores da história: o australiano Ian James Thorpe, dono de cinco ouros olímpicos, além de três pratas e um bronze. Momentos engraçados do pet costumam ser compartilhados pelo brasileiro nas redes sociais.

O nadador começou a se destacar em 2017, quando tinha apenas 18 anos e fez o 19ª lugar nos 1500m livres no Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste. No ano seguinte, foi campeão sul-americano dos 400 metros livre, sua melhor prova. Evoluindo a cada ano, chegou com chance de pódio nos Jogos de Tóquio, em 2021, mas se frustrou, pois parou nas semifinais. No Japão, seu melhor resultado foi o oitavo lugar nos 800 metros.

“Acho que por ser minha primeira Olimpíada, eu demorei para entrar na competição. Demorei para entender onde eu estava e acabei dando mole na minha principal prova. Rapidamente, eu consegui passar por cima, porque nos 800 metros eu fui melhor e cheguei à final, mesmo não estando tão bem naquele momento. Acho que foi mais isso de não entrar ligado na competição”, diz. “Meu ciclo como um todo foi mil vezes melhores que o de Tóquio, em que eu tive uma crescente no ano da Olimpíada. No atual ciclo, eu fui em finais em todos os Mundiais. Foi um ciclo muito melhor”

No Mundial deste ano, Cachorrão bateu na trave e ficou em quarto lugar, como no Mundial de 2023. Na edição de 2022, foi bronze. Em termos de disputas sul-americanas, tem sido soberano, como mostrou com quatro ouros nos Jogos Pan-Americanos (400m, 800m, 4x200 e 1500m).

Guilherme Costa, o Cachorrão, empilhou medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos. Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Também no Rio Sena

Guilherme Costa vai ser o primeiro brasileiro a competir na natação e nas águas abertas em uma edição de Olimpíadas. As chances concretas de medalha estão nas piscinas, onde ele está na final dos 400m livre e pode dar a primeira medalha ao Brasil nas Olimpíadas de Paris, mas o carioca de 25 anos quer aproveitar ao máximo a oportunidade que terá de competir no Rio Sena. Há um pé atrás com toda a discussão sobre a qualidade das águas, mesmo depois de a prefeita de Paris nadar no local para assegurar que a promessa de limpeza foi cumprida. De qualquer forma, a empolgação do brasileiro continua intacta.

“É estranho estar próprio em um dia e em outro não. Vi que tem um plano B, para fazer em outro local caso esteja impróprio. Mas muda um pouco, porque se trocar o loca, muda do dia 9 para o dia 12. Para mim, não seria tão ruim mudar porque eu quero aproveitar os dias entre a piscina e a maratona para subir meu volume de treino de novo, para chegar melhor à maratona”, contou Cachorrão ao Estadão, em entrevista antes de embarcar para Paris.

A oportunidade de disputar os 10 km das águas abertas veio por causa de uma regra extraordinária estabelecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Se um país não tiver um representante na prova, permite-se que nadadores com índices nos 800 metros e 1500 metros na piscina se inscrevam. É o caso de Guilherme Costa, que mal teve como se preparar para a prova adicional.

“Não tive praticamente nada de treino. Eu sei que eu aguento nadar a prova, eu vou conseguir. A única preparação que eu faço um pouquinho é tentar observar um pouco. Minha maior dificuldade é me posicionar melhor na prova. Eu nadei uma Copa do Mundo e senti isso. Eu liderei quase a prova inteira e no final acabei sentindo muito, acho que por acabar me posicionando mal. Sempre tinha gente do meu lado, se aproveitando do meu vácuo, e eu fui cansando. O principal é saber me posicionar bem, porque é uma prova muito imprevisível. Se eu estiver no pelotão da frente no final, tudo pode acontecer”, avalia.

O que acontecer no Rio Sena é bônus. Subir ao pódio em sua especialidade é o foco de Cachorrão, que disputa a final dos 400 metros livre neste sábado, às 15h42 (Brasília), após se classificar com o segundo melhor tempo.

Cachorrão vai competir, ainda, em outras três provas de piscina: os 200 metros livre, os 800 metros livre e o revezamento. No cenário ideal, ele se vê subindo em dois pódios, embora saiba que as chances não sejam tão grandes.

“400 é o principal, mas me vejo bem no 800 também. É uma prova que fui finalista em Tóquio e tenho muito controle, apesar de não focar muito nela. E o 200 é muito novo para mim. É uma prova que eu tenho que evoluir muito ainda e acredito que no próximo ciclo posso brigar por medalha. Quero me testar em Paris porque sei que posso evoluir muito. Sobre o revezamento, este ano não foi, mas é uma prova muito imprevisível”, afirma.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.