A China é a maior medalhista olímpica no tênis de mesa, com 60 presenças em pódios desde Seul-1988, quando a modalidade foi inserida no programa. Do outro lado do mundo, o Brasil tentou, pela primeira vez, subir ao pódio e conquistar o bronze. Hugo Calderano perdeu a semifinal da Olimpíada de Paris-2024 para o sueco Truls Möregårdh e jogou contra Félix Lebrun, mas perdeu para o prodígio francês.
O atleta carioca de 28 anos é sexto colocado no ranking mundial da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF). O primeiro contato foi aos dois, quando o pai dele o colocava em cima da mesa e o pequeno rebatia as bolinhas como brincadeira. Aos 10, Hugo começou a praticar o esporte para valer. Mas sua rotina ia além. Ele integrou seleção estadual de vôlei do Rio de Janeiro e foi campeão estadual pré-mirim de salto em distância, no atletismo.
Um exame de identificação de idade óssea, que apontou que o jovem não seria tão alto, foi determinante para definir a carreira. Foi a partir disso que o foco foi para o tênis de mesa. Hoje com 1,82m, Hugo ainda é fanático por praticar e assistir a partidas de vôlei, basquete e tênis, além de jogar xadrez online.
Poderia se dizer que o gosto por esportes é genético. O avô materno foi professor de educação física e trabalhou como voluntário na Rio-2016. Foi no curso de Educação Física da Universidade Estadual do Rio de Janeiro que os pais de Hugo, Elisa Borges e Marcos Marinho Calderano, se conheceram. Não havia como o esporte não estar com ele, que recentemente comemorou o ingresso da irmã, Sofia, na mesma graduação que os pais.
Prodígio no tênis de mesa, leitor autodidata e gênio em aprendizagem
Quando tinha 17 anos, Hugo se tornou o mais jovem mesa-tenista a vencer uma etapa do Circuito Mundial da ITTF. Um ano depois, ele foi bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude, na China. Feitos que antecipavam a carreira de um tricampeão sul-americano e campeão pan-americano.
A precocidade não foi apenas no tênis de mesa. Com quatro anos, Hugo aprendeu a ler e escrever sozinho e resolvia contas matemáticas de cabeça quando “desafiado” pelos pais. Aprender era - e ainda é - uma diversão.
Foi assim que ele também se encantou por cubos mágicos, uma brincadeira com o pai. Hoje, a coleção do brasileiro já tem mais de 70 modelos dos quebra-cabeças. No mais tradicional, o 3x3, o recorde de resolução dele é 6,3 segundos.
A curiosidade é outra coisa em comum com o Seu Marcos. Os dois guardam informações estatísticas e curiosidades sobre moedas, capitais internacionais e outros conhecimentos de geografia, como se tivessem acesso direto a uma enciclopédia dentro da mente.
Sem limites, o mesa-tenista brasileiro também se sai bem nas palavras. E são muitas. Hugo fala, no total, sete idiomas: português, inglês, espanhol, alemão, mandarim, francês e italiano. Durante a pandemia, foi das linguagens para a música e aprendeu a tocar ukulele e violão.
Carreira de 10 anos na Alemanha e passagens por Rússia e Japão
Entre 2014 e 2021, Hugo Calderano integrou o Ochsenhausen, time da cidade homônima com quase nove mil habitantes que disputa a primeira divisão de tênis de mesa na Alemanha. Ele deixou o clube na temporada 2021/2022, quando se transferiu para o pentacampeão europeu Fakel Gazprom Orenburg, da Rússia. No ano seguinte, o destino foi o tetracampeão japonês Kinoshita Meister Tokyo.
Após Tóquio-2020, quando Hugo ficou em quinto e marcou o melhor resultado do País, ele passou a integrar o Time Petrobras, gerido pela medalhista olímpica Adriana Samuel. Para ela, o brasileiro teve desempenho digno de pódio, mesmo sem a medalha. “Apesar de ser uma briga difícil, com muitos craques, com chineses dominando ali os quatro primeiros lugares do ranking mundial, o Hugo, inclusive em 2023 e 2024 até agora, tem um desempenho excelente”, avalia a gestora e ex-atleta do vôlei de praia.
Atualmente, a casa de Hugo é na Alemanha. A saudade do Brasil é representada pela família, a comida e o clima do Rio. A prioridade de um atleta é normalmente focada em desempenho. Para ele, isso anda junto de divertimento, inclusive no tênis de mesa, para não se tratar apenas de uma profissão.