O megalomaníaco Conor McGregor tanto fez que conseguiu tirar Floyd Mayweather Jr. da aposentadoria para lutar boxe neste sábado, 26, em evento que será realizado em Las Vegas. Entretenimento puro, desde o anúncio do confronto até o dia da pesagem, que será nesta sexta-feira, passando pela turnê mundial de coletivas de imprensa nos últimos meses. Grandes profissionais, ótimos comunicadores, brilhantes promotores de uma combate que... bem, tem um desfecho bastante óbvio.
McGregor tem inegável talento para lutar e mostrou atributos para imaginarmos que ele poderia ser um pugilista de elite se tivesse se dedicado só a esse esporte desde a adolescência. Mas não há porque acreditar em seu triunfo no "May-Mac", a não ser na parte financeira, já que ele vai faturar pelo menos US$ 75 milhões, de acordo com a revista Forbes. Dizem que o pessimista é o otimista bem informado, portanto vamos apresentar dados relevantes para analisar esse duelo.
Partiremos do básico, um dos maiores atletas da história de um esporte centenário vai enfrentar um semi-profissional. Preferi evitar o termo "amador", mas McGregor não passa de um estreante no pugilismo, apesar de ter mostrado bom domínio da modalidade para os padrões do MMA. Ênfase ao ler "MMA" - a dinâmica é totalmente diferente, a área onde o combate acontece é maior, são oito lados no octógono do UFC, existem grades, o adversário pode chutar, dar cotovelada, tentar derrubar, enfim, é como se colocassem o Lewis Hamilton em sua Mercedes para correr rally contra o Sebastian Loeb.
Quando existe um degrau técnico (nesse caso é um Everest), a melhor opção para o atleta inferior é tentar algo diferente, inusitado, até meio maluco. Tipo sair correndo no soar do gongo e tentar um nocaute, McGregor até tem um potente direto de esquerda, José Aldo que o diga. O problema é que ele vai enfrentar o lutador que, provavelmente, tem o melhor sistema de defesa da história do boxe.
Isso qualquer desatenta pessoa que já viu um combate da modalidade sabe, estará em desvantagem aquele competidor que ficar encurralado contra as cordas ou um córner. Pode não ser muito evidente, mas a limitação de espaço deixa seus movimentos previsíveis, tanto de ataque quanto de defesa. Mayweather, porém, já enfrentou esse cenário contra Marcos Maidana, Oscar De La Hoya e Manny Pacquiao, só para citar exemplos da elite da elite, e muito pouco aconteceu. Knockdown? Só sofreu um em uma carreira de 49 lutas e 49 vitórias - se ele escolheu enfrentar Andre Berto em sua última apresentação, é porque queria se aposentar invicto (e, convenhamos, ele só trocou os chinelos pelas sapatilhas de novo porque vai embolsar, no mínimo, US$ 100 milhões, também segundo a Forbes).
A guarda do norte-americano é exótica, ele esconde o queixo atrás do ombro esquerdo e usa a mão direita para interceptar os jabs e proteger um lado do rosto, enquanto o braço esquerdo apontando para o chão bloqueia golpes no corpo. O trabalho de pernas e a leitura das intenções dos adversários o permitem se esquivar e contra-atacar com maestria, como se dançasse balé. Esteja atento para o pivô que ele faz para o lado esquerdo seguido de um soco lançado de canhota.
Mas e a clássica dificuldade que um destro enfrenta contra um canhoto? Bem, Pacquiao desferiu 429 socos contra o norte-americano e acertou 81, risíveis 19% de aproveitamento. E é lógico que Mayweather enfrentou outros canhotos de alto quilate desde 1996, quando estreou no boxe profissional, como Zab Judah e Robert Guerrero.
Toda uma busca por parametrização para analisar essa luta se torna vazia pelo que já foi exposto aqui: Conor McGregor é um estreante. Tanto faz se ele nocauteou Aldo em 13 segundos, se ele deu uma aula em Eddie Alvarez. O que eu espero do irlandês nesse sábado é fintar entradas, jogar socos na direção do peito de Mayweather e esperar que o adversário tome iniciativa para lançar o direto de esquerda no contra-ataque. Mesmo no MMA, raras vezes McGregor foi efetivo com a mão direita, com exceção de um ou outro upper para tomar a iniciativa e complementos de combinações, o que denota falta de refinamento e variação.
Outra possibilidade para McGregor é ir que nem um louco para cima nos primeiros dois rounds, para tentar o nocaute ou beijar a lona tentando. Ele não tem qualidade para acertar golpes limpos em Mayweather em um combate clássico de boxe, ao irlandês resta "brigar", transformar o duelo em um confronto feio, com empurrões, socos na saída de clinches e outras malandragens, como Maidana fez com o norte-americano e deu trabalho.
O problema para McGregor é que ele se cansou após sete minutos de surra que dava em Nate Diaz, em duas oportunidades. Imagina como ele vai ficar depois de socar o ar repetidas vezes e receber contra-golpes no corpo. Mayweather, se respeitar o adversário (e respeito é a melhor forma de evitar um vexame), vai dosar seu ritmo nos primeiros assaltos e começar a bater para definir a partir do terceiro. Para ser bem generoso e pouco específico, o boxeador profissional deve vencer por TKO entre o quarto e o sétimo round, que seria o primeiro nocaute dele desde setembro de 2011, quando deu dois socos enquanto Victor Ortiz se desculpava por golpes ilegais (Mayweather não tem grande poder nos punhos, mas neste sábado nem vai precisar).
A quem quer se iludir, assista abaixo um vídeo em que Mayweather enfrenta dificuldades em algumas de suas 49 lutas. Nelas, pugilistas de alto nível, como Shane Mosley, conseguiram acertar golpes contundentes - os realistas vão interpretar que nem assim Floyd Mayweather Jr. sucumbiu.