Olimpíadas: primeira participação de um brasileiro negro completa 100 anos


Alfredo Gomes, que também foi o primeiro vencedor da São Silvestre, fez parte da seleção brasileira em Paris-1924; ‘Estadão’ divulgou, na época, campanha de arrecadação para viagem dos atletas

Por Leonardo Catto
Atualização:

Os olhos do mundo miram Paris para os Jogos Olímpicos. Separadas por um século e um universo de mudanças na forma de acompanhar esportes, a edição de 1924 tinha o mesmo endereço que a deste ano. Na capital francesa, há 100 anos, Alfredo Gomes foi o primeiro atleta negro a representar o Brasil em uma Olimpíada. O feito é motivo de orgulho do Clube Esperia, onde ele treinava, e visto como um dos legados deixados pelo corredor.

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Alfredo Gomes nasceu em Areias, no Vale do Paraíba, em 1899, somente 11 anos depois da abolição da escravatura no Brasil. Os avós eram pessoas escravizadas que haviam sido libertas.

Ele se mudou para São Paulo, onde trabalhava como eletricista. O trabalho era conciliado com atividades de futebol no Clube Espéria, fundado por italianos às margens do Rio Tietê, em 1899.

Chegada de Alfredo Gome na Grande Festa Esportiva no Clube Esperia, em 1924 Foto: Acervo/Clube Esperia
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Do campo, Alfredo foi para a pista. Ele tinha destaque e vencia provas organizadas na capital paulista. Por isso ganhou o apelido de “Rei do Fôlego”.

“Ele foi aceito pela elite esportiva, a qual a maioria era branca. Ele só correu pelo Clube Esperia, fundado por imigrantes italianos. É um lugar onde ele foi muito bem quisto”, conta Antonio Carlos de Paula, neto de Gomes e autor de duas obras sobre o atleta: “Alfredo Gomes: Vida, Vitórias e Conquistas” e “Brasil - 100 Anos de Negritude Olímpica”.

O caso de Gomes era exceção. O contexto era de heranças escravagistas latentes. Em 1921, por exemplo, o presidente Epitácio Pessoa pediu que a Confederação Brasileira de Desportos não convocasse jogadores negros para o Sul-americano do Chile, no que foi uma das primeiras apropriações políticas da seleção brasileira.

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Nesse cenário, Gomes continuava a treinar e vencer. Ele participou da seletiva de atletas da Federação Paulista para os Jogos Olímpicos de 1924 e foi um dos escolhidos para provas de 800m, 1.500m, 3.000m com obstáculos, 5.000m e cross-country. Foi ele também o porta-bandeira do Brasil.

O problema é que o Comitê Olímpico Internacional já havia recebido, com surpresa, a informação de que o Brasil não participaria do atletismo nos Jogos. Isso foi contornado, mas outro problema se estabeleceu: o custo da viagem, feita de navio, na época.

“Precisou passar o chapéu para arrecadar dinheiro. Não se tinha recursos. Tanto que foi uma equipe reduzida, com oito atletas somente. A falta de incentivo ao esporte é centenária. Hoje melhorou. Naquela época, era amor ao esporte, com uma chama de amadorismo até”, descreve Antonio Carlos.

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O Estado de São Paulo participou da divulgação da arrecadação, a qual chamou de “iniciativa digna de apoio”.

Estadão acompanhou a campanha de arrecadação para viagem de atletas aos Jogos Olímpicos de 1924. Foto: Acervo/Estadão

“A campanha que o Estadão realizou que foi muito importante para os atletas viajassem”, conta o historiador do Clube Esperia, André Bertin. Entre 22 e 25 de maio de 1924, o jornal publicou notas com a situação da Federação Paulista em relação à viagem, listando as contribuições com o nome de doadores e valores doados. Em 27 de maio, a delegação partiu rumo a foi Santos e, de lá, para a França.

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“O povo de São Paulo, tão generoso em favor das iniciativas realmente úteis para a colectividade, está compreendendo bem a importância e o alcance dos esforços da Federação Paulista de Atletismo para que o Brasil não deixe de ser representado na Olimpíada de Paris e assim lhe vem prestando significativo apoio”, dizia a edição de 23 de maio de 1924.

Das provas que estava inscrito, Alfredo acabou disputando apenas os 5.000m, no qual ficou em nono, e o cross-country individual. Este último não foi completo por Alfredo e outros 23 atletas, que pararam a prova devido a um calor acima 40ºC do verão parisiense.

Os resultados foram celebrados mesmo assim. “Com o decorrer do tempo, na medida que as pessoas foram tomando consciência da importância do atleta, abriu espaços para outros. O Alfredo Gomes deixou um legado nesse sentido. Um símbolo da sua época, fazia pouco tempo que havia sido assinada a Lei Áurea, com as dificuldades da época na inserção na sociedade”, aponta Bertin.

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Alfredo Gomes participou de um desfile com medalhas no Clube Esperia na década de 1940. Foto: Acervo/Clube Esperia

Ele cita outros atletas do Espéria que vieram após Gomes, como José Bento de Assis, Wanda dos Santos e Melânia Luz, a qual teve sucesso pelo São Paulo.

No resgate da memória do avô, Antonio Carlos cita a dificuldade de contar a história de um atleta negro dos anos 1920. “Há um branqueamento do esporte brasileiro. Que dirá com os outras (áreas). Fizeram isso com Machado de Assis. Só depois de anos trouxeram que a figura não era a que se vendia na capa de livros”, critica.

Após os Jogos de 1924, a delegação ficou ainda seis meses na Europa. O retorno imediato não foi possível devido à Revolta Paulista deflagrada por tenentistas naquele ano.

De forma autodidata, Gomes aprendeu inglês, italiano, alemão e francês. Ele disputou provas no tempo ficado no continente europeu. Segundo Antonio Carlos, a medalha de ouro de uma delas foi derretida e serviu de aliança de casamento entre ele e a noiva, Camila Gomes.

O atleta tinha fãs que comemoravam as chegadas no final das provas. Foto: Acervo/Clube Esperia

Alfredo Gomes foi o 1º vencedor da São Silvestre

A mais famosa corrida da América do Sul foi criada em 1925, ainda restrita a paulistanos. Na primeira edição, Gomes foi o vencedor. Em 1954, com 55 anos, o atleta continuou a correr, apenas para provar que conseguia chegar no final da prova.

“Ele abriu caminhos para outros. Foi uma barreira muito grande. É incrivelmente triste essa situação”, conclui o neto.

O corredor ainda treinava aos 64 anos, até 17 de março de 1963. Ele havia completado 2 km, quando chegou à exaustão, e o corpo não aguentou mais. Foi na mesma pista do Clube Esperia que a vida de Alfredo Gomes chegou ao fim.

Os feitos dele continuam vivos na memória. Em 4 de agosto, haverá a segunda edição da Corrida Alfredo Gomes, em Areias. Cada nova forma de relembrá-lo é uma iniciativa digna de apoio.

Presença do ‘negro único’ é um dos traços do racismo, diz especialista

A trajetória de Alfredo Gomes como primeiro atleta negro do Brasil em uma Olimpíada reflete o fenômeno do “negro único”, representante isolado da população negra que ascende em determinado segmento predominantemente branco.

Essa é a avaliação de Marcelo Carvalho, presidente do Observatório da Discriminação Racial, iniciativa que monitora e denuncia os casos de racismo no esporte brasileiro.

“Ele foi um dos principais corredores do Brasil e o primeiro não-branco na delegação. Aqui surge um traço do racismo brasileiro. Não há proibição dos negros nos espaços; sempre existe uma exceção à regra. Por isso, o racismo não estaria caracterizado. Isso não é verdade”.

Carvalho acrescenta as particularidades do contexto histórico à sua análise. “No início do século passado, a abolição da escravização do povo negro ainda estava muito próxima historicamente. Por isso é difícil pensar na entrada de pessoas negras no esporte. O Alfredo foi uma exceção”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Observatório da Discriminação racial, entidade que monitora e denuncia os casos de discriminação racial no esporte brasileiro

Os olhos do mundo miram Paris para os Jogos Olímpicos. Separadas por um século e um universo de mudanças na forma de acompanhar esportes, a edição de 1924 tinha o mesmo endereço que a deste ano. Na capital francesa, há 100 anos, Alfredo Gomes foi o primeiro atleta negro a representar o Brasil em uma Olimpíada. O feito é motivo de orgulho do Clube Esperia, onde ele treinava, e visto como um dos legados deixados pelo corredor.

Alfredo Gomes nasceu em Areias, no Vale do Paraíba, em 1899, somente 11 anos depois da abolição da escravatura no Brasil. Os avós eram pessoas escravizadas que haviam sido libertas.

Ele se mudou para São Paulo, onde trabalhava como eletricista. O trabalho era conciliado com atividades de futebol no Clube Espéria, fundado por italianos às margens do Rio Tietê, em 1899.

Chegada de Alfredo Gome na Grande Festa Esportiva no Clube Esperia, em 1924 Foto: Acervo/Clube Esperia

Do campo, Alfredo foi para a pista. Ele tinha destaque e vencia provas organizadas na capital paulista. Por isso ganhou o apelido de “Rei do Fôlego”.

“Ele foi aceito pela elite esportiva, a qual a maioria era branca. Ele só correu pelo Clube Esperia, fundado por imigrantes italianos. É um lugar onde ele foi muito bem quisto”, conta Antonio Carlos de Paula, neto de Gomes e autor de duas obras sobre o atleta: “Alfredo Gomes: Vida, Vitórias e Conquistas” e “Brasil - 100 Anos de Negritude Olímpica”.

O caso de Gomes era exceção. O contexto era de heranças escravagistas latentes. Em 1921, por exemplo, o presidente Epitácio Pessoa pediu que a Confederação Brasileira de Desportos não convocasse jogadores negros para o Sul-americano do Chile, no que foi uma das primeiras apropriações políticas da seleção brasileira.

Nesse cenário, Gomes continuava a treinar e vencer. Ele participou da seletiva de atletas da Federação Paulista para os Jogos Olímpicos de 1924 e foi um dos escolhidos para provas de 800m, 1.500m, 3.000m com obstáculos, 5.000m e cross-country. Foi ele também o porta-bandeira do Brasil.

O problema é que o Comitê Olímpico Internacional já havia recebido, com surpresa, a informação de que o Brasil não participaria do atletismo nos Jogos. Isso foi contornado, mas outro problema se estabeleceu: o custo da viagem, feita de navio, na época.

“Precisou passar o chapéu para arrecadar dinheiro. Não se tinha recursos. Tanto que foi uma equipe reduzida, com oito atletas somente. A falta de incentivo ao esporte é centenária. Hoje melhorou. Naquela época, era amor ao esporte, com uma chama de amadorismo até”, descreve Antonio Carlos.

O Estado de São Paulo participou da divulgação da arrecadação, a qual chamou de “iniciativa digna de apoio”.

Estadão acompanhou a campanha de arrecadação para viagem de atletas aos Jogos Olímpicos de 1924. Foto: Acervo/Estadão

“A campanha que o Estadão realizou que foi muito importante para os atletas viajassem”, conta o historiador do Clube Esperia, André Bertin. Entre 22 e 25 de maio de 1924, o jornal publicou notas com a situação da Federação Paulista em relação à viagem, listando as contribuições com o nome de doadores e valores doados. Em 27 de maio, a delegação partiu rumo a foi Santos e, de lá, para a França.

“O povo de São Paulo, tão generoso em favor das iniciativas realmente úteis para a colectividade, está compreendendo bem a importância e o alcance dos esforços da Federação Paulista de Atletismo para que o Brasil não deixe de ser representado na Olimpíada de Paris e assim lhe vem prestando significativo apoio”, dizia a edição de 23 de maio de 1924.

Das provas que estava inscrito, Alfredo acabou disputando apenas os 5.000m, no qual ficou em nono, e o cross-country individual. Este último não foi completo por Alfredo e outros 23 atletas, que pararam a prova devido a um calor acima 40ºC do verão parisiense.

Os resultados foram celebrados mesmo assim. “Com o decorrer do tempo, na medida que as pessoas foram tomando consciência da importância do atleta, abriu espaços para outros. O Alfredo Gomes deixou um legado nesse sentido. Um símbolo da sua época, fazia pouco tempo que havia sido assinada a Lei Áurea, com as dificuldades da época na inserção na sociedade”, aponta Bertin.

Alfredo Gomes participou de um desfile com medalhas no Clube Esperia na década de 1940. Foto: Acervo/Clube Esperia

Ele cita outros atletas do Espéria que vieram após Gomes, como José Bento de Assis, Wanda dos Santos e Melânia Luz, a qual teve sucesso pelo São Paulo.

No resgate da memória do avô, Antonio Carlos cita a dificuldade de contar a história de um atleta negro dos anos 1920. “Há um branqueamento do esporte brasileiro. Que dirá com os outras (áreas). Fizeram isso com Machado de Assis. Só depois de anos trouxeram que a figura não era a que se vendia na capa de livros”, critica.

Após os Jogos de 1924, a delegação ficou ainda seis meses na Europa. O retorno imediato não foi possível devido à Revolta Paulista deflagrada por tenentistas naquele ano.

De forma autodidata, Gomes aprendeu inglês, italiano, alemão e francês. Ele disputou provas no tempo ficado no continente europeu. Segundo Antonio Carlos, a medalha de ouro de uma delas foi derretida e serviu de aliança de casamento entre ele e a noiva, Camila Gomes.

O atleta tinha fãs que comemoravam as chegadas no final das provas. Foto: Acervo/Clube Esperia

Alfredo Gomes foi o 1º vencedor da São Silvestre

A mais famosa corrida da América do Sul foi criada em 1925, ainda restrita a paulistanos. Na primeira edição, Gomes foi o vencedor. Em 1954, com 55 anos, o atleta continuou a correr, apenas para provar que conseguia chegar no final da prova.

“Ele abriu caminhos para outros. Foi uma barreira muito grande. É incrivelmente triste essa situação”, conclui o neto.

O corredor ainda treinava aos 64 anos, até 17 de março de 1963. Ele havia completado 2 km, quando chegou à exaustão, e o corpo não aguentou mais. Foi na mesma pista do Clube Esperia que a vida de Alfredo Gomes chegou ao fim.

Os feitos dele continuam vivos na memória. Em 4 de agosto, haverá a segunda edição da Corrida Alfredo Gomes, em Areias. Cada nova forma de relembrá-lo é uma iniciativa digna de apoio.

Presença do ‘negro único’ é um dos traços do racismo, diz especialista

A trajetória de Alfredo Gomes como primeiro atleta negro do Brasil em uma Olimpíada reflete o fenômeno do “negro único”, representante isolado da população negra que ascende em determinado segmento predominantemente branco.

Essa é a avaliação de Marcelo Carvalho, presidente do Observatório da Discriminação Racial, iniciativa que monitora e denuncia os casos de racismo no esporte brasileiro.

“Ele foi um dos principais corredores do Brasil e o primeiro não-branco na delegação. Aqui surge um traço do racismo brasileiro. Não há proibição dos negros nos espaços; sempre existe uma exceção à regra. Por isso, o racismo não estaria caracterizado. Isso não é verdade”.

Carvalho acrescenta as particularidades do contexto histórico à sua análise. “No início do século passado, a abolição da escravização do povo negro ainda estava muito próxima historicamente. Por isso é difícil pensar na entrada de pessoas negras no esporte. O Alfredo foi uma exceção”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Observatório da Discriminação racial, entidade que monitora e denuncia os casos de discriminação racial no esporte brasileiro

Os olhos do mundo miram Paris para os Jogos Olímpicos. Separadas por um século e um universo de mudanças na forma de acompanhar esportes, a edição de 1924 tinha o mesmo endereço que a deste ano. Na capital francesa, há 100 anos, Alfredo Gomes foi o primeiro atleta negro a representar o Brasil em uma Olimpíada. O feito é motivo de orgulho do Clube Esperia, onde ele treinava, e visto como um dos legados deixados pelo corredor.

Alfredo Gomes nasceu em Areias, no Vale do Paraíba, em 1899, somente 11 anos depois da abolição da escravatura no Brasil. Os avós eram pessoas escravizadas que haviam sido libertas.

Ele se mudou para São Paulo, onde trabalhava como eletricista. O trabalho era conciliado com atividades de futebol no Clube Espéria, fundado por italianos às margens do Rio Tietê, em 1899.

Chegada de Alfredo Gome na Grande Festa Esportiva no Clube Esperia, em 1924 Foto: Acervo/Clube Esperia

Do campo, Alfredo foi para a pista. Ele tinha destaque e vencia provas organizadas na capital paulista. Por isso ganhou o apelido de “Rei do Fôlego”.

“Ele foi aceito pela elite esportiva, a qual a maioria era branca. Ele só correu pelo Clube Esperia, fundado por imigrantes italianos. É um lugar onde ele foi muito bem quisto”, conta Antonio Carlos de Paula, neto de Gomes e autor de duas obras sobre o atleta: “Alfredo Gomes: Vida, Vitórias e Conquistas” e “Brasil - 100 Anos de Negritude Olímpica”.

O caso de Gomes era exceção. O contexto era de heranças escravagistas latentes. Em 1921, por exemplo, o presidente Epitácio Pessoa pediu que a Confederação Brasileira de Desportos não convocasse jogadores negros para o Sul-americano do Chile, no que foi uma das primeiras apropriações políticas da seleção brasileira.

Nesse cenário, Gomes continuava a treinar e vencer. Ele participou da seletiva de atletas da Federação Paulista para os Jogos Olímpicos de 1924 e foi um dos escolhidos para provas de 800m, 1.500m, 3.000m com obstáculos, 5.000m e cross-country. Foi ele também o porta-bandeira do Brasil.

O problema é que o Comitê Olímpico Internacional já havia recebido, com surpresa, a informação de que o Brasil não participaria do atletismo nos Jogos. Isso foi contornado, mas outro problema se estabeleceu: o custo da viagem, feita de navio, na época.

“Precisou passar o chapéu para arrecadar dinheiro. Não se tinha recursos. Tanto que foi uma equipe reduzida, com oito atletas somente. A falta de incentivo ao esporte é centenária. Hoje melhorou. Naquela época, era amor ao esporte, com uma chama de amadorismo até”, descreve Antonio Carlos.

O Estado de São Paulo participou da divulgação da arrecadação, a qual chamou de “iniciativa digna de apoio”.

Estadão acompanhou a campanha de arrecadação para viagem de atletas aos Jogos Olímpicos de 1924. Foto: Acervo/Estadão

“A campanha que o Estadão realizou que foi muito importante para os atletas viajassem”, conta o historiador do Clube Esperia, André Bertin. Entre 22 e 25 de maio de 1924, o jornal publicou notas com a situação da Federação Paulista em relação à viagem, listando as contribuições com o nome de doadores e valores doados. Em 27 de maio, a delegação partiu rumo a foi Santos e, de lá, para a França.

“O povo de São Paulo, tão generoso em favor das iniciativas realmente úteis para a colectividade, está compreendendo bem a importância e o alcance dos esforços da Federação Paulista de Atletismo para que o Brasil não deixe de ser representado na Olimpíada de Paris e assim lhe vem prestando significativo apoio”, dizia a edição de 23 de maio de 1924.

Das provas que estava inscrito, Alfredo acabou disputando apenas os 5.000m, no qual ficou em nono, e o cross-country individual. Este último não foi completo por Alfredo e outros 23 atletas, que pararam a prova devido a um calor acima 40ºC do verão parisiense.

Os resultados foram celebrados mesmo assim. “Com o decorrer do tempo, na medida que as pessoas foram tomando consciência da importância do atleta, abriu espaços para outros. O Alfredo Gomes deixou um legado nesse sentido. Um símbolo da sua época, fazia pouco tempo que havia sido assinada a Lei Áurea, com as dificuldades da época na inserção na sociedade”, aponta Bertin.

Alfredo Gomes participou de um desfile com medalhas no Clube Esperia na década de 1940. Foto: Acervo/Clube Esperia

Ele cita outros atletas do Espéria que vieram após Gomes, como José Bento de Assis, Wanda dos Santos e Melânia Luz, a qual teve sucesso pelo São Paulo.

No resgate da memória do avô, Antonio Carlos cita a dificuldade de contar a história de um atleta negro dos anos 1920. “Há um branqueamento do esporte brasileiro. Que dirá com os outras (áreas). Fizeram isso com Machado de Assis. Só depois de anos trouxeram que a figura não era a que se vendia na capa de livros”, critica.

Após os Jogos de 1924, a delegação ficou ainda seis meses na Europa. O retorno imediato não foi possível devido à Revolta Paulista deflagrada por tenentistas naquele ano.

De forma autodidata, Gomes aprendeu inglês, italiano, alemão e francês. Ele disputou provas no tempo ficado no continente europeu. Segundo Antonio Carlos, a medalha de ouro de uma delas foi derretida e serviu de aliança de casamento entre ele e a noiva, Camila Gomes.

O atleta tinha fãs que comemoravam as chegadas no final das provas. Foto: Acervo/Clube Esperia

Alfredo Gomes foi o 1º vencedor da São Silvestre

A mais famosa corrida da América do Sul foi criada em 1925, ainda restrita a paulistanos. Na primeira edição, Gomes foi o vencedor. Em 1954, com 55 anos, o atleta continuou a correr, apenas para provar que conseguia chegar no final da prova.

“Ele abriu caminhos para outros. Foi uma barreira muito grande. É incrivelmente triste essa situação”, conclui o neto.

O corredor ainda treinava aos 64 anos, até 17 de março de 1963. Ele havia completado 2 km, quando chegou à exaustão, e o corpo não aguentou mais. Foi na mesma pista do Clube Esperia que a vida de Alfredo Gomes chegou ao fim.

Os feitos dele continuam vivos na memória. Em 4 de agosto, haverá a segunda edição da Corrida Alfredo Gomes, em Areias. Cada nova forma de relembrá-lo é uma iniciativa digna de apoio.

Presença do ‘negro único’ é um dos traços do racismo, diz especialista

A trajetória de Alfredo Gomes como primeiro atleta negro do Brasil em uma Olimpíada reflete o fenômeno do “negro único”, representante isolado da população negra que ascende em determinado segmento predominantemente branco.

Essa é a avaliação de Marcelo Carvalho, presidente do Observatório da Discriminação Racial, iniciativa que monitora e denuncia os casos de racismo no esporte brasileiro.

“Ele foi um dos principais corredores do Brasil e o primeiro não-branco na delegação. Aqui surge um traço do racismo brasileiro. Não há proibição dos negros nos espaços; sempre existe uma exceção à regra. Por isso, o racismo não estaria caracterizado. Isso não é verdade”.

Carvalho acrescenta as particularidades do contexto histórico à sua análise. “No início do século passado, a abolição da escravização do povo negro ainda estava muito próxima historicamente. Por isso é difícil pensar na entrada de pessoas negras no esporte. O Alfredo foi uma exceção”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Observatório da Discriminação racial, entidade que monitora e denuncia os casos de discriminação racial no esporte brasileiro

Os olhos do mundo miram Paris para os Jogos Olímpicos. Separadas por um século e um universo de mudanças na forma de acompanhar esportes, a edição de 1924 tinha o mesmo endereço que a deste ano. Na capital francesa, há 100 anos, Alfredo Gomes foi o primeiro atleta negro a representar o Brasil em uma Olimpíada. O feito é motivo de orgulho do Clube Esperia, onde ele treinava, e visto como um dos legados deixados pelo corredor.

Alfredo Gomes nasceu em Areias, no Vale do Paraíba, em 1899, somente 11 anos depois da abolição da escravatura no Brasil. Os avós eram pessoas escravizadas que haviam sido libertas.

Ele se mudou para São Paulo, onde trabalhava como eletricista. O trabalho era conciliado com atividades de futebol no Clube Espéria, fundado por italianos às margens do Rio Tietê, em 1899.

Chegada de Alfredo Gome na Grande Festa Esportiva no Clube Esperia, em 1924 Foto: Acervo/Clube Esperia

Do campo, Alfredo foi para a pista. Ele tinha destaque e vencia provas organizadas na capital paulista. Por isso ganhou o apelido de “Rei do Fôlego”.

“Ele foi aceito pela elite esportiva, a qual a maioria era branca. Ele só correu pelo Clube Esperia, fundado por imigrantes italianos. É um lugar onde ele foi muito bem quisto”, conta Antonio Carlos de Paula, neto de Gomes e autor de duas obras sobre o atleta: “Alfredo Gomes: Vida, Vitórias e Conquistas” e “Brasil - 100 Anos de Negritude Olímpica”.

O caso de Gomes era exceção. O contexto era de heranças escravagistas latentes. Em 1921, por exemplo, o presidente Epitácio Pessoa pediu que a Confederação Brasileira de Desportos não convocasse jogadores negros para o Sul-americano do Chile, no que foi uma das primeiras apropriações políticas da seleção brasileira.

Nesse cenário, Gomes continuava a treinar e vencer. Ele participou da seletiva de atletas da Federação Paulista para os Jogos Olímpicos de 1924 e foi um dos escolhidos para provas de 800m, 1.500m, 3.000m com obstáculos, 5.000m e cross-country. Foi ele também o porta-bandeira do Brasil.

O problema é que o Comitê Olímpico Internacional já havia recebido, com surpresa, a informação de que o Brasil não participaria do atletismo nos Jogos. Isso foi contornado, mas outro problema se estabeleceu: o custo da viagem, feita de navio, na época.

“Precisou passar o chapéu para arrecadar dinheiro. Não se tinha recursos. Tanto que foi uma equipe reduzida, com oito atletas somente. A falta de incentivo ao esporte é centenária. Hoje melhorou. Naquela época, era amor ao esporte, com uma chama de amadorismo até”, descreve Antonio Carlos.

O Estado de São Paulo participou da divulgação da arrecadação, a qual chamou de “iniciativa digna de apoio”.

Estadão acompanhou a campanha de arrecadação para viagem de atletas aos Jogos Olímpicos de 1924. Foto: Acervo/Estadão

“A campanha que o Estadão realizou que foi muito importante para os atletas viajassem”, conta o historiador do Clube Esperia, André Bertin. Entre 22 e 25 de maio de 1924, o jornal publicou notas com a situação da Federação Paulista em relação à viagem, listando as contribuições com o nome de doadores e valores doados. Em 27 de maio, a delegação partiu rumo a foi Santos e, de lá, para a França.

“O povo de São Paulo, tão generoso em favor das iniciativas realmente úteis para a colectividade, está compreendendo bem a importância e o alcance dos esforços da Federação Paulista de Atletismo para que o Brasil não deixe de ser representado na Olimpíada de Paris e assim lhe vem prestando significativo apoio”, dizia a edição de 23 de maio de 1924.

Das provas que estava inscrito, Alfredo acabou disputando apenas os 5.000m, no qual ficou em nono, e o cross-country individual. Este último não foi completo por Alfredo e outros 23 atletas, que pararam a prova devido a um calor acima 40ºC do verão parisiense.

Os resultados foram celebrados mesmo assim. “Com o decorrer do tempo, na medida que as pessoas foram tomando consciência da importância do atleta, abriu espaços para outros. O Alfredo Gomes deixou um legado nesse sentido. Um símbolo da sua época, fazia pouco tempo que havia sido assinada a Lei Áurea, com as dificuldades da época na inserção na sociedade”, aponta Bertin.

Alfredo Gomes participou de um desfile com medalhas no Clube Esperia na década de 1940. Foto: Acervo/Clube Esperia

Ele cita outros atletas do Espéria que vieram após Gomes, como José Bento de Assis, Wanda dos Santos e Melânia Luz, a qual teve sucesso pelo São Paulo.

No resgate da memória do avô, Antonio Carlos cita a dificuldade de contar a história de um atleta negro dos anos 1920. “Há um branqueamento do esporte brasileiro. Que dirá com os outras (áreas). Fizeram isso com Machado de Assis. Só depois de anos trouxeram que a figura não era a que se vendia na capa de livros”, critica.

Após os Jogos de 1924, a delegação ficou ainda seis meses na Europa. O retorno imediato não foi possível devido à Revolta Paulista deflagrada por tenentistas naquele ano.

De forma autodidata, Gomes aprendeu inglês, italiano, alemão e francês. Ele disputou provas no tempo ficado no continente europeu. Segundo Antonio Carlos, a medalha de ouro de uma delas foi derretida e serviu de aliança de casamento entre ele e a noiva, Camila Gomes.

O atleta tinha fãs que comemoravam as chegadas no final das provas. Foto: Acervo/Clube Esperia

Alfredo Gomes foi o 1º vencedor da São Silvestre

A mais famosa corrida da América do Sul foi criada em 1925, ainda restrita a paulistanos. Na primeira edição, Gomes foi o vencedor. Em 1954, com 55 anos, o atleta continuou a correr, apenas para provar que conseguia chegar no final da prova.

“Ele abriu caminhos para outros. Foi uma barreira muito grande. É incrivelmente triste essa situação”, conclui o neto.

O corredor ainda treinava aos 64 anos, até 17 de março de 1963. Ele havia completado 2 km, quando chegou à exaustão, e o corpo não aguentou mais. Foi na mesma pista do Clube Esperia que a vida de Alfredo Gomes chegou ao fim.

Os feitos dele continuam vivos na memória. Em 4 de agosto, haverá a segunda edição da Corrida Alfredo Gomes, em Areias. Cada nova forma de relembrá-lo é uma iniciativa digna de apoio.

Presença do ‘negro único’ é um dos traços do racismo, diz especialista

A trajetória de Alfredo Gomes como primeiro atleta negro do Brasil em uma Olimpíada reflete o fenômeno do “negro único”, representante isolado da população negra que ascende em determinado segmento predominantemente branco.

Essa é a avaliação de Marcelo Carvalho, presidente do Observatório da Discriminação Racial, iniciativa que monitora e denuncia os casos de racismo no esporte brasileiro.

“Ele foi um dos principais corredores do Brasil e o primeiro não-branco na delegação. Aqui surge um traço do racismo brasileiro. Não há proibição dos negros nos espaços; sempre existe uma exceção à regra. Por isso, o racismo não estaria caracterizado. Isso não é verdade”.

Carvalho acrescenta as particularidades do contexto histórico à sua análise. “No início do século passado, a abolição da escravização do povo negro ainda estava muito próxima historicamente. Por isso é difícil pensar na entrada de pessoas negras no esporte. O Alfredo foi uma exceção”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Observatório da Discriminação racial, entidade que monitora e denuncia os casos de discriminação racial no esporte brasileiro

Os olhos do mundo miram Paris para os Jogos Olímpicos. Separadas por um século e um universo de mudanças na forma de acompanhar esportes, a edição de 1924 tinha o mesmo endereço que a deste ano. Na capital francesa, há 100 anos, Alfredo Gomes foi o primeiro atleta negro a representar o Brasil em uma Olimpíada. O feito é motivo de orgulho do Clube Esperia, onde ele treinava, e visto como um dos legados deixados pelo corredor.

Alfredo Gomes nasceu em Areias, no Vale do Paraíba, em 1899, somente 11 anos depois da abolição da escravatura no Brasil. Os avós eram pessoas escravizadas que haviam sido libertas.

Ele se mudou para São Paulo, onde trabalhava como eletricista. O trabalho era conciliado com atividades de futebol no Clube Espéria, fundado por italianos às margens do Rio Tietê, em 1899.

Chegada de Alfredo Gome na Grande Festa Esportiva no Clube Esperia, em 1924 Foto: Acervo/Clube Esperia

Do campo, Alfredo foi para a pista. Ele tinha destaque e vencia provas organizadas na capital paulista. Por isso ganhou o apelido de “Rei do Fôlego”.

“Ele foi aceito pela elite esportiva, a qual a maioria era branca. Ele só correu pelo Clube Esperia, fundado por imigrantes italianos. É um lugar onde ele foi muito bem quisto”, conta Antonio Carlos de Paula, neto de Gomes e autor de duas obras sobre o atleta: “Alfredo Gomes: Vida, Vitórias e Conquistas” e “Brasil - 100 Anos de Negritude Olímpica”.

O caso de Gomes era exceção. O contexto era de heranças escravagistas latentes. Em 1921, por exemplo, o presidente Epitácio Pessoa pediu que a Confederação Brasileira de Desportos não convocasse jogadores negros para o Sul-americano do Chile, no que foi uma das primeiras apropriações políticas da seleção brasileira.

Nesse cenário, Gomes continuava a treinar e vencer. Ele participou da seletiva de atletas da Federação Paulista para os Jogos Olímpicos de 1924 e foi um dos escolhidos para provas de 800m, 1.500m, 3.000m com obstáculos, 5.000m e cross-country. Foi ele também o porta-bandeira do Brasil.

O problema é que o Comitê Olímpico Internacional já havia recebido, com surpresa, a informação de que o Brasil não participaria do atletismo nos Jogos. Isso foi contornado, mas outro problema se estabeleceu: o custo da viagem, feita de navio, na época.

“Precisou passar o chapéu para arrecadar dinheiro. Não se tinha recursos. Tanto que foi uma equipe reduzida, com oito atletas somente. A falta de incentivo ao esporte é centenária. Hoje melhorou. Naquela época, era amor ao esporte, com uma chama de amadorismo até”, descreve Antonio Carlos.

O Estado de São Paulo participou da divulgação da arrecadação, a qual chamou de “iniciativa digna de apoio”.

Estadão acompanhou a campanha de arrecadação para viagem de atletas aos Jogos Olímpicos de 1924. Foto: Acervo/Estadão

“A campanha que o Estadão realizou que foi muito importante para os atletas viajassem”, conta o historiador do Clube Esperia, André Bertin. Entre 22 e 25 de maio de 1924, o jornal publicou notas com a situação da Federação Paulista em relação à viagem, listando as contribuições com o nome de doadores e valores doados. Em 27 de maio, a delegação partiu rumo a foi Santos e, de lá, para a França.

“O povo de São Paulo, tão generoso em favor das iniciativas realmente úteis para a colectividade, está compreendendo bem a importância e o alcance dos esforços da Federação Paulista de Atletismo para que o Brasil não deixe de ser representado na Olimpíada de Paris e assim lhe vem prestando significativo apoio”, dizia a edição de 23 de maio de 1924.

Das provas que estava inscrito, Alfredo acabou disputando apenas os 5.000m, no qual ficou em nono, e o cross-country individual. Este último não foi completo por Alfredo e outros 23 atletas, que pararam a prova devido a um calor acima 40ºC do verão parisiense.

Os resultados foram celebrados mesmo assim. “Com o decorrer do tempo, na medida que as pessoas foram tomando consciência da importância do atleta, abriu espaços para outros. O Alfredo Gomes deixou um legado nesse sentido. Um símbolo da sua época, fazia pouco tempo que havia sido assinada a Lei Áurea, com as dificuldades da época na inserção na sociedade”, aponta Bertin.

Alfredo Gomes participou de um desfile com medalhas no Clube Esperia na década de 1940. Foto: Acervo/Clube Esperia

Ele cita outros atletas do Espéria que vieram após Gomes, como José Bento de Assis, Wanda dos Santos e Melânia Luz, a qual teve sucesso pelo São Paulo.

No resgate da memória do avô, Antonio Carlos cita a dificuldade de contar a história de um atleta negro dos anos 1920. “Há um branqueamento do esporte brasileiro. Que dirá com os outras (áreas). Fizeram isso com Machado de Assis. Só depois de anos trouxeram que a figura não era a que se vendia na capa de livros”, critica.

Após os Jogos de 1924, a delegação ficou ainda seis meses na Europa. O retorno imediato não foi possível devido à Revolta Paulista deflagrada por tenentistas naquele ano.

De forma autodidata, Gomes aprendeu inglês, italiano, alemão e francês. Ele disputou provas no tempo ficado no continente europeu. Segundo Antonio Carlos, a medalha de ouro de uma delas foi derretida e serviu de aliança de casamento entre ele e a noiva, Camila Gomes.

O atleta tinha fãs que comemoravam as chegadas no final das provas. Foto: Acervo/Clube Esperia

Alfredo Gomes foi o 1º vencedor da São Silvestre

A mais famosa corrida da América do Sul foi criada em 1925, ainda restrita a paulistanos. Na primeira edição, Gomes foi o vencedor. Em 1954, com 55 anos, o atleta continuou a correr, apenas para provar que conseguia chegar no final da prova.

“Ele abriu caminhos para outros. Foi uma barreira muito grande. É incrivelmente triste essa situação”, conclui o neto.

O corredor ainda treinava aos 64 anos, até 17 de março de 1963. Ele havia completado 2 km, quando chegou à exaustão, e o corpo não aguentou mais. Foi na mesma pista do Clube Esperia que a vida de Alfredo Gomes chegou ao fim.

Os feitos dele continuam vivos na memória. Em 4 de agosto, haverá a segunda edição da Corrida Alfredo Gomes, em Areias. Cada nova forma de relembrá-lo é uma iniciativa digna de apoio.

Presença do ‘negro único’ é um dos traços do racismo, diz especialista

A trajetória de Alfredo Gomes como primeiro atleta negro do Brasil em uma Olimpíada reflete o fenômeno do “negro único”, representante isolado da população negra que ascende em determinado segmento predominantemente branco.

Essa é a avaliação de Marcelo Carvalho, presidente do Observatório da Discriminação Racial, iniciativa que monitora e denuncia os casos de racismo no esporte brasileiro.

“Ele foi um dos principais corredores do Brasil e o primeiro não-branco na delegação. Aqui surge um traço do racismo brasileiro. Não há proibição dos negros nos espaços; sempre existe uma exceção à regra. Por isso, o racismo não estaria caracterizado. Isso não é verdade”.

Carvalho acrescenta as particularidades do contexto histórico à sua análise. “No início do século passado, a abolição da escravização do povo negro ainda estava muito próxima historicamente. Por isso é difícil pensar na entrada de pessoas negras no esporte. O Alfredo foi uma exceção”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Observatório da Discriminação racial, entidade que monitora e denuncia os casos de discriminação racial no esporte brasileiro

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