A formação de um atleta olímpico


Melhores atletas do mundo muitas vezes experimentam vários esportes quando jovens antes de chegar ao topo naquele que escolhem para competir, descobre nova pesquisa

Por Gretchen Reynolds
Atualização:

Os melhores atletas do mundo, inclusive os olímpicos, raramente começam a competir ou se especializam no esporte que os tornará campeões quando muito novos, de acordo com um novo estudo provocativo sobre a formação atlética de milhares de atletas bem-sucedidos. Em vez disso, segundo a pesquisa, a maioria dos campeões mundiais testam um esporte atrás do outro quando crianças e ganham domínio nas atividades escolhidas consideravelmente mais tarde do que outros jovens atletas mais focados que, em algum momento, eles acabam derrotando.

O estudo, que contou com a participação de competidores do sexo masculino e feminino de uma grande variedade de esportes, oferece ensinamentos e alertas para pais, treinadores e atletas mirins em relação a como entender um talento, administrar expectativas, construir uma carreira de atleta e recalibrar a importância a longo prazo de crianças de 7 ou 8 anos participarem - ou não - dos times escolhidos para as ligas infantis.

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A formação de um atleta olímpico. Foto: Aleksandra Szmigiel/Reuters

No entanto, quando se é pai de um esportista, é difícil não acreditar que o sucesso atlético de seu filho exige especialização precoce. A maioria de nós está muito familiarizada com as histórias recorrentes de pequenos prodígios do esporte e o enorme sucesso deles, como Tiger Woods acertando tacadas aos dois anos de idade ou Venus e Serena Williams arrasando com aces no tênis quando ainda estavam no ensino fundamental.

A crença de que a especialização precoce e a repetição frequente contribuem para o domínio físico também foi reforçada pela pesquisa sobre conhecimento especializado realizada na década de 1990 pelo psicólogo K. Anders Ericsson, que morreu em 2020. Ele e seus colegas descobriram que músicos jovens que escolhem um instrumento em uma idade jovem e passam várias horas em aulas particulares e ensaios - treinos que ele chamou de “prática deliberada” - conquistam o maior domínio musical. Nesta pesquisa, o talento inato desempenha um papel menos importante na façanha do que a prática contínua.

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Mas, desde então, outros cientistas têm questionado se é aconselhável limitar os jovens a uma atividade específica desde o início, principalmente nos esportes, porque a especialização precoce e a prática intensa podem aumentar o risco de lesões e exaustão.Nessa avaliação, mais vale as crianças estarem praticando diferentes esportes, com ênfase no brincar, não na competição, para ganhar entusiasmo, coordenação e, em algum momento, troféus e medalhas.

No entanto, poucos estudos em grande escala investigaram os históricos de atletas de sucesso em todos os níveis dos esportes para ver se a especialização precoce geralmente aumenta ou atrapalha as chances de alguém ganhar um lugar no pódio na Olimpíada ou se tornar a estrela de um time do ensino médio.

Então, para o novo estudo, que foi publicado em julho na revista científica Perspectives on Psychological Science, um grupo de cientistas do exercício e psicólogos do esporte da Alemanha e dos Estados Unidos decidiram reunir o máximo de dados possível a respeito de como os grandes atletas se tornaram quem são.

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Eles começaram examinando minuciosamente bancos de dados que documentavam históricos de treinamento de atletas bem-sucedidos por meio de extensas entrevistas ou questionários. Terminaram com 51 estudos relevantes cobrindo 6.096 atletas, entre eles 772 campeões olímpicos ou mundiais. Alguns dos atletas competiram em esportes coletivos e outros em individuais. Alguns colecionaram vitórias e elogios quando crianças ou adolescentes; outros quando adultos; poucos em ambos os casos. Alguns chegaram ao auge com vitórias em eventos internacionais; outros em competições locais ou regionais. Em suma, os atletas representavam a gama de carreiras esportivas, de prodígios infantis a talentos que começaram mais tarde e aqueles que começaram muito bem e fracassaram.

Os pesquisadores então combinaram os dados dos estudos e começaram a comparar os passados e os resultados dos atletas. Eles rapidamente perceberam que a especialização precoce em esportes beneficiava certos atletas, mas apenas por pouco tempo.

Os cientistas descobriram que competidores juniores de nível mundial que acumulavam medalhas internacionais ainda na adolescência tendiam a se dedicar a um único esporte antes dos 12 anos, um ou dois anos antes da maioria de seus adversários, incluindo outros jovens atletas que se destacavam nos níveis regional e nacional. O que separava os ótimos jovens atletas deste grupo dos bons, em outras palavras, era escolher um esporte jovem e praticá-lo intensamente.

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Mas no nível sênior ou de esportes para adultos, os dados mostraram que os impactos da especialização mudaram. (A maioria dos atletas seniores está na casa dos 20 ou 30 anos, embora cada esporte defina seu próprio limite de idade para as divisões júnior e sênior.) Os melhores atletas adultos do mundo, incluindo campeões olímpicos e mundiais, normalmente começaram a praticar esportes competitivos de qualquer tipo um ou dois anos depois dos outros atletas e praticaram menos horas ao longo de suas carreiras. A maioria também experimentou vários esportes, geralmente três ou quatro por ano, muitas vezes não se firmando em um único esporte até meados da adolescência ou mais, vários anos depois da maioria de seus futuros adversários. E poucos receberam atenção imediata ou reconhecimento de treinadores e dirigentes, raramente participando das equipes selecionadas no início de suas carreiras.

“A maioria dos atletas adultos de alta performance não eram prodígios quando crianças”, disse Arne Güllich, diretor do Instituto de Ciências Aplicadas ao Esporte da Universidade de Tecnologia Kaiserslautern, na Alemanha, que conduziu o novo estudo com os colegas americanos Brooke N. Macnamara da Universidade Case Western Reserve, em Cleveland, e David Zach Hambrick da Universidade do Estado do Michigan.

Esses padrões permaneceram verdadeiros para homens e mulheres, meninos e meninas, e em esportes coletivos e individuais.

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Os resultados não explicam, entretanto, como um início lento e uma experiência com vários esportes na idade jovem podem contribuir para a excelência atlética posterior. Mas Güllich acredita que aqueles que começam tarde provavelmente experimentam menos estresse e exaustão do que as jovens superestrelas de um único esporte e ganham uma capacidade maior de aprender e progredir fisicamente treinando em uma variedade de esportes.

O estudo tem outras limitações. Ele é associativo, o que significa que mostra que os melhores atletas adultos raramente se especializam cedo, mas não prova que esse modo de agir causou seu sucesso. Além disso, não considerou fatores genéticos, familiares, financeiros, psicológicos ou outros fatores que pudessem influenciar a carreira esportiva. O estudo também se concentrou, de modo geral, nos melhores atletas do mundo, um grupo que dificilmente incluirá a maioria de nós ou nossos filhos.

Mas, ainda assim, os resultados parecem animadores para todos os jovens atletas que experimentam com entusiasmo uma variedade de esportes.

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“As crianças devem praticar o esporte que mais gostam de praticar, no qual anseiam por cada treino, para se divertir com os amigos e o treinador”, disse Güllich. “Se a diversão diminui constantemente, talvez seja hora de tentar outro esporte”./ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Os melhores atletas do mundo, inclusive os olímpicos, raramente começam a competir ou se especializam no esporte que os tornará campeões quando muito novos, de acordo com um novo estudo provocativo sobre a formação atlética de milhares de atletas bem-sucedidos. Em vez disso, segundo a pesquisa, a maioria dos campeões mundiais testam um esporte atrás do outro quando crianças e ganham domínio nas atividades escolhidas consideravelmente mais tarde do que outros jovens atletas mais focados que, em algum momento, eles acabam derrotando.

O estudo, que contou com a participação de competidores do sexo masculino e feminino de uma grande variedade de esportes, oferece ensinamentos e alertas para pais, treinadores e atletas mirins em relação a como entender um talento, administrar expectativas, construir uma carreira de atleta e recalibrar a importância a longo prazo de crianças de 7 ou 8 anos participarem - ou não - dos times escolhidos para as ligas infantis.

A formação de um atleta olímpico. Foto: Aleksandra Szmigiel/Reuters

No entanto, quando se é pai de um esportista, é difícil não acreditar que o sucesso atlético de seu filho exige especialização precoce. A maioria de nós está muito familiarizada com as histórias recorrentes de pequenos prodígios do esporte e o enorme sucesso deles, como Tiger Woods acertando tacadas aos dois anos de idade ou Venus e Serena Williams arrasando com aces no tênis quando ainda estavam no ensino fundamental.

A crença de que a especialização precoce e a repetição frequente contribuem para o domínio físico também foi reforçada pela pesquisa sobre conhecimento especializado realizada na década de 1990 pelo psicólogo K. Anders Ericsson, que morreu em 2020. Ele e seus colegas descobriram que músicos jovens que escolhem um instrumento em uma idade jovem e passam várias horas em aulas particulares e ensaios - treinos que ele chamou de “prática deliberada” - conquistam o maior domínio musical. Nesta pesquisa, o talento inato desempenha um papel menos importante na façanha do que a prática contínua.

Mas, desde então, outros cientistas têm questionado se é aconselhável limitar os jovens a uma atividade específica desde o início, principalmente nos esportes, porque a especialização precoce e a prática intensa podem aumentar o risco de lesões e exaustão.Nessa avaliação, mais vale as crianças estarem praticando diferentes esportes, com ênfase no brincar, não na competição, para ganhar entusiasmo, coordenação e, em algum momento, troféus e medalhas.

No entanto, poucos estudos em grande escala investigaram os históricos de atletas de sucesso em todos os níveis dos esportes para ver se a especialização precoce geralmente aumenta ou atrapalha as chances de alguém ganhar um lugar no pódio na Olimpíada ou se tornar a estrela de um time do ensino médio.

Então, para o novo estudo, que foi publicado em julho na revista científica Perspectives on Psychological Science, um grupo de cientistas do exercício e psicólogos do esporte da Alemanha e dos Estados Unidos decidiram reunir o máximo de dados possível a respeito de como os grandes atletas se tornaram quem são.

Eles começaram examinando minuciosamente bancos de dados que documentavam históricos de treinamento de atletas bem-sucedidos por meio de extensas entrevistas ou questionários. Terminaram com 51 estudos relevantes cobrindo 6.096 atletas, entre eles 772 campeões olímpicos ou mundiais. Alguns dos atletas competiram em esportes coletivos e outros em individuais. Alguns colecionaram vitórias e elogios quando crianças ou adolescentes; outros quando adultos; poucos em ambos os casos. Alguns chegaram ao auge com vitórias em eventos internacionais; outros em competições locais ou regionais. Em suma, os atletas representavam a gama de carreiras esportivas, de prodígios infantis a talentos que começaram mais tarde e aqueles que começaram muito bem e fracassaram.

Os pesquisadores então combinaram os dados dos estudos e começaram a comparar os passados e os resultados dos atletas. Eles rapidamente perceberam que a especialização precoce em esportes beneficiava certos atletas, mas apenas por pouco tempo.

Os cientistas descobriram que competidores juniores de nível mundial que acumulavam medalhas internacionais ainda na adolescência tendiam a se dedicar a um único esporte antes dos 12 anos, um ou dois anos antes da maioria de seus adversários, incluindo outros jovens atletas que se destacavam nos níveis regional e nacional. O que separava os ótimos jovens atletas deste grupo dos bons, em outras palavras, era escolher um esporte jovem e praticá-lo intensamente.

Mas no nível sênior ou de esportes para adultos, os dados mostraram que os impactos da especialização mudaram. (A maioria dos atletas seniores está na casa dos 20 ou 30 anos, embora cada esporte defina seu próprio limite de idade para as divisões júnior e sênior.) Os melhores atletas adultos do mundo, incluindo campeões olímpicos e mundiais, normalmente começaram a praticar esportes competitivos de qualquer tipo um ou dois anos depois dos outros atletas e praticaram menos horas ao longo de suas carreiras. A maioria também experimentou vários esportes, geralmente três ou quatro por ano, muitas vezes não se firmando em um único esporte até meados da adolescência ou mais, vários anos depois da maioria de seus futuros adversários. E poucos receberam atenção imediata ou reconhecimento de treinadores e dirigentes, raramente participando das equipes selecionadas no início de suas carreiras.

“A maioria dos atletas adultos de alta performance não eram prodígios quando crianças”, disse Arne Güllich, diretor do Instituto de Ciências Aplicadas ao Esporte da Universidade de Tecnologia Kaiserslautern, na Alemanha, que conduziu o novo estudo com os colegas americanos Brooke N. Macnamara da Universidade Case Western Reserve, em Cleveland, e David Zach Hambrick da Universidade do Estado do Michigan.

Esses padrões permaneceram verdadeiros para homens e mulheres, meninos e meninas, e em esportes coletivos e individuais.

Os resultados não explicam, entretanto, como um início lento e uma experiência com vários esportes na idade jovem podem contribuir para a excelência atlética posterior. Mas Güllich acredita que aqueles que começam tarde provavelmente experimentam menos estresse e exaustão do que as jovens superestrelas de um único esporte e ganham uma capacidade maior de aprender e progredir fisicamente treinando em uma variedade de esportes.

O estudo tem outras limitações. Ele é associativo, o que significa que mostra que os melhores atletas adultos raramente se especializam cedo, mas não prova que esse modo de agir causou seu sucesso. Além disso, não considerou fatores genéticos, familiares, financeiros, psicológicos ou outros fatores que pudessem influenciar a carreira esportiva. O estudo também se concentrou, de modo geral, nos melhores atletas do mundo, um grupo que dificilmente incluirá a maioria de nós ou nossos filhos.

Mas, ainda assim, os resultados parecem animadores para todos os jovens atletas que experimentam com entusiasmo uma variedade de esportes.

“As crianças devem praticar o esporte que mais gostam de praticar, no qual anseiam por cada treino, para se divertir com os amigos e o treinador”, disse Güllich. “Se a diversão diminui constantemente, talvez seja hora de tentar outro esporte”./ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Os melhores atletas do mundo, inclusive os olímpicos, raramente começam a competir ou se especializam no esporte que os tornará campeões quando muito novos, de acordo com um novo estudo provocativo sobre a formação atlética de milhares de atletas bem-sucedidos. Em vez disso, segundo a pesquisa, a maioria dos campeões mundiais testam um esporte atrás do outro quando crianças e ganham domínio nas atividades escolhidas consideravelmente mais tarde do que outros jovens atletas mais focados que, em algum momento, eles acabam derrotando.

O estudo, que contou com a participação de competidores do sexo masculino e feminino de uma grande variedade de esportes, oferece ensinamentos e alertas para pais, treinadores e atletas mirins em relação a como entender um talento, administrar expectativas, construir uma carreira de atleta e recalibrar a importância a longo prazo de crianças de 7 ou 8 anos participarem - ou não - dos times escolhidos para as ligas infantis.

A formação de um atleta olímpico. Foto: Aleksandra Szmigiel/Reuters

No entanto, quando se é pai de um esportista, é difícil não acreditar que o sucesso atlético de seu filho exige especialização precoce. A maioria de nós está muito familiarizada com as histórias recorrentes de pequenos prodígios do esporte e o enorme sucesso deles, como Tiger Woods acertando tacadas aos dois anos de idade ou Venus e Serena Williams arrasando com aces no tênis quando ainda estavam no ensino fundamental.

A crença de que a especialização precoce e a repetição frequente contribuem para o domínio físico também foi reforçada pela pesquisa sobre conhecimento especializado realizada na década de 1990 pelo psicólogo K. Anders Ericsson, que morreu em 2020. Ele e seus colegas descobriram que músicos jovens que escolhem um instrumento em uma idade jovem e passam várias horas em aulas particulares e ensaios - treinos que ele chamou de “prática deliberada” - conquistam o maior domínio musical. Nesta pesquisa, o talento inato desempenha um papel menos importante na façanha do que a prática contínua.

Mas, desde então, outros cientistas têm questionado se é aconselhável limitar os jovens a uma atividade específica desde o início, principalmente nos esportes, porque a especialização precoce e a prática intensa podem aumentar o risco de lesões e exaustão.Nessa avaliação, mais vale as crianças estarem praticando diferentes esportes, com ênfase no brincar, não na competição, para ganhar entusiasmo, coordenação e, em algum momento, troféus e medalhas.

No entanto, poucos estudos em grande escala investigaram os históricos de atletas de sucesso em todos os níveis dos esportes para ver se a especialização precoce geralmente aumenta ou atrapalha as chances de alguém ganhar um lugar no pódio na Olimpíada ou se tornar a estrela de um time do ensino médio.

Então, para o novo estudo, que foi publicado em julho na revista científica Perspectives on Psychological Science, um grupo de cientistas do exercício e psicólogos do esporte da Alemanha e dos Estados Unidos decidiram reunir o máximo de dados possível a respeito de como os grandes atletas se tornaram quem são.

Eles começaram examinando minuciosamente bancos de dados que documentavam históricos de treinamento de atletas bem-sucedidos por meio de extensas entrevistas ou questionários. Terminaram com 51 estudos relevantes cobrindo 6.096 atletas, entre eles 772 campeões olímpicos ou mundiais. Alguns dos atletas competiram em esportes coletivos e outros em individuais. Alguns colecionaram vitórias e elogios quando crianças ou adolescentes; outros quando adultos; poucos em ambos os casos. Alguns chegaram ao auge com vitórias em eventos internacionais; outros em competições locais ou regionais. Em suma, os atletas representavam a gama de carreiras esportivas, de prodígios infantis a talentos que começaram mais tarde e aqueles que começaram muito bem e fracassaram.

Os pesquisadores então combinaram os dados dos estudos e começaram a comparar os passados e os resultados dos atletas. Eles rapidamente perceberam que a especialização precoce em esportes beneficiava certos atletas, mas apenas por pouco tempo.

Os cientistas descobriram que competidores juniores de nível mundial que acumulavam medalhas internacionais ainda na adolescência tendiam a se dedicar a um único esporte antes dos 12 anos, um ou dois anos antes da maioria de seus adversários, incluindo outros jovens atletas que se destacavam nos níveis regional e nacional. O que separava os ótimos jovens atletas deste grupo dos bons, em outras palavras, era escolher um esporte jovem e praticá-lo intensamente.

Mas no nível sênior ou de esportes para adultos, os dados mostraram que os impactos da especialização mudaram. (A maioria dos atletas seniores está na casa dos 20 ou 30 anos, embora cada esporte defina seu próprio limite de idade para as divisões júnior e sênior.) Os melhores atletas adultos do mundo, incluindo campeões olímpicos e mundiais, normalmente começaram a praticar esportes competitivos de qualquer tipo um ou dois anos depois dos outros atletas e praticaram menos horas ao longo de suas carreiras. A maioria também experimentou vários esportes, geralmente três ou quatro por ano, muitas vezes não se firmando em um único esporte até meados da adolescência ou mais, vários anos depois da maioria de seus futuros adversários. E poucos receberam atenção imediata ou reconhecimento de treinadores e dirigentes, raramente participando das equipes selecionadas no início de suas carreiras.

“A maioria dos atletas adultos de alta performance não eram prodígios quando crianças”, disse Arne Güllich, diretor do Instituto de Ciências Aplicadas ao Esporte da Universidade de Tecnologia Kaiserslautern, na Alemanha, que conduziu o novo estudo com os colegas americanos Brooke N. Macnamara da Universidade Case Western Reserve, em Cleveland, e David Zach Hambrick da Universidade do Estado do Michigan.

Esses padrões permaneceram verdadeiros para homens e mulheres, meninos e meninas, e em esportes coletivos e individuais.

Os resultados não explicam, entretanto, como um início lento e uma experiência com vários esportes na idade jovem podem contribuir para a excelência atlética posterior. Mas Güllich acredita que aqueles que começam tarde provavelmente experimentam menos estresse e exaustão do que as jovens superestrelas de um único esporte e ganham uma capacidade maior de aprender e progredir fisicamente treinando em uma variedade de esportes.

O estudo tem outras limitações. Ele é associativo, o que significa que mostra que os melhores atletas adultos raramente se especializam cedo, mas não prova que esse modo de agir causou seu sucesso. Além disso, não considerou fatores genéticos, familiares, financeiros, psicológicos ou outros fatores que pudessem influenciar a carreira esportiva. O estudo também se concentrou, de modo geral, nos melhores atletas do mundo, um grupo que dificilmente incluirá a maioria de nós ou nossos filhos.

Mas, ainda assim, os resultados parecem animadores para todos os jovens atletas que experimentam com entusiasmo uma variedade de esportes.

“As crianças devem praticar o esporte que mais gostam de praticar, no qual anseiam por cada treino, para se divertir com os amigos e o treinador”, disse Güllich. “Se a diversão diminui constantemente, talvez seja hora de tentar outro esporte”./ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Os melhores atletas do mundo, inclusive os olímpicos, raramente começam a competir ou se especializam no esporte que os tornará campeões quando muito novos, de acordo com um novo estudo provocativo sobre a formação atlética de milhares de atletas bem-sucedidos. Em vez disso, segundo a pesquisa, a maioria dos campeões mundiais testam um esporte atrás do outro quando crianças e ganham domínio nas atividades escolhidas consideravelmente mais tarde do que outros jovens atletas mais focados que, em algum momento, eles acabam derrotando.

O estudo, que contou com a participação de competidores do sexo masculino e feminino de uma grande variedade de esportes, oferece ensinamentos e alertas para pais, treinadores e atletas mirins em relação a como entender um talento, administrar expectativas, construir uma carreira de atleta e recalibrar a importância a longo prazo de crianças de 7 ou 8 anos participarem - ou não - dos times escolhidos para as ligas infantis.

A formação de um atleta olímpico. Foto: Aleksandra Szmigiel/Reuters

No entanto, quando se é pai de um esportista, é difícil não acreditar que o sucesso atlético de seu filho exige especialização precoce. A maioria de nós está muito familiarizada com as histórias recorrentes de pequenos prodígios do esporte e o enorme sucesso deles, como Tiger Woods acertando tacadas aos dois anos de idade ou Venus e Serena Williams arrasando com aces no tênis quando ainda estavam no ensino fundamental.

A crença de que a especialização precoce e a repetição frequente contribuem para o domínio físico também foi reforçada pela pesquisa sobre conhecimento especializado realizada na década de 1990 pelo psicólogo K. Anders Ericsson, que morreu em 2020. Ele e seus colegas descobriram que músicos jovens que escolhem um instrumento em uma idade jovem e passam várias horas em aulas particulares e ensaios - treinos que ele chamou de “prática deliberada” - conquistam o maior domínio musical. Nesta pesquisa, o talento inato desempenha um papel menos importante na façanha do que a prática contínua.

Mas, desde então, outros cientistas têm questionado se é aconselhável limitar os jovens a uma atividade específica desde o início, principalmente nos esportes, porque a especialização precoce e a prática intensa podem aumentar o risco de lesões e exaustão.Nessa avaliação, mais vale as crianças estarem praticando diferentes esportes, com ênfase no brincar, não na competição, para ganhar entusiasmo, coordenação e, em algum momento, troféus e medalhas.

No entanto, poucos estudos em grande escala investigaram os históricos de atletas de sucesso em todos os níveis dos esportes para ver se a especialização precoce geralmente aumenta ou atrapalha as chances de alguém ganhar um lugar no pódio na Olimpíada ou se tornar a estrela de um time do ensino médio.

Então, para o novo estudo, que foi publicado em julho na revista científica Perspectives on Psychological Science, um grupo de cientistas do exercício e psicólogos do esporte da Alemanha e dos Estados Unidos decidiram reunir o máximo de dados possível a respeito de como os grandes atletas se tornaram quem são.

Eles começaram examinando minuciosamente bancos de dados que documentavam históricos de treinamento de atletas bem-sucedidos por meio de extensas entrevistas ou questionários. Terminaram com 51 estudos relevantes cobrindo 6.096 atletas, entre eles 772 campeões olímpicos ou mundiais. Alguns dos atletas competiram em esportes coletivos e outros em individuais. Alguns colecionaram vitórias e elogios quando crianças ou adolescentes; outros quando adultos; poucos em ambos os casos. Alguns chegaram ao auge com vitórias em eventos internacionais; outros em competições locais ou regionais. Em suma, os atletas representavam a gama de carreiras esportivas, de prodígios infantis a talentos que começaram mais tarde e aqueles que começaram muito bem e fracassaram.

Os pesquisadores então combinaram os dados dos estudos e começaram a comparar os passados e os resultados dos atletas. Eles rapidamente perceberam que a especialização precoce em esportes beneficiava certos atletas, mas apenas por pouco tempo.

Os cientistas descobriram que competidores juniores de nível mundial que acumulavam medalhas internacionais ainda na adolescência tendiam a se dedicar a um único esporte antes dos 12 anos, um ou dois anos antes da maioria de seus adversários, incluindo outros jovens atletas que se destacavam nos níveis regional e nacional. O que separava os ótimos jovens atletas deste grupo dos bons, em outras palavras, era escolher um esporte jovem e praticá-lo intensamente.

Mas no nível sênior ou de esportes para adultos, os dados mostraram que os impactos da especialização mudaram. (A maioria dos atletas seniores está na casa dos 20 ou 30 anos, embora cada esporte defina seu próprio limite de idade para as divisões júnior e sênior.) Os melhores atletas adultos do mundo, incluindo campeões olímpicos e mundiais, normalmente começaram a praticar esportes competitivos de qualquer tipo um ou dois anos depois dos outros atletas e praticaram menos horas ao longo de suas carreiras. A maioria também experimentou vários esportes, geralmente três ou quatro por ano, muitas vezes não se firmando em um único esporte até meados da adolescência ou mais, vários anos depois da maioria de seus futuros adversários. E poucos receberam atenção imediata ou reconhecimento de treinadores e dirigentes, raramente participando das equipes selecionadas no início de suas carreiras.

“A maioria dos atletas adultos de alta performance não eram prodígios quando crianças”, disse Arne Güllich, diretor do Instituto de Ciências Aplicadas ao Esporte da Universidade de Tecnologia Kaiserslautern, na Alemanha, que conduziu o novo estudo com os colegas americanos Brooke N. Macnamara da Universidade Case Western Reserve, em Cleveland, e David Zach Hambrick da Universidade do Estado do Michigan.

Esses padrões permaneceram verdadeiros para homens e mulheres, meninos e meninas, e em esportes coletivos e individuais.

Os resultados não explicam, entretanto, como um início lento e uma experiência com vários esportes na idade jovem podem contribuir para a excelência atlética posterior. Mas Güllich acredita que aqueles que começam tarde provavelmente experimentam menos estresse e exaustão do que as jovens superestrelas de um único esporte e ganham uma capacidade maior de aprender e progredir fisicamente treinando em uma variedade de esportes.

O estudo tem outras limitações. Ele é associativo, o que significa que mostra que os melhores atletas adultos raramente se especializam cedo, mas não prova que esse modo de agir causou seu sucesso. Além disso, não considerou fatores genéticos, familiares, financeiros, psicológicos ou outros fatores que pudessem influenciar a carreira esportiva. O estudo também se concentrou, de modo geral, nos melhores atletas do mundo, um grupo que dificilmente incluirá a maioria de nós ou nossos filhos.

Mas, ainda assim, os resultados parecem animadores para todos os jovens atletas que experimentam com entusiasmo uma variedade de esportes.

“As crianças devem praticar o esporte que mais gostam de praticar, no qual anseiam por cada treino, para se divertir com os amigos e o treinador”, disse Güllich. “Se a diversão diminui constantemente, talvez seja hora de tentar outro esporte”./ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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