Há 100 anos, 1º ouro olímpico do Brasil veio no tiro após furto e viagem difícil


Além da medalha de Guilherme Paraense, Afrânio da Costa conseguiu prata e equipe brasileira festejou o bronze na Olimpíada da Antuérpia-1920 

Por André Carlos Zorzi
Atualização:

O Brasil conquistou sua primeira medalha de ouro em uma Olimpíada nos jogos da Antuérpia, em 3 de agosto de 1920, há 100 anos. Guilherme Paraense foi o autor do feito no tiro esportivo. Um dia antes, Afrânio da Costa e a equipe da modalidade haviam conquistado a primeira prata e o primeiro bronze para o País. O Estadão relembra parte dos acontecimentos que levaram ao momento histórico, como atletas dormindo no chão do navio em uma longa viagem, atrasos e até o furto de armas e munições da delegação.

Fernando Soledade, Tenente Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Tenente Mário Maurety e Dario Barbosa nos Jogos Olímpicos da Antuérpia 1920 Foto: Afrânio da Costa/arquivo pessoal

Imprevistos na longa viagem à Antuérpia-1920

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A delegação brasileira partiu em viagem à Bélgica em 1º de julho de 1920, um mês antes do início dos Jogos, no navio Curvelo. Um relato de Afrânio da Costa presente no livro A História do Tiro Esportivo Brasileiro e divulgado no site brasil2016.gov.br, à época da Olimpíada no Rio, dá mais detalhes sobre como foi a viagem.

Em um navio considerado de "3ª classe", os atletas pediram ao comandante para dormir no bar, onde havia mais espaço e menos falta de ar. Houve permissão, desde que esperassem a saída do último freguês. Por isso, dormiram no chão durante a maior parte da viagem.

Informações desencontradas também atrapalharam a delegação brasileira de tiro. Antes de chegar à Europa continental, em parada na Ilha da Madeira, descobriram que a chegada do navio à Antuérpia estava prevista para 5 de agosto, dias após as suas provas no programa da disputa. Na ocasião, acreditavam que disputariam competições a partir de 22 de julho. Assim que chegaram em Lisboa decidiram 'abandonar' o barco e ir à Bélgica de trem, para chegar mais rápido.

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As provas de tiro foram disputadas no campo de Beverloo, a 18 km da Antuérpia. Os brasileiros chegaram ao local somente em 26 de julho, mas, com o adiamento de algumas provas, puderam participar.

Roubo, ajuda dos americanos e 1ª medalha

Um grave problema, porém, surgiu ao longo do caminho: armas, alvos e munições foram roubados. Afrânio da Costa conhecia o coronel George Sanders, da delegação americana, que acabou cedendo cerca de duas mil balas e emprestou duas pistolas. Em relatório oficial entregue por Afrânio após o torneio, a história é retratada: "Nesta ocasião, o coronel Snyders, do Exército Americano, e capitão da equipe de pistola livre, me disse: 'Sr. Costa, essa arma não vale nada, vou arranjar duas para os senhores, feitas especialmente para nós pela fábrica Colt'. E voltou pouco depois trazendo duas belíssimas armas. Retificadas as armas por ele próprio, entregou-as desejando melhor resultado".

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Uma delas, a Colt 22 que havia sido usada por Alfred Lane para levar o ouro nos jogos de Estocolmo-1912, foi emprestada para Afrânio superar o próprio Lane e conquistar a primeira medalha de prata da história do Brasil, na categoria Pistola Livre, a uma distância de 50m, que tinha 36 inscritos vindos de 13 países. O ouro ficou com o americano Karl Frederick, que fez 496 pontos. O brasileiro conseguiu 489, oito a mais que Lane.

O primeiro ouro do Brasil em Olimpíadas

Na categoria de pistola de tiro rápido, com distância de 30 metros, 38 atletas vindos de 14 países disputavam a medalha de ouro. Guilherme Paraense fez 274 pontos, dois a mais que Raymond Bracken (Estados Unidos), e cinco a mais que Friz Zulauf (Suíça) e tornou-se o primeiro brasileiro a subir ao lugar mais alto do pódio - o que não se repetiria até o ouro de Adhemar Ferreira da Silva, no salto triplo, em Helsinque-1952. Ao tomar conhecimento dos resultados, consta que Paraense foi carregado nos braços até por adversários na hora da comemoração, retratando o espírito olímpico.

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Segundo uma das netas do atleta, Valéria, a arma utilizada por seu avô teria sido uma das únicas que não foi roubada. "Eu já li em vários lugares sobre isso e essa história das armas emprestadas de fato existiu. Mas elas foram emprestadas para o Afrânio. Meu avô competiu com a arma dele".

Guilherme Paraense seguiu a carreira militar e chegou ao posto de coronel do Exército. Morreu em 19 de abril de 1968, aos 83 anos de idade. Em São Paulo, o medalhista foi homenageado com a Rua Guilherme Paraense, antiga Rua 10, no decreto nº 9.204, de 16 de dezembro de 1970. Atualmente, o local fica próximo ao Parque da Juventude e à estação de metrô Carandiru.

Após os Jogos, Afrânio Costa continuou trabalhando na área da Justiça e foi nomeado ministro do TFR (Tribunal Federal de Recursos) em 1947. Foi convocado a substituir os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Edgar Costa, em 1952, e Rocha Lagôa, em 1954. Em 1930, ele foi chefe da delegação brasileira que disputou a 1ª Copa do Mundo de futebol, no Uruguai. Morreu em 1979, aos 87 anos.

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O bronze no tiro em equipes

Na competição em pistola livre por equipes, com distância de 50 metros, o Brasil conseguiu o bronze, entre 12 países, em 2 de agosto, ao fazer 2.264 pontos, à frente dos gregos, que ficaram em 4º com 2.240. Os americanos venceram com 2.372 pontos e os suecos ficaram com a prata com 2.289. A equipe era composta por Afrânio da Costa, Guilherme Paraense, Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade.

Na disputa em pistola de tiro rápido por equipes, o Brasil chegou perto de conseguir outra medalha, mas acabou na 4ª colocação, com 1.261 pontos, atrás dos suíços, que levaram o bronze com 1.270. A equipe era composta por Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Sebastião Wolf, Demerval Peixoto e Mauro Maurity. Os atletas do tiro voltaram ao Brasil apenas em 31 de outubro daquele ano, quando o transatlântico Almanzora desembarcou no Rio. Assim como antes de partir, eles se encontraram com Epitácio Pessoa, então presidente do País, uma prática mantida até os dias atuais.

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O tiro brasileiro seguiu sem medalhas nos Jogos até o Rio-2016, quando Felipe Wu conquistou a medalha de prata na prova de pistola de ar 10 metros.

O Brasil conquistou sua primeira medalha de ouro em uma Olimpíada nos jogos da Antuérpia, em 3 de agosto de 1920, há 100 anos. Guilherme Paraense foi o autor do feito no tiro esportivo. Um dia antes, Afrânio da Costa e a equipe da modalidade haviam conquistado a primeira prata e o primeiro bronze para o País. O Estadão relembra parte dos acontecimentos que levaram ao momento histórico, como atletas dormindo no chão do navio em uma longa viagem, atrasos e até o furto de armas e munições da delegação.

Fernando Soledade, Tenente Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Tenente Mário Maurety e Dario Barbosa nos Jogos Olímpicos da Antuérpia 1920 Foto: Afrânio da Costa/arquivo pessoal

Imprevistos na longa viagem à Antuérpia-1920

A delegação brasileira partiu em viagem à Bélgica em 1º de julho de 1920, um mês antes do início dos Jogos, no navio Curvelo. Um relato de Afrânio da Costa presente no livro A História do Tiro Esportivo Brasileiro e divulgado no site brasil2016.gov.br, à época da Olimpíada no Rio, dá mais detalhes sobre como foi a viagem.

Em um navio considerado de "3ª classe", os atletas pediram ao comandante para dormir no bar, onde havia mais espaço e menos falta de ar. Houve permissão, desde que esperassem a saída do último freguês. Por isso, dormiram no chão durante a maior parte da viagem.

Informações desencontradas também atrapalharam a delegação brasileira de tiro. Antes de chegar à Europa continental, em parada na Ilha da Madeira, descobriram que a chegada do navio à Antuérpia estava prevista para 5 de agosto, dias após as suas provas no programa da disputa. Na ocasião, acreditavam que disputariam competições a partir de 22 de julho. Assim que chegaram em Lisboa decidiram 'abandonar' o barco e ir à Bélgica de trem, para chegar mais rápido.

As provas de tiro foram disputadas no campo de Beverloo, a 18 km da Antuérpia. Os brasileiros chegaram ao local somente em 26 de julho, mas, com o adiamento de algumas provas, puderam participar.

Roubo, ajuda dos americanos e 1ª medalha

Um grave problema, porém, surgiu ao longo do caminho: armas, alvos e munições foram roubados. Afrânio da Costa conhecia o coronel George Sanders, da delegação americana, que acabou cedendo cerca de duas mil balas e emprestou duas pistolas. Em relatório oficial entregue por Afrânio após o torneio, a história é retratada: "Nesta ocasião, o coronel Snyders, do Exército Americano, e capitão da equipe de pistola livre, me disse: 'Sr. Costa, essa arma não vale nada, vou arranjar duas para os senhores, feitas especialmente para nós pela fábrica Colt'. E voltou pouco depois trazendo duas belíssimas armas. Retificadas as armas por ele próprio, entregou-as desejando melhor resultado".

Uma delas, a Colt 22 que havia sido usada por Alfred Lane para levar o ouro nos jogos de Estocolmo-1912, foi emprestada para Afrânio superar o próprio Lane e conquistar a primeira medalha de prata da história do Brasil, na categoria Pistola Livre, a uma distância de 50m, que tinha 36 inscritos vindos de 13 países. O ouro ficou com o americano Karl Frederick, que fez 496 pontos. O brasileiro conseguiu 489, oito a mais que Lane.

O primeiro ouro do Brasil em Olimpíadas

Na categoria de pistola de tiro rápido, com distância de 30 metros, 38 atletas vindos de 14 países disputavam a medalha de ouro. Guilherme Paraense fez 274 pontos, dois a mais que Raymond Bracken (Estados Unidos), e cinco a mais que Friz Zulauf (Suíça) e tornou-se o primeiro brasileiro a subir ao lugar mais alto do pódio - o que não se repetiria até o ouro de Adhemar Ferreira da Silva, no salto triplo, em Helsinque-1952. Ao tomar conhecimento dos resultados, consta que Paraense foi carregado nos braços até por adversários na hora da comemoração, retratando o espírito olímpico.

Segundo uma das netas do atleta, Valéria, a arma utilizada por seu avô teria sido uma das únicas que não foi roubada. "Eu já li em vários lugares sobre isso e essa história das armas emprestadas de fato existiu. Mas elas foram emprestadas para o Afrânio. Meu avô competiu com a arma dele".

Guilherme Paraense seguiu a carreira militar e chegou ao posto de coronel do Exército. Morreu em 19 de abril de 1968, aos 83 anos de idade. Em São Paulo, o medalhista foi homenageado com a Rua Guilherme Paraense, antiga Rua 10, no decreto nº 9.204, de 16 de dezembro de 1970. Atualmente, o local fica próximo ao Parque da Juventude e à estação de metrô Carandiru.

Após os Jogos, Afrânio Costa continuou trabalhando na área da Justiça e foi nomeado ministro do TFR (Tribunal Federal de Recursos) em 1947. Foi convocado a substituir os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Edgar Costa, em 1952, e Rocha Lagôa, em 1954. Em 1930, ele foi chefe da delegação brasileira que disputou a 1ª Copa do Mundo de futebol, no Uruguai. Morreu em 1979, aos 87 anos.

O bronze no tiro em equipes

Na competição em pistola livre por equipes, com distância de 50 metros, o Brasil conseguiu o bronze, entre 12 países, em 2 de agosto, ao fazer 2.264 pontos, à frente dos gregos, que ficaram em 4º com 2.240. Os americanos venceram com 2.372 pontos e os suecos ficaram com a prata com 2.289. A equipe era composta por Afrânio da Costa, Guilherme Paraense, Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade.

Na disputa em pistola de tiro rápido por equipes, o Brasil chegou perto de conseguir outra medalha, mas acabou na 4ª colocação, com 1.261 pontos, atrás dos suíços, que levaram o bronze com 1.270. A equipe era composta por Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Sebastião Wolf, Demerval Peixoto e Mauro Maurity. Os atletas do tiro voltaram ao Brasil apenas em 31 de outubro daquele ano, quando o transatlântico Almanzora desembarcou no Rio. Assim como antes de partir, eles se encontraram com Epitácio Pessoa, então presidente do País, uma prática mantida até os dias atuais.

O tiro brasileiro seguiu sem medalhas nos Jogos até o Rio-2016, quando Felipe Wu conquistou a medalha de prata na prova de pistola de ar 10 metros.

O Brasil conquistou sua primeira medalha de ouro em uma Olimpíada nos jogos da Antuérpia, em 3 de agosto de 1920, há 100 anos. Guilherme Paraense foi o autor do feito no tiro esportivo. Um dia antes, Afrânio da Costa e a equipe da modalidade haviam conquistado a primeira prata e o primeiro bronze para o País. O Estadão relembra parte dos acontecimentos que levaram ao momento histórico, como atletas dormindo no chão do navio em uma longa viagem, atrasos e até o furto de armas e munições da delegação.

Fernando Soledade, Tenente Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Tenente Mário Maurety e Dario Barbosa nos Jogos Olímpicos da Antuérpia 1920 Foto: Afrânio da Costa/arquivo pessoal

Imprevistos na longa viagem à Antuérpia-1920

A delegação brasileira partiu em viagem à Bélgica em 1º de julho de 1920, um mês antes do início dos Jogos, no navio Curvelo. Um relato de Afrânio da Costa presente no livro A História do Tiro Esportivo Brasileiro e divulgado no site brasil2016.gov.br, à época da Olimpíada no Rio, dá mais detalhes sobre como foi a viagem.

Em um navio considerado de "3ª classe", os atletas pediram ao comandante para dormir no bar, onde havia mais espaço e menos falta de ar. Houve permissão, desde que esperassem a saída do último freguês. Por isso, dormiram no chão durante a maior parte da viagem.

Informações desencontradas também atrapalharam a delegação brasileira de tiro. Antes de chegar à Europa continental, em parada na Ilha da Madeira, descobriram que a chegada do navio à Antuérpia estava prevista para 5 de agosto, dias após as suas provas no programa da disputa. Na ocasião, acreditavam que disputariam competições a partir de 22 de julho. Assim que chegaram em Lisboa decidiram 'abandonar' o barco e ir à Bélgica de trem, para chegar mais rápido.

As provas de tiro foram disputadas no campo de Beverloo, a 18 km da Antuérpia. Os brasileiros chegaram ao local somente em 26 de julho, mas, com o adiamento de algumas provas, puderam participar.

Roubo, ajuda dos americanos e 1ª medalha

Um grave problema, porém, surgiu ao longo do caminho: armas, alvos e munições foram roubados. Afrânio da Costa conhecia o coronel George Sanders, da delegação americana, que acabou cedendo cerca de duas mil balas e emprestou duas pistolas. Em relatório oficial entregue por Afrânio após o torneio, a história é retratada: "Nesta ocasião, o coronel Snyders, do Exército Americano, e capitão da equipe de pistola livre, me disse: 'Sr. Costa, essa arma não vale nada, vou arranjar duas para os senhores, feitas especialmente para nós pela fábrica Colt'. E voltou pouco depois trazendo duas belíssimas armas. Retificadas as armas por ele próprio, entregou-as desejando melhor resultado".

Uma delas, a Colt 22 que havia sido usada por Alfred Lane para levar o ouro nos jogos de Estocolmo-1912, foi emprestada para Afrânio superar o próprio Lane e conquistar a primeira medalha de prata da história do Brasil, na categoria Pistola Livre, a uma distância de 50m, que tinha 36 inscritos vindos de 13 países. O ouro ficou com o americano Karl Frederick, que fez 496 pontos. O brasileiro conseguiu 489, oito a mais que Lane.

O primeiro ouro do Brasil em Olimpíadas

Na categoria de pistola de tiro rápido, com distância de 30 metros, 38 atletas vindos de 14 países disputavam a medalha de ouro. Guilherme Paraense fez 274 pontos, dois a mais que Raymond Bracken (Estados Unidos), e cinco a mais que Friz Zulauf (Suíça) e tornou-se o primeiro brasileiro a subir ao lugar mais alto do pódio - o que não se repetiria até o ouro de Adhemar Ferreira da Silva, no salto triplo, em Helsinque-1952. Ao tomar conhecimento dos resultados, consta que Paraense foi carregado nos braços até por adversários na hora da comemoração, retratando o espírito olímpico.

Segundo uma das netas do atleta, Valéria, a arma utilizada por seu avô teria sido uma das únicas que não foi roubada. "Eu já li em vários lugares sobre isso e essa história das armas emprestadas de fato existiu. Mas elas foram emprestadas para o Afrânio. Meu avô competiu com a arma dele".

Guilherme Paraense seguiu a carreira militar e chegou ao posto de coronel do Exército. Morreu em 19 de abril de 1968, aos 83 anos de idade. Em São Paulo, o medalhista foi homenageado com a Rua Guilherme Paraense, antiga Rua 10, no decreto nº 9.204, de 16 de dezembro de 1970. Atualmente, o local fica próximo ao Parque da Juventude e à estação de metrô Carandiru.

Após os Jogos, Afrânio Costa continuou trabalhando na área da Justiça e foi nomeado ministro do TFR (Tribunal Federal de Recursos) em 1947. Foi convocado a substituir os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Edgar Costa, em 1952, e Rocha Lagôa, em 1954. Em 1930, ele foi chefe da delegação brasileira que disputou a 1ª Copa do Mundo de futebol, no Uruguai. Morreu em 1979, aos 87 anos.

O bronze no tiro em equipes

Na competição em pistola livre por equipes, com distância de 50 metros, o Brasil conseguiu o bronze, entre 12 países, em 2 de agosto, ao fazer 2.264 pontos, à frente dos gregos, que ficaram em 4º com 2.240. Os americanos venceram com 2.372 pontos e os suecos ficaram com a prata com 2.289. A equipe era composta por Afrânio da Costa, Guilherme Paraense, Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade.

Na disputa em pistola de tiro rápido por equipes, o Brasil chegou perto de conseguir outra medalha, mas acabou na 4ª colocação, com 1.261 pontos, atrás dos suíços, que levaram o bronze com 1.270. A equipe era composta por Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Sebastião Wolf, Demerval Peixoto e Mauro Maurity. Os atletas do tiro voltaram ao Brasil apenas em 31 de outubro daquele ano, quando o transatlântico Almanzora desembarcou no Rio. Assim como antes de partir, eles se encontraram com Epitácio Pessoa, então presidente do País, uma prática mantida até os dias atuais.

O tiro brasileiro seguiu sem medalhas nos Jogos até o Rio-2016, quando Felipe Wu conquistou a medalha de prata na prova de pistola de ar 10 metros.

O Brasil conquistou sua primeira medalha de ouro em uma Olimpíada nos jogos da Antuérpia, em 3 de agosto de 1920, há 100 anos. Guilherme Paraense foi o autor do feito no tiro esportivo. Um dia antes, Afrânio da Costa e a equipe da modalidade haviam conquistado a primeira prata e o primeiro bronze para o País. O Estadão relembra parte dos acontecimentos que levaram ao momento histórico, como atletas dormindo no chão do navio em uma longa viagem, atrasos e até o furto de armas e munições da delegação.

Fernando Soledade, Tenente Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Tenente Mário Maurety e Dario Barbosa nos Jogos Olímpicos da Antuérpia 1920 Foto: Afrânio da Costa/arquivo pessoal

Imprevistos na longa viagem à Antuérpia-1920

A delegação brasileira partiu em viagem à Bélgica em 1º de julho de 1920, um mês antes do início dos Jogos, no navio Curvelo. Um relato de Afrânio da Costa presente no livro A História do Tiro Esportivo Brasileiro e divulgado no site brasil2016.gov.br, à época da Olimpíada no Rio, dá mais detalhes sobre como foi a viagem.

Em um navio considerado de "3ª classe", os atletas pediram ao comandante para dormir no bar, onde havia mais espaço e menos falta de ar. Houve permissão, desde que esperassem a saída do último freguês. Por isso, dormiram no chão durante a maior parte da viagem.

Informações desencontradas também atrapalharam a delegação brasileira de tiro. Antes de chegar à Europa continental, em parada na Ilha da Madeira, descobriram que a chegada do navio à Antuérpia estava prevista para 5 de agosto, dias após as suas provas no programa da disputa. Na ocasião, acreditavam que disputariam competições a partir de 22 de julho. Assim que chegaram em Lisboa decidiram 'abandonar' o barco e ir à Bélgica de trem, para chegar mais rápido.

As provas de tiro foram disputadas no campo de Beverloo, a 18 km da Antuérpia. Os brasileiros chegaram ao local somente em 26 de julho, mas, com o adiamento de algumas provas, puderam participar.

Roubo, ajuda dos americanos e 1ª medalha

Um grave problema, porém, surgiu ao longo do caminho: armas, alvos e munições foram roubados. Afrânio da Costa conhecia o coronel George Sanders, da delegação americana, que acabou cedendo cerca de duas mil balas e emprestou duas pistolas. Em relatório oficial entregue por Afrânio após o torneio, a história é retratada: "Nesta ocasião, o coronel Snyders, do Exército Americano, e capitão da equipe de pistola livre, me disse: 'Sr. Costa, essa arma não vale nada, vou arranjar duas para os senhores, feitas especialmente para nós pela fábrica Colt'. E voltou pouco depois trazendo duas belíssimas armas. Retificadas as armas por ele próprio, entregou-as desejando melhor resultado".

Uma delas, a Colt 22 que havia sido usada por Alfred Lane para levar o ouro nos jogos de Estocolmo-1912, foi emprestada para Afrânio superar o próprio Lane e conquistar a primeira medalha de prata da história do Brasil, na categoria Pistola Livre, a uma distância de 50m, que tinha 36 inscritos vindos de 13 países. O ouro ficou com o americano Karl Frederick, que fez 496 pontos. O brasileiro conseguiu 489, oito a mais que Lane.

O primeiro ouro do Brasil em Olimpíadas

Na categoria de pistola de tiro rápido, com distância de 30 metros, 38 atletas vindos de 14 países disputavam a medalha de ouro. Guilherme Paraense fez 274 pontos, dois a mais que Raymond Bracken (Estados Unidos), e cinco a mais que Friz Zulauf (Suíça) e tornou-se o primeiro brasileiro a subir ao lugar mais alto do pódio - o que não se repetiria até o ouro de Adhemar Ferreira da Silva, no salto triplo, em Helsinque-1952. Ao tomar conhecimento dos resultados, consta que Paraense foi carregado nos braços até por adversários na hora da comemoração, retratando o espírito olímpico.

Segundo uma das netas do atleta, Valéria, a arma utilizada por seu avô teria sido uma das únicas que não foi roubada. "Eu já li em vários lugares sobre isso e essa história das armas emprestadas de fato existiu. Mas elas foram emprestadas para o Afrânio. Meu avô competiu com a arma dele".

Guilherme Paraense seguiu a carreira militar e chegou ao posto de coronel do Exército. Morreu em 19 de abril de 1968, aos 83 anos de idade. Em São Paulo, o medalhista foi homenageado com a Rua Guilherme Paraense, antiga Rua 10, no decreto nº 9.204, de 16 de dezembro de 1970. Atualmente, o local fica próximo ao Parque da Juventude e à estação de metrô Carandiru.

Após os Jogos, Afrânio Costa continuou trabalhando na área da Justiça e foi nomeado ministro do TFR (Tribunal Federal de Recursos) em 1947. Foi convocado a substituir os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Edgar Costa, em 1952, e Rocha Lagôa, em 1954. Em 1930, ele foi chefe da delegação brasileira que disputou a 1ª Copa do Mundo de futebol, no Uruguai. Morreu em 1979, aos 87 anos.

O bronze no tiro em equipes

Na competição em pistola livre por equipes, com distância de 50 metros, o Brasil conseguiu o bronze, entre 12 países, em 2 de agosto, ao fazer 2.264 pontos, à frente dos gregos, que ficaram em 4º com 2.240. Os americanos venceram com 2.372 pontos e os suecos ficaram com a prata com 2.289. A equipe era composta por Afrânio da Costa, Guilherme Paraense, Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade.

Na disputa em pistola de tiro rápido por equipes, o Brasil chegou perto de conseguir outra medalha, mas acabou na 4ª colocação, com 1.261 pontos, atrás dos suíços, que levaram o bronze com 1.270. A equipe era composta por Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Sebastião Wolf, Demerval Peixoto e Mauro Maurity. Os atletas do tiro voltaram ao Brasil apenas em 31 de outubro daquele ano, quando o transatlântico Almanzora desembarcou no Rio. Assim como antes de partir, eles se encontraram com Epitácio Pessoa, então presidente do País, uma prática mantida até os dias atuais.

O tiro brasileiro seguiu sem medalhas nos Jogos até o Rio-2016, quando Felipe Wu conquistou a medalha de prata na prova de pistola de ar 10 metros.

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