Marcelo Portela O Palácio do Planalto tentou ontem amenizar as críticas à interferência política no corte de juros anunciado pelo Banco Central. Além de mobilizar integrantes do primeiro escalão, a própria presidente Dilma Rousseff veio à público defender a autonomia do BC. Apesar do Comitê de Política Monetária (Copom) ter cortado a taxa básica de juros 24 horas após Dilma ter afirmado que começava a ver a "possibilidade" do início de um ciclo de queda da Selic, a presidente afirmou que não responde pelas ações promovidas pela diretoria do BC. "Pelo Copom, responde o Copom. Eu respondo pelo que o governo federal está fazendo", afirmou a presidente em entrevista a rádios em Minas Gerais. Repetindo os argumentos "técnicos" apresentados na véspera pela diretoria do BC, Dilma disse que diante da turbulência internacional, o Brasil deve aproveitar as oportunidades para transformar os efeitos da crise em benefícios para a economia do País. Em Brasília, representantes do primeiro escalão tentaram desfazer a imagem de interferência do Planalto sobre o BC. Satisfeito com a queda do juros, a primeira em dois anos, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou que a alegação de que houve pressão do governo é uma forma de subestimar o trabalho da diretoria do BC. "Essa crítica, agora, subestima o papel do Banco Central nos últimos anos. O que o BC fez foi uma análise da crise internacional e uma observação das medidas do governo, como essa última relativa ao superávit (fiscal)", afirmou Carvalho, referindo-se ao aperto nas contas públicas anunciado na segunda-feira. "Bobagem" O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi mais enfático e classificou de "bobagem" as críticas feitas por boa parte do mercado financeiro. Além disso, tentou demonstrar que a credibilidade e a autonomia operacional do BC não foram atingidas por conta do inesperado corte da Selic, anunciado 24 horas depois que a presidente Dilma Rousseff disse que começava a ver a "possibilidade" do início de um ciclo de queda do juros no País. Com perfil desenvolvimentista, Mantega sempre foi um dos maiores críticos no governo Lula da política monetária conservadora conduzida pelo ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, com quem teve vários embates, muito deles públicos. Outra integrante do bloco palaciano, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, usou a crise internacional como justificativa para a queda do juros, assim como fez o Copom na quarta-feira. "O Banco Central tem total autonomia e está acompanhando a crise internacional. Os elementos da crise internacional deram condições, junto com as medidas do governo, para que se pudesse ter a redução." O Banco Central atribuiu a uma visão "tacanha e míope" as críticas à decisão tomada na quarta-feira. "O mar está revolto. Já houve outros momentos assim antes", reagiu uma fonte do governo. A diretoria do BC também não assimilou a crítica de que se comunicou mal com o mercado. Ao mesmo tempo, porém, não tem uma resposta incontestável para essa mudança brusca de direção da trajetória da Selic. Segundo uma fonte, melhor seria se os críticos dissessem que discordavam da visão do BC e não utilizassem "como subterfúgio" que não houve uma boa comunicação com o mercado. / Colaboraram Eduardo Bresciani, Adriana Fernandes, Denise Madueño, Beatriz Abreu
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