Alexandre Rodrigues A inflação perderá força em 2011, mas ainda ficará acima do centro da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A avaliação é de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que divulgaram ontem o relatório Conjuntura em Foco. Embora não tenha fechado uma projeção para a inflação este ano, o que o Ipea só fará em março, a pesquisadora Maria Andréia Parente disse que o indicador deve ficar abaixo dos 5,91% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2010, mas ainda na faixa superior de dois pontos de variação aceitáveis pela meta. "Pode haver desaceleração, mas não forte o suficiente para ficar na meta estipulada. Acredito que será inferior a 2010, mas ainda longe do centro da meta", diz Maria Andréia, do Grupo de Análise e Previsões do Ipea. Porém, ela afirmou que a manutenção de pressões inflacionárias em 2010 não deve ser vista como "um bicho de sete cabeças". Para ela, o Banco Central agiu corretamente ao elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual este mês, para 11,25%. Além do sinal claro da política monetária, ela também aponta a disposição do governo de ajustar as contas públicas. Para a analista do Ipea, as primeiras projeções de safra já indicam redução da pressão de alta dos alimentos ao longo do ano, embora o segmento seja sempre sujeito a fenômenos climáticos. Para o Ipea, o setor de serviços é que deverá pressionar a inflação em 2011, já que vem mantendo vetor de alta de preços indiferente à conjuntura. "Quando a gente olha a série, é um setor cujos preços têm subido em torno de 7% e o País não consegue baixar esse patamar", aponta Maria Andréia. Para ela, pode haver influência da dificuldade de treinar mão de obra para aumentar oferta e da manutenção do aumento de renda, que ampliou o acesso e incorporou serviços ao orçamento das famílias. Por outro lado, o diretor-adjunto Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea (Dimac), Renaut Michel, identificou atenuantes este ano, como o reajuste menor do salário mínimo e a mesma tendência no mercado de trabalho. "A renda continua em alta, mas esperamos uma desaceleração dos aumentos reais, incentivando menos o consumo", observou. Ele também citou o câmbio valorizado (que favorece importações) e a maturação de investimentos produtivos como fatores que ampliam a oferta e pressionam para baixo os preços dos industrializados. Nas commodities, a preocupação com os alimentos estende-se também ao petróleo, que começa a subir depois de longo período de baixa.