A jornada de brilho em Paris mudou consideravelmente a vida de Júlia Soares. Medalhista de bronze por equipes na Olimpíada e sétima melhor do mundo na trave, a ginasta de 19 anos é hoje acompanhada por quase 3 milhões de seguidores no Instagram, passou a ter fã-clubes, viu pipocar propostas comerciais, acostumou-se com convites para eventos e conheceu lugares e pessoas que estavam em seus sonhos.
Foram mudanças na vida profissional e pessoal. No esporte, surgiu o reconhecimento de outras competidoras e a inspiração nela que têm jovens ginastas. “Várias meninas vieram me cumprimentar, dizer que sou incrível, vieram perguntar sobre a minha entrada (na trave)”, afirma Júlia ao Estadão, citando o “Soares”, movimento na trave que ganhou seu nome e consiste em uma entrada insólita no aparelho, em vela, seguida de uma pirueta. Extensamente repetido por ginastas amadoras em vídeos no TikTok, o elemento foi catalogado em 2021 na Federação Internacional de Ginástica (FIG) e executado pela primeira vez no Pan-Americano 2023.
“Estou passeando na rua e o pessoal já sabe quem eu sou. As pessoas pedem fotos, autógrafos, eu fico muito feliz. Mas não muda quem eu sou”, conta. “Na vida pessoal, o que mudou muito foi a rotina, que está mais agitada”.
A nova estrela da ginástica diz não ter se acostumado com a nova vida, ainda que não seja “algo estranho” a ela. “Fiquei meio em choque sobre quantas pessoas assistiram a gente, o quanto a gente foi reconhecida. Fiquei um pouco chocada com a quantidade de pessoas que vieram e falaram que me conheciam, que me assistiram. Sei que Olimpíada é grande, mas não tinha ideia do quão enorme seria a repercussão”, admite.
Exposição nas redes sociais
Os bons resultados tornaram conhecida e venerada a atleta, que afirma estar aprendendo com a exposição nas redes sociais. Embora trabalhe com a própria imagem nas redes sociais, ela não aderiu ao comportamento de superexposição comum a muitos influenciadores e personalidades - do esporte ou não - que trabalham com internet. Ela compartilha fragmentos de sua vida pessoal, mas a prioridade ainda é a ginástica.
“Antes da Olimpíada mexia na internet, claro, mas não tinha muitos seguidores. Mas a internet é meu segundo plano, meu foco é a ginástica. Compartilho algumas coisas, não tudo, porque gosto de ter minha privacidade”, explica a Júlia, a quem não incomodam fofocas e especulações sobre sua vida. “Não é fácil, mas preservo minha vida nas redes sociais. Espero que continue assim”.
Júlia Soares, ginasta medalhista olimpica
Patrocínios, eventos e presenças VIP
O sucesso na ginástica trouxe fama, reconhecimento e dinheiro. Também permitiu que ela conhecesse algumas das pessoas de quem é fã. “Tinha o sonho de criança de conhecer a Larissa Manoela e pude conhecê-la em Paris. Eu fingi normalidade, mas por dentro estava tão feliz que quase surtei”, recorda-se a ginasta, que recentemente foi convidada para assistir à vitória por 1 a 0 da seleção brasileira sobre o Equador, no Couto Pereira.
No estádio do Coritiba, a paranaense deu volta olímpica, arriscou alguns saltos no gramado e ganhou aplausos da torcida. “A ginástica permite isso, me proporcionou isso, mas é graças às pessoas que me ajudaram a chegar onde estou. As pessoas que me apoiam foram as que me ajudaram a conquistar o bronze”, diz.
Se num passado recente, os pais de Júlia, Fabiana e Jackson, tiveram de vender bombons e organiza rifas e vaquinhas para conseguir bancar as viagens da filha para competir, hoje, a jovem ginasta caminha para a sua independência financeira. A ginasta tem três patrocinadores fixos, faz ativações de marketing e tem sido convidada para palestras e eventos como presença VIP, sempre recebendo cachê.
Na semana passada, por exemplo, foi convidada para conhecer a estrutura da Casa do Esporte, o centro esportivo da Newon, durante a inauguração do espaço. A empresa pertence ao grupo dono da Prevent Senior e une saúde e esporte, com medicina esportiva integrada - a estrutura é usada tanto por atletas amadores quanto os de alto rendimento, como Júlia, que terminou sua preparação lá antes de embarcar para João Pessoa, onde disputa o Campeonato Brasileiro de Ginástica Artística, neste fim de semana. Trata-se da primeira competição depois da Olimpíada de Paris.
O auge está por vir
“Minha trajetória está só começando”, diz ela, apontada por sua técnica, a ucraniana Iryna Ilyashenko, como um atleta para “muitos anos” e “vários ciclos”. O auge da paranaense está por vir, ela mesmo acredita. Seu plano é competir em todos aparelhos nos Jogos de Los Angeles, em 2028, e voltar dos Estados Unidos com mais medalhas.
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“Procuro estar sempre na minha melhor forma. A ginástica está evoluindo cada vez mais, treino para não ficar para trás. Estou sempre aprendendo a cada competição, pensando em coisas novas para as minhas séries para que eu possa estar entre as melhores, para ser campeã olímpica. Sei que tenho muito mais coisas boas daqui pra frente”.
Atleta olímpica mais condecorada da história do País, Rebeca Andrade impulsionou a ginástica, atraiu o interesse de milhares de jovens ginastas e fez explodir as inscrições para o Ginásio Bonifácio Cardoso, em Guarulhos, onde ela deu seus primeiros passos na modalidade. Júlia fez o mesmo em relação ao Centro de Excelência de Ginástica do Paraná (Cegin), onde treina em Curitiba. O espaço funciona em uma estrutura que pertence à Secretaria de Estado do Esporte.
“No meu clube, a escolinha também está lotada, tem fila de espera”, comenta ela, orgulhosa. “O Brasil é o país da ginástica. A gente mostrou pro mundo que a ginástica brasileira está cada vez melhor”.