Ligas europeias voltam ameaçadas no topo da ‘cadeia alimentar’ do futebol mundial


Mercado saudita faz investidas por nomes mais jovens, como Vini Jr., e manda recado à Europa

Por Bruno Accorsi
Atualização:

Na semana em que a maioria das ligas europeias de futebol estão iniciando nova temporada, o mercado árabe mandou um forte recado. Grande estrela do Real Madrid, Vinícius Júnior, de 24 anos, recebeu sondagem do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PF) para defender o Al-Ahli e receber R$ 6 bilhões ao longo de cinco anos de contrato. Companheiro do atacante no time merengue, Éder Militão também foi contatado por sauditas.

O divisor de águas dos investimentos do futebol saudita no mercado da bola foi a contratação de Cristiano Ronaldo pelo Al-Nassr, em dezembro de 2022. Mais tarde se juntaram a ele estrelas como Neymar, no Al-Hilal, Benzema, no Al-Ittihad, e Sadio Mané, no próprio Al-Nassr. Todos esses jogadores têm mais de 30 anos e, embora muitos apontem que Neymar e Mané ainda tinham o que entregar na Europa, alcançaram objetivos importantes no velho continente.

Vini Jr recebeu proposta astronômica do futebol saudita.  Foto: Real Madrid via X
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A sinalização de uma busca por talentos no auge, como no caso de Vini Jr, aparece como uma ameaça ainda pequena, mas com potencial para crescer. Tal movimento pode ter impacto até mesmo no mercado brasileiro, em dois diferentes cenários: clubes sauditas podem começar a tentar tirar jogadores jovens do País ou podem forçar tanto a concorrência a ponto de fazer os times europeus apostarem mais do que já apostam em jogadores do Brasil.

Mais cedo neste ano, foi especulado que o Al-Nassr de CR7 teria feito uma proposta milionária para contratar o garoto Wesley, atacante de 19 anos que vivia grande fase no Corinthians na ocasião.

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CEO do Fortaleza, Marcelo Paz acredita que há sim a possibilidade de um êxodo de atletas mais jovens rumo aos clubes sauditas. Isso, contudo, depende do aumento da visibilidade da liga, que cresceu com as contratações de grandes estrelas, mas ainda está no caminho de oferecer tudo que um atleta espera para se tornar um nome de peso no futebol.

“O que se sabe também é que eles (Arábia Saudita) têm investido também em infraestrutura de treinamento, de CTs, de campos para jogos, de estádio, tentando fazer uma liga atrativa, não só do ponto de vista financeiro. Naturalmente, alguns jogadores podem ser atraídos por isso, outros, dependendo da perspectiva de carreira, podem evitar, no momento inicial, ir para esse mercado, pois é um mercado também de menor visibilidade que deixa esses jogadores mais distantes de suas seleções nacionais. Então, é muito pelo momento de carreira de cada um”, diz Paz.

Quanto à qualidade da Liga Saudita, existem discussões. O atacante Anderson Talisca, companheiro de Cristiano Ronaldo no Al-Nassr, defende que o campeonato já é superior ao Brasileirão em alguns pontos.

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“Hoje, a Arábia Saudita já não é mais dúvida para ninguém. Está entre maiores ligas do mundo”, opina Talisca. “O Campeonato Saudita, em qualidade, está muito à frente do Brasileiro. Você tira como base pelos investimentos. Se não tiver dinheiro, não contrata. É basicamente isso. Mas em termos de disputa, o Brasileiro está mais à frente porque tem mais times com chances de ganhar, 10 times. Lá, tem um pouco menos, e por isso que estão qualificando os times menores, medianos.”

A disparidade à qual o atacante se refere é evidente. No momento, Al-Nassr, Al-Ittihad, Al-Hilal e Al-Ahly estão muito à frente de seus adversários porque essas equipes foram turbinadas pelo dinheiro do PIF, que controla 80% das ações desses times e também do Newcastle, da Inglaterra.

“Os investimentos na Arábia Saudita ainda são muito focados em poucos clubes e voltado à contratação de estrelas, e para se tornar uma referência no futebol é necessário uma evolução que vá bem além disso”, opina André Donke, comentarista da ESPN. “Para se tornar um centro do futebol, a meu ver, não basta colocar desenfreadamente dinheiro para contratar estrelas ou estádios modernos, é necessário o desenvolvimento de uma cultura, o que leva um bom tempo. A tentativa sem sucesso do futebol chinês há alguns anos é um bom exemplo disso”, conclui.

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Só astros não bastam

A Arábia Saudita ainda busca formas de se tornar mais atrativa. Basicamente, o plano é injetar cada vez mais dinheiro. O país se prepara para uma nova onda de investimento no futebol local, com mais injeção de capital privado nos clubes. A previsão é de que a próxima rodada de investimentos seja na ordem de 150 bilhões de euros (R$ 830 bilhões).

O governo notou que, para o ambicioso projeto se sustente, mais do que apenas trazer grandes estrelas do futebol mundial, é necessário melhorar a estrutura, investir na formação de jovens jogadores e criar mais uma divisão - já existem quatro, mas três dela são de nível técnico muito baixo. Daí a ideia de fomentar as categorias de base, criar academias de futebol dentro da Arábia Saudita e também em outros países e organizar até cinco divisões do futebol nacional. ]

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Mesmo com tanto dinheiro para fomentar a cultura futebolística, contudo, não há garantias de resultados contra o sucesso mais orgânico do futebol europeu. “Mesmo nesses últimos meses com tantos jogadores internacionais indo pra liga saudita, o interesse pelo torneio pode ter aumentado, mas nem se compara ao interesse que existe por Premier League, LaLiga, Serie A, Ligue 1 e Bundesliga, os principais da Europa. Não acho que essa inversão vá acontecer. Porque por mais que o dinheiro pareça infinito, eles não vão conseguir tirar todos os bons jogadores”, diz Gustavo Hofman, comentarista da ESPN.

Os sauditas estão sendo associados a “sportswashing”, termo que se refere à tentativa de um país em limpar sua imagem e melhorar sua popularidade. O governo saudita nega, porém, nega tal aspiração e diz que seu foco é atender ao interesse de seu povo pelo esporte.

Europa ainda é prioridade dos jovens brasileiros

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Os times europeus não têm hesitado em liberar talentos consagrados para o mundo árabe, ao mesmo tempo em que continuam tirando jovens jogadores do Brasil. O Palmeiras vendeu, em sequência, Endrick para o Real Madrid, e Estêvão para o Chelsea. O primeiro já está no clube espanhol, pois completou 18 anos, situação aguardada pelo segundo para poder se apresentar ao time londrino.

Também há casos de grandes vendas fora do círculo dos chamados 12 grandes. O Sport, por exemplo, vendeu o lateral-esquerdo Pedro Lima ao Wolverhampton por 10 milhões de euros (cerca de R$ 61 milhões), no que foi a maior transação da história do futebol nordestino. Responsável pela negociação, o presidente do clube pernambucano, Yuri Romão, ainda não consegue ver o mercado árabe forçando essas contratações de jovens do País.

“No que diz respeito ao êxodo dos jovens atletas brasileiros para jogar nas Ligas Europeias, eu vejo, primeiramente, com muita preocupação, pois os clubes brasileiros já estão com muita dificuldades de repor seus elencos, já há uma escassez no mercado nacional”, comenta.

“Por fim, vejo que o movimento do mercado do Velho Mundo se dá mais pelos valores que envolvem as transações, quando levamos em consideração as idades dos atletas envolvidos, do que propriamente a concorrência com o mundo árabe. Sai bem mais em conta contratar um jovem talento promissor, prepará-lo, mesmo que isso leve mais dois, três ou quatro anos, que comprar os direitos econômicos de um atleta já consagrado daqui”, conclui.

Confira as datas das primeiras rodadas das ligas europeias na temporada 2024/2025:

Campeonato Espanhol - 15/08 a 19/08

Campeonato Inglês -16/08 a 19/08

Campeonato Italiano -17/08 a 19/08

Campeonato Francês - 16/08 a 18/08

Campeonato Alemão - 23/08 a 25/08

Na semana em que a maioria das ligas europeias de futebol estão iniciando nova temporada, o mercado árabe mandou um forte recado. Grande estrela do Real Madrid, Vinícius Júnior, de 24 anos, recebeu sondagem do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PF) para defender o Al-Ahli e receber R$ 6 bilhões ao longo de cinco anos de contrato. Companheiro do atacante no time merengue, Éder Militão também foi contatado por sauditas.

O divisor de águas dos investimentos do futebol saudita no mercado da bola foi a contratação de Cristiano Ronaldo pelo Al-Nassr, em dezembro de 2022. Mais tarde se juntaram a ele estrelas como Neymar, no Al-Hilal, Benzema, no Al-Ittihad, e Sadio Mané, no próprio Al-Nassr. Todos esses jogadores têm mais de 30 anos e, embora muitos apontem que Neymar e Mané ainda tinham o que entregar na Europa, alcançaram objetivos importantes no velho continente.

Vini Jr recebeu proposta astronômica do futebol saudita.  Foto: Real Madrid via X

A sinalização de uma busca por talentos no auge, como no caso de Vini Jr, aparece como uma ameaça ainda pequena, mas com potencial para crescer. Tal movimento pode ter impacto até mesmo no mercado brasileiro, em dois diferentes cenários: clubes sauditas podem começar a tentar tirar jogadores jovens do País ou podem forçar tanto a concorrência a ponto de fazer os times europeus apostarem mais do que já apostam em jogadores do Brasil.

Mais cedo neste ano, foi especulado que o Al-Nassr de CR7 teria feito uma proposta milionária para contratar o garoto Wesley, atacante de 19 anos que vivia grande fase no Corinthians na ocasião.

CEO do Fortaleza, Marcelo Paz acredita que há sim a possibilidade de um êxodo de atletas mais jovens rumo aos clubes sauditas. Isso, contudo, depende do aumento da visibilidade da liga, que cresceu com as contratações de grandes estrelas, mas ainda está no caminho de oferecer tudo que um atleta espera para se tornar um nome de peso no futebol.

“O que se sabe também é que eles (Arábia Saudita) têm investido também em infraestrutura de treinamento, de CTs, de campos para jogos, de estádio, tentando fazer uma liga atrativa, não só do ponto de vista financeiro. Naturalmente, alguns jogadores podem ser atraídos por isso, outros, dependendo da perspectiva de carreira, podem evitar, no momento inicial, ir para esse mercado, pois é um mercado também de menor visibilidade que deixa esses jogadores mais distantes de suas seleções nacionais. Então, é muito pelo momento de carreira de cada um”, diz Paz.

Quanto à qualidade da Liga Saudita, existem discussões. O atacante Anderson Talisca, companheiro de Cristiano Ronaldo no Al-Nassr, defende que o campeonato já é superior ao Brasileirão em alguns pontos.

“Hoje, a Arábia Saudita já não é mais dúvida para ninguém. Está entre maiores ligas do mundo”, opina Talisca. “O Campeonato Saudita, em qualidade, está muito à frente do Brasileiro. Você tira como base pelos investimentos. Se não tiver dinheiro, não contrata. É basicamente isso. Mas em termos de disputa, o Brasileiro está mais à frente porque tem mais times com chances de ganhar, 10 times. Lá, tem um pouco menos, e por isso que estão qualificando os times menores, medianos.”

A disparidade à qual o atacante se refere é evidente. No momento, Al-Nassr, Al-Ittihad, Al-Hilal e Al-Ahly estão muito à frente de seus adversários porque essas equipes foram turbinadas pelo dinheiro do PIF, que controla 80% das ações desses times e também do Newcastle, da Inglaterra.

“Os investimentos na Arábia Saudita ainda são muito focados em poucos clubes e voltado à contratação de estrelas, e para se tornar uma referência no futebol é necessário uma evolução que vá bem além disso”, opina André Donke, comentarista da ESPN. “Para se tornar um centro do futebol, a meu ver, não basta colocar desenfreadamente dinheiro para contratar estrelas ou estádios modernos, é necessário o desenvolvimento de uma cultura, o que leva um bom tempo. A tentativa sem sucesso do futebol chinês há alguns anos é um bom exemplo disso”, conclui.

Só astros não bastam

A Arábia Saudita ainda busca formas de se tornar mais atrativa. Basicamente, o plano é injetar cada vez mais dinheiro. O país se prepara para uma nova onda de investimento no futebol local, com mais injeção de capital privado nos clubes. A previsão é de que a próxima rodada de investimentos seja na ordem de 150 bilhões de euros (R$ 830 bilhões).

O governo notou que, para o ambicioso projeto se sustente, mais do que apenas trazer grandes estrelas do futebol mundial, é necessário melhorar a estrutura, investir na formação de jovens jogadores e criar mais uma divisão - já existem quatro, mas três dela são de nível técnico muito baixo. Daí a ideia de fomentar as categorias de base, criar academias de futebol dentro da Arábia Saudita e também em outros países e organizar até cinco divisões do futebol nacional. ]

Mesmo com tanto dinheiro para fomentar a cultura futebolística, contudo, não há garantias de resultados contra o sucesso mais orgânico do futebol europeu. “Mesmo nesses últimos meses com tantos jogadores internacionais indo pra liga saudita, o interesse pelo torneio pode ter aumentado, mas nem se compara ao interesse que existe por Premier League, LaLiga, Serie A, Ligue 1 e Bundesliga, os principais da Europa. Não acho que essa inversão vá acontecer. Porque por mais que o dinheiro pareça infinito, eles não vão conseguir tirar todos os bons jogadores”, diz Gustavo Hofman, comentarista da ESPN.

Os sauditas estão sendo associados a “sportswashing”, termo que se refere à tentativa de um país em limpar sua imagem e melhorar sua popularidade. O governo saudita nega, porém, nega tal aspiração e diz que seu foco é atender ao interesse de seu povo pelo esporte.

Europa ainda é prioridade dos jovens brasileiros

Os times europeus não têm hesitado em liberar talentos consagrados para o mundo árabe, ao mesmo tempo em que continuam tirando jovens jogadores do Brasil. O Palmeiras vendeu, em sequência, Endrick para o Real Madrid, e Estêvão para o Chelsea. O primeiro já está no clube espanhol, pois completou 18 anos, situação aguardada pelo segundo para poder se apresentar ao time londrino.

Também há casos de grandes vendas fora do círculo dos chamados 12 grandes. O Sport, por exemplo, vendeu o lateral-esquerdo Pedro Lima ao Wolverhampton por 10 milhões de euros (cerca de R$ 61 milhões), no que foi a maior transação da história do futebol nordestino. Responsável pela negociação, o presidente do clube pernambucano, Yuri Romão, ainda não consegue ver o mercado árabe forçando essas contratações de jovens do País.

“No que diz respeito ao êxodo dos jovens atletas brasileiros para jogar nas Ligas Europeias, eu vejo, primeiramente, com muita preocupação, pois os clubes brasileiros já estão com muita dificuldades de repor seus elencos, já há uma escassez no mercado nacional”, comenta.

“Por fim, vejo que o movimento do mercado do Velho Mundo se dá mais pelos valores que envolvem as transações, quando levamos em consideração as idades dos atletas envolvidos, do que propriamente a concorrência com o mundo árabe. Sai bem mais em conta contratar um jovem talento promissor, prepará-lo, mesmo que isso leve mais dois, três ou quatro anos, que comprar os direitos econômicos de um atleta já consagrado daqui”, conclui.

Confira as datas das primeiras rodadas das ligas europeias na temporada 2024/2025:

Campeonato Espanhol - 15/08 a 19/08

Campeonato Inglês -16/08 a 19/08

Campeonato Italiano -17/08 a 19/08

Campeonato Francês - 16/08 a 18/08

Campeonato Alemão - 23/08 a 25/08

Na semana em que a maioria das ligas europeias de futebol estão iniciando nova temporada, o mercado árabe mandou um forte recado. Grande estrela do Real Madrid, Vinícius Júnior, de 24 anos, recebeu sondagem do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PF) para defender o Al-Ahli e receber R$ 6 bilhões ao longo de cinco anos de contrato. Companheiro do atacante no time merengue, Éder Militão também foi contatado por sauditas.

O divisor de águas dos investimentos do futebol saudita no mercado da bola foi a contratação de Cristiano Ronaldo pelo Al-Nassr, em dezembro de 2022. Mais tarde se juntaram a ele estrelas como Neymar, no Al-Hilal, Benzema, no Al-Ittihad, e Sadio Mané, no próprio Al-Nassr. Todos esses jogadores têm mais de 30 anos e, embora muitos apontem que Neymar e Mané ainda tinham o que entregar na Europa, alcançaram objetivos importantes no velho continente.

Vini Jr recebeu proposta astronômica do futebol saudita.  Foto: Real Madrid via X

A sinalização de uma busca por talentos no auge, como no caso de Vini Jr, aparece como uma ameaça ainda pequena, mas com potencial para crescer. Tal movimento pode ter impacto até mesmo no mercado brasileiro, em dois diferentes cenários: clubes sauditas podem começar a tentar tirar jogadores jovens do País ou podem forçar tanto a concorrência a ponto de fazer os times europeus apostarem mais do que já apostam em jogadores do Brasil.

Mais cedo neste ano, foi especulado que o Al-Nassr de CR7 teria feito uma proposta milionária para contratar o garoto Wesley, atacante de 19 anos que vivia grande fase no Corinthians na ocasião.

CEO do Fortaleza, Marcelo Paz acredita que há sim a possibilidade de um êxodo de atletas mais jovens rumo aos clubes sauditas. Isso, contudo, depende do aumento da visibilidade da liga, que cresceu com as contratações de grandes estrelas, mas ainda está no caminho de oferecer tudo que um atleta espera para se tornar um nome de peso no futebol.

“O que se sabe também é que eles (Arábia Saudita) têm investido também em infraestrutura de treinamento, de CTs, de campos para jogos, de estádio, tentando fazer uma liga atrativa, não só do ponto de vista financeiro. Naturalmente, alguns jogadores podem ser atraídos por isso, outros, dependendo da perspectiva de carreira, podem evitar, no momento inicial, ir para esse mercado, pois é um mercado também de menor visibilidade que deixa esses jogadores mais distantes de suas seleções nacionais. Então, é muito pelo momento de carreira de cada um”, diz Paz.

Quanto à qualidade da Liga Saudita, existem discussões. O atacante Anderson Talisca, companheiro de Cristiano Ronaldo no Al-Nassr, defende que o campeonato já é superior ao Brasileirão em alguns pontos.

“Hoje, a Arábia Saudita já não é mais dúvida para ninguém. Está entre maiores ligas do mundo”, opina Talisca. “O Campeonato Saudita, em qualidade, está muito à frente do Brasileiro. Você tira como base pelos investimentos. Se não tiver dinheiro, não contrata. É basicamente isso. Mas em termos de disputa, o Brasileiro está mais à frente porque tem mais times com chances de ganhar, 10 times. Lá, tem um pouco menos, e por isso que estão qualificando os times menores, medianos.”

A disparidade à qual o atacante se refere é evidente. No momento, Al-Nassr, Al-Ittihad, Al-Hilal e Al-Ahly estão muito à frente de seus adversários porque essas equipes foram turbinadas pelo dinheiro do PIF, que controla 80% das ações desses times e também do Newcastle, da Inglaterra.

“Os investimentos na Arábia Saudita ainda são muito focados em poucos clubes e voltado à contratação de estrelas, e para se tornar uma referência no futebol é necessário uma evolução que vá bem além disso”, opina André Donke, comentarista da ESPN. “Para se tornar um centro do futebol, a meu ver, não basta colocar desenfreadamente dinheiro para contratar estrelas ou estádios modernos, é necessário o desenvolvimento de uma cultura, o que leva um bom tempo. A tentativa sem sucesso do futebol chinês há alguns anos é um bom exemplo disso”, conclui.

Só astros não bastam

A Arábia Saudita ainda busca formas de se tornar mais atrativa. Basicamente, o plano é injetar cada vez mais dinheiro. O país se prepara para uma nova onda de investimento no futebol local, com mais injeção de capital privado nos clubes. A previsão é de que a próxima rodada de investimentos seja na ordem de 150 bilhões de euros (R$ 830 bilhões).

O governo notou que, para o ambicioso projeto se sustente, mais do que apenas trazer grandes estrelas do futebol mundial, é necessário melhorar a estrutura, investir na formação de jovens jogadores e criar mais uma divisão - já existem quatro, mas três dela são de nível técnico muito baixo. Daí a ideia de fomentar as categorias de base, criar academias de futebol dentro da Arábia Saudita e também em outros países e organizar até cinco divisões do futebol nacional. ]

Mesmo com tanto dinheiro para fomentar a cultura futebolística, contudo, não há garantias de resultados contra o sucesso mais orgânico do futebol europeu. “Mesmo nesses últimos meses com tantos jogadores internacionais indo pra liga saudita, o interesse pelo torneio pode ter aumentado, mas nem se compara ao interesse que existe por Premier League, LaLiga, Serie A, Ligue 1 e Bundesliga, os principais da Europa. Não acho que essa inversão vá acontecer. Porque por mais que o dinheiro pareça infinito, eles não vão conseguir tirar todos os bons jogadores”, diz Gustavo Hofman, comentarista da ESPN.

Os sauditas estão sendo associados a “sportswashing”, termo que se refere à tentativa de um país em limpar sua imagem e melhorar sua popularidade. O governo saudita nega, porém, nega tal aspiração e diz que seu foco é atender ao interesse de seu povo pelo esporte.

Europa ainda é prioridade dos jovens brasileiros

Os times europeus não têm hesitado em liberar talentos consagrados para o mundo árabe, ao mesmo tempo em que continuam tirando jovens jogadores do Brasil. O Palmeiras vendeu, em sequência, Endrick para o Real Madrid, e Estêvão para o Chelsea. O primeiro já está no clube espanhol, pois completou 18 anos, situação aguardada pelo segundo para poder se apresentar ao time londrino.

Também há casos de grandes vendas fora do círculo dos chamados 12 grandes. O Sport, por exemplo, vendeu o lateral-esquerdo Pedro Lima ao Wolverhampton por 10 milhões de euros (cerca de R$ 61 milhões), no que foi a maior transação da história do futebol nordestino. Responsável pela negociação, o presidente do clube pernambucano, Yuri Romão, ainda não consegue ver o mercado árabe forçando essas contratações de jovens do País.

“No que diz respeito ao êxodo dos jovens atletas brasileiros para jogar nas Ligas Europeias, eu vejo, primeiramente, com muita preocupação, pois os clubes brasileiros já estão com muita dificuldades de repor seus elencos, já há uma escassez no mercado nacional”, comenta.

“Por fim, vejo que o movimento do mercado do Velho Mundo se dá mais pelos valores que envolvem as transações, quando levamos em consideração as idades dos atletas envolvidos, do que propriamente a concorrência com o mundo árabe. Sai bem mais em conta contratar um jovem talento promissor, prepará-lo, mesmo que isso leve mais dois, três ou quatro anos, que comprar os direitos econômicos de um atleta já consagrado daqui”, conclui.

Confira as datas das primeiras rodadas das ligas europeias na temporada 2024/2025:

Campeonato Espanhol - 15/08 a 19/08

Campeonato Inglês -16/08 a 19/08

Campeonato Italiano -17/08 a 19/08

Campeonato Francês - 16/08 a 18/08

Campeonato Alemão - 23/08 a 25/08

Na semana em que a maioria das ligas europeias de futebol estão iniciando nova temporada, o mercado árabe mandou um forte recado. Grande estrela do Real Madrid, Vinícius Júnior, de 24 anos, recebeu sondagem do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PF) para defender o Al-Ahli e receber R$ 6 bilhões ao longo de cinco anos de contrato. Companheiro do atacante no time merengue, Éder Militão também foi contatado por sauditas.

O divisor de águas dos investimentos do futebol saudita no mercado da bola foi a contratação de Cristiano Ronaldo pelo Al-Nassr, em dezembro de 2022. Mais tarde se juntaram a ele estrelas como Neymar, no Al-Hilal, Benzema, no Al-Ittihad, e Sadio Mané, no próprio Al-Nassr. Todos esses jogadores têm mais de 30 anos e, embora muitos apontem que Neymar e Mané ainda tinham o que entregar na Europa, alcançaram objetivos importantes no velho continente.

Vini Jr recebeu proposta astronômica do futebol saudita.  Foto: Real Madrid via X

A sinalização de uma busca por talentos no auge, como no caso de Vini Jr, aparece como uma ameaça ainda pequena, mas com potencial para crescer. Tal movimento pode ter impacto até mesmo no mercado brasileiro, em dois diferentes cenários: clubes sauditas podem começar a tentar tirar jogadores jovens do País ou podem forçar tanto a concorrência a ponto de fazer os times europeus apostarem mais do que já apostam em jogadores do Brasil.

Mais cedo neste ano, foi especulado que o Al-Nassr de CR7 teria feito uma proposta milionária para contratar o garoto Wesley, atacante de 19 anos que vivia grande fase no Corinthians na ocasião.

CEO do Fortaleza, Marcelo Paz acredita que há sim a possibilidade de um êxodo de atletas mais jovens rumo aos clubes sauditas. Isso, contudo, depende do aumento da visibilidade da liga, que cresceu com as contratações de grandes estrelas, mas ainda está no caminho de oferecer tudo que um atleta espera para se tornar um nome de peso no futebol.

“O que se sabe também é que eles (Arábia Saudita) têm investido também em infraestrutura de treinamento, de CTs, de campos para jogos, de estádio, tentando fazer uma liga atrativa, não só do ponto de vista financeiro. Naturalmente, alguns jogadores podem ser atraídos por isso, outros, dependendo da perspectiva de carreira, podem evitar, no momento inicial, ir para esse mercado, pois é um mercado também de menor visibilidade que deixa esses jogadores mais distantes de suas seleções nacionais. Então, é muito pelo momento de carreira de cada um”, diz Paz.

Quanto à qualidade da Liga Saudita, existem discussões. O atacante Anderson Talisca, companheiro de Cristiano Ronaldo no Al-Nassr, defende que o campeonato já é superior ao Brasileirão em alguns pontos.

“Hoje, a Arábia Saudita já não é mais dúvida para ninguém. Está entre maiores ligas do mundo”, opina Talisca. “O Campeonato Saudita, em qualidade, está muito à frente do Brasileiro. Você tira como base pelos investimentos. Se não tiver dinheiro, não contrata. É basicamente isso. Mas em termos de disputa, o Brasileiro está mais à frente porque tem mais times com chances de ganhar, 10 times. Lá, tem um pouco menos, e por isso que estão qualificando os times menores, medianos.”

A disparidade à qual o atacante se refere é evidente. No momento, Al-Nassr, Al-Ittihad, Al-Hilal e Al-Ahly estão muito à frente de seus adversários porque essas equipes foram turbinadas pelo dinheiro do PIF, que controla 80% das ações desses times e também do Newcastle, da Inglaterra.

“Os investimentos na Arábia Saudita ainda são muito focados em poucos clubes e voltado à contratação de estrelas, e para se tornar uma referência no futebol é necessário uma evolução que vá bem além disso”, opina André Donke, comentarista da ESPN. “Para se tornar um centro do futebol, a meu ver, não basta colocar desenfreadamente dinheiro para contratar estrelas ou estádios modernos, é necessário o desenvolvimento de uma cultura, o que leva um bom tempo. A tentativa sem sucesso do futebol chinês há alguns anos é um bom exemplo disso”, conclui.

Só astros não bastam

A Arábia Saudita ainda busca formas de se tornar mais atrativa. Basicamente, o plano é injetar cada vez mais dinheiro. O país se prepara para uma nova onda de investimento no futebol local, com mais injeção de capital privado nos clubes. A previsão é de que a próxima rodada de investimentos seja na ordem de 150 bilhões de euros (R$ 830 bilhões).

O governo notou que, para o ambicioso projeto se sustente, mais do que apenas trazer grandes estrelas do futebol mundial, é necessário melhorar a estrutura, investir na formação de jovens jogadores e criar mais uma divisão - já existem quatro, mas três dela são de nível técnico muito baixo. Daí a ideia de fomentar as categorias de base, criar academias de futebol dentro da Arábia Saudita e também em outros países e organizar até cinco divisões do futebol nacional. ]

Mesmo com tanto dinheiro para fomentar a cultura futebolística, contudo, não há garantias de resultados contra o sucesso mais orgânico do futebol europeu. “Mesmo nesses últimos meses com tantos jogadores internacionais indo pra liga saudita, o interesse pelo torneio pode ter aumentado, mas nem se compara ao interesse que existe por Premier League, LaLiga, Serie A, Ligue 1 e Bundesliga, os principais da Europa. Não acho que essa inversão vá acontecer. Porque por mais que o dinheiro pareça infinito, eles não vão conseguir tirar todos os bons jogadores”, diz Gustavo Hofman, comentarista da ESPN.

Os sauditas estão sendo associados a “sportswashing”, termo que se refere à tentativa de um país em limpar sua imagem e melhorar sua popularidade. O governo saudita nega, porém, nega tal aspiração e diz que seu foco é atender ao interesse de seu povo pelo esporte.

Europa ainda é prioridade dos jovens brasileiros

Os times europeus não têm hesitado em liberar talentos consagrados para o mundo árabe, ao mesmo tempo em que continuam tirando jovens jogadores do Brasil. O Palmeiras vendeu, em sequência, Endrick para o Real Madrid, e Estêvão para o Chelsea. O primeiro já está no clube espanhol, pois completou 18 anos, situação aguardada pelo segundo para poder se apresentar ao time londrino.

Também há casos de grandes vendas fora do círculo dos chamados 12 grandes. O Sport, por exemplo, vendeu o lateral-esquerdo Pedro Lima ao Wolverhampton por 10 milhões de euros (cerca de R$ 61 milhões), no que foi a maior transação da história do futebol nordestino. Responsável pela negociação, o presidente do clube pernambucano, Yuri Romão, ainda não consegue ver o mercado árabe forçando essas contratações de jovens do País.

“No que diz respeito ao êxodo dos jovens atletas brasileiros para jogar nas Ligas Europeias, eu vejo, primeiramente, com muita preocupação, pois os clubes brasileiros já estão com muita dificuldades de repor seus elencos, já há uma escassez no mercado nacional”, comenta.

“Por fim, vejo que o movimento do mercado do Velho Mundo se dá mais pelos valores que envolvem as transações, quando levamos em consideração as idades dos atletas envolvidos, do que propriamente a concorrência com o mundo árabe. Sai bem mais em conta contratar um jovem talento promissor, prepará-lo, mesmo que isso leve mais dois, três ou quatro anos, que comprar os direitos econômicos de um atleta já consagrado daqui”, conclui.

Confira as datas das primeiras rodadas das ligas europeias na temporada 2024/2025:

Campeonato Espanhol - 15/08 a 19/08

Campeonato Inglês -16/08 a 19/08

Campeonato Italiano -17/08 a 19/08

Campeonato Francês - 16/08 a 18/08

Campeonato Alemão - 23/08 a 25/08

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